Desesperar-se agora com certeza não é a melhor opção. O que Amy precisava era pensar, e pensar rápido, antes que seja tarde demais. Ainda deve haver uma maneira de salvar Ian e sair daquele lugar horrível. Mas que maneira? Gritar? Não, isso seria inútil e, na situação em que estava, era possível que a sua voz não conseguisse sair. Já estava sendo difícil demais lutar para segurar as lágrimas. A vontade que sentia era de chorar o Tamisa inteiro. Mas ela tinha que ser forte. Não por ela, mas por Ian, por Dan e por todos os outros Cahill também. Afinal, ela era a líder da família.

Amy percorreu toda a sala escura, agora iluminada apenas com a lanterna de seu celular. Chegou perto do estofado, o qual escondia em baixo uma passagem secreta. A pequena porta de metal da abertura estava trancada. Amy fez um esforço para tentar ouvir o que se passava através dela. Mas o material era espesso demais para que fosse permitida a passagem de algum som. Ao examinar mais de perto a porta, percebeu que ao lado dela havia um estranho objeto, parecido com um frasco, de uns oito centímetros de comprimento e uns três de diâmetro. Não demorou muito tempo e Amy reconheceu do que se tratava. Era o poderoso veneno desenvolvido pelos Lucian há muitos anos. Tal veneno tinha se mostrado tão eficaz que era capaz de matar em poucos minutos, com o simples contato com a pele. Ian deve ter deixado cair de
propósito, talvez achasse que Amy fosse precisar.

Amy pegou o poderoso vidrinho de aparência inofensiva, e o examinou atentamente. Percebeu que a tampa do frasco era maior que o próprio frasco, passando pelo fundo do recipiente, para evitar vazamentos. Com cuidado, retirou a tampa e colocou com a boca virada para o chão de madeira, ao lado da porta. Colocou o ouvido sobre a tampa. Conseguiu ouvir ruídos. Seu coração batia mais forte agora. Sabia que Ian estava lá dentro. Ele tinha que estar lá. E tinha que estar vivo.

– “... quando matar a garota também”

– “Não se preocupe... O chefe vai... resolver...”

Foi tudo o que Amy conseguiu ouvir. Mas foi mais do que suficiente para ela. Tampou novamente o frasco do veneno. Um sentimento de derrota apossou-se dela. E não somente de derrota, mas de tristeza, de raiva, de repulsa. Sentiu um aperto no estômago que pensou que ia vomitar. Não. Ela não vomitou. Também não chorou. Por que agora era a hora que ela mais precisava ter força para enfrentar tudo o que estava passando. Estava determinada a fazer o que devia ser feito para salvar-se dali. Ela tinha que pensar nos vivos, não nos mortos. Precisava ter sangue frio.

Levantou, ergueu a cabeça. Tinha que haver uma solução... Quantas vezes ela conseguiu escapar de momentos em que a morte pareceu tão próxima... Observou mais uma vez tudo ao seu redor. De repente notou algo diferente preso entre o teto e a parede. Um pequeno aparelho de metal, preso por alguns fios. Os fios passavam por uma rachadura e chegavam ao objeto. “Será que... Será que é uma bomba?”

* * *

Os três chegaram finalmente ao hotel. Atticus correu ao encontro deles, ansioso por informações. Ele tinha ficado no hotel pesquisando mais a respeito do veneno tomado pelo Sr.Thonpson e procurando em jornais alguma notícia que os pudesse ajudar a descobrir o que estava acontecendo.

Jake tirou do bolso o papel de apenas 40 cm de perímetro. Chegou a hora de saber o que havia naquele misterioso pedaço de papel cor de rosa. “Talvez aquilo não significasse nada. Talvez todo o mistério em torno do pequeno pedaço de papel fosse apenas a vontade deles de descobrir algo. Talvez a morte não tenha sido um assassinato, mas um suicídio, como afirmava a polícia. Talvez...” Jake espantou todos os “talvez” de sua mente e abriu o papel, enquanto os outros se esforçavam para ler primeiro o que havia escrito.

– Eu não acredito! – Berrou Dan, quando leu as primeiras palavras – Uma lista de compras?! Todo esse tempo folheando livros chatos atrás de alguma pista, e achamos uma lista de compras!

– Mas há algo estranho nesta lista de compras... vejam! –Dan apontava o último item. A lista era assim:


*Aveia
*Berinjela
*Cereal
*Chocolate em pó
*Detergente
*Ervilhas
*Espinafre
*Leite em pó
*Macarrão
*Parmesão
*C. autumnale

– Por que o último item está escrito com o nome científico? Quem seria maluco de escrever assim em uma lista de compras?

– É... isso é realmente muito estranho. “C. autumnale”. Atticus, você pode pesquisar no seu tablet? – Sinead disse sem tirar os olhos do papel. Atticus digitou o nome, e em seguida leu em voz alta:

“Colchicum autumnale ou açafrão-do-prado é uma espécie de planta com flor. Possuía uso medicinal e venenoso no antigo Egito e Grécia. Dela também é extraída a colchicina”

– Bom, já está claro suficiente que o último item é o próprio veneno. Mas quem pensava em encontrar uma substancia dessas em um supermercado?

– Sim, Jake, isso é verdade. –Disse Sinead - Mas agora temos certeza de que o que aconteceu não foi um suicídio. Se não é possível encontrar esse tipo de veneno para vender em um supermercado, então não faz sentido esse item está escrito aí. Ele deve ter sido escrito justamente para provar que o que aconteceu foi um assassinato! Lembre-se que depois de cada morte, havia uma prova de que o que aconteceu foi um assassinato, e uma suposta mensagem do assassino para todos os Cahill.

– Só que dessa vez ele soube esconder melhor. – Jake deu um suspiro enquanto se dirigia ao seu quarto. Precisava tomar um banho, trocar de roupa e dormir, por que mal conseguira fazer isso durante a noite. A imagem do policial careca e irritado e do Sr. Gregson descobrindo sua farsa ridícula o atordoava de vez em quando. Também pensou em como Amy estaria se saindo em Londres com aquele... ah, deixa pra lá. Agora ele estava realmente exausto. Enquanto isso, Sinead continuou onde estavam. Estava eufórica demais pra pensar em descansar.

– Dan, o que você acha disso? Dan? – Sinead perguntava enquanto refletia sobre o crime.

Dan estava perdido dentro do seu raciocínio. Ainda havia algo naquela lista que precisava ser descoberto.

– Estava aqui pensando...

– Bom saber disso.

– Você não está vendo que tem algo errado aqui na lista? Algo fora de ordem. Preste bastante atenção.

– É verdade! – Exclamou ela – Todos os itens estão em ordem alfabética, exceto o último.

– Isso prova – Disse Dan – que ele foi acrescentado depois.

– Isso mesmo, Dan. E se observarmos com cautela, nós podemos perceber que há uma pequena diferença na letra também. Como não percebi isso antes! Preciso fazer uma análise mais profunda. Atticus, chame o Jake agora!