Minutos se passaram e Amy e Ian já estavam quase desistindo de esperar quando a porta foi aberta com um rangido. “Entrem”, falou o homem que estava logo atrás da porta, que trazia uma expressão séria, e trajava um terno preto com uma gravata vermelha. Seus sapatos estavam perfeitamente engraxados e seus poucos cabelos grisalhos penteados para cima. Hesitantes, os dois deram um passo para dentro da casa. O interior da casa era uma oposição do exterior: o piso era de uma madeira velha que fazia um barulho irritante a cada passo. As paredes também estavam em péssimo estado, com teias de aranhas em cada canto. A única mobília do cômodo era composta por uma mesa, também de madeira, com quatro cadeiras, e um pequeno estofado que cabia apenas uma pessoa.

– Que lugar sinistro – Amy comentou enquanto observava todos os cantos da sala. A escassez de luz deixava o ambiente ainda mais macabro.

– Isso aqui está precisando de uma... Atchin... limpeza! Está imundo! – Ian sacudia a poeira da roupa, enquanto continuava a espirrar – Não sei como você consegue conviver em um lugar desses – Disse Ian, se voltando para onde achava que estava o homem que tinha aberto a porta. Porém, ele não estava. E não estava em lugar algum do cômodo.

– Para onde será que ele foi? – Amy perguntou para si mesma, vendo que Ian estava tão desorientado com este fato quanto ela.

– Deve existir uma passagem em algum lugar por aqui. O homem não pode ter simplesmente desaparecido! – Ian começou a vasculhar todos os cantos e paredes do local.

– Ian, pare onde está! – Algo chamou a atenção de Amy. Era como se ela sentisse que alguma coisa estava errada, e isso representava que havia uma tragédia iminente.

Ian ficou imóvel, inclusive prendendo a respiração, mas ainda sem entender o que estava acontecendo. Amy apontou para a tábua em que Ian pisaria no próximo passo. Ela estava alinhada um pouco diferente das outras. A cor também era de um tom mais claro, como se tivesse sido colocada ali depois. Ian facilmente a moveu para o lado, e o que tinha de baixo era assustador: um buraco. Um buraco tão profundo que não era possível ver para onde ele dava.

– Ian, eu acho que você estava certo – Disse Amy. Sua voz estava trêmula – Eles realmente querem nos matar.



* * *


Jake rapidamente colocou o bigodinho no lugar de onde ele não deveria ter saído. Mas agora era tarde demais. O tal Gregson já o tinha visto. Jake não encontrava coragem para olhá-lo nos olhos. Tudo o que desejava naquele instante era sumir e não aparecer na frente daquele homem nunca mais.

– Acho que me deve uma explicação, rapaz – Sua voz estava calma, porém severa.

– Eu posso explicar tudo, senhor. Espero poder ser compreendido.

– Sente-se. Presumo que a sua explicação será bastante longa, e não estou a fim de me cansar tanto. Apenas quero deixar claro, rapaz, que cumprir a lei é minha obrigação, e faço tudo para que ela seja obedecida e respeitada por todos.

Jake suspirou. Tinha que pensar rápido. O que ele poderia contar aquele homem? Será que ele deixaria passar o fato de Jake ter se passado por outra pessoa? Por fim, ele não tinha outra opção, o que lhe restava era falar e torcer para que o policial entendesse a situação.

– O senhor Thonpson é um parente distante de uns amigos meus. E não aceitamos o fato de ele ter se suicidado. Mas, quando viemos investigar, disseram que o acesso é restrito para policiais...

– Então você se disfarçou de policial e veio aqui para investigar? Que coisa feia! Eu deveria lhe levar preso por usurpação!

– Eu sinto muito, mas não me restava outra opção...

– Se isso é tão importante para você, devia ter conversado comigo e eu o deixaria entrar sem problemas. Mas não sei se estou disposto a lhe perdoar pelo que você fez. Como já lhe falei, faço de tudo para cumprir a lei sempre. Se bem que você não tem cara de que é um delinquente... – Ele pensou por um instante, avaliando Jake da cabeça aos pés - Fique tranquilo, que desta vez, você está livre. Mas qualquer sinal de transgressão da lei é cadeia certa! Agora se quiser investigar a casa com seus amigos, venham aqui amanhã de manhã.

Jake estava aliviado. Ainda bem que o policial não ficou sabendo da barra de sabão, nem do que eles haviam planejado fazer a noite. Tudo o que importava agora é que ele conseguiu o seu objetivo! Agora nem precisaria mais da barra de sabão.

Jake mal chegou ao hotel onde estavam hospedados e contou as novidades. Sinead ficou satisfeita. Somente Dan não gostou.

– Seria bem mais divertido se fossemos a noite! – Disse Dan, tirando da cabeça a ideia de ter uma noite sem tédio. Dan odiava ficar sem fazer nada. Talvez fosse por isso que ele estava sempre a procura de novos perigos e desafios. Era como se viver uma vida normal já não fosse mais normal para ele. Depois de tudo o que ele viveu durante a caça as pistas, a batalha contra os Vesper, todo tipo de desafio era indispensável a sua existência. Os vídeos-game e filmes de terror já não eram suficientes para lhe distrair.

Quando não tinha nada para fazer, sua mente viajava para lugares e épocas que ele não gostaria de ir nunca mais. Lembrava de todos os seus traumas... Lembrava dos seus pais e de como queria que eles estivessem ali. Lembrava de Grace... De Natálie Kabra... Espera... Natalie Kabra? Dan tinha sentido algo por Natalie. Mas tinha conseguido esconder dele próprio esse sentimento. Porém, agora Natalie estava morta. E qualquer sentimento que ele tivesse por ela não adiantava mais nada. Por isso tudo o que ele tinha era que parar de pensar. E daí que todas as pessoas que ele amava estavam mortas? Ele tinha Amy e o resto da família Cahill, e tudo o que ele tinha que fazer era esquecer tudo que o torturava, para poder enfrentar tudo o que vier pela frente.