Underwater

O que esta acontecendo comigo?


Eram seis horas da manhã do dia seguinte e eu me encontrava encolhida em um sofá velho do departamento da guarda costeira, o platinado se encontrava sentado ao meu lado com camisa, infelizmente, enquanto mamãe assinava alguns papéis, uma mulher ruiva se aproximou de mim, arrastou uma cadeira e se sentou na minha frente, eu já presumia o que ela perguntaria. “Como você foi parar em Micaal?”

-Como você foi parar em uma ilha a mais 50 km da costa?- Eu sabia!

-Eu já disse, eu estava no cais eu escorreguei e caí em um barco, pelo que parece eu desmaiei, quando eu acordei eu estava em Micaal.- Eu disse. Sim, eu ocultei a parte em que Marcos tentou-me beijar a força.

Ela se virou para o garoto ao meu lado.

-Viljami, como você a encontrou.- Ela perguntou duvidando de mim. Pera lá, ele se chama Viljami?

Sufoquei uma risada e o observei falar.

-Ela estava desmaiada na praia, Laura.- A mesma me olhou e eu devolvi o olhar que ela me lançou, com repulsa é lógico.

Cruzei os braços e foquei meus ollhos nas manchas de mofo do sofá, claro que a ruiva tentou falar comigo novamente, porém ignorei, eu já tinha tinha falado o que eu tinha de falar, para quem eu tinha que falar. Agradeci aos céus por mamãe terminar o que ela estava fazendo e me chamou para ir para o carro.

O caminho de casa foi silencioso, talvez pelo fato que eu estivesse caindo de sono e não estava afim de puxar assunto, afinal mamãe daria um jeito de levar o assunto até meu desaparecimento e me daria um sermão, mesmo que o assunto fosse sobre alpacas do Himalaia.

Chegamos na nossa pequena casa, ela era laranja e tinha dois andares, duas esquinas antes da praia, era cheia de flores e no quintal haviam brinquedos de Lucas espalhados. Mamãe abriu a garagem e guardou o carro.

Nosso silêncio, que prevaleceu até nossa chegada na casa, se desfez quando ouvimos Lucas e Amanda gargalhando exageradamente, mamãe abriu a porta de casa e entrou, entrei logo atrás e subi para meu quarto, mamãe me mataria? Talvez, mas eu não deixarei de dormir, principalmente porque eu passei, estranhamente elétrica, a noite acordada na espera da minha mãe, que estava sofrendo de ressaca, porém toda minha agitação parecia ter acabado e um sono pesadíssimo tomou conta de mim, eu literalmente me arrastei para a cama e me joguei na mesma, mesmo cheia de areia e sal do mar, ao som de pequenas e melodiosas vozes eu adormeci.

Acordei com Lucas pulando em mim, quase lhe lancei um palavrão, só não o fiz porque percebi mamãe na porta, bufei e cobri minha cara no travesseiro, mas minha mãe poderia até ser adulta mas ela vive como uma criança, o que uma convivência com duas crianças não faz? Papai e Lucas eram as duas crianças da casa. O que? Você achou que era eu? Ah! Porfavor! Tenho mais maturidade do que esses três juntos multiplicado por duzentos. Enfim… Mamãe tirou Lucas de cima de mim, para se jogar em cima de mim. Soltei um mini grito quando ela chamou Lucas para subir também, ele podia ter só sete anos mas ele pesava a um homem de vinte.

Os dois se mexiam como se estivessem tendo uma convulsão, e eu estava sendo amassada ao ponto de virar uma panqueca. Eu estava morrendo esmagada enquanto os dois riam.

-P-parem!- Eu disse.- E-eu p-preciso tomar banh… Ai Jesus, Maria,José,Craudinha e Honey, saiam tá machucando.

Já falaram com uma parede? É o mesmo que falar com minha mãe e Lucas.

Sem paciência nenhuma, tirei força do meu pâncreas, só pode, e joguei minha mãe e meu irmão no chão, os dois caíram que nem jaca. Eles continuaram rindo enquanto eu me recuperava. Sentei-me na cama, mesmo que eles estivessem me acordado, eu não estava completamente acordada, enquanto eu esperava todos os meus sentidos despertarem mamãe disse:

—Vai tomar banho a janta ta pronta.- Janta?! Eu dormi o dia todo?- E eu irei conversar com a senhorita.- Ela disse mandando para o espaço o sorriso que carregava, levantou-se e saiu pela porta.

-Você tá ferrada. - Lucas disse rindo.

-Cala a boca seu pirralho.- eu disse jogando uma almofada nele.

-Lucas vem!- mamãe o chamou.

Eu poderia estar morrendo de medo, porém eu conhecia minha mãe o suficiente para saber que as partes de sermão ela deixava para meu pai. Mas papai não esta em casa, no maximo eu ficaria de castigo de alguma coisa tipo celular.

Levantei-me e procurei qualquer roupa e me dirigi ao banheiro, eu me sentia estranha como se eu nunca tivesse andado na vida, bom… deve ser resultado da minha quase coma, quem dorme das seis da manhã até às seis da tarde?

Tranquei a porta, joguei minha roupas limpas sobre o vaso e tirei meu vestido longo e colorido jogando-o sobre os cesto, liguei o chuveiro e deixei que a água quente me relaxasse.

Porém, minhas pernas bambearam, olhei para baixo tentando achar uma explicação, um brilho percorreu meu corpo e eu caí, minha boca se abriu em um perfeito “O” quando vi que em vez de pernas eu tinha uma cauda alaranjada, sobre meus seios havia um top de escamas que os cobriam na mesma cor que a cauda e meus cabelos que antes batiam um pouco abaixo dos meus ombros estavam longos batendo um pouco abaixo da minha bunda.

-AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH.- Eu gritei.- TEM UM PEIXE ME ENGULINDO ALGUÉM ME SALVA.

-Filha aconteceu alguma coisa?- Mamãe perguntou.

"AH NÃO MAMÃE, SOMENTE GRITEI PORQUE SOU RETARDA" pensei em dizer, mas tenho amor a vida, a parte do sermão é com meu pai, mas a especialista em chinelada é minha mãe e ela está em casa.

Contar ou não contar eis a questão.Talvez não fosse uma das melhores opções, "Ah!Nada demais mamis, só que sua filha acabou de descobrir que em vez de pernas ela ta com um puta rabo de peixe, mas tirando isso, nada de mais". Ok. Definitivamente contar não era uma boa opção. Optei por guardar segredo.

-E-eu escorreguei.

-Você está bem filha? Se machucou?- Ela perguntou em tom preocupado.

-Não nada de mais, só bati a bunda no chão.

-Seu desastre não tem fim, vai logo se não o jantar esfria.

- Tá bom.- Eu disse, me arrastei até a parede sentei sobre a cauda e tentei fechar o chuveiro.

Depois, de com muito esforço, fechar o chuveiro me arrastei até o vaso coloquei minhas roupas sobre meu colo e sentei sobre o vaso.

Como eu tiro isso de mim?— pensei, sacudindo a cauda para cima e para baixo.

Se ela apareceu quando me molhei, se eu me secar talvez ela suma.— peguei minha toalha e passei pela cauda.- Ou talvez eu morra, afinal sereias não vivem fora d’água, porque eu sou uma sereia né? É a única explicação plausível.

Sem eu nem perceber o brilho percorreu meu corpo novamente, minhas pernas haviam voltado.

Eu definitivamente não fazia ideia do que estava acontecendo desde pequena ouço lendas sobre Dovii, sobre sereias, sobre seus melodiosos cantos, mas ser uma, era surreal. Eu amava sereias, tanto quanto as odiava, as amava por fazer parte do mar e as odiava por ser partes das ilusões que eu tinha quando, perdia a sanidade, isso mesmo, perdia, já que somente acontecia quando minha dor de cabeça chegava a um nível extremo.

Cheguei na cozinha, ainda sem acreditar no tinha acontecido, onde Lucas e mamãe comiam peixe e eu não me importei em saber o que era o resto, meu olhos se focaram no peixe e só no peixe.Eu queria aquilo na minha boca, descendo pela minha garganta e se dissolvendo no meu estômago.

-Finaolmeunte, pensei que moraria no baunheiro.- Mamãe disse de boca cheia.

-Modos mãe, modos.- Eu disse me servindo do peixe que estava na panela.

-Modos digo eu! Que quantidade de peixe é essa menina, parece que nunca comeu na vida. Você deixou para seu pai né?- Ela cruzou os braços vendo que eu tinha pegado só metade da panela.

-É lógico mãe, você acha que eu peguei a panela toda?Eu só peguei metade.- O que foi? Panela toda não era o suficiente, mas sou bondosa.

-Claura é glulosa.- Lucas disse também de boca cheia.

-Não me julguem só porque como bastante, pelo menos eu como de boca fechada.- Eu disse me referindo a Lucas que mastigava de boca aberta e virei para mamãe.- E não falo com a boca cheia.

-Ta com a língua afiada hoje.- Mamãe cruzou os braços.- Mas saindo do assunto, você parece assustada, um pouco alienada.- Engasguei sobre os olhares dela e do Lucas.

-Eu estou bem, só… pensativa.- coloquei uma colher de comida na boca.

-Filha- Eu olhei para ela.- Você realmente escorregou no cais?

-Você acha que estou mentindo?- Eu disse fingindo descrença.

-Não.-Ela balançou a cabeça negando.- Mas eu acho que essa história está mal contada, até a parte que você cai no barco eu posso engolir, mas como você foi parar em Micaal?

-Eu estava desacordada, como eu posso saber.

-Tinha mais alguém com você? Aquele tal Marcos,ele tentou trair a namorada dele com você né? Você estava com ele?

-O que? Não! Que nojo, eu não sou assim, eu já disse eu estava nadando perto do cais, sai da água escorreguei e cai no barco.-Ela pareceu não acreditar, porém deu de ombros.

-A propósito senhorita, está de castigo não ira para a praia tão cedo e irá ajudar na loja da senhora Loise.

-Oque?!- eu me indignei.- Trabalhar na loja daquela doida até vai, mas não ir a praia? Você quer me matar?

-Filha, não a chame de doida só porque ela fala asneiras.

-Eu tenho que chamar do que então?

-De senhora Loise.- Ela disse se levantando da mesa recolhendo o prato dela e de Lucas.

-Pensei que me daria um sermão.- Eu disse terminando de comer e colocando meu prato na pia.

-Eu não sou de dar sermão você sabe, só quando estou bêbada.- Ela começou a lavar a louça.- Mas se a senhorita reclamar eu vou te dar um de mais de duas horas e meia.

Abri a geladeira e peguei uma garrafa de água e fui em direção ao quarto.

-Nem pensar.- parei no meio do caminho.- O papai chega hoje?

-Não.- Ela suspirou.

-Por que me mandou deixar pra ele então? Ele gosta de peixe cozinhado no dia.

-Talvez ele pudesse voltar hoje.- Ela disse cabisbaixa.- Nunca se sabe.

-É...Boa noite.- Eu disse sem esperanças ele nunca voltava antes do tempo, mas eu adimirava a perseverança da mamãe.

Subi as escadas e fui para meu quarto, tudo que havia acontecido no banho ainda martelava na minha mente, tive de mentir para minha mãe fingir que tudo estava bem porque algo me dizia para fazer isso, então eu fiz. Eu odiava mentir para minha mãe mas algo me dizia que seu contasse para ela, tudo pioraria.