Underfell

Capítulo 23 - Vs Mettaton Ex - Parte 1


Frisk estava muito assustado. Não era porque aquele robô, que o havia ajudado durante toda a sua jornada por Hotland, agora estava ativamente tentando o matar, mas porque, por mais que o humano se esforçasse, não conseguia lembrar nada da sua anterior batalha contra Mettaton, em seu mundo. Aquilo tudo lhe causava certo deja'vu, mas Frisk não conseguia lembrar os detalhes da luta, como poderia vencer a luta sem matar Mettaton. Suas lembranças, pouco a pouco, eram substituídas com as lembranças do outro Frisk, aquele com quem a criança sonhara durante as noites passadas.

O braço superior direito de Mettaton se retraiu e entrou no seu corpo quadrado, do buraco circular por onde o braço havia sumido, um outro braço surgiu, com sua mão substituída por uma motosserra. O robô deslizou para cima de Frisk e, com seu braço-motosserra, atacou com um corte diagonal. O humano pulou para trás e rolou no chão, e a motosserra faiscou ao impactar com o solo de metal.

— Fui eu que pedi para que os mercenários matassem você! Fui eu que contei para o Papyrus e havia um humano em Hotland! Mas percebi que isso não deu muito certo, não é mesmo?! - Mettaton girou seu corpo para a esquerda com seu braço esticado, fazendo um corte vertical que Frisk evitou se agachando. - Mas sabe o que vai ser mil vezes melhor do que deixar que os outros te matem? - Mettaton voltou a deslizar para cima de Frisk, e antes que o humano pudesse fugir, rodeou seu corpo com seu braço superior esquerdo, como se este fosse uma serpente, e começou a aperta-lo cada vez mais, enquanto aproximava a motosserra perigosamente do rosto da criança. O humano se debateu em desespero, e começou a chutar o corpo metálico de Mettaton. - Esses chutes fracos não funcionam em mim, querido! -

Frisk procurou desesperadamente um meio para fugir, e seus olhos se pousaram sobre a tela rachada de Mettaton. O humano se debateu um pouco mais, a motosserra estava quase roçando seu nariz, ele conseguiu se inclinar levemente para trás, e foi o suficiente para que pudesse lançar um chute com todas as suas forças restantes na tela de Mettaton, rachando-a mais ainda.

Mettaton emitiu um chiado alto, parecido com um grito, e soltou Frisk. O humano imediatamente procurou com os olhos algum lugar pelo qual ele poderia fugir, e conseguiu avistar uma porta de Metal, na parede oposta a Mettaton, que por milagre estava aberta. Frisk não perdeu tempo e, rodeando o aturdido Mettaton, começou a correr na direção da porta. Um cano explodiu bem na frente da porta antes que Frisk alcançasse, provocando uma labareda que cobriu a porta e impediu a passagem de Frisk.

— Fugindo outra vez? Desista humano! Eu controlo todo este lugar! Você não vai conseguir fugir outra vez! - Mettaton se virou, sua tela faiscava. – Escute, querido. Eu assisti suas outras lutas. Você é fraco. Você nunca consegue terminar uma luta, sempre acaba fugindo de algum jeito, mas isso não vai acontecer aqui! Se renda, assim eu poderei destruir a sua alma, e ninguém poderá possuir um poder tão injustamente grande! - Mettaton voltou a deslizar para cima de Frisk. Seu braço superior esquerdo se retraiu, e do seu buraco, várias versões em miniatura de Mettaton começaram a voar na direção de Frisk, com serras circulares no lugar de braços. O humano começou a correr para sua esquerda, rodeando Mettaton, mas sendo seguido por dezenas de mini-mettatons que tentavam corta-lo, para então cair ao chão, destruídos.

Mettaton estava de costas para o humano, se preparando para se virar e atacar novamente, mas então Frisk sentiu um deja'vu olhou para as costas de Mettaton. Ali, a criança conseguiu notar um pequeno interruptor, e sentiu uma súbita certeza de que devia ativar aquele interruptor. Com isso em mente, correu até o robô assassino, e com um gesto rápido, ativou o interruptor antes que Mettaton percebesse.

— Você. Acabou. De apertar. Meu interruptor? - A voz de Mettaton saiu mais baixa do que o normal, e seus braços deixaram de sofrer espasmos, para despencarem, como se fossem cordas metálicas. Mettaton permaneceu quieto por uns minutos, Frisk pensou por um momento que o robô havia deixado de funcionar, mas estava assustado demais para virar Mettaton e ver sua tela.

Subitamente, Mettaton se virou para trás, fazendo com que Frisk recuasse quase correndo. O robô colocou seus braços superiores na cabeça, enquanto sua tela piscava em diferentes cores e seu corpo tremia violentamente. Mais canos estouraram, a plataforma tremeu, alguns holofotes chegaram a explodir, soltando faíscas e fumaça pelo cenário. E as luzes se apagaram.

— OHHHH YEES! - Mettaton falou, em um tom quase sensual, com sua voz grossa.

As luzes piscaram, um dos dois holofotes que havia sobrado se acendeu, mas o outro se havia danificado, e começou a piscar, e faiscar. Uma silhueta estava de pé diante deles, ainda oculta pelas sombras.

— Oh querido. - Mettaton disse. - Se você apertou meu interruptor, isso só quer dizer uma coisa. Você está desesperado para morrer, assassinado pelo meu novo corpo. Que rude... Mas por sorte, eu estive querendo usar isto já faz um bom tempo. Então... Obrigado, eu vou te recompensar. Vou te torturar, e depois de matar, mas vou fazer isto... - As luzes se intensificaram, iluminando o novo corpo de Mettaton. - Do modo mais lindo possível.

Mettaton possuía um lustroso cabelo negro curto, com uma longa franja tapando o lado direito do rosto. Possuía dois pares de olhos bem moldados, um sobre o outro. O seu rosto poderia ser assimétrico e atrativo, mas os olhos, e seu sorriso anormalmente grande e assustador, o deixavam passando pelo vale da estranheza. A área do seu peitoral era recoberta por uma placa de metal vermelha rachada, com uma saída para som na direita e um botão amarelo. No seu abdome, uma cápsula estava exposta, revelando um coração dividido pela metade. Seus ombros possuíam duas proteções metálicas, de onde saíam dois braços enluvados com dedos afiados nas mãos. Sua cintura era mais larga, desproporcional com o resto do abdome, e logo abaixo das grossas pernas cobertas por uma leggins preta, duas botas vermelhas de salto alto.

Frisk ficou em branco ao ver aquilo, não fazia ideia de como poderia fugir daquele lugar. Suas lembranças continuavam nubladas sobre aquela batalha.

Mettaton caminhou para cima de Frisk, como se estivesse desfilando, e chutou brutalmente o rosto do garoto, que como se havia distraído, acabou recebendo o chute, que o jogou contra o chão, com sua boca sangrando e seu olho roxo.

— Luzes! Câmeras! Ação! - Mettaton não parou por aí, ele se aproximou de Frisk e começou a tentar pisar em sua cabeça, mas o humano rolou para o lado, e depois para o outro, evitando cada pisada, até que virou para a esquerda e se arrastou para se afastar de Mettaton.

— Drama! Romance! Derramamento de Sangue! - Mettaton ficou sobre um pé e sorriu de um modo macabro, seus braços superiores se retraíram, e de lá, diversas esferas de quase 1 metro cada rolaram na direção de Frisk, acompanhadas por mais mini-mettatons voadores. O humano tentou se levantar, mas uma das esferas impactou com ele, e explodiu. Frisk foi lançado três metros para trás, com queimaduras nos braços e no abdome, sua blusa ficou parcialmente queimada, mas o humano não teve tempo para pensar nisso, pois teve que esquivar as outras bombas que rolavam em sua direção. A criança acabou ficando próxima a um dos holofotes no chão.

— Eu serei a estrela que o underground merece! - Mettaton pulou, pousando sobre o holofote próximo de Frisk e o quebrando, enviando cacos de vidro na direção da criança, que conseguiu os evitar, mas acabou recebendo um chute de Mettaton no estomago. Frisk caiu de barriga para cima, da sua posição, conseguiu notar uma câmera na parede atrás de Mettaton. Mettaton percebeu o olhar de Frisk, olhou pra a câmera e depois para Frisk, com um sorriso. - Da tchau para a camera, querido! - Mettaton desferiu um soco com seu punho inferior direito, que Frisk

evitou passando por baixo do mesmo, mas uma fileira de mini-mettatons acompanhou o soco, e Frisk teve que se levantar apressadamente e correr para a direita, quase rodeando Mettaton.

Frisk não via nenhuma saída. Ele poderia tentar falar com Mettaton, mas o robô não parecia estar disposto a ouvir. A única forma de sobreviver era lutando, mas como? O corpo metálico de Mettaton era resistente demais para simples socos.

— Hora de um show de perguntas? - Mettaton ficou na ponta dos pés e tapou o olho inferior esquerdo. - Com o que você quer que eu te mate? - O humano não reagiu, somente recuou alguns passos, tropeçando com um objeto macio no chão. - Sem palavras? Que pena, . - Mettaton começou a fazer mais poses, Frisk olhou para o chão. Uma luva áspera manchada de sangue estava jogada ali... Aquilo estava ali antes? Frisk tinha certeza que não.

Mettaton dançou para cima de Frisk, com intenções claramente assassinas. Sem esperar mais, o humano se agachou pegou a luva, colocando-a rapidamente e desferindo um soco no corpo metálico de Mettaton. O soco atingiu a cápsula de vidro que continha aquele coração partido, estilhaçando-a. Mettaton arregalou os olhos ao ver aquilo. A metade esquerda do coração escapou pelo buraco feito na cápsula e começou a flutuar diante de Mettaton. A criança sentiu um arrepio. Mettaton estava morrendo? Frisk havia matado um monstro? Mettaton sorriu e fez outra pose, enquanto recuava.

— Docinho, só porque você mostrou seu coração para todos não quer dizer que eu deva mostrar o meu. - O coração tremeu, então começou a flutuar, fazendo um movimento circular. O humano sentiu a intuição de que aquele coração era o ponto fraco de Mettaton, então correu na direção do mesmo. O coração brilhou e emitiu uma onda de eletricidade na direção da criança. Frisk se encheu de determinação e avançou em meio a onda, sentindo um forte choque elétrico ao se aproximar do alvo. Quando esteve perto o suficiente do coração, lançou um soco, o atingindo em cheio. O coração recuou e voltou para a cápsula, que começou a soltar fumaça. Frisk estava mais queimado agora. Cada nervo do seu corpo doía, mas ele estava determinado a derrotar Mettaton e seguir em frente.

— Oh! Você decidiu reagir então, querido? Mettaton esticou um braço e dobrou uma perna, enquanto fazia biquinho. - Eu ainda estou aquecendo! - Mettatton soltou mais mini-mettatons, mas agora Frisk começou a os destruir um por um.

A criança sentiu uma sensação estranha... Ou a ausência de qualquer sensação. Frisk não sentia mais remorso, nem tristeza, mas raiva. Ele estava com raiva de Mettaton. Aquele robô o havia enganado o tempo todo, e agora estava quase o matando, sem ele ter feito nada. Mettaton merecia morrer.

— Mas você não é páreo para meus passos de dança! - Mettaton avançou para cima de Frisk e desferiu um chute, mas o humano o esquivou, e após isso socou a perna de Mettaton com todas as suas forças, produzindo um som metálico. Mettaton franziu o cenho. - Você está um pouco explosivo hoje! - Mettaton saltou para trás, e mais bombas rolaram para perto de Frisk. O humano esquivou as três primeiras, mas a ultima explodiu do seu lado, queimando mais roupa e carne, e provocando um grito de dor vindo de Frisk.

- Luzes! Câmeras! Bombas! - Percebendo que as bombas eram as mais efetivas, Mettaton fez outra pose, com a língua para fora, e mais bombas rolaram para cima de Frisk, agora mais rápido do que antes. Frisk esquivou todas desta vez. O humano correu para cima de Mettaton desferiu um soco na cápsula outra vez. O coração voltou a sair da cápsula e começou a flutuar de novo. Mettaton pareceu bastante surpreso.

— Não! - Mettaton recuou, enquanto lançava duas bombas para perto do coração. O garoto avançou, mas Mettaton levantou outro holofote e o lançou, acertando Frisk na testa e a cortando, uma linha de sangue molhou seu rosto, mas o humano continuou correndo, e após esquivar as bombas, voltou a socar o coração. O coração voltou a brilhar e se escondeu na cápsula outra vez, sobrecarregando-a. O braço inferior direito, superior direito e superior esquerdo de Mettaton simplesmente explodiram, jogando Mettaton com força para o lado contrário. Os braços caíram vários metros longe dele, espirrando um liquido vermelho claro. Mettaton fez uma cara de dor, Frisk não reagiu.

— B... Braços? Qu... Quem precisa de braços com pernas como essas? Eu ainda tenho um braço restante! Ainda posso te matar com ele! - Porém, o rosto de Mettaton demonstrou desespero. O robô saltou para trás e começou a chutar entulhos para cima de Frisk ao mesmo tempo em que soltava mais bombas. Frisk evitou as bombas, saltando pelos entulhos.

— Vamos... - Mettaton continuou chutando entulhos e soltando bombas, cada vez mais depressa. Seu rosto estava sombrio. Frisk estava à beira do colapso, e mesmo assim, continuava esquivando os ataques.

— O show... - Mettaton fez uma pausa, ele parecia muito frustrado. - DEVE CONTINUAR! - Mettaton gritou, com fúria, enquanto rodeava Frisk e lançava mais entulho e bombas, agora de forma aleatória. - DRAMA! AÇÃO! - Frisk se aproximava outra vez para lançar outro ataque, mas o chão estava grudento por causa do liquido que saía do buraco onde deviam estar os braços de Mettaton. - JÁ CHEGA! PORQUE VOCÊ INSISTE EM VIVER, SABENDO QUE DE QUALQUER JEITO, NUNCA MAIS VAI VOLTAR PARA SUA CASA?! - Mettaton lançou somente bombas dessa vez. Por um momento, a criança quase pensou em sua casa, mas devia terminar por ali primeiro. Frisk investiu, e destruiu completamente a cápsula. O coração voltou a flutuar, mas Mettaton ficou entre Frisk e o coração.

— N-NÃO! Eu tenho que sobreviver! Eu tenho que me tornar uma estrela! Uma estrela! A estrela do underground! Mettaton, a estrela! - Frisk tentou se aproximar do coração, mas Mettaton desferiu diversos chutes, enquanto o coração lançava raios na sua direção. - Não! Não posso morrer! Se eu morrer, não irei me tornar uma estrela! - Mettaton sussurrou desesperado. Frisk o ignorou, e pulou sobre Mettaton, usando seu corpo para pegar impulso e desferir um ultimo soco no coração. O coração repetiu o processo de brilhar e entrar no corpo do robô, e dessa vez, a perna direita de Mettaton explodiu. Seus olhos se tornaram brancos e Mettaton perdeu o equilíbrio, caindo de lado. - NÃÃÃOOOO! - O robô gritou, com sua voz carregada de desespero e dor. Aquele grito despertou Frisk, e foi então que ele percebeu o que havia acabado de fazer.