Uma noite misteriosa

Capítulo 7: Armadilha


Eles estavam na sala de reunião. Revelação bombástica. Natalie chocada. Todos estavam chocados, inclusive Dan. Isabel Kabra era um nome que todos deveriam esquecer, entretanto, eventualmente, sempre voltava a aparecer. Porém, aquilo era sério, o fornecedor de armas estava envolvido com muitas coisas, coisas maléficas, que não só eram uma ameaça para os Cahills, mas para todo o mundo contemporâneo.

Aquilo deveria ser traumatizante para Natalie, ter uma surpresa daquelas deveria ser, no mínimo, doloroso.

Todos continuam debatendo animadamente na sala. A maioria das pessoas são mais velhas, logo Dan não vê nada de muito interessante nelas. O assunto era importante, mas ele não conseguia prestar atenção. O garoto olhava para Natalie, que permanecia quieta e atenta, e depois para Jonah e Hamilton, estes também atentos. Algo parecia errado. Fora do lugar. Uma sensação ruim.

Fiske passa outra imagem na tela, o assunto passa a ser as conexões do fornecedor com diversos chefões do crime.

A reunião está quase no fim, então Dan pede licença, Fiske autoriza, apresentando certa relutância. Mas, ele poderia contar as coisas pro garoto depois, além disso, as reuniões seriam freqüentes. Natalie quase imediatamente também pede licença. Fiske fala em um tom brincalhão e um tanto sério:

—Mais alguém?

—Sim, sabe como é, tomar um ventinho- Jonah responde.

—Hmm... Estou meio mal também... Diarreia, sabe como é... -Hamilton diz.

Fiske parece irritado e arrependido de ter perguntado, porém, não comenta nada. Todos eles vão em silencio, direto pra sala da mansão.

—Porque vieram?- Dan pergunta, intrigado.

—Ahhh, seilá, achamos que íamos fazer algo juntos e eu também tava meio cansado de ficar lá... E daí todo mundo me seguiu... E agora acho que vamos ficar aqui...- Jonah disse. Dan revirou os olhos.

Natalie puxa repentinamente Dan para um canto, pelo braço, com suas unhas decoradas e perfeitas, cravadas na pele dele.

—Você sabia disso?- Ela diz, meio furiosa e meio receosa.

—Não, definitivamente não!- Dan fala a verdade e fica encarando-a. Esperando que ela diga alguma coisa. Natalie simplesmente encara de volta e engole em seco, se controlando para não chorar ou bancar a louca. Afinal, algumas coisas são hereditárias.

Os outros dois garotos estão esparramados no sofá. Jonah rompe o silencio constrangedor:

—Sem ofensas, mas a sua mãe é meio doidona.- E automaticamente todos viram pra ele com um olhar que quer dizer que ele falou mais do que devia.- Eu posso falar, minha mãe também é doida... Vocês tão sentindo esse cheiro de queimado?- E começa a cheirar sua roupa.

—O que?- Dan e Hamilton dizem ao mesmo tempo, Natalie fica apoiada na parede, observando suas unhas e parece não se importar nem um pouco.

—Devem ter queimado algo na cozinha.- Hamilton diz. Ao mesmo tempo em que uma fina linha de fumaça invade a sala.- Mas o que...?- Todos olham ao redor e acham a fonte do problema... O cômodo ao lado, a churrasqueira.

—Quem vai lá dar uma olhada?- Jonah fala e empurra Hamilton.

—Covarde... Mas como super corajoso eu vou lá.- Ele diz e pisca pra Jonah, que simplesmente se afunda mais no sofá. A porta da churrasqueira é de vidro, blindada, e ocupa mais ou dois metros da parede. As obras do lugar ainda estavam sendo terminadas, por isso, a parte interna era ocupada por muitas caixas vazias dos mais diversos tamanhos e dimensões. Assim que Hamilton abre a porta com força, visto que esta estava emperrada, fumaça invade a sala em que estavam.

—Pessoal... Preciso de uma ajuda aqui!

Dan responde ao chamado e vai ao encontro de Hamilton:

—Não é melhor chamarmos alguém? Não sabemos o que está pegando fogo aí dentro, pode ser uma caixa ou até mesmo fios elétricos...- Ele aponta para lá.

—Vamos entrar, se precisarmos, falamos pro Jonah e pra Natalie chamarem alguém. De qualquer modo, não vamos interromper as pessoas que estão na reunião.- Hamilton repentinamente tira o casaco de seu paletó e o enrola no rosto.- Coloque o casaco no seu rosto, pode ser uma fumaça tóxica. E precisamos de luvas. E de uma lanterna.

O garoto pega luvas que estavam em cima de uma caixa na sala. Eram do jardineiro; estavam meio sujas de terra, mas serviriam. A lanterna que iriam usar seria a do seu chaveiro.

Os dois entram no lugar, que estava com menos fumaça do que antes, mas ainda assim era difícil enxergar. Dan vai até a parte da cozinha da churrasqueira e pega o chuveirinho da pia, que tinha mais ou menos 2 metros de extensão. Enquanto isso, o outro garoto procurava nas inúmeras tralhas espalhadas por ali, o foco do incêndio.

—Achei,Dan. Parece uma espécie de dispositivo que solta fumaça.- Ele pega uma esfera de metal do tamanho de uma bola de boliche pequena e coloca na frente do facho de luz da lanterna.

—Legal... Mas solte isso... Pode ser perigoso... Não sabemos o que é.

—Agora eu sei.- Ele continua a olhar para o objeto e o solta de repente, com um olhar de assombro e admiração. Empurra Dan para atrás da bancada da cozinha, e os dois se abaixam.- É um equipamento desenvolvido por Thomas, podemos ser conhecidos pela força física, mas também desenvolvemos algumas tecnologias. Essa é uma das mais utilizadas. É uma esfera de metal que você abastece com sedimentos, algum gás e algum líquido.

—Como funciona?

—Super resistente. Tem três camadas. A primeira é onde colocamos um gás, o objetivo é chamar a atenção do inimigo, o gás geralmente não é toxico. A segunda é onde colocamos algo líquido, usamos líquidos venenosos para prejudicar o inimigo. Nessa camada o metal se aquece e faz com que o líquido vire um gás. Mas caso falhe nesse ponto, a terceira camada tem algo sólido, centenas de pregos por exemplo, que são ejetados com uma explosão.

—Então porque não me contou isso logo, essa coisa pode explodir!- Dan grita e se prepara pra correr em direção á porta.

—Calma,toda tecnologia tem seu ponto fraco. O ponto fraco é que tem um painel onde você coloca o tempo pra cada camada eclodir, mas apenas a primeira é automática, as outras precisam ser programadas no painel depois da primeira. Eu vi esta esfera que está aqui, ela só está soltando fumaça não tóxica, e se a pessoa que colocou aqui quisesse que a segunda camada eclodisse ela teria que ajustar isso, e como estamos aqui, não tem como.

—Mas ela foi usada pra chamar nossa atenção, por alguém, não sabemos quem. Acho que é uma boa hora pra chamar Fiske. Se é uma armadilha, já caímos.

—Tem toda razão.A porta...- Ele olha em direção a porta, com aflição e bate a mão na testa. Os dois correm imediatamente para o vidro e tentam abrir, o que não surte nenhum efeito na porta.

—Antes ela estava travando, a esfera pode ter sido esquecida aqui por algum convidado, talvez isso é apenas um acaso.

—Eu duvido muito.Quem colocou essa esfera aqui, não colocaria apenas de brincadeira, isso é caro e difícil de conseguir. Além disso, parece que quem colocou aqui queria que nós soubéssemos o que está acontecendo, tem equipamentos menos caros e mais úteis. E essa fumaça é quase limpa, sem amônia, sem sulfeto de hidrogênio, um nível baixo de monóxido de carbono.

—Entendo...Como se dissesse: ''eu tenho dinheiro e poder, e estou em todos os lugares, inclusive em seu clã, aliás eu podia ter te matado e estou aqui sendo bonzinho’’ Como vamos sair daqui? O vidro é blindado, mas as paredes são paredes.- Dan continua, os dois com as vozes abafadas pelos casacos e com a fumaça diminuindo.

—E como vou atravessar uma parede?

—Seilá... É um Thomas. Não dá pra fazer que nem em Killbill e sair socando a parede?

—Isso com certeza não daria certo. Além disso, eu não sou o Hulk.

—Então estamos presos aqui...- A esfera para de soltar fumaça aos poucos e finalmente parou.

—Parou... Pelo menos não morreremos sem ar.- Hamilton suspira de alívio. Depois faz uma expressão de perplexidade. -Cara, qual é a sua última frase?

—Algo maneiro, tipo te vejo no outro lado ou seilá. Mas não vamos morrer?!

—Na verdade, acho que vamos sim. Te vejo no outro lado.- Ele suspira de novo e aponta para a esfera, que estava soltando um novo gás com cheiro de enxofre.