Underfell

Capítulo 7 - Vs Monster Kid


— Olha, criança, eu gostaria mesmo de acreditar nisso mas... – Flowey se interrompeu no meio da frase. – Bem, talvez isso seja certo, mas agora não podemos parar para pensar nisso, temos que continuar. – Frisk limpou as lagrimas dos olhos e assentiu, então abaixou a bota para que Flowey pudesse entrar.

Waterfall não estava muito diferente da original, somente um pouco mais escura, mas mesmo assim, continuava mantendo aquele tom calmo e misterioso de que Frisk se lembrava.

Os dois companheiros seguiram pelo caminho, passando pelo posto vazio de Sans e por algumas flores azuis. Frisk então percebeu que não havia encontrado com a outra versão de Monster Kid, mas ele não conseguia pensar em como aquela criança poderia ficar corrompida. O barulho calmo do rio era o único som alem dos passos de ambos

— Este é meu lugar favorito do Underground. – Flowey disse, quebrando o silencio. – Parece que se manteve intocado da maldade dos monstros... Mas só parece. – Eles passaram por uma cachoeira onde caiam blocos de gelo, a água gelada provocou calafrios em Frisk ao atravessar. – Temos que ter cuidado, aqui mora Undyne. – Frisk pensou um pouco e aquela velha pergunta voltou a sua mente. Se Papyrus era o capitão da guarda real, o que Undyne era?

“*Você pergunta quem é Undyne”

— Uma assassina. A assassina, para falar a verdade. A assassina particular do rei – Flowey respondeu, olhando para o teto da gruta. – Quando Papyrus falha em cumprir uma missão, Asgore chama Undyne para terminar o trabalho. – Frisk sentiu o seu medo crescer, mas a lembrança de sua família de verdade o encheu de determinação.

A criança e a flor chegaram a uma zona de mato alto ao lado de um morro, e começaram a caminhar em meio ao mato. Frisk parou ao escutar uma conversa logo acima deles, no morro.

— O que você está fazendo aqui? – Frisk reconheceu a silhueta de Papyrus logo acima, olhando para alguém que se escondia na escuridão, Undyne. – O humano é meu, do grande Papyrus, você não tem nada para fazer aqui.

Undyne murmurou alguma coisa, e Papyrus trincou os dentes.

— Não interessa se eu consegui captura-lo ou não. – Papyrus respondeu rispidamente. – O importante é que eu... – Undyne murmurou alguma coisa e Papyrus deu dois passos para frente. – Não! Eu, o grande Papyrus, vou capturar esse humano! Não você! Esse humano é MEU! – Uma sombra saiu da escuridão e parou diante de Papyrus. Uma lança vermelha brilhante apontava para seu rosto. Frisk percebeu que a armadura de Undyne não era muito parecida com a da Undyne original, parecia mais... Aberta. Papyrus recuou. – Está bem, pode ficar com esse estúpido humano para você. – Papyrus começou a voltar pelo caminho de onde veio, mas parou em seco e se virou. – Mas isso não ficará assim, guarde minhas palavras, Undyne. – Papyrus voltou a caminhar e desapareceu ao cabo de alguns segundos.

— Vamos continuar... – Flowey sussurrou, mas foi interrompido por um som elétrico vindo de mais acima. Undyne estava curvada sobre o morro, com sua lança em mão, inspecionando o mato. Frisk percebeu que seu abdômen ficava descoberto naquela armadura, que ela usava um manto ocultando seu rosto e que em seu peito era possível ver o símbolo de um coração partido pela metade.

Após alguns segundos extremamente tensos, um barulho chamou a atenção de Undyne, que se virou para trás e saiu caminhando.

— Meu Deus... – Flowey suspirou e Frisk começou a andar inconscientemente. – Essa foi por pouco. – Ao sair da zona de mato alto, Frisk e Flowey escutaram claramente o som do mato, logo atrás deles, sendo amassado, e viram uma figura pequena sair correndo do mato e parando a poucos metros deles.

— Estão olhando o que? – Monster Kid rosnou. Suas roupas eram vermelhas com listras pretas, seus espinhos eram mais afiados, seus olhos amarelos e seus dentes pontiagudos. Seu rosto era de raiva e tristeza. – Nunca viram um monstro sem braços? – Ele saiu caminhando carrancudo, esbarrando em Frisk e em Flowey sem nem olhar para trás. Frisk sentiu pena por ele, mas decidiu o deixar ir com temor dele se mostrar agressivo.

Frisk e Flowey prosseguiram com sua viagem, atravessando o rio onde a criança devia alinhar as flores e chegando a escura sala dos desejos.

— Aqui é a sala das flores azuis. – Flowey disse quando os dois chegaram à sala. – Ela se chamava “sala dos desejos” antigamente, mas todos perceberam que nenhum dos seus desejos se concretizavam, então ninguém mais vem aqui... – Flowey fitava com tristeza o teto do local, onde era possível se ver pontos brilhando. Frisk percebeu que Waterfall parecia incrivelmente igual ao Waterfall real, ainda que não fosse possível ver monstros andando por ali e que algumas coisas estivessem fora do lugar, como o telescópio.

Flowey e Frisk seguiram pelo caminho silencioso e chegaram a um velho caminho de madeira sobre o rio. O humano se lembrou de que mais a frente se encontraria com Undyne, e começou a se sentir paranoico.

— O que foi carinha? – Flowey pareceu perceber o nervosismo no rosto de Frisk. – Você parece tenso... Que aconteceu? – Flowey olhou para o caminho mais a frente. Existia uma plataforma de madeira boiando em meio ao rio, onde Frisk subiu e empurrou levemente com um pé para que a plataforma se movimentasse para frente. – É aquele esqueleto, não é? – Frisk negou com a cabeça, sem olhar para Flowey. – Então o que foi? – A plataforma chegou a um longo caminho de madeira cheio de curvas. Era possível se ver as margens do rio a esquerda, com varias estalactites quebradas, alem de sangue. Frisk prosseguiu em silencio, olhando para os lados e com ouvidos atentos. – Me conta cara, eu não posso te ajudar se você não me diz nada. – Frisk fez um gesto de silencio, e então, ele ouviu passos.

Uma lança vermelha passou raspando por cima de Frisk, este procurou Undyne nas margens, mas não a encontrou, então percebeu que a lança vinha de detrás dele.

— CORRE! – Flowey exclamou, e Frisk obedeceu, correndo com todas suas forças. Lanças vermelhas cortavam o ar ao redor de Frisk, com uma agressividade muito maior que as lanças da Undyne real. As lanças quebravam pedaços da madeira debaixo de Frisk, e varias vezes atingiram a alma de este, provocando uma chuva de lanças sobre ele. Mesmo assim, a criança não se deteve e continuou a correr, carregando Flowey nos braços, que continuava a gritar “Corre!”.

Frisk estava quase chegando à outra zona de mato alto quando uma lança acertou sua perna e fez sua alma sair do corpo. Dezenas de lanças voaram sobre sua alma e a acertaram, arrancando quase toda a vida que ali existia. Frisk caiu no chão quando a sua alma voltou ao seu corpo.

— Não! – Flowey disse, quando caiu das mãos de Frisk. Undyne se aproximava rapidamente, com seu olho bom brilhando. – Chara! Acorde! – Flowey disse, desesperado. - Você precisa se manter determinada! – Flowey pareceu não perceber o que estava falando. Frisk conseguiu reunir forçar para se levantar e continuar correndo, com Flowey em seus braços. Eles conseguiram chegar à grama alta e se esconderam.

Undyne caminhou com passos pesados pela grama alta, olhou para baixo e levantou alguma coisa: Monster Kid.

— Me larga! – Monster Kid mordeu a mão de Undyne, que largou o monstro, e este desapareceu em meio ao mato. Undyne pareceu procurar mais um pouco, mas logo desistiu e voltou por onde havia vindo.

Frisk e Flowey esperaram um pouco e continuaram andando. Monster Kid saiu logo atrás deles.

— Vocês tiveram sorte. – O monstro disse. – Se estivesses um pouco mais para a direita, teriam virado sopa, e não acho que vocês tenham dentes afiados como os meus para se defenderem.

— Você está nos seguindo? – Flowey disse, olhando com receio para o monstrinho.

— Não, eu estou seguindo ela. – Ele respondeu. – Estou estudando sua estratégia. – Seus olhos pareceram brilhar. – Um dia, serei mais forte que ela, e vou ensinar a todo o Underground que não devem mexer com monstros sem braços. – Flowey olhou para Frisk, e depois para Monster Kid.

“*Você diz que ele não precisa machucar os outros para ser respeitado”

— E como vai ser se não? – Ele respondeu. – Mandando beijos para todo mundo? Aqui é a sobrevivência do mais forte, e eu serei o mais forte. – Ele riu e continuou seu caminho, passando por Frisk.

— Este mundo esta perdido. – Flowey murmurou, melancólico. Ambos continuaram sua viagem.