Eles estavam achando que estavam no centro da terra. Como podia um buraco ser tão profundo? Estava sendo mais difícil a cada passo abaixo. Até que finalmente, Hamilton parou bruscamente.

– Acho que chegamos ao final da nossa descida – Com cuidado, ele tirou o celular do bolso e ligou a lanterna. Sim, haviam chegado. Ali eles podiam ver o chão de terra batida e a velha corda de Jonah. Então saltaram um a um.

O lugar a que chegaram era realmente sinistro. A escuridão tomava conta de tudo, e era quebrada apenas pelo brilho da lanterna de Hamilton. Eles estavam no meio de um longo túnel empoeirado, que exalava um odor fétido e servia de habitação para espécies como morcegos e insetos. Mas e agora, pra que lado do túnel eles devem prosseguir? Esquerda, ou direita? Onde estaria Ian? Tinham que decidir e rápido.

– Direita? – Arriscou Jonah.

– Não, espere. – Interveio Amy - Não podemos seguir por onde não temos certeza. Hamilton, por favor, ilumine o chão com a sua lanterna.

– O chão? – Hamilton obedeceu. No chão de terra havia várias marcas de pegadas recentes. – Oh, sim, claro. Vamos seguir as pegadas! Boa ideia Amy!
Sim, era uma boa ideia... mas havia um pequeno problema: havia pegadas seguindo para a esquerda e para a direita. E agora?

* * *


Dan já não aguentava ficar naquele hospital. Ok que ele também estava preocupado com Ned, não queria que nada acontecesse a ele. Mas não queria estar parado. Queria ter que entrar em ação. Resgatar Amy se fosse necessário. Sim, estava decidido. Ele ia pra Londres. Chamou Jake e Atticus em um canto do hospital.

– É o seguinte. Não temos nada a resolver aqui em Boston. Eu vou ao aeroporto comprar passagens pra Londres. Estou preocupado com Amy. Vocês querem ir comigo?

Atticus olhou para o irmão. Talvez ele gostasse de ir, de ficar mais perto de Amy. Mas para a sua surpresa, ele recusou.

– Vou ficar por aqui mesmo, Dan. Olhe – Ele parou e pensou um pouco – Se Amy me quiser perto dela, se ela pedir que eu vá, avise-me e eu irei.

E então Dan pegou um táxi e foi só para o aeroporto. Estava acostumado a viajar só. Já viajara sozinho com Amy várias vezes durante a caça ás 39 pistas. Era menor de idade ainda, mas andava sempre com um documento na mochila, assinado por Fiske, seu tutor legal, que garantia a sua autonomia em alguns assuntos como esse.

O aeroporto de Boston estava movimentado, como assim eram todos os dias. Dan se dirigiu ao guichê. “Passagem para Londres o mais breve possível” ele disse.

– Você está com sorte! – Sorriu-lhe a moça sentada ao balcão. – Conseguir agendar uma passagem para Londres pode ser bem difícil. Geralmente é preciso esperar semanas. Mas acabo de receber uma ligação de cancelamento de um senhor que viajaria amanhã de madrugada. Está bom pra você?

– Está ótimo – E então ele comprou a passagem para o dia seguinte ás 03h00min. Voltou para casa e preparou os documentos e alguns itens necessários para a viagem.

* * *

Ian estava agora novamente no breu. Tudo o que via ao seu redor era trevas. Sua cabeça estava girando. Sua mente ainda estava processando tudo o que estava acontecendo. E agora, ele esperaria a morte. Seu pai avisara que ele ia morrer da pior forma possível. Talvez de fome e sede. Será que a forma de morrer de cada um faz alguma diferença?

Ian mal acabou de pensar essas coisas quando ouviu um pequeno barulho. O barulho foi ficando cada vez mais alto, até ele se dar conta do que se tratava. “Água? Não é possível!” Mas tudo estava parecendo possível dentro daquele buraco. O barulho de água corrente continuou a aumentar progressivamente, até que finalmente Ian começou a sentir a água sob seus pés.
Então provavelmente era essa a ideia de seu pai: matar-lhe afogado. Mal chegou a essa conclusão e sentiu seu fôlego faltar. Ian sentiu vontade de sair correndo daquele lugar horrível. Mas isso era impossível. Tudo o que ele tinha que fazer era esperar o nível da água subir, e então ele morreria.

Não, ele precisava fazer algo. Novamente forçou a grade de ferro acima dele. E mais uma vez ela se recusou a sair do canto. Novamente gritou o mais alto que pôde, mas mais uma vez não obteve resposta. Qualquer tentativa de livrar-se dali parecia inútil.

A água continuava a jorrar. Agora a água cobria todo o chão do cubículo. Quanto tempo demoraria para que todo o cômodo se enchesse completamente de água? E então seria o fim. Ian colocou as mãos sobre o chão molhado. Pôde sentir que havia água espalhada uniformemente em todo o espaço. O nível já havia alcançado dois centímetros!

Tentou tatear todo o chão e as paredes. Estava escuro, não dava pra ver de onde estava vindo toda aquela água. A água já devia estar em uns dois centímetros e meio. Depois de contornar todo o cubículo umas três vezes e, se orientando pela direção e pelo barulho da água, Ian encontrou algo situado a cerca de um metro e meio de altura do chão: uma abertura na parede com cerca de 20 centímetros de diâmetro expelia uma grande vazão de água. Ian precisava impedir que essa água saísse. Mas o que ele poderia fazer?

O pouco que ele poderia fazer ele fez. Retirou a camisa que estava usando e fez com ela uma espécie de rolha. A água estancou por alguns segundos, mas logo depois passou a jorrar novamente, com o fluxo reduzido a cerca de 50%. Ele sabia que, ainda assim, mais cedo ou mais tarde o nível de água iria cobrir todo aquele compartimento. Mas ele precisava de tempo. Quanto mais tempo ele conseguisse sobreviver ali, maiores seriam suas chances de ser resgatado, se é que ele tinha alguma chance.