Uncursed

Brilha linda flor.


Os gritos de Branca de Neve ecoavam pelo quarto enquanto ela sentia a dor excruciante do parto. As parteiras, juntamente com Chapeuzinho, estavam realizando o tão dolorido parto da pequena Emma. Sua cabeça já era vista, porém por mais que Branca de Neve empurrasse, nada acontecia. Estavam todas preocupadas.

Do lado de fora, David escutava a gritaria dentro do quarto e ficava apreensivo. Sua única filha estava passando horrores para nascer, assim como sua mãe. Nunca pensou que fosse sentir tanta aflição na vida. Juntamente com a aflição de estar com a filha quase sem nascer, ainda tinha o fato de que Cora estava andando livre pela Floresta Encantada, e sabe-se lá o que pode estar acontecendo com ela neste momento.

Chapeuzinho saiu aturdida do quarto, e foi contar para David a dura verdade. David não esperava que Chapeuzinho fosse tão direta:

– Ela está tendo problemas para sair. Branca está sangrando. Não sei como não desmaiou ainda.

David apenas ficou calado, digerindo o fato de que sua mulher estava morrendo neste exato momento e ele não podia fazer nada.

– Mas... Chapeuzinho, por quê? – fala ele, gaguejando.

– Segundo as parteiras, deve ser por conta que com o fluxo temporal diferente a Branca tenha ficado com a Emma em seu útero por muito tempo, o equivalente a um ano.

– Eu sei, eu passei dez meses assistindo-a em câmera lenta no País das Maravilhas.

Chapeuzinho ignora a grosseria de David por que imagina sua dor. Apenas continua:

– Pois bem, a criança se desenvolveu rápido demais. Não era para ter acontecido isso, ela simplesmente estourou no útero de Branca e agora está com aparência de uma criança com três meses de idade.

– Espera. – fala David, ainda digerindo o que a Chapeuzinho estava falando. – Uma criança de três meses? Mas a Branca vai morrer neste parto!

David falou a última frase gritando, o que assustou Chapeuzinho.

– Eu tenho que ajudar... – fala David, abrindo a porta bruscamente antes que Chapeuzinho pudesse impedi-lo de entrar.

Ao olhar a cena, David fica apavorado. A cabeça de Emma está enorme enquanto Branca tenta empurra-la e gritando como se não houvesse amanhã. O sangue se espalha nos lençóis numa velocidade imensa.

– Saia daqui, David. – fala a Vovó, empurrando-o para fora do quarto. – Você não é de nenhuma ajuda por aqui.

– Eu posso ajudar! – fala David, nem olhando para a cara da Vovó, e sim ao rosto vermelho e cheio de lágrimas de Branca de Neve.

– Não, você não pode ajudar. Com licença – fala a Vovó, o empurrando, mas ele bate em um dos guardas do castelo que está na porta do quarto.

David se vira, e vê a expressão espantada do guarda olhando para ele branco de medo.

– O que houve? – pergunta David, olhando nos olhos do guarda.

– Senhor... Acho melhor você ir olhar a varanda... – fala o guarda, apontando para a varanda.

David olha para a varanda e vê sombras ao fim do horizonte de campos. Ele anda em direção á varanda, e quando chega lá, com seu binóculo, observa o que está se aproximando.

Mais ou menos trezentos soldados estão indo em direção ao castelo, juntamente com os piores vilões á sua frente, os liderando: Malévola, Madame Mim, Shan Yu, Cruella, Úrsula, Jafar e Cora. Agora consegue se ver o que Cora estava fazendo este tempo. Estava reunindo o maior exército já visto para começar a batalha final.

– Senhor, o que eu faço? – pergunta o soldado, gritando para suprir os gritos de Branca de Neve em seu parto.

David volta a si depois do estado de transe e pânico que ficou ao ver todo aquele exército.

– Reúna os exércitos dos reinos. – fala David. – É agora.

David se vira para Chapeuzinho e diz:

– Em hipótese alguma deixe alguém entrar aqui. Posso confiar em você?

Neste momento, Chapeuzinho olha da varanda o sol se pondo e a lua cheia aparecendo.

– Pode. – fala ela, confiante.

David sai correndo do quarto, indo alertar todos da realeza da Floresta Encantada que estão no castelo.

Ás suas costas, Chapeuzinho tirava sua capa vermelha e começava sua transformação. Seu nariz, boca e dentes aumentaram, pelos começaram a surgir em seu corpo, e suas mãos viraram garras de lobo.

O lobo apareceu, e já com total controle por sua forma de lobo, Chapeuzinho fechou as portas do quarto com seu focinho, e ficou de guarda na porta. Não iria medir esforços ao morder e matar quem quer que ouse entrar no quarto.

Enquanto isso, David corria de porta em porta para avisar todos os de famílias reais que a batalha começou. Todos se assustaram com o anúncio de David, mas foram logo se arrumando direito para enfrentar seja lá o que aparecesse á sua frente. Mulan e Alice estavam no mesmo quarto quando David anunciou a chegada do exército do mal para vingar a morte de Regina.

– Que vilões estão no exército? – pergunta Alice, já aturdida.

– Malévola, Rainha de Copas, Madame Mim, Cruella de Vil, Úrsula, Jafar e Shan Yu.

– Shan Yu? – pergunta Mulan, ficando em estado de choque ao ouvir o nome do seu pior rival na sua primeira guerra, quando se disfarçou de homem para ir ao lugar de seu pai. Sua pergunta não foi respondida, pois David saiu correndo para ir avisar aos outros e conduzir o exército de trezentos homens de todos os reinos da Floresta Encantada para a batalha.

– Vamos. – fala Alice, saindo do quarto sendo seguida por Mulan.

Lá embaixo, no imenso campo afrente do castelo, os dois exércitos estavam a apenas alguns metros de distância um do outro. As sereias lideradas por Ariel estavam no lago atrás do castelo, apenas esperando para poderem começar a lançar suas flechas. E se dá a largada.

Dois exércitos se colidindo. O exército de homens de todos os cantos da Floresta Encantada está com tudo, ainda por cima com o ogro Shrek para ajuda-los, simplesmente devorando a cabeça de quem quer que apareça para querer mata-lo. As sereias, ao som do assobio de Ariel, jogaram suas flechas bem afiadas em direção ao exército oposto, além de muitas catapultas construídas por Gepetto para que matassem o exército de vilões.

Mas parece que nada disso atinge os vilões que lideram os exércitos. Eles andam calmamente em meio a uma guerra sangrenta com mais de seiscentos homens e não parecem ser atingidos. Apenas alguns passos atrás de Jafar, está a pequena Lady Tremaine, que sem nenhuma habilidade, apenas se infiltrou ali no meio dos vilões para se vingar de Ella.

Nada os atinge. Catapultas, flechas lançadas pelas sereias, atém mesmo homens que avançam sobre eles. Um escudo os protege de serem atingidos por qualquer objeto que queira atingi-los, fazendo-os por mágica voltarem para onde vieram. Calmamente eles passam por todos e adentram no castelo, onde finalmente se soltam do escudo para começarem a “brincadeira”.

– Já sabem, não é? – fala Malévola afrente de todos como uma líder. – Cada um se vinga de seu “herói”. Se vinguem, então.

Todos se dispersam pelo castelo. Malévola sobe algumas escadas e, abrindo de porta em porta com magia e matando qualquer soldado que apareça á sua frente, ela cha em um dos últimos quartos a princesa Aurora e o príncipe Phillip.

– Ora, ora. – fala Malévola, exibindo seu ar de superioridade. – Quem encontramos aqui?

– Malévola! – grita Aurora, se encolhendo ao lado de Phillip para se proteger com seu escudo de um feitiço de Malévola, que reflete no escudo e quase se volta para Malévola.

– Ora, ora. Vejo que vocês se prepararam. – fala Malévola, calmamente exibindo seus olhos amarelos.

Phillip consegue ver isso, e diz para Aurora:

– Você confia em mim? – pergunta ele.

– Como? – pergunta Aurora, vendo Malévola lentamente aumentar de tamanho e soltar fumaça por suas narinas.

– Confia em mim? – dessa vez ele grita.

– Sim! – grita Aurora, e neste mesmo momento os dois pulam a varanda sendo seguidos por Malévola, que aumenta seu tamanho e vira o grande réptil com asas que cospe fogo, derrubando paredes do castelo e soltando seu fogo imenso.

Aurora e Phillip conseguem por pouco pousar no quarto do andar abaixo, encontrando-se com Mulan e Alice, que estão se escondendo em um pequeno quartinho.

– Mulan, vamos. – fala Phillip.

Os dois tomam a rédea, enquanto Aurora e Alice ficam atrás com poucas habilidades úteis em meio a uma guerra. Pode se ouvir os passos de dragão de Malévola acima, enquanto ela cospe fogo nas paredes quase indestrutíveis do castelo.

Neste momento, de frente com o grupo, Shan Yu e Madame Mim aparecem. Ambos estão muito cansados de subirem escadarias e tentar achar seus rivais. E parece que acharem.

– Mulan. Quanto tempo. – fala Shan Yu, lançando sua bola de ferro pontiaguda contra Mulan, que a pula e se joga em Shan Yu.

– Muito tempo. – fala ela, passando uma corrente em seu pescoço e jogando-o no chão. – E pelo visto não foi só você que melhorou suas técnicas de batalha.

Madame Mim, neste momento, usa de sua magia negra para desenrolar a corrente no pescoço de Shan Yu, fazendo-o se levantar continuar a luta com Mulan, agora despreparada.

Phillip toma a rédea contra Madame Mim , que com apenas uma mão joga-os contra a parede, sem nenhum discurso.

– Achavam mesmo que iam deter a maravilhosa Madame Mim? – pergunta ela, olhando para eles com seus olhos negros e cabelos roxos.

– Achamos. – fala Alice, a pegando de surpresa e jogando-a no chão. Atrás dela, Aurora a pega pelos cabelos roxos e bate sua cabeça na parede, fazendo-a desmaiar enquanto o sangue escorre pelo corredor.

Mulan ainda está travando a luta com Shan Yu, mas parece não estar indo muito bem. Shan Yu, com sua espada, está a ponto de cortar a garganta de Mulan, se não fosse por Phillip, que com seu escudo impede qualquer coisa de acontecer com Mulan. Shan Yu revida contra Phillip, mas Mulan pega sua corrente e, com ela envolta do pescoço de seu rival, o joga no chão, fazendo-o ficar desacordado enquanto seu sangue se mistura com o de Madame Mim pelo corredor.

– Quem disse que nós não sabíamos lutar? – fala Aurora. – Vamos, temos uma guerra para vencer.

Em outro canto do castelo, Ella e o rei Thomas tentavam pegar suas armas para sair de seu quarto, antes de uma figura muito conhecida de Ella aparecer abrindo a porta.

– Lady Tremaine? – pergunta Ella, olhando para as feições velhas e feias de sua madrasta.

– Cinderela! – fala Lady Tremaine, andando lentamente em direção á Ella e o príncipe Thomas.

– Seu nome é Ella! – fala Thomas, se postando afrente de Ella para protege-la, empunhando sua espada.

– Querido, isso não é preciso. – fala Lady Tremaine, abaixando a espada dele e lançando seu discurso: - Só vim lembrar que Cinderela não passa de mais uma Gata Borralheira.

– Ora, mas pare com isso! – fala Ella, se postando afrente de Thomas para encarar sua madrasta cara a cara. – Suas palavras não me atingem. E você consegue ser tão ridícula ao ponto de em meio a uma guerra vir somente com sua cara velha, feia e nojenta para cima de mim. E dê licença, tenho uma guerra para vencer.

Ella tenta sair calmamente de seu quarto ao lado de Thomas, mas Lady Tremaine agarra seu braço, dizendo em seu ouvido:

– Lembre-se de quem você sempre será, Cinderela.

Ella não aguenta isso, e com um murro faz o nariz de Lady Tremaine sangrar. A madrasta se afaste, olhando para a cara de Ella sem entender como ela ficou daquele jeito.

– Uns meses de treinamento vêm bem a calhar. – fala Ella. – Tenha um bom dia, madrasta.

Lady Tremaine ficou apenas parada no quartinho enquanto ouvia os passos de dragão de Malévola alguns andares acima.

Neste momento, no lago, Ariel mandava as sereias continuarem a lançar suas flechas em direção a batalha no campo aberto afrente do castelo. Úrsula consegue, de um quarto, pular ao oceano, e conseguir com seus tentáculos encurralar todos que jogavam flechas contra o exército em terra.

– Úrsula, solte-os! – fala Ariel, tentando fazer com que Úrsula soltasse as sereias encurraladas.

– E quem é você , menina sereia? – pergunta Úrsula, pegando de seu pai, rei Tritão, seu tridente.

– Úrsula, pare! – grita Ariel, mas é tarde demais.

Úrsula consegue, com o tridente de Tritão, aumentar seu tamanho. Com o tamanho de um castelo, Úrsula deixa que as sereias escapem, enquanto com sua risada maléfica aumenta seu tamanho. Todos olhando para cima para a bruxa do mar ficam chocados com o que veem.

Todos no castelo, até mesmo Branca, que ainda está em trabalho de parto, ouvem a risada forte de Úrsula. Com o tridente de Tritão, Úrsula é capaz de matar todos ali.

– E agora, quem está em desvantagem? – pergunta Úrsula, fazendo sua voz ecoar por toda Floresta Encantada.

Ariel, rei Tritão e todas outras serias olham para a bruxa do mar com desespero.

– Está na hora de bani-los. – fala Úrsula, fazendo com que o tridente de Tritão brilhe, e fazendo um redemoinho no lago. – Vocês, todos vocês, irão para uma terra sem magia. E o triunfo será dos vilões!

Todos do exército de vilões gritam em aprovação ao discurso de Úrsula, até mesmo o dragão Malévola que está soltando fogo no exército do campo aberto.

O redemoinho feito no lago continua a crescer e engolir navios que estão naufragados. Mas, neste momento, com os navios rodando para dentro do redemoinho, Ariel consegue pular em direção ao centro deste portal e entrar em um dos navios. Queria provar que poderia ser muito mais que uma princesa esperando por seu príncipe encantado para salva-la. Poderia derrotar Úrsula.

Conduzindo o navio de forma duvidosa, ela consegue perfurar a barriga de Úrsula. Seu grito de dor é ouvido em toda Floresta Encantada, e antes de ela descer no lago para sua morte a batalha recomeça.

No quarto, a pequena Emma finalmente consegue nascer. A Vovó e as parteiras finalmente terminam o trabalho que tentaram insistentemente por mais de três horas. Mas a alegria duraria pouco.

Cruella e Jafar se aproximavam do quarto, e com Chapeuzinho vigiando, ela se joga para mordê-los. Mas Cruella consegue ser mais rápida. Com apenas um sopro verde, faz com que Chapeuzinho durma em um sono profundo. Jafar corre entes e abre a porta com seu cajado de ouro com uma cobra escrutada.

– Onde está o bebê, queridinhas? – pergunta Cruella, vendo o colchão melado de sangue e Branca de Neve com o rosto vermelho e lágrimas que demoram a secar. A pequena Emma está escondida embaixo da cama.

As parteiras e a Vovó não dizem nada.

– Não vão dizer? – pergunta Cruella, apenas jogando um sorriso sarcástico. – Jafar, querido. É com você.

Jafar, com seu cajado, faz que o quarto todo se revire. Cômodas, abajures, o berço ao lado da cama. E aí é que ele faz com que a Branca de Neve morrendo de dor caia no chão quando os lençóis são jogados fora.

– Aqui está a pequena Emma. – fala Jafar, que sem problemas encontra a bebê que estava escondida embaixo da cama.

– Que maravilhoso! – fala Cruella, abrindo um sorriso e olhando para a Branca de Neve excruciando de dor ao lado da cama, espalhando sangue. – Ah, querida. Você nem sabe como é ser mãe.

– Nem você. – fala uma voz ao lado de Cruella, que se vira. Mas não consegue ter nenhuma reação, pois uma flecha atravessa seu peito. Jafar não consegue fazer muito, antes que a Vovó também crave uma flecha em seu peito fazendo-o cair morto.

Finalmente, Mulan, Phillip, Aurora e Alice estão quase chegando á sangrenta batalha do pátio. Mas algo os impede antes. Uma fumaça azul escura se faz e dela sai Cora, com suas vestes de Rainha de Copas.

– Ora, ora. – fala Cora. – Alice, querida. Devo dizer que me impressiono com seu poder de lutar.

– E eu me impressiono com sua fraqueza. – fala Alice, avançando sobre Cora e derrubando-a. Neste momento, a flor mágica cai de uma bolsinha que Cora carregava.

– Isso! – fala Alice, se aproximando da flor para tentar cantar para ela, mas sente algo a puxando. O poder de Cora a puxa para longe, antes que possa cantar uma linha da canção da cura e dos desejos.

– Agora não. – fala Cora, puxando Alice e tapando sua boca.

– Não precisa se preocupar só com ela, Cora. – fala Phillip, avançando em Cora e fazendo-a cair no chão. – Cante, Mulan! – grita Phillip.

Mulan, assustada com a responsabilidade, apenas se aproxima da flor, cantando e pensando alto em seu desejo de banir todos os vilões para uma terra sem magia:

“Brilha linda flor.

Teu poder venceu.

Trás de volta já o que uma vez foi meu.

Cura o que se feriu.

Salva o que se perdeu.

Trás de volta já o que uma vez foi meu.

Uma vez foi meu.”

– Não! – se ouve o grito de Cora, antes que uma fumaça branca desaparecesse com ela.

Esta mesma fumaça fez com que todos os vilões e o guarde exército do campo aberto sumissem, deixando todos os heróis confusos. O dragão Malévola sumiu, assim como os corpos de Cruella, Úrsula e Jafar. Madame Mim e Shan Yu também sumiram, deixando nada. Nem mesmo seu sangue.

Neste momento, Mulan se levanta, enquanto a flor para de brilhar, e diz:

– Acabou.