Uncursed

Vocês vão pagar.


O enterro de Regina em frente ao palácio não era de se esperar que fosse muito animado. E, de fato, tinham poucas pessoas. Apenas seu pai, Cora e Malévola estavam lá. O corpo de Regina estava em um grande caixão de mogno ao lado de um buraco enorme. O caixão, aberto, mostrava Regina com seu rosto bem tratado e seu cabelo sedoso como sempre. O vestido decidiu-se colocar em seu corpo era negro como os cabelos de Branca de Neve. Malévola chorava, por que havia perdido uma das poucas amigas que ela já teve. Uma grande amiga na qual ela emprestou sua maldição do sono. Infelizmente a maldição de cada uma delas foi quebrada com um simples beijo. Tanto Branca de Neve como Aurora estavam a esta hora muito bem acordadas. Mas Malévola esqueceu-se da rivalidade e de tudo que Regina fez, só lembrou-se dos bons tempos das duas juntas. Os grandes encontros delas em seus respectivos castelos, sempre conversando sobre como iriam destruir a vida de todos que alguma vez já os fizeram mal.

De repente, consegue se ouvir passos vindos do interior do castelo, e todos olham para trás. Cora não acredita no que vê, nem tampouco Malévola. O pai de Regina, Henry, apenas olhou com desprezo para Branca de Neve, que vinha de mãos dadas com David. Ambos vestidos de preto, porém a única que parecia sentir realmente algum remorso da situação era Branca. David estava mais preocupado com o fato de estar cara a cara com Malévola do que em sentir algum remorso pela mulher que ele próprio matou.

– Ora, ora. O que temos aqui? – fala Malévola, enxugando suas lágrimas, tentando mostrar um ar de superioridade. – Branca de Neve e o Príncipe Encantado.

– Me chamo David, sua bruxa nojenta – fala David, partindo para cima de Malévola, mas Branc o segura.

O dois vão em direção á Cora e Henry, que estão um ao lado do outro, porém sem nem se olharem na cara durante toda a cerimônia.

– Cora, meus pêsames. – fala Branca. Ela se lembra muito bem de quando era criança, de tudo que Cora já fez contra Regina. Mas Branca também se lembra de sua parcela de culpa no ato que fez contra Regina.

– Meus pêsames nada! – fala Cora, empinando o nariz. – Você fez isso com a Regina, e você vai se arrepender!

– Como se você sentisse algo por ela! – fala David, de forma grosseira.

–Encantado, por favor! – fala Branca, aquietando David.

Os dois se viram para Henry, e fazem uma pequena reverência. Nem se quer sabiam o nome dele, apenas sabiam que ele era o pai de Regina, e que ela própria o fez de empregado para fingir a todos que ele era seu pai.

David e Branca apenas andaram lentamente até as proximidades do caixão, apenas alguns centímetros do buraco feito no chão para sepultar Regina. Malévola olha com curiosidade, deixando sua imaginação a levar, se coçando para joga-los no buraco com apenas um simples feitiço. Mas não o faz, apenas deixa que Branca e David se afastem do caixão e saiam de lá. Os dois ficam postados em pé próximos a Malévola, enquanto quatro homens descem com o caixão de Regina buraco abaixo. Ao chegar no fim, eles começam a jogar terra, enquanto veem o caixão sumir.

– O que vocês vieram fazer aqui? – pergunta Malévola, se virando para os dois com sua túnica preta inconfundível.

– Uma melhor pergunta é: o que VOCÊ veio fazer aqui, Malévola? – fala David. – Você é acusada de crimes hediondos, não só contra a princesa Aurora, mas contra toda Floresta Encantada.

– Me desculpe por acabar com seu discurso de herói, Príncipe Encantado. – começa Malévola – Mas eu acho que não se existe ninguém em toda história que mata uma pessoa e vem para o seu enterro logo depois.

David fica sem palavras. É verdade, e foi isso que ele disse para Branca no mesmo dia de manhã. Mas Branca insistiu. Ele pega sua espada presa a sua roupa e mira na garganta de Malévola, mas ela não move um músculo.

– Vá, me mate. – diz Malévola. – Assim como fez com Regina. Vá, corte minha cabeça, assim como a Cora faz no País das Maravilhas.

– Não me meta nisso! – fala Cora, alto, apontando o dedo para Malévola.

– Parem com isso! – grita Branca, se pondo entre os dois e impedindo uma possível segunda tragédia.

David guarda sua espada, mas ainda fica com os olhos grudados nos de Malévola, que está com olhos verdes como os de um dragão. Mas Malévola sabe muito bem guardar seu poder para as melhores horas, e não valia a pena desperdiça-lo aqui. Não só em memória á Regina, mas também por que ela sabia que Branca e Encantado não valiam a honra de enfrenta-la em sua forma de dragão.

– Vocês cometeram um erro terrível. – fala Malévola. – Não só ao matar Regina, mas ao ter a audácia de vir aqui. Eu não descansarei até que vocês paguem pelos seus atos.

– E os seus atos, Malévola, contra a princesa Aurora? – fala David.

– Pelo menos eu e Regina sabemos que somos más. Não ficamos nos fazendo de vítimas, feito vocês ficam, querendo bancar de heróis por cada ato que fazem. Isto não acaba aqui, fiquem avisados.

Entre Malévola se faz uma fumaça verde, na qual desaparece junto com a bruxa.

Branca olha para David, ambos com olhos assustados.

– Queridinhos – fala Cora, se pondo em frente a eles. – Por favor, entendam que não é nada pessoal. Só que cada um colhe o que planta. Regina colheu o que plantou, Malévola colheu o que plantou. E agora, vocês colherão o que plantaram.

David está espumando de raiva, ele não aguenta ver mais o rosto de Cora em sua frente. Ele pega sua espada, levanta-a, joga em direção a Cora e diz:

– Cora, sua filha da...

Mas a espada atravessa uma fumaça negra que Cora fez para sair daquele lugar, bem semelhante á da Malévola e a da Regina, que ela usava antes de morrer. A última coisa que Branca de Neve, David e Henry conseguem ouvir após sua saída é a voz de Cora ecoando pelo ar frio da primavera da Floresta Encantada em frente ás portas do palácio até chegar bem definida ao ouvido de cada um:

– Vocês vão pagar.