Sim, eles estavam caindo em direção ao abismo, mas não caíram. Hamilton conseguiu se agarrar em algo no escuro, e Amy e Jonah caíram em cima dele. Isso doeu. Se Hamilton não fosse um Thomas com certeza não teria resistido ao peso dos dois e teria despencado. Mas a situação em que estavam também exigia que ele usasse mais do que todas as suas forças, ou do contrário, morreriam.

– Já caímos? – Jonah olhou pra baixo, sem enxergar nada no meio da escuridão.

Hamilton logo percebeu a presença de um relevo na parede. Havia algo parecido com dois buraquinhos onde ele conseguiu encaixar os pés. Logo ele se deu conta que a parede foi feita justamente pra isso, auxiliar a descida. Com certeza devia haver mais espaços desses ao longo da descida. Ele avisou isso aos companheiros, que, ao tatear a parede, logo encontraram também novas marcas de relevo. Sendo assim eles prosseguiram no seu percurso para tentar resgatar Ian. A esperança é a última que morre e, ás vezes, por mais difícil que seja a situação, ela permanece bem viva.

Desceram na mesma ordem, Hamilton na frente, depois Amy e Jonah logo acima dela. A corda, que já não era necessária, caiu pela vasta escuridão abaixo deles, demorando vários segundos para que eles ouvissem um pequeno baque.

Qualquer som era audível dentro daquele longo túnel pelo qual eles desciam. Agora nenhum deles falava nada, mas cada um conseguia ouvir o barulho da respiração dos demais. A parede a qual eles se apoiavam estava fria e úmida e, ás vezes escorregadias por causa do lodo. Mas devagar e com muito cuidado, os três desciam em direção ao desconhecido.

Estava frio ali, mas devido ao esforço exaustivo, eles transpiravam bastante. Já fazia vários minutos que estavam descendo... Onde será que aquilo ia dar? Amy escorregou de novo. Já era a terceira vez que quase caia em cima de Hamilton. A ansiedade de chegar logo e o pensamento na possibilidade (ou certeza) de Ian estar correndo perigo a faziam descer mais depressa. Mas os seus músculos já não estavam lhe obedecendo. Eles doíam e tremiam. Talvez se tivessem que descer mais alguns metros, Amy não conseguiria. E Jonah principalmente, pois sua respiração estava ainda mais ofegante.

– Não aguento mais – Disse ele.

– Deixa de ser fraco, cara – Respondeu Hamilton, satisfeito pelo que a boa forma podia proporcionar.

– Eu também estou exausta – Disse Amy, embora não quisesse demonstrar tanto sua fraqueza durante todo o percurso.

– Fique tranqüila, pelo barulho da corda, já devemos estar quase chegando – Mas nem ele mesmo tinha certeza disso. E ele sabia que era uma trajetória cansativa. Uma pessoa comum, que não tivesse um preparo físico adequado, jamais conseguiria participar dessa jornada. Até pra ele estava sendo difícil, pois, a cada metro abaixo a concentração de monóxido de carbono aumenta, piorando ainda mais as condições físicas de uma pessoa e podendo levar a morte. Mas, naquele momento, tranqüilizar os companheiros era o melhor que ele podia fazer. E ele tentava não pensar muito na volta. Se descer é difícil, subir...

* * *


Quando saíram do metrô, os quatro foram direto para um hospital localizado no centro da capital. Eles não tinham muitas informações sobre o que tinha ocorrido, nem do estado de saúde de Ned Starling. Era até possível que ele não estivesse resistido.

Entraram em um imenso prédio branco. Na recepção foram direcionados para a ala superior, onde ficava a unidade de terapia intensiva. Sinead estava ansiosa. Talvez faltassem poucos segundos para ela receber a pior noticia da vida dela. Não. A notícia ia ser boa. Tinha que ser boa, ou ela não resistiria.

Chegaram então a outra recepção. Nesta havia menos pessoas que a primeira. Era possível observar no rosto de quem estavam ali o desespero, a agonia, e o sofrimento por seus entes queridos que se mantinham internados naquele lugar. E uma daquelas pessoas eles conheciam. Era o Sr. Roseinbloom. Em sua expressão podia-se encontrar uma mistura de dor e culpa. Atticus e Jake correram para dar um abraço no pai que há tanto eles não viam.

Sinead também foi a ele. Ela não disse nada, mas o Sr. Roseinbloom sabia muito bem o que ela queria falar-lhe: “Por que você deixou que fizessem isso com o meu irmão?” Mas ao mesmo tempo ela não podia falar aquilo. Ela sabia que o Sr. Roseinbloom não tinha como impedir um crime com tamanha complexidade. E ele tinha feito muito tomando conta de Ned e Ted enquanto ela estava fora. “Ted! Onde ele está?” Foi então que ela voltou sua vista para uma poltrona logo atrás. E ali estava ele. Ela já não podia conter as lágrimas. Correu então ao seu encontro.

– Sinead! – O garoto abraçou a irmã, que fazia uns três dias que não a via. Dias que pareceram anos. Ted enxergava quase que como uma pessoa normal. Ele havia ficado cego durante a caça ás pistas, mas sua visão melhorava progressivamente.

– Eu fiquei tão preocupada! Como está Ned? – Ao ouvir essa pergunta, Ted baixou a cabeça lentamente. Sinead sentiu seu coração ficar apertado.

– Ele está vivo – Apressou-se em dizer o outro – Mas está muito mal. Ás vezes ele acorda, mas passa grande parte do tempo inconsciente.

Sinead correu ao lugar onde imaginou que ficassem as macas, mas foi barrada por um enfermeiro:

– Sinto muito, senhorita, mas aqui o acesso é restrito apenas para médicos e outros funcionários. O horário aberto para visitas é apenas a partir das 15hrs. – Sinead voltou a recepção, frustrada. O Sr. Roseinblon aproximou-se dela.

– A polícia já está cuidando de tudo. – Ele disse – Eu realmente sinto muito. Mas não foi possível impedir. Nós estávamos todos dormindo. Era umas duas horas da madrugada de ontem quando ouvi um barulho. Corri ao quarto em que os garotos estavam, mas quando cheguei lá, Ned já estava ferido. Creio que os criminosos entraram pela janela... não sei como conseguiram passar pelo sistema de segurança. Mas tenho certeza que eles eram muito habilidosos e estavam decididos sobre o que vieram fazer.