Estávamos todos sentados em em cadeiras de plástico na espera de nossos responsáveis, motivo? Simples, Tereza, um ser que não leva desaforos para casa, voou em cima de Miriam lhe desferindo socos e tapa depois que ouviu seus xingamentos direcionados a mim, tentei separar a briga porém fui impedida de tal ato já que Kaila voou em mim, infelizmente eu não fazia boxe como a Tereza por isso fiquei no chão me defendendo, como podia de Kaila. No final sobrou até para o pobre Vilage, eu sei lá o nome dele, impedir que Tereza desfigurasse Miriam e que Kaila a mim. O que mais me surpreendeu foi o fato dele segurar as duas pelo braço com tanta facilidade que era como se fosse dois bichinhos de pelúcia.

Para nosso azar, ou o meu mesmo quem nos buscou foi meu pai. Já estava com problemas em relação a ele, agora então… Ele desceu do carro com a pior cara possível, Tereza e eu levantamos e seguimos em direção ao carro sem dizer nada de cabeça baixa. Antes que eu entrasse alguém segurou meu braço, virei-me bruscamente achando que era meu pai.

-Wow! Calma sou eu. -O platinado levantou os braços.

-Você me assustou, achei que era… - Olhei de canto de olho para meu pai que falava com o guarda. -Mas enfim, o que foi?

-Eu queria te perguntar se tá tudo bem.- Ele deu de ombros. - Tá tudo bem?

-Sim. Parece que você me salvou de novo.- Eu sorri. - To devendo essa e outras duas.

-Ah não. Não liga pra isso.

-Não, não, não. Eu vou retribuir, de alguma forma mas vou. - Eu sorri.

-Vamos Clara. - Papai me chamou.

Meu sorriso se desfez quando meu pai pôs a mão sobre meu ombro. Sacudi o ombro para que ele tirasse a mão e me despedi do garoto a minha frente.

-Tchau é…- Incentivei-o para que falasse seu nome.

-Viljami.- Ele respondeu.- Tchau Clara.

Sorri para ele me despedindo e entrando no carro, sentei ao lado de Tereza que soltou um sorriso malicioso.

-Benza Deus menina, que homão tu arranjou. Tem minha benção.- Ela disse baixinho para que meu pai não ouvisse.

-Menos Tereza, bem menos.

-Tá. Mas partindo para assuntos mais importantes. Como vamos provar para todos que tu não é talarica?

-Eu sei lá. Vamos ign…

-AH NÃO!- ela berrou me interrompendo e atraindo atenção do meu pai.- Olha não vou mais me esconder, temos que partir pra cima, combater as cobras, contar a verdade, apagar aquele o fogo que elas tem… Tu sabe onde.- ela voltou a falar baixo.

Bufei e encostei a cabeça no banco, Tereza não era pessoa mais sensata do mundo, brava então... Mas neste momento ela estava ficando louca, eu estava torcendo com toda força para que ela tivesse bebido e a bebida estivesse mexendo com seus sentidos. Ela estava como no prezinho quando botou na cabeça que se alguém me zoasse ela acabaria com a raça dessa pessoa, dito e feito, em um dos meus muitos “ataques” comecei a ver homens pássaros por todos os cantos, eu chorava e berrava por ajuda, mas ninguém me ajudou, pelo contrário por influência de Michaela, a líder da panelinha dominante da época, todos riram de mim. Tereza não se aguentou e jogou uma cadeira em Micahela, sim uma cadeira. Ela levou cinco pontos e Tereza teve uma séria conversa com a diretora e seus pais, o engraçado é que nenhum professor estava presente, irresponsável na minha opinião.

-Não podemos combater fogo com fogo, como você fez hoje. - Eu disse. - E além do mais não tenho pique, nem experiência o suficiente para esmurrar alguém.

-Então vamos apagar fogo com água!- Ela exclamou.- Vamos desmascará-las, humilhá-las, virar o feitiço contra o feiticeiro.

-Como? Tereza pelo amor de Deus, somos aquelas pessoas esquecidas da escola vamos permanecer assim.

-Esquecidas? Apartir de agora elas farão da nossa vida um inferno na terra, sim vivíamos em paz e ignoramos as provocações delas, mas você viu o que acabamos de fazer? Somos arqui inimigas delas agora, elas não nos deixarão em paz.

-Vamos ignorar tá legal? Eu não estou afim de brigas. Nem nada, sei que mais pra frente todos vão esquecer.

-Não vão não. Lembra o que fizeram com a Michaela depois que Miriam divulgou aquelas fotos dela? Ela teve que mudar de cidade. Mudar de cidade! Por Deus, mudar de cidade. Temos que dar a volta por cima antes que tudo piore.

Olhei para frente percebi que estávamos quase perto de casa, percebi também que papai estava mais focado em tentar ouvir nossa conversa do que em dirigir.

-Terminaremos essa conversa depois.- Eu disse dando um ponto final, não seria bom meu pai saber que a Tereza estava planejando uma vingança contra as pessoas mais poderosas da escola.

-Isso é um sim?- Ela perguntou animada.

-Não.- Ela murchou. - É “um vou pensar”.

Entramos em casa com o intuito de ir para o quarto, porém fomos barradas por minha mãe que estava uma fera. Somente com o olhar nos mandou para a sala. Devo admitir que aquele olhar vai me assombrar até os fins dos tempos.

Estavamos sentadas no chão de frente aos meu pais que estavam no sofá, meu pai de braços cruzados e minha mãe tomando café. Papai pigarreou e começou seu sermão:

-Filha… Não te criamos para ser assim, não te criamos para fazer isso. Eu não te proíbo de nada, mas roubar o que é dos outros? Filha isso é deplorável.

Um ponto de interrogação nasceu na face das três mulheres presentes, ele realmente achava que eu tinha me relacionado com Marcos?

-Eu não entendi.- Tereza falou. - Porque o senhor está brigando com ela? Ela quase foi estuprada!

-Tereza!- Exclamei olhando-a, eu iria contar para minha mãe quando estivéssemos a sós.

Papai olhou-nos espantados.

-O que? É verdade! Marcos vêm tentando te obrigar a fazer coisas que não quer a meses. Seu pai precisa saber sobre isso.

Eu pretendia contar ao meu pai, mas eu não queria mais a ajuda dele, ele não era mais um exemplo para mim, ele era infiel e eu não queria buscar apoio em um ser impertinente como ele.

-Por que não me contou? Sou seu pai estou aqui para te ajudar.

-Não você não tá, você nunca esteve. Mamãe se virou do melhor jeito possível para combater minhas crises, para me criar e dar amor, eu sofri bullying minha vida toda e você não esteve lá quando mamãe tentou resolver isso. Você não esteve em momento algum.- Eu me exaltei.

-Eu estava trabalhando para te dar o melhor…

-Claro!- Berrei interrompendo-o - Eu não quero o melhor, eu quero um pai. E outra “o melhor” nunca veio, eu não sei pra quem esse “melhor” foi. Mas para a gente não foi, mamãe passou dias chorando porque não tinha como pagar as contas e você? Onde estava?

Eu estava sentindo as lágrimas virem, mas eu não choraria, não na frente dele. Levantei-me e andei em passos duros até meu quarto pouco me importando se Tereza iria vir junto comigo ou não. Fui até meu quarto e me joguei na cama deixando as lágrimas escorrerem pelo meu rosto e molhar a fronha. Mal percebi que eu tinha adormecido, somente acordei quando a sede bateu, olhei para o lado e tudo estava escuro, Tereza estava deitada em um colchão no chão enrola em miliumas cobertas. Em um nível hardcore de parkour me esquivei por entre o quarto sem acorda-la.

Água era tudo que eu mais desejava, cheguei até a cozinha e peguei o maior copo do armário, enchi-o de água até a borda e comecei a beber, porém minhas pernas bambearam e perderam a força e eu caí para trás derrubando toda a água em mim. Minhas roupas tinham sido substituídas novamente pela cauda e pelo top. Suspirei e coloquei minha mão sobre a cauda fiz o mesmo que antes, fui fechando lentamente minha mão, um calor gostoso invadiu meu corpo e pouco a pouco começou a secar a cauda, aquilo era tão legal, será que eu poderia fazer mais que desaparecer e aquecer coisas? Já seca me levantei pegando o copo do chão e enchendo-o de agua. Encarei-o, como eu faria? Ou melhor, o que eu faria? Lembrei-me da “cobra” que me atacou no freezer da senhora Loise, será que eu conseguia fazer igual? Espera um pouco… Por que não estou assustada por ter sido atacada por uma cobra d’agua? Isso parece tão...Tão normal. Sacudi a cabeça focando no principal, tentar descobrir mais do que eu me tornei. Estendi a mão em direção ao copo, foi um movimento de mão, nada, outro, nada, mais outro, nada novamente. Eu estava desistindo virei o copo de água na pia tomando cuidado para não me molhar, quando ouvi papai.

Ele passou pela cozinha, mas não me viu, já que a luz estava apagada, pude perceber que ele estava no telefone. Andei sorrateiramente atrás dele fazendo o mínimo de barulho possível. Papai foi até o lado de fora da casa e eu o segui.

-Eu estou indo. Estou saindo de casa.- Ele disse para sei lá quem. - Também te amo.

Soltei um pequeno grunhido de raiva e fechei a mão em punho. Como eu queria esmurrar a pessoa do outro lado da linha. Segui meu pai até onde ele iria, se ele estava traindo mamãe ou não, eu descobriria agora. Não me preocupei com minhas roupas, até porque eu nem tinha trocado de roupa quando voltei da festa. Finalmente paramos de andar quando chegamos em uma lanchonete, ela estava estranhamente aberta, mesmo sendo madrugada. A lanchonete ficava em frente a um píer, o mesmo era cheio de caixas e redes. Papai foi até lá onde uma mulher estava para a sua espera. Permaneci um pouco afastada atrás de algumas caixas.

Ele puxou-a para um beijo, minha boca abriu-se em um “O” , ele realmente estava traindo mamãe. Eles se separaram e se sentaram na ponta do píer. Não pude escutar o que eles falavam, me levantei com o objetivo de chegar mais perto para ouvi-los, mas o universo me ama e fez o favor de acionar meu modo desastre, eu tropecei em uma rede e cai na água, fazendo um alto e nem um pouco discreto “splash”.

A água estava gelada, estupidamente permaneci parada afundando cada vez mais, a água borbulhou a minha volta e um brilho percorreu meu corpo. Tentei mover minhas pernas, mas elas foram substituídas por aquela longa e escamosa cauda, ela brilhava sob a luz da lua e eu estava maravilhada. Era uma sensação incrível, era mágico. Eu estava prendendo o ar e batendo levemente os braços, por um momento me esqueci do meu verdadeiro foco, fui lembrada quando ouvi duas vozes.

-Consegue ver o que é?- A voz estava clara e em bom som, uma voz melodiosa e sedutora. Era como ouvir fora d'água, lógico com algum distorções por conta das ondas.

-Não. Deve ser um peixe ou… Pera. -Meu pai se abaixou. - Tem algo laranja lá no fundo.

Arregalei os olhos e soltei o ar que eu prendia, que subiu em bolhinhas. Eu não sabia como nadar, então tentei batendo as mãos e a cauda desajeitadamente, eu parecia uma sacola em meio a uma tempestade, o bom foi que consegui chegar em baixo do píer.

-Eu não consigo ver. - Ela lamentou.

-Já foi embora.- Papai disse também desanimado.

Subi até a superfície e agarrei umas das colunas que sustentam o píer.

-Então... Você já encontrou? - Ela perguntou. - Sabe a pedra?

-Procurei em todo canto da casa.- Ele suspirou.- Mas nada.

Pedra? Que pedra?

-Pergunte discretamente a ela. Ela pode dar uma dica de onde está.

-Já tentei, ela sempre bate na mesma tecla, ela não sabe ou não lembra.

A mulher suspirou.

-Mas tenho uma boa notícia. Eu consegui arranjar a papelada do divórcio.- Meu pai disse.

-O QUE?!