Enfim chegou o dia seguinte. Na pressa pra sair de casa e não perder o avião, Dan nem sequer teve tempo de checar seus e-mails e olhar se tinha mensagem no skype. Mas ele estava agora cruzando o oceano Atlântico. Ele estava na última poltrona do lado da janela. De vez em quando olhava pra baixo, e tudo o que conseguia ver além das nuvens era uma imensidão azul. Em breve estaria chegando à Inglaterra. E veria Amy novamente. Enquanto isso, ele distrai-se lendo uma revista em quadrinho.

Torcia para que Amy estivesse conseguido descobrir quem estava por trás dos últimos transtornos, embora soubesse que voltaria a ter que enfrentar o tédio novamente quando tudo voltasse ao normal. Mas nada disso importava agora. Ele só queria que sua irmã estivesse bem. Já havia tentado ligar pra ela várias vezes no dia anterior, mas não conseguiu estabelecer contato. Porém, ele tinha que admitir que Amy já enfrentara muitos perigos desde o começo a caça as pistas. Sim, sua irmã sabia como se virar em diversas situações. E Ian Kabra estava com ela; será possível que ele não servisse pra coisa alguma.


* * *

Chegou o dia seguinte em Londres. Amy não ouvira o despertador tocar; quando levantou já era mais de nove da manhã. A diferença de fuso horário entre Londres e Boston era enorme, e Amy ainda não havia se acostumado. O seu avião partiria ás onze, então ela tinha que correr.

E foi isso que ela fez. Vestiu uma calça jeans e uma blusa de mangas até a altura do cotovelo. Penteou os cabelos e viu-se mais uma vez ao espelho. Mas quando desceu para tomar café, já era quase dez. Caminhou até onde era servido o café da manhã, na sala das refeições. Uma longa mesa com seis cadeiras em cada lado jazia no centro da sala. Ainda estava lá desde quando toda a família Kabra residia na mansão. Porém nos últimos meses, Ian tomava suas refeições sozinho.

Ian estava lá, sentado á mesa. Ela sentou-se ao lado dele e tentou comer o mais depressa possível a comida que estava no prato que uma empregada colocou á sua frente.

– Bom dia, Amy! – Disse Ian. Ele já havia tomado todo o seu café da manhã.

– Bom dia – Respondeu ela, entre uma mordida e outra no sanduíche. Mal terminou de comer e virou-se pra Ian. – Tenho que ir agora. Já está bem tarde, não posso perder o voo. Você pode acompanhar-me ao aeroporto?

– Agora?

– Sim -“Claro que é agora” ela pensou.

– Não posso, você vai ter que me desculpar. Tenho alguns problemas a resolver, já estou de saída. Você sabe que sou uma pessoa ocupada.

– Ah, se é assim, eu vou indo... adeus! – “Como assim problemas a resolver? Eu estou de partida, será que ele não se importa? Será que ele não se da conta que daqui a poucas horas estaremos com um oceano inteiro entre nós?

– Adeus! E ele a envolveu em seus braços por alguns segundos. Mas não se preocupe, vou pedir que o meu motorista a leve até lá na limusine.

Amy não estava preocupada com a limusine. Ian mal lhe trocara palavras... talvez realmente não se importasse. No carro, ela ficou a olhar a mansão Kabra, que se tornava menor, mais distante, a cada metro percorrido.

* * *

Finalmente Dan chegou a Londres. Segundo o horário local, já eram quase onze horas. Ele estava com fome. Logo pegou um táxi e pediu para descer na mansão Kabra. Dan nem precisou dizer o endereço. A mansão Kabra é bastante conhecida em Londres.

* * *

Correndo pelo imenso aeroporto, Amy conseguiu chegar a tempo de não perder o avião. Não demorou muito para ela escutar uma voz ecoando de um alto-falante:

– Preparando para o vôo número 347 – London / Boston - senhores passageiros, por favor, dirijam-se á plataforma cinco.

Amy foi á plataforma indicada, onde uma funcionária recolhia os bilhetes e checava os documentos antes da entrada no avião. Quando chegou a sua vez, Amy encontrou um problema inesperado:

– Sinto muito, senhorita, mas a não será possível que viaje nesse avião.

– O quê? Mas por quê?

– Aqui consta que o seu bilhete está inválido. Sinto muito, mas a senhorita está impedida de partir nesse avião.

– Achou mesmo que eu a deixaria partir, Amy Cahill?

Amy virou-se. Seria mesmo possível o que estava vendo? Ian estava ali. Ele que impediu o vôo? Amy já não compreendia.

– Como você conseguiu que me proibissem de entrar?
– Digamos que eu sou um cara influente.

– Mas você sabe que eu não posso! Preciso voltar pra Boston, meu irmão está lá!

– Eu não vou perder você mais uma vez. E quanto ao seu irmão, acho que ele não é um problema – Disse ele, olhando por detrás do ombro.

Não era possível! Dan estava em Londres, estava ali, a poucos metros. Ela correu e abraçou o seu irmão. Depois se flagrou pensando no convite de Ian. Por que não? Por que não ficar em Londres? Com o seu irmão ali, nada mais restava em Boston que fosse tão importante a ponto de deixá-la mais tempo longe dele, do amor da sua vida.

– Dan, como você veio parar aqui? – Perguntou ela, segurando o rosto dele entre as mãos.

– O que você acha? Você some e não manda notícias...

– Está tudo bem. Vikram já está preso agora.

– Vikram!? – Então Amy teve que contar toda a história novamente, enquanto voltavam para a mansão Kabra. Mais uma vez, voltando para o lugar que achava que nunca mais retornaria. O que sabemos a respeito do nosso futuro? É que estamos seguindo um caminho com vendas nos olhos, onde na nossa fragilidade humana, não podemos enxergar um palmo além da ponta do nariz. Mas ás vezes o que estar por vir é mil vezes melhor do que o que planejamos.