Descer, descer e descer. Está certo que já de cima dava pra ver que o buraco era bem profundo, mas Amy não sabia que fosse tanto. E o pior era que faltavam poucos metros para acabar a extensão da corda. E se já estava sendo cansativo demais descer por uma corda em direção ao subterrâneo, estava sendo ainda mais ouvir as reclamações de Jonah durante toda a descida.

– Aii, cara, de que é que adianta essas academias de hoje em dia, hein? – A corda estava totalmente vertical, o que dificultava ainda mais a descida. O único que descia sem problemas era Hamilton, que já estava acostumado com diversas atividades físicas.

– Psiu! Vamos fazer silencio! Alguém pode nos ouvir. – Disse Amy. Qualquer cuidado a mais era pouco. Se fossem descobertos estava tudo acabado.

E continuaram a descer, até que de repente Hamilton estancou.

– Qualé, até você ta cansado, brother? Então a coisa tá é séria.

– Não é isso Jonah – Respondeu ele – Mas a corda acabou.

– O quê? – Disseram os outros dois em uníssono.

– Como assim acabou? Ainda resta muito para descermos! Quantos metros a sua corda tem, Jonah? – Perguntou ela. Na verdade estava tão escuro que não dava pra saber quantos metros ainda faltavam, mas pelo eco, Amy sabia que ainda tinha muito a percorrer.

– Oito metros.

– Só oito metros? – Caçoou Hamilton

– Não sou nem paranóico pra andar carregando uma corda gigante na mochila – Respondeu Jonah.

– Chega. Não nos resta nada pra fazer então. – Amy suspirou. Pensou em Ian. Não podia desistir dele. Mas talvez eles não tivessem mesmo nem uma chance de salvá-lo. Ela estava tentando evitar o inevitável e ainda pondo em risco a vida dos outros. Relutantes, eles começaram a subir de volta para a entrada do buraco.

Porém a corda começou a fazer um movimento estranho e suspeito.

– Jonah, pare de se balançar! Isso aqui não é parque de diversões! – Reclamou Hamilton.

– Peraí, brother, não sou eu quem está fazendo esse movimento.

– Oh, não! – Exclamou Amy – Acho que descobriram tudo! Devem estar cortando a corda. Nós estamos perdidos. Eu sinto muito.

Dito e feito. Mal Amy fechou a boca e a corda despencou. Eles estavam caindo em direção ao abismo.

* * *

A viagem de metrô estava parecendo mais longa do que de costume. Dan não cansava de olhar para o relógio. Ligou para Amy novamente; desligado. Ligou para Ian; fora de área. O que estava acontecendo? Dan não poderia imaginar como seria sua vida sem Amy. Não, isso ele não poderia.

Jake sentou-se perto dele:

– Sinead dormiu! Ela estava precisando, estava muito cansada e, com uma notícia dessas... Mas por que você está tão quieto?

– É a Amy. - Jake sobressaltou-se. Estava preocupado demais com tantas coisas, o que poderia estar errado com Amy agora? Ele ia perguntar isso, mas não conseguiu abrir a boca antes que Dan continuasse sua resposta.

– Eu tento ligar para ela desde cedo, mas ela não atende o celular, não dá uma resposta se quer.

– Espero que ela esteja bem.

– Jake, você também está muito preocupado com Amy, não é?

Jake deu de ombros. – Sim. É claro que estou. - Que Jake estava preocupado com Amy, isso era óbvio. Ele sempre foi louco por essa garota e não podia admitir que algo ruim acontecesse com ela. Mas também havia dentro dele outro sentimento além de preocupação. Ele não quis acreditar nisso, mas sentiu que seu orgulho estava ferido. Ele fez tanto por Amy. Quando Amy disse que ia para Londres ele se ofereceu para ir com ela. Talvez se ele estivesse lá poderia ajudar a evitar alguma tragédia. Mas Amy recusou. Preferiu ficar lá com o Ian Kabra. Por quê? Por que Amy não o queria perto dela naquele momento tão delicado e perigoso? Por que ela nem se quer se deu ao trabalho de telefonar pra dizer que estava bem ou que sentia saudades?

– Ned... Ned? É você? Oh não, Ned onde você está? – Sinead estava acordando e tirou Jake de todos esses pensamentos.

Dan olhou pra Sinead e depois pra Jake. - Melhor você conversar com ela antes que dê a louca de novo. - E foi isso o que ele fez até o metrô parar em uma estação de Boston. Enfim, de volta pra casa.


* * *

Ian colocou a mão nos olhos. Como estava escuro naquela caverna, a luz forte e repentina da lanterna fazia seus olhos cor de âmbar queimar. Só depois de um instante seus olhos se adaptaram e ele conseguiu erguer a vista pra ver quem estava logo acima dele, no outro lado da grade.

– Você de novo? O que quer? Por que está fazendo isso? Vamos, responda, o que ganha com isso? – Ian reconheceu o homem de preto mascarado, que ele havia dado um soco no estômago e, por causa disso, foi levado preso e afastado de Amy.

– O que eu quero? O que você acha? Quero me vingar de todos vocês, seus malditos Cahill! – Respondeu a voz robótica por detrás da máscara. Ian percebeu o ódio que havia dentro daquele homem.

– Se vingar? Se vingar de quê? Quem é você pra começar? – Ian não sabia como ainda aguentava discutir com aquele homem. Que ousadia! Quem ele achava que era pra se achar no direito de sair matando e capturando pessoas pelo simples fato de elas pertencerem a uma família. Okay que a família Cahill sempre foi uma família bem peculiar, mas ainda assim. Talvez se não fosse a grade Ian já teria avançado em cima dele novamente. Mas ele precisava ficar por dentro do que estava acontecendo. E o principal: ele precisava ganhar tempo. No fundo, bem lá no fundo ele acreditava que Amy poderia escapar e pedir ajuda.

– Me vingar de tudo. De todas as vezes que os Cahill atrapalharam meus planos.

– Seus planos malévolos, acredito eu.

– Não lhe interessa quais foram meus planos. Também não lhe interessa quem sou eu. Agora, cale-se. Você não tem direito nenhum aqui. Este lugar é meu e você está completamente sob minhas ordens. – O homem já não falava; gritava. Ian não podia ver sua expressão, nem ouvir sua voz natural, sem o modificador de voz, mas podia enxergar toda a maldade residente dele. Por que no mundo há pessoas tão boas enquanto há outras tão más, capazes de fazer tanta crueldade? Por que os seres humanos se acham no direito de tirar a vida de um ser semelhante? Nada justifica a morte de inocentes. Ian surpreendeu-se pensando isso. Lembrou de como já fora quase tão cruel como aquele homem diante dele. Mas ele havia mudado. Sim, ele havia conhecido o perdão. Ele ficou impressionado em como uma palavra poderia mudar tanto a vida de uma pessoa.

Ian tornou a olhar pro homem, que agora parecia refletir em algo. Então o homem deu meia volta e sussurrou algo no ouvido de um outro homem que o havia acompanhado. “Será que ele vai me matar agora?” Ian estremeceu. Então antes que o guarda pudesse sair do lugar, Ian gritou:

– ESPERE! Por favor, apenas diga-me uma coisa. Onde está Amy?

O homem chegou mais perto do buraco, apontando a lanterna diretamente para o rosto de Ian, como se quisesse ver sua expressão. Então ele disse friamente:

– A essa altura... Já deve estar morta.

Ian se contorceu. Como assim morta? Amy, morta! Não, isso não. Por que ele ia querer matar uma garota? Não, não pode ter sido... Não pode ter sido. Ian caiu de joelhos. Talvez fosse adequado chorar pela garota que ele mais amou no mundo. Mas ele não chorou. Ele estava com raiva. Não considerava aquilo que se encontrava diante dele um homem. Aquilo era um monstro! E ele deve pagar por cada maldade que fez. Ian tornou a ficar de pé. E então ele gritou, embora o homem estivesse próximo demais para que fosse necessário gritar:

– Você vai pagar muito caro por cada gota de sangue inocente que você derramou! Não serei eu a sujar minhas mãos, mas mais cedo ou mais tarde a polícia cumprirá o seu papel e então a justiça será feita!

– Pare! – O homem gritou – Você não pode desejar a minha morte.

– Por que diz isso?

– Porque eu sou seu pai! – O homem tirou a máscara do rosto, e então Ian reconheceu o rosto de Vikram Kabra.