Era duas horas da tarde. Jake se ajeitava em frente ao espelho. Tentava ajustar na cabeça o enorme chapéu estilo “Sherlock Holmes”. Usava calças de tecidos, e um enorme sobretudo xadrez que chegava até o meio da coxa. E, para piorar a situação, um bigodinho desengonçado. Estava ridículo.

– Isso é realmente necessário? – Jake estava cético.

– Claro que sim! Você precisa fazer isso, ou não teremos acesso à casa do falecido Sr. Thonpson! – Dan não via a hora de poder entrar em ação. Hoje, com certeza sua noite não seria de puro tédio.

– Aqui está sua nova identidade, Jake! – Sinead saiu do computador, segurando a identidade falsa que seria usada para por o plano em ação.

– Mak Adalson? Não teria um nome melhor, não?

– Relaxa Jake, sempre gostei de nomes feios! – Sinead entregou a identidade a Jake, juntamente com uma barra de sabão. O plano tinha que dar certo.

* * *


Amy tomou um banho e trocou de roupa. Ian a esperava na sala de estar.
– Amy, você tem certeza?

– Sim. É a nossa única pista. Precisamos ir até lá. Precisamos descobrir o que querem de nós, antes que matem toda a família Cahill.

– Mas... E se quiserem nos matar?

– Se quiserem, eles poderiam. Seja quem for que esteja por trás disso, já mostrou que é capaz de tudo. – Ian assentiu com a cabeça, colocando no bolso do terno um pequeno vidro de aparência inofensiva. Mas que na verdade era um terrível veneno criado pelos Lucian, capaz de matar em poucos minutos.

O local ficava a apenas algumas quadras da mansão Kabra. Mesmo assim, Ian fez questão de que o motorista os levasse. No caminho, Amy pensava. Pensava em Ian e em como ele havia mudado nos últimos meses. Ela se lembrou das tantas vezes que ele tentara matar ela e seu irmão, Dan. E de quantas vezes aqueles olhos cor de âmbar a enganara. E agora ele estava ali, do seu lado. E eles estavam trabalhando juntos. Ian estava sentado a poucos centímetros dela. Amy mantinha o olhar fixo na janela, mas sabia que ele a encarava. Ela sentia na pele aqueles olhos cor de âmbar capaz de enlouquecer qualquer garota.

– Amy – Ele sussurrou, com apenas um pequeno movimento nos lábios que estavam entreabertos.

– Sim? – Ela respondeu tentando disfarçar a onda de nervosismo que a invadia.

– Chegamos, senhor – O motorista falou, olhando para os dois por cima do ombro – A casa que o senhor pediu para que os trouxesse é esta aqui.

A limusine parou em frente a uma casa comum. Simples, porém bem estruturada e conservada. Ian pediu ao motorista que esperasse, e logo os dois adolescentes saíram do carro. Havia chegado hora de descobrir toda a verdade, ou pelo menos parte dela. Amy respirou fundo, e tocou a campanhia.

* * *

Jake pegou um táxi. A casa em que o Sr Thonpson morava ficava a alguns quilômetros do hotel em que estavam hospedados. Jake estava sentado no banco traseiro, pensando no plano que aconteceria dali a alguns minutos. Na janela, a chamativa e iluminada cidade de Nova York passava diante dos seus olhos. A cidade mais populosa dos Estados Unidos, Nova York chamava a atenção por seus prédios enormes e arranha-céus. Mas naquele momento, Jake não conseguia se concentrar na paisagem. Agora ele estava pensando no que tinha acontecido a ele e a seu irmão nos últimos meses, desde que souberam da existência dos Vesper. Como teria sido sua vida se nada disso tivesse acontecido? Se os Vésper realmente nunca tivessem existido? Talvez sua madrasta, Astrid, ainda estivesse viva, e ele e Atticus estariam vivendo como duas pessoas normais. E talvez ele não tivesse se apaixonado por Amy Cahill. O que ele realmente sentia por Amy Cahill? Amor? Ou seria apenas admiração? E ela, o que sentia? Será que o amava?

Depois de alguns minutos, o táxi parou em frente a um shopping comercial. Jake desceu e caminhou pouco mais de uma quadra para chegar à residência onde executaria o plano. Ele preferiu assim para não chamar a atenção. Em frente à casa, havia um carro de polícia estacionado. Um homem gordo e barbudo, que se vestia como inspetor, acabava de sair do carro e se dirigia a casa. Outros dois policiais saíram da casa para recebê-lo. Jake se aproximou. Um dos policiais, magrelo, sem barba, bigode e cabelo, que parecia ter levantado com o pé esquerdo da cama, olhou para Jake desconfiado.

– O que faz aqui, rapaz? Essa área está restrita apenas para policiais e inspetores! – Exclamou o polical, cheio de autoridade.

Jake limpou a garganta antes de falar, e, apresentando a identidade e o certificado de curso, também falsificado por Sinead, se apresentou – Eu sou Max Adalson, me formei em Direito há três anos em Boston e estou me especializando para ser agente da polícia federal. Logo, consegui permissão para estagiar aqui.

O policial pareceu não acreditar, mas o outro policial, moreno e corpulento, antecipou-se a dizer:

– Creio que não há nada que queira ver aqui, Sr. Adalson. Não há provas de que o que houve foi um assassinato. O caso já está quase encerrado. Então, se quiser, fique a vontade.

Jake entrou, acompanhado dos dois policiais e do inspetor, que não tinha dito uma única palavra desde que chegou. Tudo parecia perfeitamente normal dentro da casa. Seria impossível perceber que, há dois dias, naquele ambiente tão confortável e pacífico, uma pessoa tinha sido assassinada. Cada móvel estava impecavelmente no seu devido lugar. O sofá, os tapetes e as cortinas, tudo estava perfeitamente combinando e alinhado. Enfim, o inspetor chamou os dois policiais para relatar o que ele havia concluído. E Jake se lembrou do que ele tinha que fazer. A barra de sabão pesava no seu bolso. Ele precisava encontrar a chave de qualquer jeito.

– Aqui, Gregson, acabei de encontrar a colchicina! – Gritou triunfante o inspetor, que acabara de xeretar o armário da cozinha. O tal Gregson e o outro policial careca correram para a cozinha, empolgados com a descoberta. Jake continuou na sala de estar. A sorte estava do seu lado. Ele ainda podia ouvir as vozes vindas da cozinha, mas não perdeu mais tempo. Correu até a porta, onde a chave estava esquecida na fechadura. Tirou do bolso a barra de sabão e pressionou com toda a sua força no sabão. A marca ficou perfeita. Mas logo as vozes começaram a se aproximar. Jake, mais que depressa, devolveu a chave à fechadura e a barra de sabão ao bolso, e fingiu está examinando a dobradiça da porta.

– Sr. Adalson – Chamou o policial careca, com um sorriso maldacioso – Sinto muito informar, mas o senhor perdeu o seu tempo vindo até aqui. O caso já foi solucionado pelo nosso ilustríssimo Lestrade, inspetor local. Encontramos a causa da morte dentro do armário da vítima. Este caso está encerrado. – O policial careca estava saltitante. Parecia uma criança que acabava de ganhar um saco de doces. Ele pegou uma das cortinas, colocou sobre os ombros e começou a cantarolar, enquanto saia da casa junto com o inspetor. No entanto, ao fazer isso, o pó que estava sobre a cortina se dispersou. Foi impossível Jake evitar um espirro. Gregson continuava na casa enquanto guardava alguns documentos espalhados no local.

– Bom... Acho que, como o policial falou, não resta mais nada a ser feito aqui. Preciso ir. Tenha uma boa tarde – Jake sentia vontade de sair dali o mais rápido possível. Mas uma voz o impediu. Era Gregson.

– Espere um pouco rapaz! – Sua voz não tinha expressão – Acho melhor ajeitar o seu bigode antes de sair. Ele está torto.

“Oops”