Uncursed

A batalha final se aproxima.


Branca de Neve e David estavam em seu quarto pensando sobre o que aconteceu no enterro. Branca estava na varanda, vendo os pássaros pousarem na mesinha de madeira que ela deixou, e David estava deitado na cama lendo os livros de feitiços que ele tentava assimilar para um possível confronto com Malévola e Cora. Ambos sabiam que seria impossível os seres bons da Floresta Encantada começarem a atacar Malévola ou Cora em suas respectivas localizações. Primeiro por que atacar Cora no País das Maravilhas já é uma sentença de morte, já que cada ser lá segue estritamente as ordens dela, e eles não dariam um passo antes de serem derrotados. E segundo por que Malévola tem mais poder do que todos os seres bons da Floresta Encantada. Infelizmente, magia negra ainda é mais poderosa do que a magia limpa, e eles seriam derrotados em poucos instantes.

– O que vamos fazer então, Encantado? – pergunta Branca, entrando no quarto e se sentando na cama.

David já havia pensado a respeito, e sabia muito bem o que fazer.

– Vamos fala com a Fada Azul. – fala ele.

Branca gostou da ideia. Os dois saíram do quarto, e foram subindo as escadas do palácio até chegarem no grande salão de reuniões, onde geralmente a Fada Azul se encontra. E de fato lá estava ela, com suas asas lindas e seu lindo vestido azul, escrevendo sabe-se lá o que num bloquinho proporcional ao seu minúsculo tamanho. Ela levanta sua cabeça e vê Branca e Encantado, e esbanja seu sorriso. Ela sabia que Regina havia sido morta, porém não tinha o conhecimento de que Malévola e Cora haviam feito ameaças contra a Floresta Encantada.

– Branca! Encantado! – exclama ela, deixando seu bloquinho de lado e voando para perto dos dois. – Em que posso ajudar?

– Na verdade, Fada, precisamos que nos prometa que o que falaremos aqui será deixado em total sigilo. – fala David. – Branca e eu não queremos apavorar o povo.

Fada Azul sabia que não viria nada de bom, e também sabia que o povo tinha direito de saber de qualquer que fosse a ameaça contra suas terras. Mas tinha que concordar.

– Claro. – fala ela. – Agora me diga. O que houve?

Branca e David se sentaram nas cadeiras em volta da grande mesa, e explicaram cada detalhe das ameaças de Cora e Malévola durante o enterro de Regina. Fada Azul apenas ficou escutando, tentando não exibir nenhuma reação, se isso fosse possível. Ela sabia mais do que qualquer ser que Malévola e Cora não fazem ameaças vagas. Elas sempre cumprem suas promessas de destruir seja lá o que apareça em sua frente.

Após ouvir cada palavra atentamente, a Fada Azul apenas ficou calada pensando m qual seria a melhor resposta para se dizer. Ela sabia muito bem que os poderes de Malévola e Cora eram imensos, e elas duas juntas poderiam lançar uma terrível maldição contra todos. Porém sabia que Regina não era como uma irmã para Malévola, por isso ela não desperdiçaria a pior de suas maldições, a Madição Negra, em uma simples vingança contra a morte de sua amiga. Por isso falou o que achou que seria o mais certo a se dizer, a verdade:

– Branca, David; não vou mentir. Cora e Malévola tem muito poder, e muitas maldições em seus alcances. Se elas quiserem, podem lançar a terrível Madição Negra por todos na Floresta Encantada e nos banir para qualquer universo paralelo existente. Mas eu acredito que a sede de vingança de Malévola e Cora não chegue a tanto. Pelo que sei, Cora retirou seu próprio coração para acabar com qualquer sentimento de amor que ela tenha por qualquer pessoa, e Malévola não arriscaria a pior das maldições por conta de uma suposta amiga. Mas não é bom as subestimar. Eu acredito sim que elas irão começar uma guerra, e não tem nada que vocês dois possam fazer para acabar com as duas a não ser lutar esta batalha. E eu sinto que esta batalha não está longe.

Branca e David se olham, pensando como vão acabar com uma suposta batalha que elas prometem começar.

– Mas não podemos impedir uma guerra? – pergunta Branca, virando a cabeça para a Fada Azul.

– Não podem, sinto muito. – fala a Fada. – Por mais que sejamos poderosos, não temos nem metade do poder que a magia negra de Malévola e Cora tem juntas. O que nós podemos fazer é nos preparar.

Branca e David param um pouco, e percebem que a Fada Azul não é mais de nenhuma ajuda para os dois, pois ela já disse o suficiente que eles precisavam saber.

– Obrigado, Fada. – fala David, se levantando. – Contamos com sua descrição.

– Podem contar. – fala a Fada.

Eles se levantam, e pouco antes de saírem, ouvem a voz da Fada Azul por trás:

– Ah, sim, eu quase ia me esquecendo. Parabéns pela criança.

Branca e David olham para a Fada. Podia-se perceber que ela sabia que ele não sabiam que Branca estava grávida.

– Criança? – pergunta David.

– Sim, parabéns. – fala a Fada, e volta ás suas anotações como se não tivesse dito nada.

Ao fecharem a porta, ambos se entreolham. Eles deveriam estar felizes com a notícia de um filho, mas simplesmente sabem que não poderão lutar uma guerra com a Branca grávida.

– Encantado. – fala Branca – Isso muda muita coisa. Não podemos lutar uma possível guerra com uma criança para nascer.

– Eu sei Branca. – fala David. – Mas não tem nada que possamos fazer. Só se você ficar de fora disso.

– Mas eu já estou dentro. – diz Branca. – Não tem como evitar que a guerra seja realizada, mas devemos nos preparar devidamente.

– O que você está dizendo? – fala David.

– Eu quero falar... Com ele – diz Branca.

Parece que os dois sabem muito bem de quem estão falando.

– Não, Branca! – fala David. – Ele é perigoso e você sabe disso!

– Mas que outra escolha temos? Hein? Temos que garantir um bom futuro para o nosso filho.

David não queria fazer isso, mas ele desta vez tem que concordar que Branca está certa. Somente ele pode dizer o que se fazer.

. . .

A caverna onde Rumplestiltskin estava preso era uma bagunça. Cocô de rato por todas as dobras das paredes, além de pedras que caem a cada passo que se dá. Branca de Neve e David andavam encapuzados pela caverna, enquanto eram escoltados por um guarda da prisão do “Senhor das Trevas”.

– Rumplestiltskin! – fala o guarda, enquanto levanta a tocha que ele usa para iluminar a caverna. Branca de Neve e David não falam nada, apenas ficam com a cabeça baixa.

Nada de aparecer nenhum Senhor das Trevas por trás das grades sujas formadas por pedras velhas. O guarda fala de novo:

–Rumplestiltskin!

Uma pessoa, ou melhor, um ser, desce do teto da cela e aparece segurando as barras que o prendem lá. Era Rumplestiltskin com sua aparência medonha e pele um pouco esverdeada. Ele olha para Branca de Neve e David com suas capas e diz:

– A que devo a honra?

– Estes dois querem fazer uma pergunta a você. – fala o guarda.

– Mas que grosseria... – fala Rumplestiltskin, com seu sorriso medonho. – Branca de Neve e Príncipe Encantado... Vamos, podem se revelar.

Branca e David tiram seus capuzes e olham para Rumplestiltskin com medo.

– Pode ir, guarda. Eu sei lidar daqui pra frente. – fala David, que pega a tocha do guarda antes de ele sair da caverna.

– O que desejam, queridinhos? – fala Rumplestiltskin, com seu jeito cínico.

Branca de Neve pula logo para o tópico principal da conversa:

– Queremos saber como...

– Derrotar a Malévola e a maravilhosa Cora. – completa Rumplestiltskin. – Talvez devessem ter pensado nisso antes de cravarem uma espada nas maravilhosas costas da sua amiga Regina, não?

– Quem é você para nos falar isso? – fala David, exaltando a voz. – Seus crimes contra a Floresta Encantada são inúmeros!

– Pelo menos eu admito que sou mal. – fala Rumplestiltskin, repetindo a frase que Malévola disse no enterro de Regina.

David tenta tirar a espada da roupa, mas é impedido por Branca de Neve.

– Nos diga como derrota-la. – diz Branca, olhando para os olhos penetrantes de Rumplestiltskin.

Ele dá um riso cínico, como sempre, e diz:

– Queridinha, será que você não entende? Toda magia vem com um preço. Eu lhes digo como se livrar de suas amiguinhas, se me derem algo em troca.

– O que você quer? – fala Branca, atropelando o possível fora que David daria no Rumplestiltskin.

Ele para, olha bem para os olhos de Branca de Neve. Talvez absorvendo cada detalhe de sua vida, ou simplesmente tentando assustá-la, antes de dizer:

– Eu quero o nome desta coisinha que está crescendo em você.

– Como você sabe... – começa David, mas Branca o interrompe:

– Fechado! Agora nos diga.

Rumplestiltskin para um pouco, fecha os olhos, se concentra, antes de se deixar falar:

– “A guerra é inevitável”, assim disse sua querida amiguinha Fada Azul. E apesar de odiá-la da cabeça aos pés, tenho que concordar. Não será fácil, mas devem buscar ajuda de todos os cantos. Do lobisomem ao ser do mar, dos insetos aos madeireiros. Cada um será importante para a batalha final. Mas somente quem realmente as conhece poderá ter a maior relevância. A adoradora de agulhas e seu homem devem ajudar, mas aquela que um homem quer ser devem evitar. A batalha final se aproxima!

Rumplestiltskin grita na última frase, e começa a rir e andar pela cela, pulando. Branca de Neve não entendeu nada do que disse, mas registrou cada palavra em seu cérebro. Ela e David se viram e vão saindo da caverna, mas os gritos de Rumplestiltskin os param no meio do caminho.

– Ei! Fizemos um trato! Eu quero o nome dela! Eu quero o nome dela!

– “Dela”? – Exclama David. – É um menino.

– Não... – fala Rumplestiltskin. – Você sabe muito bem Branca de Neve. Eu sei que sabe. Agora me diga, qual o nome dela?

Branca olha para os olhos de Rumplestiltskin de longe, e fala rapidamente:

– Emma. Seu nome é Emma.