Uncursed

Por ordem da Rainha de Copas.


Mulan e Branca de Neve caem em um gramado. Dá para se ver ao redor imensos cogumelos do tamanho de árvores, brilhando por baixo. Mulan se levanta e a primeira providência é tentar ajudar Branca de Neve a se por em pé.

– Não precisa me ajudar. – fala Branca de Neve. – Você já “ajudou” o bastante, aquela que um homem quer ser.

– Aquela que o que? – pergunta Mulan, não entendendo muito bem o que Branca de Neve havia acabado de dizer.

– Aquela que um homem quer ser! – fala Branca, se levantando e encarando Mulan nos olhos. – Quando fui pedir ajuda a Rumplestiltskin ele disse que eu e David deveríamos evitar “aquela que um homem quer ser”. Mas a gente achou que era mentira, mais uma pegadinha do Rumplestiltskin. Mas pelo visto não é. Você arruinou tudo. Agora aqui estamos nós no País das Maravilhas.

– Espera, eu arruinei tudo? – fala Mulan, se aproximado para enfrentar Branca de Neve. – Eu tentei ajudar aquelas pobres famílias postas sobre pressão de você para que chamasse um exército. Isso é errado, e você sabe disso.

– Eu não obriguei ninguém a ir á guerra contra Malévola e Cora! – fala Branca, agora enfrentando Mulan. – Vai quem quer!

– Eu sei muito bem como é isso! – fala Mulan. – Eu sei que ninguém vai “porque quer”. Eles vão se sentir na obrigação de ir. Afinal, é o reino deles.

– E daí? Ótimo, teremos mais soldados!

– E mais vidas perdidas desnecessariamente! – fala Mulan, sobressaindo sua voz á de Branca de Neve.

Branca fica calada. Sabe que Mulan tem razão, mas isso não significa que ela iria falar isso para ela.

– Ok, não importa. – fala Branca. – Agora temos que arranjar um jeito de sair desse lugar!

– O chapéu. – fala Mulan. – Ele retorna duas pessoas, já que duas foram. Podemos voltar quando quisermos.

– Então temos que ir logo. – fala Branca. – Onde está o chapéu? E o pergaminho indestrutível?

– Vamos procurar. Devem ter sido jogados pelo portal – fala Mulan, andando pela floresta de cogumelos procurando o chapéu e o pergaminho. Branca também procura, mas ambas não tem muito tempo para procurar-los, antes que ás suas costas ouvissem uma voz:

– Parem. Coloquem as mãos ao alto. Por ordem da Rainha de Copas.

Mulan e Branca se viram, e veem três homens parados com lanças nas mãos, apontando para elas. Estes homens estão vestidos como cartas de baralho de copas.

– Rainha de Copas? Cora! – fala Branca. – Mulan, a Rainha de Copas é Cora!

– Caladas! Por ordem da Rainha de Copas! – fala outro homem, agora se aproximando das duas com algemas.

– Branca. – fala Mulan, olhando para ela. – Sabe o que fazer.

E Branca de Neve sabia. Poderia estar grávida, mas sabia muito bem o que aprendeu nos anos fugindo de Regina e dos meses de treinamento para a batalha contra Malévola e Cora.

– Caladas! Por ordem da Rainha de...

Mas o soldado não foi capaz de terminar sua frase. Branca de Neve pulou em cima dele, desviando sua arma de curso, tirando-a de seu corpo e colocando-a no seu. Mulan puxa uma corrente de sua armadura, amarrando-a contra o pescoço de outro soldado, jogando-o no chão. O outro soldado solta flechas, mas Branca de Neve e Mulan são capaz de desviar. Mulan anda por cima do soldado que derrubou no chão e pula em cima do outro, mas o mesmo consegue cravar uma flecha no braço de Mulan, fazendo-a cair no chão.

– Mulan! – grita Branca, antes de pular em cima do guarda e dar-lhe uma chave de braço.

Branca de Neve segurava-o muito forte, capaz de sufoca-lo. Mas de repente se lembra: ela é uma heroína, não uma vilã. Vilãs são quem matam as pessoas, heroínas conseguem se sobressair fazendo apenas o bem. Ela já cometera o pior erro de sua vida deixando David matar Regina no dia do seu casamento, agora é a hora de voltar a ser a heroína.

Branca de Neve afrouxa o braço, e puxa a arma do guarda. O mesmo se levanta, olhando assustado para a moça.

– Vá, antes que eu me arrependa de tê-lo deixado vivo. – fala Branca, se levantando com a arma apontada para o soldado.

O mesmo levanta os braços e assobia, e em apenas alguns segundos um cavalo branco aparece, e ele monta no animal, e começa a cavalgar. Porém, após passar por alguns cogumelos, se abaixa para pegar algo atrás de uma das árvores de cogumelo: um chapéu. O chapéu do Chapeleiro Maluco. Ele pegou o chapéu sem parar o cavalo e continuou a cavalgar. Branca de Neve, ao ver a cena, atirou flechas, mas a essa altura o soldado desaparecera no meio da floresta de cogumelos gigantes.

– Ai! – Branca ouve a voz de Mulan, e ao se virar a vê tirando a flecha de seu braço direito.

– Deixe-me ajudá-la! – fala Branca, se aproximando e sentando no chão ao lado de Mulan, arrancando um pedaço de pano de seu vestido para enfaixar seu braço.

– Obrigada. – fala Mulan. – Mas por que deixou aquele soldado escapar? Ele quase me matou!

– Chega de mortes. – fala Branca. – Somos heroínas. Não podemos matar pessoas simplesmente por matar.

– Mas ele iria me matar! – fala Mulan. – E levou o chapéu, que eu vi! Era nossa única chance de sair daqui, e agora por sua culpa vamos ter que arranjar outro jeito!

– E se não fosse por você nós nem estaríamos aqui! – fala Branca de Neve, interrompendo. Mulan fica calada, pois sabe que o que ouviu é verdade. – E não estamos sozinhas. Encantado nos viu. Ele vai nos salvar.

– Eu não vou ficar esperando meu Príncipe Encantado vir me salvar com um “beijo do amor verdadeiro”. – fala Mulan. – Temos que lutar se quisermos sair daqui.

– Não venha me dizer que eu fiquei parada esperando ele vir me salvar! – fala Branca de Neve, irritada. – Eu odeio esses estereótipos de “princesas indefesas esperando o príncipe encantado”. Não foi você que ficou anos na floresta sobrevivendo da boa vontade de sereias, lobisomens e outros seres.

– E não foi você que foi para uma guerra se passar de homem para salvar seu pai! – falou Mulan, interrompendo-a.

Mulan e Branca de Neve olham uma para a outra com ódio, mas com o tempo percebem que o que estão fazendo é imaturo. Ambas são mulheres fortes e independentes que passaram por muitas coisas.

– Certo. Precisamos ir. – fala Branca de Neve, depois que amarra o braço de Mulan. – Temos que arranjar um jeito de sair daqui.

– E o pergaminho? E o que fazemos com esses dois guardas? – fala Mulan, se levantando.

Neste momento, Branca de Neve olha para um cogumelo e vê algo brilhando atrás dele. Vai até lá, afasta os matos altos no pé da árvore de cogumelo, e pega o pergaminho indestrutível.

– O pergaminho está aqui. – fala ela, erguendo o pergaminho.

– Certo, e o que fazemos com os guardas? – fala Mulan.

– Bem... Eu acho que tenho uma ideia...

. . .

– Isso não vai dar certo... – fala Mulan.

– Claro que vai. – fala Branca de Neve.

Ambas estão com as armaduras com desenhos de baralhos dos guardas da Rainha de Copas, vulgo Cora. Ambas estão parecendo palhaças com aqueles corações estampados. Estão andando na floresta de cogumelos em direção ao que se parece ser um castelo ao longe.

– Mas como você pode ter tanta certeza de que não irão nos reconhecer? – fala Mulan. – Cora soube que estávamos aqui no momento em que pisamos no País das Maravilhas. Ela é a Rainha de Copas! Ela deve saber de cada um de seus soldados.

– Duvido muito – fala Branca. – Eu conheço bem a Cora, e se tem algo que ela não tem, é apego. Por ela tanto faz um pelo outro. Uma menos, um a mais. Se ela era assim com pessoas normais, imagine com soldados que nasceram para a função de serem escravos dela.

– Eu nunca entendi o que leva uma pessoa a querer servir o mal. – fala Mulan, passando por flores coloridas no meio de dois cogumelos.

– Acontece que eles nascem e são raptados. – fala Branca de Neve. – Após serem raptados, são mantidos em cativeiro aprendendo que tudo o que vivem é bom, e a idealização do mundo conosco no poder é ruim.

– Espera, então eles acham que o bom é ruim e o ruim é bom? – fala Mulan.

– Exato. – fala Branca, se lembrando de sua infância quando acidentalmente encontrou com um desses órfãos. – Então eles acreditam que estão fazendo algo bom ajudando essas rainhas do mal. O mesmo acontece com todas. Malévola, Regina, Úrsula, Rainha de Copas, e qualquer outra rainha má que apareça por aí.

– Que horrível – fala Mulan, pensando alto.

– É, mas é assim que as coisas funcionam...

E neste momento a floresta de cogumelos se acaba, e Mulan e Branca de Neve tiram seus olhos do chão, e levantam suas cabeças para se depararem com o que viam a sua frente.

– Chegamos. – fala Branca, olhando para o grande castelo vermelho e branco decorado com corações.

– É. – fala Mulan. – Eu ainda acho que isso vai dar errado.

– Vai não, confia em mim. É só agir naturalmente. – fala Branca de Neve, adentrando no grande gramado que vem antes do castelo.

Mulan anda atrás dela, enquanto pensa que agir naturalmente seria exatamente seu grande problema.