Naquele mesmo dia, Amy foi ao aeroporto de Londres. Por sorte, (ou não) encontrou passagens para o dia seguinte. Mas ela estava relutante. Não queria deixar Londres. Não queria deixar Ian. Mas ela sabia que tinha que fazer isso. Sabe quando nos encontramos divididos entre o que queremos fazer e o que precisamos fazer?

Era assim que Amy estava se sentindo naquele momento. Quando partisse, querendo ou não, uma parte dela ficaria em Londres, naquele lugar tão maravilhoso em que ela passou momentos tão terríveis, mas outros tão perfeitos. Ela pela primeira vez esteve tão próxima de Ian. Tão próxima que até esqueceu-se dos que ficaram nos Estados Unidos, de Jake e dos outros Cahill.

Mas agora ela tinha que parar de pensar todas essas coisas. Voltou para a mansão Kabra. Encontrou Ian sentado na poltrona da sala.

– E então? – Ele perguntou.

– Partirei amanhã – Ela disse, tentando esconder a relutância em sua voz. Mas ele sabia; é claro que ele sabia.

– Amy, você tem certeza? Não precisa ir. Poderá viver aqui comigo. Por que não, depois de tudo o que passamos juntos?

– Você sabe que isso não é possível.

Ao ouvir essa resposta, Ian balançou a cabeça afirmativamente, como se compreendesse os motivos dela. Ele não ia implorar. E Amy sabia disso. Ian não era o tipo de homem que implora. E Amy gostava disso nele, embora que ela gostaria que ele insistisse um pouco mais.

– Eu vou ao quarto arrumar minhas coisas – E ela subiu as escadas e fechou a porta ao entrar no quarto que Ian a concedera por enquanto estava lá.

A mala que havia trazido de Boston era bem básica. Apenas alguns materiais de higiene e umas poucas peças de roupa, e em menos de meia hora estava tudo pronto. Amy deitou na cama e dormiu um pouco. Mal conseguira fazer isso durante a noite, quando de alguma forma conseguiram entrar na mansão Kabra e fizeram uma tentativa de assassinato.

Quando acordou, já eram quatro horas da tarde. Amy não sabia que tinha dormido tanto. Passou em frente ao grande espelho emoldurado que havia no quarto. Sim, pelo menos as olheiras tinham diminuído. Passou a mão pelos cabelos, que estavam despenteados, e desceu para a sala de estar. Imaginou encontrar Ian sentado na poltrona, na mesma posição de quando ela o deixara, mas ele não estava lá.

Então Amy passou os olhos mais uma vez por todo aquele salão. Toda aquela decoração, a beleza daqueles utensílios em si, fazia com que Amy não cansasse de olhá-las. Ela chegou a um dos cantos da sala, onde, em uma parede, havia vários quadros de autores famosos, todos antepassados Lucian. Continuou a andar pela mansão, a procura de Ian. Saiu por uma das portas que dava ao jardim. O jardim era o que havia de mais lindo. Várias espécies de flores e de diversas cores e aromas surgiam ao longo do campo de visão. Um chafariz brotava no centro delas, e ao lado dele, havia uma piscina enorme.

Mas Ian também não estava lá. Amy dirigiu-se para outros cômodos da casa, mas não encontrou Ian em lugar algum. Sem se questionar onde ele poderia estar, Amy voltou para o seu quarto, sentou á escrivaninha e tentou telefonar pra Dan. Ela precisava se comunicar com Boston, avisar que tudo tinha ocorrido bem e saber como eles estavam se saindo lá. Ligou pra Dan mais de uma vez, mas não conseguiu estabelecer a linha. Sabia que ligações internacionais, além de caras, caiam o tempo todo. Então ela apenas mandou mensagens no skype, e, depois disso, começou a ler um bom livro que encontrou sobre a escrivaninha. “Um estudo em vermelho”, muito famoso principalmente na Inglaterra. Ela já tinha lido esse livro antes, mas fazia tanto tempo que ela nem lembrava mais como era. Além disso, livros bons sempre merecem ser lidos duas vezes.


Quando terminou de ler já era noite. A última noite que ela passaria em Londres... Amy pôs o livro no mesmo lugar que o encontrou. Depois caminhou até a uma grande janela presente no quarto. Pela primeira vez reparou em como a vista era bela. A janela dava pro jardim, mas não era possível observar todos os detalhes com a nitidez que era á luz do sol. Mais adiante, era possível ver as muitas luzes que tinham por função iluminar Londres. Londres, a cidade que não dorme.

Apesar de aquela região ser uma das mais tranquilas da metrópole, pode-se observar aos longe vários prédios, luzes e faróis de automóveis. O céu apresentava sua tonalidade cinzenta, típica de Londres. Estava um pouco nublado. Mas mesmo assim, Amy pôde ver a lua, que estava em todo o seu glamour, esplendorosa, contribuindo com o seu brilho na iluminação da cidade. E amanhã mesmo Amy estaria de volta para os Estados Unidos. E a lua que aparece no céu dos EUA é a mesma que aparece em Londres. Mas ainda assim, Amy parecia se despedir. Se despedia daquele dia, e dos momentos que viveu.

Amy admirou um pouco mais aquela paisagem. Que horas seriam agora? Virou-se para olhar no relógio. E então, ela levou o susto. Ian estava ali, ao seu lado, na janela. Ele também olhava a paisagem, e depois olhou pra ela quando percebeu que só agora ela havia notado a sua presença.

– Você está aqui desde quando? Não bate na porta antes de entrar? – Ela perguntou. A última vez que ela vira Ian ele estava sentado na poltrona da sala quando ela comprou a passagem para ir embora ao dia seguinte. E agora ele estava ali de novo, ao seu lado.

– A porta estava aberta. E desde quando eu bato na porta quando estou na minha própria casa? – Ian estava com o seu sorriso típico. Agora quem o via nem suspeitaria que, há poucas horas atrás, ele estava condenado á morte dentro de um buraco no subterrâneo.

– Você gosta de Londres? – Ele perguntou. Amy imaginou se essa pergunta não poderia significar: “Não quer ficar aqui mais dias?”

– É uma cidade fantástica – Isso ninguém pode negar.

– Você pode visitar-me quando quiser.

– Obrigada – Ela disse. Então, mais por hábito do que por necessidade, olhou para o relógio no seu pulso esquerdo – Já são mais de dez horas!

– É, já deve ser umas dez e meia. Quer que eu deixe você descansar? Terá uma longa viagem amanhã.

Na verdade não era isso o que ela queria. Queria ficar com Ian até o último segundo que ela permanecesse na Inglaterra. Mas Ian estava certo. Ela precisava dormir. A viagem no dia seguinte será longa e ela sabia que ele também não tivera um dia fácil.

– É... acho que sim. Boa noite? – Como se achou boba nessa hora. “Amy, boa noite não tem que ser uma pergunta, e sim um desejo, uma afirmação” Pensou ela consigo mesma.

– Boa noite! – Respondeu ele, mais uma vez sorrindo, e então ele se aproximou e lhe deu um beijo na testa. Depois disso se retirou. Espera, foi isso mesmo o que aconteceu, um beijo na testa? É, foi isso mesmo. Depois que Ian saiu, Amy deu uma última olhadela pela janela, depois vestiu o pijama e se deitou. Não conseguiu pegar num sono logo, mas ficou deitada, organizando seus pensamentos e seus sentimentos dentro de sua cabeça.