Underfell

Capítulo 4 - Vs Greater Dog


Frisk esperou alguns minutos após a partida dos irmãos, tremendo tanto pelo frio como pela tensão.

— Ei, companheiro. – Flowey surgiu metros à frente. – Eles já se foram, vamos sair logo daqui antes que você pegue uma hipotermia. – Flowey desapareceu no chão outra vez.

O caminho prosseguiu sem mais encontros com os dois esqueletos. Frisk percebia as diferenças sutis - e às vezes nem tão sutis – daquela versão da floresta de Snowdin com a original. Um exemplo disso era o posto de vigia de Doggo, que Frisk encontrara pouco depois de voltar a caminhar. O posto de vigia estava totalmente estilhaçado, com a neve ao redor vermelha de sangue. Frisk sentiu certo alivio ao perceber que Doggo não estava lá.

A floresta continuou sem a presença de Papyrus e de Sans, e Frisk logo percebeu que a floresta parecia estar completamente deserta. Mesmo nos lugares onde deveria haver quebra-cabeças de Papyrus, tudo estava vazio.

Mesmo assim, Frisk estava determinado a continuar.

A criança assim seguia pela floresta, passando pelo lago congelado onde antigamente existira um jogo de golf feito de neve e pelo local onde o Sans original havia desafiado Frisk com uma cruzadinha. Frisk logo chegou à clareira onde existia uma barreira de espinhos, com um botão secreto para desativá-los. Frisk não viu espinho nenhum, nem botão, então se preparou para continuar o caminho, mas foi detido por Flowey, que surgiu subitamente a sua frente.

— Espera! – Flowey exclamou. – Tem uma coisa aqui... – Flowey se virou e procurou um galho no meio da neve, que lançou mais a frente. O galho caiu no chão, e nesse instante, uma armadilha de urso se ativou, partindo o galho em dois. – Tem três dessas armadilhas barrando o caminho, acho que foram aqueles dois que colocaram... Mas eu vou desativa-las para você. – Flowey fez raízes saírem do chão e passarem por cima do caminho, ativando as outras duas armadilhas. – Pronto. Agora você pode... – Um som similar a um latido soou mais a frente. Flowey pareceu assustado. – Se esconde... Rápido... – Frisk se escondeu detrás de algumas pedras, enquanto que Flowey desapareceu na terra outra vez.

Mais a frente, Frisk percebeu que quem surgia era Dogamy, sem sua companheira Dogaressa, arrastando o machado atrás de si. Frisk percebeu também que havia uma nevoa cobrindo o machado. As longas vestes pretas de Dogamy, pelo que Frisk percebeu, estavam rasgadas e sujas, seu rosto encoberto era cheio de cicatrizes e seu machado parecia mais longo e afiado.

Dogamy se deteve e começou a cheirar o ar. Frisk deteve sua respiração e se encolheu mais ainda, sabendo que o cão possuía um grande sentido do olfato. Dogamy olhou em direção da pedra onde Frisk estava oculto, mas se virou para trás ao ouvir sons de passos, então a outra versão de Lesser Dog surgiu.

O Lesser Dog original era um Golden retriever branco, enquanto que o Lesser Dog que ali estava era um Bulldog. A armadura de Lesser Dog era preta com um “X” em vermelho no seu peito. Levava um escudo preto com o mesmo símbolo que a outra Toriel tinha no vestido em vermelho.

— Você os achou? – Dogamy disse, Lesser Dog fez um som estranho, como se estivesse cheirando o ar. – Eles devem estar por perto, se aquele esqueleto estiver falando a verdade. – Lesser Dog começou a fungar e Dogamy pareceu ficar nervoso. – Não menciona esse nome. Doggo recebeu o que mereceu por fazer aquilo com Dogaressa. – Eles ficaram em silencio um momento. – Vamos andando. – Dogamy subiu a colina, seguido por Lesser Dog, e ambos desapareceram.

Frisk se levantou e saiu de trás das pedras. Flowey apareceu logo a sua frente.

— Eles fazem parte da guarda real. – Flowey murmurou para Frisk. – São todos assassinos sem respeito com ninguém... Assim como o rei. – Frisk ficou curioso com essa ultima frase, mas não muito surpreso.

“*Você pergunta se o rei é tão ruim assim”

— Ele é pior. – Flowey olhou para cima, como se estivesse se lembrando de alguma coisa. – Não era tão ruim antes, mas por algum motivo virou um tirano assassino. – Frisk e Flowey começaram a avançar, Frisk caminhando e Flowey se locomovendo por dentro da terra.

“*Você pergunta como o rei ficou ruim”

Flowey pareceu incomodo por um momento, Frisk sabia que era porque as lembranças da época em que Flowey era Azriel começavam a fluir.

— Eu... – Flowey fez uma pausa. – Eu não lembro direito... – Seu rosto dizia o contrario, demonstrando tristeza e medo. Flowey entrou na terra outra vez.

Frisk atravessou o lago congelado onde antes existia um quebra-cabeça de círculos e xis, chegando a uma longa clareira onde existiam vários montinhos de neve. Frisk já sabia o que iria haver ali.

A criança seguiu até uma área onde o caminho se estreitava e era interrompido por outro montinho de neve. Frisk se preparou para cutucar o montinho, mas uma raiz surgiu e pressionou o montinho, ativando uma armadilha de ursos embaixo deste.

— Cuidado, esses montinhos de neve são armadilhas disfarçadas. – Flowey disse, aparecendo atrás de Frisk. - Esses esqueletos trabalham rápido... Oh não! – Flowey arregalou os olhos enquanto olhava para algo atrás de Frisk. Frisk se virou, para encontrar com o outro Greater Dog.

O outro Greater Dog era um Affenpinscher, diferente do original, que era um Spitz Alemão Anão. Sua armadura negra possuía espinhos feitos de ossos nas ombreiras e havia um “X” gravado em sua lança azul e em sua grande luva de metal.

O cachorro permaneceu fitando Frisk por um momento, sem reação. Frisk também estava sem reação, com medo.

“*Você aproxima sua mão do cachorro”

Greater Dog emitiu um rosnado leve e apontou sua lança para Frisk, cuja alma pairou acima de sua cabeça. Então, o cão esticou seu braço e, com um movimento rápido, fez um corte horizontal através da alma de Frisk, que não reagiu. Flowey soltou um grito ao perceber aquilo, mas suspirou aliviado ao perceber que Frisk não se havia machucado, pois aquilo havia sido um ataque azul. O cão pareceu irritado e desferiu um golpe branco, que pegou o coração desprevenido, machucando-o um pouco. Frisk fechou os olhos, afastando a tristeza e se enchendo de determinação. Se ninguém reconhecia Frisk, ele tentaria voltar a ser amigo de todos.

“*Você chama pelo Greater Dog”

Greater Dog pareceu confuso por um momento e logo voltou a atacar Frisk com sua lança, lançando uma investida perigosa que Frisk conseguiu esquivar.

— O que você está tentando fazer? – Flowey disse, confuso. Quando a alma de Frisk voltou ao seu corpo, Frisk caminhou até Greater Dog e, esquivando suas grandes mãos e sua lança começou a escalar sua armadura até chegar à cabeça do animal, que rosnava e ameaçava morder. – Garoto, sai daí! – As raízes de Flowey começaram a sair do chão e a se enrolar na armadura de Greater Dog numa tentativa de tirar Frisk de lá.

“*Você faz carinho na cabeça de Greater Dog”

Greater Dog arregalou os dentes e começou a tentar morder Frisk, que se esquivava com dificuldade se movendo para os lados e continuava fazendo carinho em Greater Dog.

— Garoto! – Flowey gritou, desesperado. Frisk continuava a tentar fazer carinho em Greater Dog, ignorando completamente o chamado de Flowey. Greater Dog continuava a tentar morder Frisk, mas Frisk percebeu uma coisa estranha nos olhos do animal.

“*Você consola Greater Dog enquanto continua fazendo carinho no animal”

Greater Dog rosnava e tentava morder. Sua lança passou de raspão por Frisk duas vezes, mas este não soltou o cão. Greater Dog começou a hesitar em morder, Flowey percebeu isso.

“*Você continua a fazer carinho em Greater Dog”

Então, Greater Dog parou de morder. Frisk continuou acariciando o cachorro, que fechou os olhos em silencio e largou a lança, que afundou na neve. Flowey percebeu que Greater Dog parecia estar chorando silenciosamente. Flowey então olhou surpreso como Greater Dog segurava Frisk pela camisa e o colocava no chão, e logo a seguir saia caminhando lentamente para o lado contrario do caminho. Frisk tinha um sorriso bondoso no rosto.

— Como você fez isso? – Flowey perguntou, Frisk só sorriu. – Aquilo foi perigoso demais! – Flowey disse. – Você podia ter morrido. – Frisk deu de ombros. – Não faça aquilo mais, ta bom? Você pode não ter a mesma sorte com algum outro monstro. – Frisk se preparava para dizer algo, mas de repente, uma coisa passou rapidamente entre Frisk e Flowey, provocando um zumbido, e ambos escutaram um som de metal sendo estilhaçado e um choro canino que logo cessou.

Os dois companheiros se viraram para ver Greater Dog de costas com um grande osso atravessando seu peito gotejante de sangue, o cachorro se transformou em uma nevoa e o osso se desfez no chão. Frisk deixou o queixo cair e as lagrimas voltaram aos seus olhos, como havia sido muito comum desde que o garoto chegara ali.

— Oh não... – Flowey sussurrou. Frisk olhou para Flowey, mas percebeu que este não estava olhando mais para a nevoa de Greater Dog. Flowey olhava nervoso para a ponte de madeira suspendida em um vazio mais a frente, onde Papyrus e Sans estavam parados.

— Nyahaha... – Papyrus riu, com um olhar de desdém. – Sempre soube que aquele vira lata era uma perda de tempo. – Sans estava ao seu lado, ainda com sua expressão triste, fitando Frisk. – Então acho que vai sobrar para mim, o Grande Papyrus, te destruir, humano. – Ele lançou um olhar furioso a Sans. – Já que o inútil do meu irmão não da à mínima. – Sans não devolveu o olhar. – Eu pensei que você viria com varias armadilhas grudadas a sua perna, mas parece que essa planta está atrapalhando. – Papyrus disse, olhando para Flowey, que mostrou seus afiados dentes para o esqueleto.

“*Você pergunta por que Papyrus está fazendo isso.”

Aquela pergunta pareceu pegar Papyrus de surpresa, mas este não hesitou.

— Porque eu teria que contar para você? – Papyrus retrucou, mas então deu de ombros. – Quando eu te capturar, eu ganharei status e confiança o suficiente do rei como para ser o monstro mais importante do Underground. – Papyrus assumiu uma pose intimidante.

“*Você diz para Papyrus que status não é tudo na vida”

— Na sua pode ser que não. – Papyrus disse. – Mas aqui embaixo as coisas são diferentes, criança.

“*Você diz para Papyrus que você não precisa machucar os outros para ser reconhecido”

— Eu não me importo, eu gosto do que eu faço. – Papyrus parecia ficar irritado. – Eu acho que não preciso ficar gastando tempo falando com você. Eu deixaria um quebra-cabeça aqui para você resolver, mas tenho assuntos que tratar. – Papyrus se virou para andar.

— Mano... – Sans começou a dizer. – Eu acho que o humano só quer ajudar... – Papyrus se virou, furioso.

— Você tem permissão para falar, irmão? – Papyrus segurou o rosto de Sans com força. – Faça isso outra vez e será punido. – Papyrus largou o rosto de Sans e saiu andando. O esqueleto menor permaneceu olhando como o irmão se afastava. Frisk olhou determinado para o esqueleto e começou a andar em sua direção pela corda.

— Ei, me espera... – Flowey saiu do chão com suas raízes e se enrolou no braço de Frisk. – Aqui é muito alto para eu continuar no chão.

“*Você pergunta para Sans porque Papyrus o trata tão mal.”

— Nem sempre foi assim... – Sans começou a dizer, sem se virar. A criança colocou uma mão no ombro do esqueleto.

“*Você pergunta para Sans porque ele aceita tudo isso.”

Sans não respondeu, só começou a caminhar e desapareceu atrás de uma arvore.

Frisk permaneceu olhando para a direção por onde o esqueleto fora.

— Vamos, está ficando tarde. – Flowey disse. – Temos que encontrar algum lugar para ficar. – Frisk assentiu e voltou a caminhar. Os dois acabaram chegando a uma placa onde estava escrito “Bem-vindo a Snowdin Hell”, e mais a frente, viram casas.