O sol dizia adeus e a lua olá, afundei meus pés na areia e encostei minha cabeça sobre a mesa praiana, música agitada tocava em minha volta e todos dançavam, minha cabeça doía como sempre, a música e os gritos não ajudavam, olhei em volta a procura de minha mãe que tinha ido dançar levando sua bolsa e nela estava meus remédios, a música parou por alguns instantes, logo outra se iniciou, as garotas soltaram gritinhos agudos e então foi a gota d'água, levantei-me e dei adeus a festa de tema Hawai, eu não aguentava mais a dor. Eu precisava de silêncio e paz.

Em Dovii era tradição na última semana de férias, festas acontecerem em todos os cantos todas as sete noites, eu odiava isso, apesar de adorar conhecer pessoas novas, não era assim que eu queria conhecê-las, gritar com uma pessoa como se ela estivesse do outro lado do planeta, em um lugar onde todos se esfregavam com copos de bebidas na mão, enquanto berravam músicas vulgares e idiotas, definitivamente não era minha definição de lugar para começar uma amizade agradável. Além do mais os gritos e a música alta só ajudavam a deixar minha dor mais insuportável.

A única coisa que ameniza minha dor era a água, todas as noites eu fugia para ir ao mar, nadar ou somente vê-lo, minha cabeça doía como se fossem gritos, ensurdecedores gritos, mas o mar acalmava tempestade em minha cabeça.

Caminhei pelas ruas de Dovii, olhando para cada casa, por mais incrível que parecesse a rua estava silenciosa, as luzes da rua piscavam e somente o mar me trazia um barulho agradável. Passei em frente a praça municipal, a mesma era cheia de árvores, arbustos, flores e bancos, no centro do mesmo havia um lago de águas claras, parei bruscamente ao ouvir um barulho vindo em meio aos arbustos, olhei fixamente para os mesmos, por conta da escuridão não vi nada, dei de ombros e continuei meu caminho, talvez fosse apenas um gato ou cachorro de rua.

Chegando ao meu lugar favorito, o cais, barcos estavam atracados e o silêncio reinava, suspirei aliviada, andei lentamente me deliciando com o cheiro da maresia, como eu amava tudo isso! Chegando a ponta do cais sem rodeios algum me joguei no mar, com as bochechas infladas de ar e com a visão embaçada, aproveitei cada segundo que eu podia debaixo da aguá, quando o ar me faltou nadei novamente para a superfície com um pouco de dificuldade por conta longo vestido colorido que eu usava, subi por uma escada e sentei na ponta do cais balançando as pernas.

Minha dor de cabeça amenizara um pouco no momento que pulei no mar, sem nem mesmo me importar com a minha volta, viajei para um mundo paralelo enquanto olhando para o mar. Pulei de susto quando ouvi uma voz masculina atrás de mim

— Ora ora, se não é a princesa do mar.

—Marcos? O'Que está fazendo aqui?

- Poxa princesa pra que toda essa surpresa? Toda princesa tem seu principe e cá estou eu.- Ele me puxou, me fazendo levantar bruscamente, ele me abraçou e tentou me beijar.

-Me solta Marcos!- Eu gritei me sentindo enjoada com o forte cheiro de álcool que ele emanava, me debati mas foi em vão, ele me apertou com mais força e tentou me beijar novamente.- Para me solta, você namora a Kalia, me solta Marcos você ta bêbado!

-Ninguém vai saber, se ninguém ver.

Ele tentou me beijar novamente, mas eu consegui soltar um dos braços e lhe desferir um murro fazendo-o me soltar e cambalear para trás, o mesmo me olhou furiosamente e cambaleou com força em minha direção, eu não me encontrava mais na ponta do cais eu estava em frente de um pequeno barco de motor, pisei um pé pra trás me afastando de Marcos, porém o mesmo me empurrou com toda força em direção ao barco, como eu estava completamente molhada e o cais estava escorregadio, acabei caindo no barco,mas seu somente tivesse caído estaria tudo bem, porém eu bati minha cabeça na ponta do barco antes de cair no mesmo, minha visão ficou turva e antes de apagar ouvi o barco ser ligado e Marcos dizer:

-Vadia desgraçada.

Acordei desesperada com a cabeça a mil, por conta do tombo minha cabeça piorou, olhei para os lados e eu não estava mais no cais, eu nem conhecia a praia que eu estava, oque era estranho já que eu conhecia cada praia de Dovii como a palma da minha mão, olhei para os lados e somente vi árvores, levantei-me e fiquei nas pontas dos pés na procura de qualquer prédio que fosse, mas não vi nada além de uma grande quantidade mato, pus-me a andar pela praia, nada de barcos ou vozes, pela primeira vez em anos eu pedi por barulho qualquer um que fosse, mas nada, nem ninguém, comecei a ficar assustada, e como qualquer um sabe, quando estamos com medo tomamos decisões estúpidas, assim como protagonistas de filme de terror, que ouvem um barulho na cozinha e vão olhar, eu idiotamente agi como quando decidi que iria me enfiar naquele matagal todo.

Me arrependi amargamente de deixar meu chinelo na festa da praia, a areia estava fria e eu estava a alguns passos da grande e densa mata, meus pés tocaram a grama úmida, e me arrepiei por inteira só de pensar nos insetos que podia ter lá, mas por livre e espontânea burrice, eu continuei meu caminho, o mesmo era repleto de flores e plantas belíssimas, todas tinham ganhado um tom prateado por conta da luz da lua, eram como se fossem de cristal, eu estava tão distraída olhando cada planta e detalhe diferente que esqueci do meu verdadeiro foco, achar alguém, virei me para frente tirando minha atenção das flores e então meu rosto deu de cara com uma teia de aranha enorme, gritei desesperadamente, passando a mão pelo rosto repetidamente, tentando tirá-la do meu rosto, meu pânico aumentou quando senti perninhas em minha cabeça, a dona da teia se encontrava em minha cabeça, nem dei tempo de pensar no que acontecia, disparei aos berros entrando mais para dentro da mata, um barulho no alto das árvores fez-me correr mais rápido ainda, sem perceber corri até uma mini cachoeira subi nas pedras e parei ao perceber o quão imbecil eu estava sendo, além de eu ter me perdido, passei a mão no rosto e nos cabelos.

—Ufa!- Eu suspirei.- Ela não está mais aqu- parei de falar ao ouvir um som entre as árvores novamente, porém mais longe. - Melhor eu sair daqui.- Dei um passo, mas foi em falso, escorreguei em uma pedra e cai em um buraco, minha cabeça que não doía tanto, voltou a doer com toda força, e gritos preencheram minha mente, estava insuportável.

Levantei-me do chão, olhei em minha volta, eu me encontrava em uma caverna ampla, a mesma era cheia de cristais e símbolos azuis, ela tinha um túnel extenso cheia dos mesmos símbolos e cristais, a caverna era iluminada por uma luz azul que vinha do fim do túnel. Virei me para o buraco que eu havia caído e tentei subir, mas foi em vão, tentei duas, três, quatro, cinco vezes, mas eu sempre acabava caindo de cara no chão ou escorregando e se ralando toda, eu tinha que admitir o vestido não estava ajudando nem um pouco, desisti de tentar subir e decidi que iria seguir em direção ao túnel.

Minha cabeça ainda doía, a cada passo que eu dava a dor aumentava, eu havia chegado ao ponto onde eu não conseguia mais raciocinar direito, continuei a andar até chegar a luz no fim do túnel, literalmente, me vi em uma gruta pequena porém linda, uma piscina natural enorme se estendia na mesma, a minha frente existia uma escada de pedras que levava até a piscina, as paredes da gruta se fechavam tipo um cone e no centro havia um buraco onde o brilho da lua iluminava as águas azuis da piscina.

Por um momento me senti atraída por tudo naquele lugar, mais especificamente a piscina, mas o que eu estava fazendo lá mesmo? Sim, claro, eu estava procurando uma saída daqui, meu olhar se focou em uma abertura no meio da piscina, talvez uma saída. Sem nem pensar, afinal eu já nem estava fazendo isso direito, eu pulei na água, nesse exato momento a lua cheia apareceu no buraco do teto, então a água a minha volta começou a borbulhar e bolinhas começaram a flutuar até o teto e se desfazerem, talvez minha dor de cabeça estivesse me fazendo delirar, mas tudo era tão mágico e parecia tão real.

Quando a lua estava quase para sair, senti meu pé ser puxado por algo, fui puxada para baixo da d’água, cada vez mais fundo, quão fundo aquilo era? Eu não sabia, olhei para baixo e me surpreendi, nada me segurava, exatamente nada, soletre comigo n-a-d-a. Comecei a me debater loucamente na esperança de me soltar e voltar para a superfície, porém nada me segurava, como eu poderia lutar contra o nada? Olhei para cima e vi a lua sair completamente, eu senti o meu oxigênio acabar e então apaguei.

Abri lentamente meus olhos e me deparei com a visão do céu, não que eu estivesse olhando para o céu, mas parecia que um deus grego tinha vindo diretamente do olimpo, um garoto lindíssimo me olhava intensamente como se esperasse qualquer movimento meu, seus olhos eram cor de mel, seus cabelos eram platinados e estavam em um estiloso topete, ele parecia ser bem pálido ou talvez fosse a luz da lua que brilhava em sua pele, e por Deus! Ele estava sem camisa, ele tinha um tanquinho definido, minha respiração já falha, falhou mais ainda, em vez de respirar, eu estava ofegante, isso não passou despercebido para o garoto que fez uma cara engraçada de desespero:

—Você está bem? -Ele perguntou.

Jesus,Maria, josé, Craudinha e Honei, me ajudem, que voz maravilhosa, ele tinha voz como de mil anjos cantando aleluia, era tão bom ouvir a voz dele de quanto ouvir a frase “almoço ta pronto”, tentei me sentar mas instantaneamente me lembrei da minha gritante dor de cabeça, porém ela não veio, em vez disso uma doce baixíssima música preencheu minha mente, linda e envolvente, quase cantarolei a mesma se não fosse pelo deus grego mirim ao meu lado, virei-me para ele com um sorriso maravilhado tocado todos os cantos da minha cabeça.

-Eu estou bem! Maravilhosamente bem!- Eu disse eufórica.

-Ok…- Ele deu uma pausa.- Então…- Outra pausa.- O que uma garotinha estava fazendo em uma ilha deserta em plena madrugada?

Fiz uma careta ou ouvir o “garotinha”.

-Eu não sou uma garotinha.- Eu cruzei os braços.

-Então tá garotinho.- Revirei os olhos.- Você não me respondeu, garotinho.

Ah se essa cara não fosse tão linda eu esmurrava.

-Não devo satisfações a você senhor.- Eu disse.

-Bom então se vire para nadar mais de 50 km até a praia mais próxima, sua carona está indo embora, a propósito seu vestido está rasgado.

Olhei para baixo onde meu vestido estava rasgado bem na parte dos seios, onde metade do meu sutiã estava exposto. Senti meu rosto arder e dei um gritinho me cobrindo, enquanto o garoto ria.