Underfell

Capítulo 5 - Vs Papyrus - Parte 1


Parecia que havia ocorrido uma guerra naquela cidade.

As casas estavam trancadas e pichadas. Havia sujeira e entulho por todos os lados. Uma arvore queimava em uma grande fogueira no centro da cidade, onde um urso de cabelos bagunçados e sujos se esquentava. A “Bliblioteca” não existia, somente as ruínas de uma construção que havia pegado fogo. A casa de Sans e Papyrus, ao longe, era a mais parecida com a casa real, sem as decorações natalinas e a bandeira pirata, além dela estar com as luzes apagadas e possuir cercas de arame ao redor. O Grillby’s também estava normal, mas Frisk percebeu que estava um pouco mais sujo.

— Faz tempo que eu não venho aqui. – Flowey murmurou, ainda enrolado no braço Frisk. – Não mudou muito desde a ultima vez. – Frisk olhava admirado para a situação da cidade. – Ei, criança, aquilo ali é uma pousada. – Flowey disse, apontando com uma raiz para uma placa onde estava escrito “Inn”, encima uma casa de dois andares feita de madeira. – Vai lá que está anoitecendo e você precisa descansar. – Frisk hesitou por um momento, olhando para a casa, e se virou, apontando para Flowey. – Eu vou ficar aqui mesmo. – Flowey disse, sorrindo. – Eu aguento o frio. – Frisk continuou parado, procurando alguma coisa em meio aos entulhos, então teve uma ideia e saiu caminhando em direção de um montinho de lixo. – O que você vai fazer aí? – Flowey olhou na direção que Frisk seguia, confuso. Frisk voltou rapidamente, levando consigo uma bota velha. – O que é isso?

“*Você diz para Flowey que ele pode entrar na bota para ficar mais quente”

Flowey fitou a bota por uns segundos, pensativo, mas acabou cedendo.

— Está bem, se você quiser... – Frisk colocou a bota no chão e colocou um pouco de terra dentro, em seguida, Flowey entrou com suas raízes dentro da bota. Um calafrio pareceu sacudir a flor. – Ainda está um pouco fria a terra. – Flowey disse. – Mas já vai esquentar. Entremos. – Frisk assentiu e caminhou em direção da pousada.

A pousada estava escura por dentro, com uma fina capa de poeira repousando sobre o balcão. Um boneco, similar a um coelho, estava jogado em um canto, com espuma saindo de sua barriga e com mofo em sua textura.

— Olá? – Flowey exclamou. Nenhum dos dois companheiros se sentiam muito cômodos naquele estabelecimento.

— Quem está aí?! – Uma voz feminina respondeu agressivamente das escadas que levavam para o segundo andar. Frisk e Flowey escutaram um som de passos rápidos e viram uma coelha humanoide descendo as escadas enquanto apontava para os dois visitantes com uma espingarda. – O que vocês querem. – Frisk percebeu ódio no olhar da mulher, mas também medo.

“*Você diz gentilmente que procura um lugar para dormir”

— Aqui não temos lugar nenhum, vão embora. – A mulher disse. Suas roupas amarelas estavam em farrapos e Frisk notou que faltava um pedaço de sua orelha esquerda.

— Por favor, andamos muito e não temos onde ficar. – Flowey tentou falar o mais brandamente possível, mas já perdia as esperanças.

— Eu disse para irem embora. – A monstro destravou a espingarda, mas nesse instante, uma pequena sombra desceu as escadas e parou ao seu lado, era seu filho.

— Mamãe? Quem são esses? – A criança, um coelho humanoide gordinho e baixinho, disse, se escondendo atrás da mãe.

— Intrusos. – A coelha respondeu, rispidamente.

— Mas eles não parecem serem maus. – A criança disse, timidamente. A mãe coelha olhou para seu filho, e depois para Frisk e para a flor, sua expressão começou a se suavizar.

— É... – Ela disse, finalmente, enquanto abaixava a arma. – Eles não parecem. – Frisk percebeu então que estava prendendo o ar, e o soltou em um longo suspiro aliviado. – Por favor, fechem essa porta. – Frisk obedeceu, e a coelha acendeu a luz da sala pressionando um interruptor. – Desculpem pela recepção agressiva. – A mulher disse, se virando para os visitantes com um meio sorriso. – Quase não se pode confiar em ninguém durante estes dias... – Frisk começou a observar o ambiente e notou arranhões nas paredes. – Bem, se vocês querem descansar, tenho uma habitação vaga no andar de cima. – A mulher disse, apontando para as escadas. – Não é um hotel cinco estrelas, mas é o melhor que vocês irão encontrar nesta cidade, provavelmente. – Frisk assentiu e começou a caminhar em direção das escadas.

— Muito obrigado. – Flowey disse. – Estaremos em divida com vocês. – A mulher sorriu bondosamente enquanto Frisk e Flowey subiam.

O quarto era um pouco menor do que Frisk se lembrava, mas pelo menos não era possível de se ouvir ronquidos do quarto ao lado. Frisk colocou a bota de Flowey encima de um pequeno armário e se deitou na cama.

— Boa noite parceiro, durma bem. – Flowey sussurrou. A criança sorriu para a flor e se virou para dormir, então sua expressão se tornou mais triste ao começar a se lembrar do seu mundo e de seus amigos, transformados em aberrações.

Frisk se viu de volta a aquela gruta de Waterfall, mas agora ali não existia nenhuma porta cinza. Uma luz branca começou a brilhar mais a frente, e o humano reconheceu a silhueta de uma criança de sua mesma altura e idade.

— Frisk... – A criança murmurou, enquanto caminhava mais para perto do humano. Frisk percebeu que aquela outra criança era uma menina de mais ou menos sua mesma idade, usando uma blusa preta com uma listra vermelha no meio, seus cabelos eram lisos castanhos e seu rosto era pálido de bochechas rosadas, com dois grandes olhos pretos. Aquela criança tinha uma expressão triste, e parecia não mover sua boca ao falar. – Frisk... Você não devia estar aqui...

Frisk acordou. Rapidamente checou o quarto, e percebeu que ainda se encontrava na pousada de Snowdin.

— Opa! Como vai, criança? – Flowey disse, de cima do armário. – Já está pronto para continuar? – Frisk se despreguiçou, ainda pensando no estranho sonho, e pulou da cama. – Temos que ser rápidos, aqueles dois esqueletos ainda devem estar por aí... – Flowey disse. Frisk pegou a bota que continha a flor com as duas mãos e saiu do quarto, descendo até a sala.

A coelha estava sentada atrás do balcão da sala, ainda com a espingarda na mão.

— Dormiram bem? – A mulher disse, fitando a arma.

— Sim, obrigado novamente pelo quarto. – Flowey disse.

— Que bom. – A mulher parecia desanimada. – Boa sorte com... Seja lá o que vocês vieram fazer na cidade... – A mulher olhou para a flor, seu rosto estava tenso. – Mas me façam um favor... – Ela começou a dizer. – Não voltem aqui. Vocês podem trazer visitas indesejadas. – Flowey assentiu lentamente e Frisk se apressou para sair.

Uma densa neblina cobria a cidade naquela manhã, ao ponto de Frisk mal reconhecer as estruturas a sua frente. Ele se manteve caminhando em linha reta, sem encontrar ninguém na silenciosa cidade, mas de vez em quando percebia um que outro vulto ao longe, que rapidamente corria para se esconder.

“*Você pergunta para Flowey o porquê desta cidade estar assim”

— Eles têm medo da guarda real. – Flowey disse, olhando para o chão. – Eles matam e roubam qualquer pessoa que estiver nas ruas, e às vezes chegam invadir as casas para isto. – Frisk ficou em silencio, refletindo naquilo, e acabou se lembrando do sonho que teve durante a noite. Aquilo realmente deixou Frisk assustado. Devia ele contar para Flowey? Flowey não compreenderia, e ele teria que contar sobre sua casa real. Flowey aguentaria saber que ele uma vez já foi mau? Frisk preferiu não contar.

Em meio a estes pensamentos, Frisk não percebeu que havia chegado justamente a casa do outro Papyrus.

— Aquele esqueleto... – Flowey quebrou o silencio, olhando temeroso para a casa. – Ele é o capitão da guarda real... Então ele é dez vezes pior do que todos os outros soldados. Todos aqui têm medo dele. – Frisk olhou confuso para a casa. De perto ela parecia um pouco mais assustadora que a original. Como Papyrus havia conseguido se tornar capitão da guarda real? O que acontecera com Undyne?

O caminho prosseguiu e a neblina foi se tornando cada vez mais densa, e então, depois de alguns minutos de caminhada silenciosa, Frisk viu mais a frente à silhueta dos irmãos esqueleto.

— Humano! – Bradou Papyrus, com as mãos apoiadas no cinto de suas calças de couro. – Eu tenho que te falar sobre sentimentos... – Flowey tinha os olhos arregalados e parecia não saber o que fazer. – Os sentimentos que você sente ao saber que logo vai se tornar o ser mais poderoso do Underground, os sentimentos deliciosos que você sente ao saber que pode tirar a vida de alguém... São esses sentimentos que eu estou sentindo agora! - Papyrus apontou para a criança. – Humano! Se prepare para enfrentar o grande estrategista da guarda real, Papyrus! – A alma de Frisk flutuou acima dele e a nevoa se tornou menos densa.

— Ei, Idiota! Deixa o humano em paz...! – Flowey começou a dizer, mostrando os seus afiados dentes, mas Papyrus lançou um osso na direção da flor que a lançou a vários metros daquele lugar.

“*Você pede para Papyrus te deixar ir”

— Você é um tolo ingênuo. – Papyrus disse. Sans estava ao seu lado, com uma expressão mais seria que o normal. – Acha que eu vou deixar escapar uma oportunidade como esta? – Papyrus lançou diversos ossos vermelhos que passaram por debaixo da alma de Frisk e atravessaram o corpo físico da criança.

“*Você diz para Papyrus que ele está cometendo um erro terrível”

Papyrus murmurou “Nyahaha” e lançou vários ossos azulados que atravessaram a alma de Frisk, tornando-a azul e deixando-a cair no corpo físico de Frisk. Sans olhava com uma expressão nervosa para seu irmão.

— Você é azul agora. – Papyrus disse. – Isso vai facilitar bastante meu trabalho. – Ele lançou vários ossos, que acertaram Frisk, deixando-o ferido. Frisk procurava algum meio de fugir daquele lugar, mas parecia impossível.

“*Você roga por sua vida”

— Isso é delicioso. – Papyrus gargalhou. – É tão bom ver as pessoas sem esperança nos olhos, pedindo para o grande Papyrus se pode viver ou não... – Ele esticou os braços, enquanto lançava mais ossos, que agora Frisk esquivava dando saltos. – Eu me sinto um Deus! – Sans olhou para Frisk, sua expressão havia se tornado compassiva.

“*Você pede por ajuda”

— Seu amiguinho não vai te ajudar desta vez. – Papyrus disse, soltando ossos de tamanhos diferentes. – Wowie, você é resistente! Eu acho que vou usar meu ataque especial daqui a pouco! – Papyrus disse maliciosamente.

“*Você diz para Papyrus que ele ainda pode se tornar uma pessoa boa”

Papyrus “arqueou uma sobrancelha” ao ouvir aquilo.

“*Você diz que confia que ainda pode existir algo bom em Papyrus”

Papyrus hesita por um momento, mas então acaba deixando escapar uma gargalhada.

— Alguma coisa boa?! – Papyrus parecia se divertir muito, e isso não era bom. – Pare de ter falsas esperanças, humano, a única coisa que é boa para mim e a sensação do poder! – Sans olhou para Papyrus, e então para Frisk, suas pupilas brancas pareciam menores do que antes, como se estivesse indignado. Um osso atingiu Frisk na cabeça e este rodopiou para trás.

“*Você chora por ajuda”

— Isso não tá certo... – Frisk ouviu Sans murmurar.

— O que disse? – Papyrus se virou para Sans, mas este não estava mais do seu lado. Papyrus se virou para o humano e viu seu irmão parado na frente do humano. – O que é isso? – Papyrus trincou os dentes de ódio. – Você ousa me trair, irmão? – Papyrus lançou vários ossos vermelhos, mas uma barreira de ossos surgiu do chão, protegendo Frisk e Sans do ataque.

— Isso não tá certo, Papyrus. – Sans disse, colocando um braço diante de Frisk. – Esse humano tá tendando ajudar você e cê só pensa em poder? Como cê pode ser tão egoísta? – Ele disse. – O humano só tentou ajudar desde que apareceu, a gente não pode retribuir bem com mal desse jeito.

— Parece que esse preguiçoso decidiu ser corajoso! – Papyrus rosnou. – Eu não me importo, se você vai estar no meu caminho para o sucesso, então vou ter que te tirar do mapa! – Uma rajada de ossos saiu despedida, quebrando os ossos que Sans havia criado, mas o esqueleto menor foi mais rápido e, segurando Frisk com uma mão, se deslizou vários metros a direita, esquivando os ossos.

Frisk sentia que a esperança estava voltando a si, e se levantou com a ajuda de Sans.

— Neste mundo é matar ou ser morto. – Sans disse, se virando para o humano. – E você, criança, vai acabar morrendo se não fugir daqui logo. – Sans olhou para Papyrus, hesitando. –... E eu não posso permitir isso. – Ele disse, finalmente. – Você não merece morrer, você é inocente e bom... Eu não posso permitir uma injustiça dessas. – Frisk havia ficado sem palavras após ouvir aquilo. Sans começou a caminhar em direção do seu irmão.

— Então você vai brigar com seu próprio irmão por causa de um humano? – Papyrus disse, tentando disfarçar a raiva da sua voz.

— Eu vou proteger a criança, mesmo que seja de você, Papyrus. – Sans disse, olhando serio para o irmão, mas sem mudar aquele sorriso eterno do seu rosto.

— Que seja. – Papyrus murmurou com indiferença. – Pois então, os dois terão que sofrer meu ataque especial. – Papyrus sorriu e seus olhos cintilaram em um vermelho claro, enquanto quatro Gaster Blasters vermelhos surgiam as suas costas. Frisk deixou o queixo cair.

Os Gaster Blasters atiraram ao mesmo tempo mirando em Frisk e Sans, mas este se deslizou para o lado esquerdo levando Frisk com sigo.

— O que, você pensava que eu ia ficar parado aqui aguentando o tiro? – Sans deu de ombros. – Muito pelo contrario. – As suas pupilas desapareceram e quatro Gaster Blasters surgiram acima dele. – Agora a verdadeira batalha vai começar. – Sans piscou para o irmão, e investiu.