Underfell

Capítulo 3 - Vs Sans


Frisk esfregava seus braços enquanto avançava pelo frio rigoroso da floresta de Snowdin. Flowey aparecia vez ou outra a sua frente, encorajando-o e mostrando por onde devia ir, mas não ficava muito tempo na superfície por causa do frio.

O caminho era rodeado de altos pinheiros repletos de neve, na verdade, tudo ali estava repleto de neve.

Frisk estava assustado, já que reconhecia o local: Era onde encontrara com Sans pela primeira vez. Ele não tinha certeza se queria encontrar com o “outro Sans”, já que o Sans original por si só conseguia provocar arrepios em Frisk de vez em quando, o outro Sans devia ser dez vezes pior.

A criança passou por um grande galho de arvore caído no chão e sentiu uma sensação de déjà vu. Frisk começou a se sentir observado, então percebeu que Flowey não saia do chão já fazia um tempinho e começou a se preocupar.

Frisk logo avistou uma ponte de madeira encima de um desfiladeiro, com barrotes de madeira repletos de espinhos, mas separados o suficiente para a passagem de alguma pessoa. Nesse instante, Frisk escutou passos atrás de si e sentiu uma respiração pesada.

— Humano... – Um calafrio percorreu sua espinha ao reconhecer a voz de Sans logo atrás de Frisk. – Vire-se. – Frisk se virou lentamente, com suor frio escorrendo pela sua testa.

O outro Sans era um esqueleto da altura de Frisk, de rosto redondo e um pouco rachado, seus olhos eram duas cavidades escuras onde as pupilas eram pontinhos brancos luminosos, abaixo de um buraco triangular onde deveria ser o nariz havia um permanente sorriso repleto de dentes afiados, sendo um deles dourado. O esqueleto usava um moletom preto com uma blusa vermelha por baixo, bermudas pretas e pantufas da mesma cor.

Sans esticou a mão em direção de Frisk. Nesse instante, Frisk sentiu seu corpo se tornando mais pesado e percebeu que sua alma havia se tornado azul (coisa que mantinha sua alma em seu corpo mesmo durante as batalhas). Sans levantou o braço e Frisk flutuou no ar antes que conseguisse reagir.

— Você é um humano, não é? Isso é hilário... – Sans tinha aquela voz monótona de sempre, com aquele tom preguiçoso. – Meu nome é Sans, Sans o esqueleto. – A “pupila” do seu olho direito desapareceu e uma íris vermelha surgiu no seu olho esquerdo, brilhando intensamente. – Se supõe que eu deveria estar procurando humanos, e mesmo que eu não tenha vontade em capturar ninguém... – Frisk tentou se mexer, fracassando. –... Meu irmão é um caçador de humanos fanático... – Sans fez uma pausa. – E você não sabe o que ele faria comigo se eu deixasse um humano passar por mim.

“*Você suplica para Sans te deixar ir”

— Eu te deixar ir? – Sans se dobrou para cima com um riso silencioso. – Vão sobrar só seus ossos, garoto. – Sans jogou Frisk contra o chão com um movimento de seu braço, e depois o lançou a uma arvore, para então leva-lo ao chão de novo.

“*Você pede por ajuda”

— Ninguém virá... – O olho brilhante de Sans desapareceu quando este se viu rodeado por pétalas brancas. Flowey apareceu logo atrás dele, com um rosto contorcido em um olhar raivoso. As pétalas se dispararam na direção de Sans, que simplesmente deslizou para o lado, evitando-as. Nesse movimento, porém, Sans acabou movendo o braço para trás, lançando Frisk a vários metros depois da ponte, que caiu em meio a vários arbustos. – Planta desgraçad-... – Sans se virou para onde a planta estava antes, mas Flowey já havia desaparecido outra vez.

Frisk tentou se levantar, mas Flowey o puxou de volta ao chão. Frisk se virou para a flor, que fez um sinal de silencio com uma de suas raízes. Sans caminhava em frente ao arbusto, procurando Frisk, suas pupilas brancas haviam retornado. Frisk percebeu que o crânio de Sans parecia gotejar suor, e seus olhos mantinham uma expressão triste ou preocupada, mesmo que seu sorriso não tivesse mudado.

Sans caminhou até um abajur de forma conveniente e, com uma mão, estilhaçou o abajur em vários pedaços.

— SANS! – Sans olhou na direção da voz. Frisk também olhou em meio aos arbustos. No caminho após a ponte, em meio a algumas arvores, surgia uma figura esguia.

— Que foi mano? – Frisk conseguiu finalmente ver a figura, era a outra versão de Papyrus. Papyrus era um esqueleto maior que Sans, de rosto longo e dentes afiados, olhos estreitos com o esquerdo cheio de rachaduras. Usava uma armadura preta com um cachecol vermelho rasgado, suas ombreiras eram cheias de espinhos e suas luvas e botas vermelhas possuíam detalhes de metal.

— Você sabe o “que foi”, Sans. – Papyrus respondeu rispidamente. Sua voz era mais grossa e seca que a voz do Papyrus original. Frisk sentia um aperto no coração.

— O que foi que eu fiz dessa vez? Eu já recalibrei meus quebra-cabeças...

— E eu falei alguma coisa sobre quebra-cabeças? – Papyrus interrompeu Sans e caminhou até ele. Sans parecia nervoso. – Eu quero saber o que você está fazendo fora de seu posto.

— Eu estava dando uma olhada nessa lâmpada... – Sans apontou para o que havia sobrado daquela lâmpada. – Eu pensei que era um...

— Você saiu da sua vigia para ver uma lâmpada? – Papyrus disse lentamente, o tom de voz dele causou arrepios em Frisk. Sans permaneceu calado. – Se um humano passar por aqui, você vai ficar olhando para lâmpadas?

— Claro que não, mano...

— É melhor você prestar atenção, Sans. – Papyrus apontou ao rosto de Sans com um dedo ossudo. – Ou você vai ter um tempo ruim. – Dito isso, Papyrus se retirou pelo mesmo caminho que havia vindo.

Sans continuou olhando triste para o local e depois olhou na direção dos arbustos, em seguida, caminhou até detrás de uma arvore e desapareceu. Frisk ainda esperou uns segundos detrás do arbusto para ter certeza de que Sans não estava mais lá, então, saiu do arbusto e caminhou até o abajur estilhaçado, com lembranças invadindo sua mente.

— Essa foi por pouco. – Flowey disse, aparecendo alguns metros a sua frente. Frisk inspecionou o lugar e percebeu o posto de Sans logo atrás do abajur estilhaçado, e caminhou até ele. Lá dentro, Frisk encontrou potes de mostarda vazios e um pouco de sangue. Frisk fez uma cara de nojo. – Hey, parceiro, vamos sair daqui. – Flowey disse, se enterrando na terra outra vez.

Frisk continuou pelo caminho que Papyrus havia seguido, ainda que cautelosamente. Logo chegou a um trecho onde o caminho se dividia para a esquerda, onde terminava em um rio. Frisk prosseguiu pelo caminho da esquerda onde achou uma vara de pescar com uma foto no anzol. A foto era de um monstro de dentes afiados com um corpo na boca. Na foto estava escrito de caneta “Se precisar de meus serviços, ligue” e um numero logo embaixo.

Frisk então decidiu voltar pelo caminho e seguir reto, então, um Ice Cap acabou esbarrando em Frisk.

O Ice Cap não possuía chapéu nenhum, alem de ter um olhar triste.

— Onde está meu chapéu...? – O Ice Cap passava suas pequeninas mãos esféricas pela sua cabeça nua. – Meu chapéu... Você viu meu chapéu...? – Flowey apareceu atrás de Ice Cap, com um olhar confuso. Frisk queria ajudar Ice Cap de algum jeito, mas não sabia como.

Frisk e Flowey ouviram passos e perceberam um Snowdrake de aparência não muito diferente do original. Ele parecia serio e olhava fixamente para Ice Cap.

— Deixem ele em paz. – Snowdrake disse.

— Nós não... – Flowey começou argumentar.

— Só... – Snowdrake interrompeu. – Deixem ele sozinho. O pobre coitado é meio maluco e acha que perdeu um chapéu de gelo que nunca teve. – Flowey olhou para o Ice Cap, seu olhar possuía compaixão. – Vamos, Ice. – Snowdrake falou para Ice Cap, se aproximando. – Vamos voltar para casa, aqui não é seguro. – Ice Cap assentiu e começou a seguir Snowdrake, que se afastou adentrando a floresta.

— Coitado. – Flowey murmurou. – Esta caverna é um inferno para todos que são fracos demais. – Flowey se virou para Frisk. – Vamos. – E se enfiou na terra outra vez.

A criança seguiu pelo caminho por alguns metros. Frisk olhava para o chão, pensativo, e nem percebeu a presença de dois monstros mais a frente.

—... Aquela desgraçada maluca... – A voz de Papyrus conversando assustou Frisk que, ao levantar o olhar, viu os dois esqueletos a vários metros a sua frente. Frisk ainda pensou em fugir, mas era tarde demais, ambos haviam percebido o humano.

Papyrus olhou para Sans, que devolveu o olhar, e voltou olhar para o humano.

— Sans, aquilo é... – Papyrus começou a dizer, estreitando os olhos.

—... Um humano? – Sans completou, sem mudar sua expressão facial, como sempre. – Eu acho que aquilo é uma pedra. – Sans apontou para uma pedra atrás de Frisk. Papyrus, nervoso com a piada de Sans, lhe respondeu com um tapa no rosto.

— Para de falar idiotices pelo menos uma vez, seu retardado. – Frisk se sentiu chocado ao escutar o linguajar de Papyrus, muito diferente do inocente e alegre Papyrus original. – Aquilo é claramente um humano. – Sans ficou em silencio e Papyrus se virou para Frisk com um olhar de desdém. – Humano, se prepare, porque sua alma vai ser minha. – Papyrus pareceu sorrir por um momento. – Mas antes, vou me divertir um pouco com você. – Papyrus se virou e saiu andando. Sans ainda permaneceu olhando para Frisk por poucos segundos antes de seguir seu irmão.