Amy não sabia que descer por uma corda fosse tão difícil. Os seus dedos queimavam muito em contato com a corda áspera, e ela nunca pensou que pesasse tanto, embora sendo magra. Parecia tão fácil nos filmes! Bom, mas que a vida real é bem diferente dos filmes disso ela já sabia.

Ela estava quase pisando na cabeça de Hamilton, que descia logo a frente dela. Jonah vinha logo acima, já que ele estava armado e podia atirar assim que visse algum rosto espiando sobre o buraco. Mesmo assim, eles precisavam ser rápidos. A corda estava presa na maçaneta da porta e, se alguém aparecesse lá e resolvesse desatar os nós, o cemitério de Londres ia ganhar novos hóspedes. Além disso, eles precisavam torcer para que a corda fosse longa o suficiente que pudesse alcançar até chegarem ao chão. “Esse buraco tinha que dar a algum lugar, e Ian tinha que estar em algum canto desse lugar”.


* * *

Finalmente eles estavam voltando para Boston, e Sinead estava quebrando todo o silencio da viagem. Ás vezes ela chorava, outras gritava, outras falava sem parar sobre tudo o que vinha acontecendo na última semana: assassinatos, e mais assassinatos. Falava também que essa era a pior crise que os Cahill estavam enfrentando desde o começo da historia da família.

Enquanto Jake estava com a difícil missão de acalmá-la e fazer-la ser de novo a garota que sempre fora, Dan falava ao celular com um contato madrigal e informava-lhe a respeito de Madeilene Sccot e do assassinato do Sr. Thonpson. Foi então que Dan ficou sabendo que Madeilene Sccot é um pseudônimo, e que a assassina se chama “Jaineer Lopez”. Jaineer Lopez era procurada pela polícia americana há anos. Mas ainda não se sabia ao certo para quem ela trabalhava. Acreditava-se que o seu chefe estava fora do país.

Dan podia imaginar muito bem em que país ele poderia estar. Onde mais um poderoso chefe do crime poderia estar? Que lugar mais provável do que a Inglaterra? Londres... uma cidade perfeita. Foi de Londres que vieram os melhores romances policias de todos os tempos, como os de Aghata Christie e os de Arthur Conan Doyle. Além disso, foi em Londres que ocorreu uma das tentativas de assassinato. Com exceção do tiro que Bickerduff levou, todas as outras mortes foram nos Estados Unidos.

É isso mesmo, Dan sabia exatamente em que cantinho do mundo ele encontraria quem estava fazendo tudo isso. E nesse mesmo lugar estava agora sua irmã. “Amy” “Por que você não atende o celular?” Dan havia acabado de encerrar a ligação com o homem com quem acabara de se comunicar. Jaineer Lopez não pode ter ido muito longe e com certeza com a ajuda dos membros Cahill que fazem parte da polícia eles logo conseguiriam pegá-la. Mas agora a preocupação de Dan não era essa. Sua preocupação agora estava do outro lado do mundo.

Dan olhou mais uma vez para a tela do seu celular: “Números discados: Amy – 12:56; Amy – 12:56 ; Amy – 12:57 ...” Ele já tinha tentado ligar umas quinze vezes!

* * *


O tempo estava passando devagar demais. “Quanto tempo já deve ter passado desde que eu estou preso aqui?” Pensava Ian. A verdade é que só tinha passado cinco minutos. Mas naquele buraco, longe de tudo e todos, parecia que o tempo se recusava a passar. Ele nunca saberia quando seria dia ou noite. Viveria na escuridão, e o tempo não importaria. Estava frio e não havia corrente de ar ali. O oxigênio parecia se tornar rarefeito à medida que os segundos passavam. “Mas eu vou sair daqui, em breve”.

Ian colocou a corda que prendia seus pulsos entre os dentes. A corda estava gasta e ele precisava se livrar delas. Suas mãos estavam dormentes e ele já não tinha certeza se ainda circulava sangue nelas. Posicionou a corda entre os dentes e mordeu com força. “Estou quase conseguindo, estou quase conseguindo! Estou quase conseguindo arrancar o meu dente!” Mas ele precisava persistir. Pressionou a corda contra a grade que tapava a superfície do buraco com toda a força, e enfim ela se rompeu.

Ian agora podia tatear o que estava ao seu redor. Mas não tinha nada! Tudo o que ele podia sentir era o chão úmido e cheio de lodo e as paredes, também no mesmo estado. Logo contornou todo o ambiente do minúsculo cubículo no qual ele estava confinado. Empurrou a grade para cima com todas as forças que conseguiu extrair de seu corpo. Mas ela nem se mexeu.

Ian gritou o mais alto que pôde. Será que haveria alguém nas redondezas que pudesse ajudá-lo? Dificilmente. Não, não havia ninguém. Sua voz ecoou ao longo do túnel, sem nenhuma resposta de volta. Pisou em algo que imaginou ser uma pedra, e a arremessou contra a grade. A pedra passou pela abertura, pois não se escutou o baque dela se chocando contra a grade, e seguiu em sua jornada até cair novamente no chão. Então Ian ouviu um barulho. Passos? Não, asas. Eram morcegos, com certeza um dos muitos habitantes daquele lugar infernal.

Ele estava exausto. Sentou-se no chão lodento com os joelhos levantados. O que seria dele agora? Será que o haviam abandonado ali para morrer, sozinho e em plena escuridão? Só aí ele percebeu que seu estômago roncava. Ele estava com fome e com sede, o que não era nada agradável quando se está a vários metros da superfície terrestre. E Amy, será que ela conseguiu escapar? Isso era uma das coisas que Ian mais desejava naquele momento, mas que ele sabia que a possibilidade de escapar dessa situação é mínima.

Então ele começou a refletir. Pensou em sua vida antes da caça ás pistas, quando sua mãe e sua irmã eram vivas e seu pai morava com eles na mansão Kabra. Seu pai, onde será que ele está agora? Talvez no Brasil ou na Colômbia, escondendo sua vida de crimes. Ah, mas apesar da família cruel que ele tinha, ele tinha uma família. Ele tinha tudo o que ele queria. Viagens, garotas, artigos de luxo... Tudo o que a maioria dos adolescentes desejaria ter. Será que ele era realmente feliz? Disso nem ele sabia. Talvez nunca tenha encontrado o estado de felicidade plena, verdadeira. Afinal, de que importou ter tudo isso? Agora ele não tem mãe, pai, irmã... e ainda está preso dentro de um buraco e condenado á morte. Ian desviou o pensamento. Ele estava chorando. Não podia deixar que essas emoções o fragilizassem ainda mais.

Passou a pensar então nos últimos dias. Ele já não suportava a vida que tinha. Sempre monótona; igual. Achou na bebida o que poderia ser a solução do seu problema. Como estava errado! Ficou contente em perceber isso a tempo. Lembrou de como ficou feliz quando recebeu a ligação de Amy avisando que ia pra Londres. No fundo ele sabia que, apesar de tudo, Amy ainda gostava dele. Aí ele pensou nas últimas horas. No beijo. E de como ele se arriscou para evitar que outros Cahill morressem. Sim, ele havia feito a coisa certa. Se tiver que morrer, morrerá feliz e satisfeito consigo mesmo.

De repente, Ian ouviu um barulho. E dessa vez não eram morcegos, nem o eco do seu próprio pensamento. Eram passos. Ian pôs-se de pé, preparado para receber o que estivesse se aproximando. E então a luz de uma lanterna iluminou todo o compartimento.