Amy estremeceu. Sentiu como se estivesse desabando das nuvens agora. Ou do topo do Everest. Ergueu os olhos de onde estava. No meio da sala havia um homem trajado com roupas pretas. Ele usava uma máscara, o que impediu Amy de observar suas feições. Ela também não sabia se já tinha ouvido aquela voz antes, porque no interior da máscara havia um modificador de voz. Ian ergueu-se de pé em um salto. Estava preparado para qualquer coisa que os tirasse daquele lugar horrível.

– Não se aproximem, ou eu não os pouparei! – Gritou a voz robótica que saia do interior da máscara.

“Pelo menos ele ainda pensa em nos poupar” Pensou Amy, embora esse consolo não tenha sido tão útil para acalmá-la.

– O que quer de nós? – Perguntou Ian. Seus olhos cor de âmbar brilhavam. Mas não de alegria ou emoção, mas de ódio. Ódio de quem quer que esteja por trás daquela máscara.

– Ainda é cedo demais para vocês terem conhecimento dos meus objetivos. – Disse novamente a voz robótica. Ian teve a impressão de que o homem ria dele por detrás daquela máscara.

– Então por que nos trouxe aqui? – Disse Amy, dando um passo a frente – E por que tentou nos matar? – Amy apontou o buraco no chão.

– Ah, aquele mísero buraquinho no chão? Foi só uma brincadeirinha boba que eu fiz com vocês. Mas que pirralhos espertos! – O homem começou a gargalhar. De uma coisa Amy tinha certeza: esse homem não é normal. - Teria sido muito engraçado assistir um de vocês caindo nele. Talvez se a magrela caísse primeiro...

Nesse instante, Ian não resistiu mais. Eles não podiam ser humilhados desse jeito por um louco mascarado qualquer. Seu sangue Lucian fervia em suas veias. Ele correu em direção ao homem de preto, acertando-lhe um soco no estômago. Amy correu para ajudá-lo, porém, antes de poder dar dois passos, foi impedida por um homem que a segurava. Ela se deu conta de que os três não estavam sozinhos naquela sala. Alguns grandalhões saiam de detrás do estofado. É claro, uma passagem secreta. Isso explicava o sumiço repentino do mordomo. Outros três homens seguraram Ian. “Agora sim, tudo está perdido” – Pensou Amy.

– Vão pagar caro! Muito caro por isso! E vocês – Disse o mascarado se referindo aos guardas que seguravam Ian – Levem-no lá para baixo. A moça pode deixar aqui. Deixem-na aqui só para que reflita um pouco. - Então Amy ouviu uma gargalhada que não parecia humana.

Ian lançou a Amy um olhar de despedida. Um olhar que expressava que ele não queria deixá-la. Que sentia muito por não ter conseguido evitar aquilo tudo. Provavelmente esta seria a última vez que seus olhares se encontrariam. Não! Isso não! Amy não suportaria mais uma morte. Muito menos a vítima sendo Ian! - Não! Por favor, não o levem! – Gritou Amy, mas suas súplicas foram inúteis. Poucos segundos depois ela estava sozinha na sala.

* * *

Dan, Jake e Sinead pegaram um táxi e meia hora depois estavam chegando à casa do Sr. Thompson. Gregson os esperava na frente da porta.

– Que bom que vieram cedo, crianças. Agora entrem logo. Não posso me demorar muito aqui, pois tenho que voltar para o trabalho.

– Agradecemos desde já a sua compreensão, Sr. Gregson. – Disse Jake, lembrando da situação constrangedora do dia anterior.

Os três entraram em seguida do Sr. Gregson. A casa estava do mesmo jeito do dia anterior. Eles passaram pelo pequeno jardim e entraram na sala de estar. Tudo parecia perfeitamente normal. Se não já tivessem conhecimento dos fatos, nunca adivinhariam que há poucos dias um homem foi encontrado morto nesta casa. E que não era uma morte natural. Era um assassinato. Mas quem teria feito isso? E como eles provariam para a polícia do crime, já que esta acreditava que o ocorrido foi um mero suicídio?

– Então crianças, eu gostaria de lembrar-lhes que essa inspeção é inútil. Já não tem nada de novo a ser encontrado aqui.

– Pode deixar. Nós já sabemos a opinião da polícia. Se ainda houver alguma pista, nós encontraremos – Retrucou Dan, chateado pelo modo do policial os tratar, chamando-os de “crianças” o tempo todo.

Por sorte o telefone do policial tocou, obrigando-o a se retirar do local para atender. Desse modo, eles ficariam mais a vontade para fazer a “investigação”.

– E aí, Sinead Sherlouca Holmes, por onde começamos a procurar? – Jake estava impaciente. No fundo ele achava que aquilo tudo não ia dar em nada.

– Pelo começo, ué. Vamos ter que examinar tudo isso aqui minuciosamente. É assim que fazem os grandes detetives! Eles aproveitam todos os dados e não deixam passar nada. Não vá me dizer que você nunca leu romances policiais, vai? – Sinead estava encantada com o ofício temporário de detetive. Sentia-se como se tivesse saído de um dos livros de Conan Doyle ou Agatha Christie.

– É claro que eu já li! Mas acho bom você perceber logo que estamos em plena vida real, e as coisas acontecem diferentes nos livros.

– Por que vocês dois não se casam de uma vez, hein? Mas acho que agora não é hora... – Disse Dan, enquanto se debruçava sobre a estante da sala. – Nossa! Quantos livros chatos esse cara tinha! Que mau gosto. Vejam esse: “THE PILGRIM`S PROGRESS”. Argh! A maioria é de histórias antigas e romances! Amy faria uma festa se estivesse aqui.

– É isso aí, Dan, você é demais! – Sinead correu até onde Dan estava.

– Sou? Quer dizer, é claro que eu sou! Mas... Por que exatamente você disse isso?

– Os livros! Eles sempre são importantes nas investigações!

– Mas aqui só tem livro chato. Nada que nos leve a solucionar um assassinato misterioso.

– Dan, será que você não entende? Pode haver alguma mensagem dentro de algum livro... Ou talvez escrita em alguma página!

– Ah, não! – Jake estava sentado preguiçosamete no sofá – Você não vai querer que nós revistemos todos esses livros página por página, vai?

– Óbvio! Será que ninguém percebe que isso pode ser fundamental para descobrirmos tudo! Finalmente descobriremos porque o agente Madrigal, Sr. Thonpson está morto! – Sinead arrastou Jake até a estante. Os três começaram o trabalho. As horas foram se passando. Cada página, dos cerca de 50 livros da estante, foi minuciosamente revistada. Porém, nada aparentemente útil foi encontrado. Nenhum código ou bilhete no interior dos livros. Absolutamente nada.

– Vamos parar por aqui, ou você vai querer passar todas as páginas de novo? – Jake perguntou.

– E por que você está sempre irritado?

– Por que tenho motivos para isso. Não sei o que estou fazendo aqui. Eu deveria estar na Inglaterra agora. Com Amy. Ela pode estar passando por algum perigo... E eu não estou lá para protegê-la...

– Amy, sempre Amy! Se eu fosse você parava de ficar em cima dela o tempo todo. Se ela ainda não quis nada sério com você é por que não gosta de você de verdade. Amy gosta de Ian, sempre gostou. Acho que só você não enxerga isso.

– Isso não é verdade!

– Claro que é! Amy sempre gostou de Ian desde o início da caça ás pistas!

– Lá, lá, lá. Vou fingir que não estou percebendo seus ciúmes, Sinead – Intrometeu-se Dan.

– O melhor mesmo é continuarmos com o nosso trabalho – Resmungou ela.

E os três recomeçaram a busca incessante pela pista. Debaixo do tapete, dentro das gavetas, no interior de armários, dentro dos estofados do sofá... Procuraram também nos quartos e na cozinha. Nada.

– É, parece que você tinha razão – Disse Sinead a Jake, mas sem o olhar diretamente – Vamos ir embora desse lugar.

– Ah, que ótimo, eu estava contando os segundos para voltar pro hotel, estou com uma fome... Sinead, o que você acha de eu levar um desses livros para Amy? Será que o finado Sr. Thompson vai se incomodar?

– Deixa de ser tonto, Dan. Não temos permissão para isso, deixe logo isso aí.

Dan ia colocar o livro na estante, porém não viu que ainda havia alguns livros no chão, e acabou tropeçando neles. Para não cair, apoiou-se na estante, que balançou, derrubando um vaso na sua cabeça.

– Aaaaii, quem colocou esses livros aqui no chão? –Reclamou Dan.

– Dan, por que não olha por onde anda? Está vendo? Você quebrou o vaso! – Disse Sinead.

– Quebrei o vaso? É com isso que você está preocupada? Eu quase quebrei a minha cabeça!

– Esperem! O que é isso? – Jake pegou um estranho pedaço de papel cor de rosa dobrado cuidadosamente entre os cacos do vaso quebrado.

– Encontramos alguma coisa! – Exclamou Dan.

– Bom saber que você usa a cabeça. Agora rápido Jake, veja o que tem escrito nele.

Jake desenrolou cuidadosamente o papel. No entanto, ouviu passos vindos do jardim. Rapidamente guardou o papel no bolso. A porta escancarou-se. O Sr. Gregson apareceu com uma expressão cansada no rosto.

– Desculpem-me por ter deixado vocês aqui sozinhos crianças. Mas meu filho está doente e teve uma piora. Fui com a minha esposa para o hospital. É só uma gripe, mas mesmo assim exige cuidados. Acho que já é tarde e está na hora de vocês votarem pra casa. Encontraram algo significativo enquanto eu estive fora?

– O senhor tinha razão – Respondeu Jake – Não resta nada para fazermos aqui. Obrigado por tudo. Agora precisamos ir embora.

Eles se despediram e pegaram um táxi de volta para o hotel. No caminho, Sinead perguntou:

– Jake, por que você não falou a verdade para o Sr. Gregson? Ele parecia ser uma boa pessoa, talvez até nos ajudasse.

Jake a encarou e falou seriamente – Se tem uma coisa que eu aprendi com tudo isso, é a não confiar em ninguém, jamais. Não temos a capacidade de perceber quem são os lobos e quem são os cordeiros dessa história.

– Você está certo. E quanto ao que encontramos lá? – Sinead olhou para o bolso de Jake.

– Vamos ver quando chegarmos ao hotel. É mais seguro.