Underfell

Capítulo 8 - Vs Onionsan


Os dois companheiros continuavam sua jornada por Waterfall. Eles passaram por mais um posto de guarda vazio e seguiram pelo caminho onde corria um pequeno rio cuja água brilhava em um azul ciano e existiam varias vitórias-régias boiando. Eles chegaram a ver uma criatura branca correndo para se esconder, mas fora isso, não encontraram com ninguém pelo caminho.

— Este é um paraíso em meio de um inferno. – Divagou Flowey, nos braços de Frisk. – Eu gostaria de saber quanto irá demorar para que os monstros o destruam.

“*Você pergunta porque os monstros são tão ruins”

— Eles sempre foram assim... – Flowey respondeu, olhando para Frisk. – Quer dizer, piorou desde que os humanos aprisionaram os monstros neste buraco. – A flor disse. – Você conhece a historia, certo? Faz muito tempo, humanos conviviam com monstros, mas os monstros se mostraram violentos demais e varias batalhas se travaram entre eles... – Flowey contou. – Finalmente, uma guerra em escala global aconteceu, os humanos conseguiram ganhar e usaram magia para prender os monstros debaixo da terra. – Flowey olhava para as paredes. Pareciam existir rabiscos nestas. – Tem aquela lenda também, sobre o morcego.

“* Você pergunta que morcego é esse”

— Você já deve ter visto o símbolo dele na roupa de Toriel. – Flowey disse. – Uma bola, com duas asas de morcego nos lados, e triângulos debaixo. – Frisk se lembrou do Deus da Hypermorte, que na verdade era Asriel, o filho morto de Toriel e Asgore. – Esse símbolo tem toda uma lenda por trás. Dizem que representa um morcego divino, enviado pelos deuses, que libertará os monstros do underground ou os destruirá para purificar o planeta de sua maldade. – Flowey apontou para um rabisco em uma parede. – Aquele ali. Para falar a verdade, eu não acho que essa historia seja verdade, mas gostaria de acreditar que é.

As flores azuis estavam mudas, algumas produziam alguns sussurros, mas em sua maioria, não se ouvia nada. Isso se repetiu até a ultima flor azul, a beira do rio, que sussurrou “Você não pode se esconder...”

O caminho se tornou mais escuro assim que Frisk e Flowey abandonaram o rio, e chegaram a uma zona onde as águas eram escuras. O caminho terminava abruptamente, e varias plataformas de madeira estavam espalhadas mais a frente. Frisk se aproximou do fim do caminho e percebeu que este parecia ter sido destruído para acabar daquele jeito.

— Garoto... – Flowey sussurrou, cutucando Frisk com uma raiz. Ele estava distraído, olhando para as plataformas. – Garoto, olha. – Flowey apontou para um ponto no meio do rio, Frisk olhou naquela direção e tentou descobrir do que Flowey estava falando.

Um tentáculo amarelado havia saído de dentro do rio, mas havia retornado rapidamente. Frisk percebeu então que uma das plataformas de madeira havia se aproximado dele, e então decidiu subir nesta e a empurrou, locomovendo-a para a próxima plataforma.

Outro tentáculo saiu de dentro da água e passou por perto de Frisk, afundando na água pouco tempo depois.

— Ai... – Flowey gemeu ao ver mais tentáculos saindo da água. Um tentáculo saiu da água e, sem prévio aviso, agarrou Frisk e Flowey, os erguendo no ar, acima da plataforma de madeira.

— Sim! Visitantes! - Uma voz aguda e cartunizada, mas cheia de malicia, disse. Uma cabeça amarela, com o formato de uma cebola, começou sair de dentro da água. – Aqui já estava ficando chato sem passar ninguém! – Onionsan apareceu, seus olhos eram puxados e sua boca possuía dentes serrilhados. Parecia o vilão de um desenho animado.

— Ei! Nos deixa no chão! – Flowey disse ameaçadoramente.

— Se eu deixar vocês no chão, vocês vão ir até o final da sala e eu não vou me divertir nadinha. – Onionsan replicou. – Meu nome é Onionsan, e eu domino esta passagem! – Onionsan disse, assumindo uma pose presunçosa. – Antes eu não era o único que morava aqui, meus irmãos ficavam aqui comigo... Mas eles se mataram entre si em uma briga por quem sairia primeiro daqui. – Onionsan pareceu longe por um momento.

“*Você pergunta para Onionsan se vocês podem prosseguir”

— Eu vou deixar vocês irem. – Onionsan respondeu, sem largar Frisk. – Mas primeiro vocês terão que resolver uma charada.

— Não parece tão ruim... – Flowey murmurou, olhando para a criança. Frisk não se lembrava de nada sobre charadas no seu encontro com Onionsan.

— Se vocês acertarem, eu deixo vocês continuarem. – Onionsan disse. – Mas se vocês errarem. – Ele fez uma pausa, sua voz se tornou mais grave. – Eu vou devorar vocês. – Frisk empalideceu e o rosto de Flowey se tornou mais rígido. – Bem, aqui vamos. – Onionsan disse, chacoalhando levemente Frisk e Flowey sem perceber. - Um assassino é condenado à morte. Ele, então, tem que escolher entre três salas: a sala 1 está cheia de focos de incêndio, a sala 2 está cheia de assassinos com armas carregadas, e a sala 3 tem um monstro que não come há 3 meses. Qual é a sala mais segura para ele? – Aquela charada era difícil, e Frisk não conseguia pensar em nenhuma resposta, Flowey pareceu quebrar a cabeça com aquilo também.

— A sala 3! – Flowey exclamou. – Se os monstros não comem faz três meses, eles estão mortos! – Os olhos de Onionsan brilharam.

— Errado. – Ele disse, com um sorriso. – Esse monstro sou eu, e eu ainda estou vivo. – Onionsan abriu a boca e Frisk gritou de terror. Flowey, rapidamente, rodeou o braço de Onionsan com uma raiz espinhosa e apertou, forçando o monstro a soltar Frisk e Flowey. – Ai! – Onionsan gritou e seu tentáculo caiu na água com força, provocando uma pequena onda que empurrou a plataforma onde Frisk e Flowey estavam até o outro extremo do rio. – Ei! Volta aqui! – Onionsan seguiu a plataforma de Frisk, mas foi tarde demais, estes haviam conseguido chegar ao outro extremo e já saiam da sala. – Não! Por favor! – Frisk sentiu compaixão por Onionsan, mas era melhor não voltar.

— Me desculpa por não ter previsto aquele monstro. – Flowey disse. – Eu não passo muito por lá porque o caminho estava daquele jeito.

“*Frisk diz que não tem problemas, ele devia ter lembrado de Onionsan também”

— Que? – Flowey disse. Frisk percebeu o que tinha acabado de dizer. Ele não aguentava mais, devia contar para Flowey toda a verdade.

“*Você diz para Flowey que precisa contar para ele uma coisa.”

— Eu já sei. – Flowey disse. Frisk sentiu o ambiente ficar mais frio. Eles estavam passando por uma sala onde existia um piano estilhaçado e um buraco na parede. Latidos eram ouvidos ao longe. – Você usou um save, não é? – Frisk olhou para a flor. Ele sentiu um alivio por não precisar contar a verdade para Flowey, mas a vontade voltou logo depois. – Eu já sabia. Eu percebi quando você chegou, porque eu não conseguia usar os meus saves... Sua determinação, de algum jeito, consegue sobrepor a minha. – Flowey ficou em silencio por um momento, então olhou para Frisk e sorriu amigavelmente. – Mas está tudo bem. Eu acho que você precisa mais desse poder do que eu. – Frisk olhou para Flowey por um momento. Ele sentiu pena pelo pequeno amigo. O que aquela pequena flor havia sofrido naquele mundo distorcido? Frisk decidiu devolver o sorriso para Flowey.

Os dois companheiros passaram por uma estatua de uma criatura em uma pose ameaçadora, apontando para um buraco no teto de onde caía água, e chegaram a uma zona cheia de poças de água onde perceberam um guarda-chuva largado no chão. Frisk se agachou e pegou o guarda-chuva, tendo que colocar a bota com Flowey debaixo do braço esquerdo.

Depois de alguns segundos de caminhada, começou a chover. Flowey pediu para que Frisk deixasse cair um pouco de água na sua bota, pois ele estava com sede.

Mais a frente, Frisk e Flowey reconheceram a figura de Monster Kid, sentado e olhando para o seu reflexo nas poças de água. Frisk caminhou e parou a sua frente, ele olhou ameaçadoramente para o humano.

— O que você quer? – Monster Kid rosnou. – Debochar de mim só porque não tenho braços e não consigo segurar um guarda-chuva? – Frisk negou com a cabeça. – Vaza daqui. – Frisk não se moveu, olhando para o monstrinho. Monster Kid se levantou e, a contragosto, caminhou até o lado de Frisk, ficando na sombra do guarda-chuva. – Tanto faz... – Ele murmurou. Frisk deu um meio sorriso e continuou a caminhar, com Monster Kid ao seu lado.

O grupo caminhou em silencio por um longo tempo, sem ideias para tópicos de conversas, até que Monster Kid acabou quebrando o silencio.

— O rei visitou Snowdin um tempo atrás. – Monster Kid disse, olhando para uma flor azul ao longe. – As pessoas tremiam de medo e tentavam se esconder dele, mas ele não machucou ninguém. Isso me faz pensar... – Ele olhou para frente outra vez. – Eu devo virar o rei do Underground. Assim vou poder controlar a guarda real e punir Undyne pelo que ela fez a minha família. – Frisk olhou para Monster Kid.

“*Você pergunta o que Undyne fez para sua família”

— Não é da sua conta. – Monster Kid devolveu. – Papyrus com certeza é mais forte do que ela, só que ele é outro medroso. Todos tem medo dela, mas eu não. Eu serei mais forte do que ela e vou ser quem vai derrotar ela! – Monster Kid quase gritou essa ultima frase. Frisk percebeu que ele havia sido amargado pela vida dura daquela versão distorcida do Underground.

O caminho passou por uma grande abertura, por onde eles podiam ver o castelo ao longe, em vermelho, e varias “estrelas” no céu. Monster Kid olhou de viés o castelo, mas continuou caminhando.

A chuva finalmente parou quando o grupo chegou a um morro. Havia bastante lixo por ali, formando uma montanha alta o suficiente para que Frisk, Flowey e Monster Kid conseguissem subir e continuar o caminho.

Monster Kid parou assim que a chuva terminou. Frisk se virou para saber o que havia acontecido, deixando o guarda-chuva no chão.

— Podem continuar o caminho de vocês, eu vou fazer outra coisa. – Monster Kid disse, se virando de costas. Frisk se virou e continuou o caminho.

O caminho agora se tornava uma grande plataforma de madeira acima de um abismo, Frisk se lembrou de que Undyne iria aparecer aí, e então começou a correr.

— Ei! O que foi? – Flowey exclamou, assustado com a repentina agitação do colega. Então, lanças subiram desde a parte de baixo do caminho mais atrás de Frisk, estilhaçando madeira e derrubando o caminho. Undyne estava em outra plataforma mais abaixo, olhando fixamente para Frisk.

Frisk acelerou o passo enquanto mais lanças quebravam tudo por onde ele passava, ele correu com todas suas forças, mas Undyne parecia ser igual de rápida, e sempre conseguia quebrar o caminho atrás dele, derrubando as madeiras e fazendo que Frisk ameaçasse cair. Isso se seguiu por um tempo até que Frisk chegou a um beco sem saída. Undyne apareceu atrás dele, com passos fortes, o encurralando.

— Por favor, não... – Uma lança vermelha apareceu no céu e cortou o passo em dois, derrubando a plataforma onde Frisk e Flowey estavam, fazendo que ambos caíssem no vazio escuro abaixo.

Frisk estava em um lugar escuro. A menina de roupas negras e vermelhas estava logo a sua frente, olhando fixamente para ele com seu olhar triste.

— Saudações, humano. – A menina disse, com um tom calmo e educado. – Meu nome é Chara.