Amy observou atentamente as pegadas. Os outros fizeram o mesmo, mas estava difícil decidir a partir dali qual caminho seguir. Se eles seguissem o caminho errado, poderiam dar de cara com quem eles não queriam.

Amy começou a identificar cada par de pegadas, começando pelos que seguiam para a esquerda. Elas eram diferentes. Uma delas possuía algumas marcas de círculos em seu interior. A outra era grande e possuía uma forma quadrada e totalmente fora do comum. Amy imaginou que essa pertencia ao homem mascarado que ela vira a pouco mais de uma hora atrás, pois ela reparou que ele usava botas grandes. E por fim havia outro par de pegadas, essa com listras em seu interior. Havia também mais três pares de pegadas, que estavam um pouco apagados, mas que estavam lá.

Em seguida, Amy examinou as pegadas que seguiam para a direita. Percebeu logo as pegadas grandes e quadradas. As de círculos prosseguiam lado a lado com as pegadas quadradas. As três que estavam mais apagadas também estavam lá. Mas onde está a marca com listras? Sim, a pegada com listras não estava lá! Essa deve ser a de Ian! Isso quer dizer que o caminho da direita era o de volta, e que eles deviam seguir para a esquerda! Sem se dar ao trabalho de explicar isso aos outros, Amy apenas exclamou:

– Por ali! – E então ela apontou para a esquerda. E os outros apenas obedeceram.

Amy estava feliz por não ter visto nenhum “segurança” até agora. Talvez quem estivesse fazendo isso achasse desnecessário pôr seguranças em um lugar tão inacessível como aquele. Eles estavam andando o mais depressa que podiam. O cansaço e o temor de encontrar algum perigo impediam-lhes de ir mais rápido. O caminho era longo e as condições precárias daquele lugar tornavam-no mais difícil. Havia muitas pedras ali. De quando em quando, alguém tropeçava em alguma delas, e então se ouvia um gemido. Fora isso, os três permaneciam calados. Precisavam poupar energias.

Enquanto caminhava, Amy pensava em tudo. Aquilo que ela estava fazendo era uma loucura. Mas o que ela não faria por ele? O que ela não faria por Ian? Ainda na noite anterior Ian levou um tiro no ombro para impedir que a bala a atingisse. E afinal, para que serve a vida senão para sacrificá-la pelas pessoas que amamos?

* * *

Enquanto isso, no hospital, Sinead não parava de consultar o relógio. Ás 15h00min, único horário reservado para visitas, Sinead prontificou-se para enfim ver seu irmão. Depois de vestir todo o equipamento necessário, ela seguiu para a sala indicada por uma enfermeira.

E ali estava ele, seu irmão. Parecia tão fragilizado, estava pálido. Sinead sentou-se ao lado dele. Estava dormindo. Um dos enfermeiros que estava auxiliando o paciente sorriu pra ela e falou:

– Não se preocupe. Seu irmão está reagindo muito bem ao tratamento. Ele vai sair dessa. Precisa apenas de mais uns dias de repouso e continuar tomando os remédios. – Sinead estava aliviada. Ficou ali ainda alguns minutos até que percebeu que Ned estava acordando.

– Sinead! Foi horrível. Assim que eu abri os olhos fui atingido com uma pancada. Não consegui ver o rosto do agressor no escuro...

– Não se preocupe, agora está tudo bem.

– Ele ia me bater de novo, então eu fingi que estava morto. Ele queria me matar.

– Não. Ele não vai fazer nada com você, eu não deixarei.
* * *

A água já estava nos seus joelhos, e nada havia acontecido desde quando Vikram Kabra lhe dera as costas. E o nível da água só subia e subia. Ian sentiu mais um calafrio. A água estava gelada, e parecia gelar-lhe até a alma. O frio ficava cada vez mais intenso, ainda mais agora que estava sem a camisa. Sua camisa estava servindo de rolha no cano por onde saía toda aquela água.

O ar estava ainda mais úmido, o que dava a sensação de que pesava dentro dos seus pulmões. Além disso, a tensão daquele momento dificultava a respiração. Ian começou a tossir. Estava começando a ficar resfriado. Afastou-se o quanto pôde da parede gelada. Imaginou que a temperatura ali em baixo deveria está a quase zero graus. Ou talvez fosse apenas a sensação térmica. De uma forma ou de outra não importava. O que ele queria era sair dali, e fingir que nunca ouvira falar em nenhum Vikram Kabra.

Vikram Kabra... Será que existem homens mais cruéis do que ele na face da terra? Era possível que sim. Ian estremeceu ao pensar isso. A água agora estava quase na altura do umbigo. Será que algum dia Ian seria capaz de perdoar esse homem? Esse homem que nunca manifestou um só sentimento positivo, de amor ou de carinho? Esse ser humano ego centrista que se deixou seduzir pelos piores sentimentos que um homem pode sentir? Ian não sabia a resposta. Sabia apenas que um sentimento nascia dentro dele, e por mais que ele lutasse contra esse sentimento, ele florescia dentro dele à medida que ele sentia os centímetros de água subir pelo seu corpo. Sim, ele odiava aquele homem. Ele odiava seu próprio pai.