Andaram e andaram ainda mais. A luz da lanterna não iluminava o suficiente, e a o chão acidentado, com grande quantidade de buracos e rochas, fazia com que a caminhada parecesse ainda mais longa. Depois de uns poucos minutos, eles chegaram a uma velha escadaria, que descia para abaixo do subterrâneo onde eles estavam.

– Nós vamos ter que descer? – Perguntou Jonah, mas já sabendo qual seria a resposta.

– Será que é possível respirar aí em baixo? – Perguntou Amy. Ela sentia seus pulmões serem comprimidos dentro do peito.

– Tem que ser possível. Quem construiria uma escada que conduzisse a um lugar onde não fosse possível sobreviver? – Respondeu Hamilton, embora descer por aquela escadaria era o que ele menos desejasse no momento.

– Não sei... – Respondeu Jonah – Mas pelas condições, a pessoa que construiu essa escada já deve estar morta há muito tempo.

E sem perder mais tempo, eles desceram um a um. A cada degrau, era possível ouvir um enorme rangido. Eles se agarraram no corrimão. Nada garantia que a escada não arrebentasse bem na hora em que eles tivessem passando por ela.

Enfim desceram os cerca de 40 degraus que fazia parte da escada. Amy parou.
– Esperem. Vocês estão ouvindo esse barulho? – Ela falou, ao perceber um leve ruído ao longe. Não seria possível escutar se eles não estivessem no meio do silêncio total. Além disso, o eco provocado por aquele lugar fazia audível o mais suave sussurro.

– Será que são morcegos? – Disse Hamilton – Reparei que há bastantes nesse lugar.

– E se for passos? Se nos pegarem aqui estamos fritos! Vamos nos esconder. – Disse o outro.

– Não. Não são morcegos. Também não pode ser passos, o barulho é contínuo. Vamos continuar andando. - E assim eles fizeram.

* * *


Pânico. Essa é a palavra pra descrever o que ele estava sentindo naquele instante. Desespero era pouco. A água estava subindo cada vez mais depressa. Parecia que a sua camisa já não exercia sua função de reduzir o fluxo. Agora o nível da água estava no seu queixo, e ele precisava erguer a cabeça para evitar que a água entrasse pela sua boca.

Ás vezes ele achava que ia desmaiar. Sentia vontade de desistir de tudo; desistir de viver. Pra quê continuar vivendo para assistir os seus últimos e trágicos momentos?Pra quê ter que agüentar tanto tempo naquela agonia? De qualquer forma, dali a poucos minutos tudo terminaria de qualquer jeito. Ele queria pôr um fim nisso de uma vez por todas. Chega de sofrer. Ele tinha ainda alguma motivação pra continuar? Amy provavelmente já estaria morta uma hora dessas. Morta, assim como toda a sua família. Seu pai agora era tudo o que ele tinha, mas também era tudo o que ele não queria ter.

Ele estava muito abalado psicologicamente. Teve um choque muito forte, e uma explosão dos mais diversos sentimentos jorravam dele agora. A raiva, o ódio, o pavor. A decepção. Sentia-se impotente, incapaz. Imaginou o que seria o homem diante da morte: um nada. E mesmo assim algumas pessoas ainda acham que podem ser o centro do Universo, o centro de tudo. O que o homem pode contra as forças da natureza? Mais cedo ou mais tarde, o ser humano deve submeter-se a ela. E esse momento estava chegando pra Ian. Não, ele não estava morrendo através das forças da natureza, mas da maldade de um homem. O homem pode interferir no ambiente, e deixar sobre ele suas marcas, podendo estas ser negativas ou positivas.

Ian ficou de ponta de pé. A água exercia sobre ele certa pressão, o que dificultava a respiração. Ele estava ofegante. Além disso, a baixa temperatura da água o fez pensar que não morreria afogado, mas hipotérmico, congelando antes mesmo que o nível da água subisse a borda do buraco.

* * *

Já havia passado alguns minutos desde que passaram pela escadaria. O ruído que eles ouviam agora estava bem mais alto, e eles já sabiam do que se tratava: era água. “Com certeza deve haver algum córrego subterrâneo correndo em algum lugar por aqui” Pensaram eles. Enfim, eles caminharam á uma bifurcação.

– E agora, pra onde iremos? – Perguntaram os dois meninos ao mesmo tempo. – Seguiremos o barulho da água?

– Isso seria o ideal, mas, com esse eco, não dá pra saber de onde exatamente vem o barulho. – Respondeu Amy – Nesse caso vamos pela abertura maior – E então eles seguiram para a esquerda.

Chegaram a uma ala enorme. Essa parecia em melhor condição do que o túnel que eles acabaram de percorrer. O chão era coberto por cimento, e ali havia objetos semelhantes aos encontrados no porão de uma casa. Móveis, pedaços de madeira, uma escada, barras de metal e muitas caixas de papelão ocupavam todo o espaço. Amy se aproximou de uma das caixas e a abriu. Dentro havia várias folhas de papel. Eles pegaram algumas folhas começaram a ler com esforço.

Os papeis estavam corroídos por traças, e apresentavam um tom amarelado. Pareciam estar ali há décadas. Foi difícil não espirrar devido ao odor que exalavam. Alguns papéis estavam impressos, mas havia também escritos manuscritos. Com esforço e apenas com a iluminação da lanterna, eles conseguiram decifrar o que havia ali.

– Mas o que é isso? São dados empresariais... cálculos de orçamentos... informações de compra e venda de ações... – Falou Jonah, passando os olhos pelas várias folhas que ele estava segurando.

– Vejam isso! – Falou Amy, apontando para o logotipo apresentado logo acima e a direita de uma das páginas.

– É o logotipo da empresa Kabra! – Respondeu Hamilton, enquanto os outros mantinham os olhos firmes sobre os papéis.

– Mas o que os Kabra têm haver com esse lugar horrível? – Perguntou Jonah - Isso aqui não é muito a cara dos Kabra...

– Eu não sei – Respondeu Amy – Nós vamos descobrir. Mas agora precisamos voltar, temos que salvar Ian!