É uma verdade universalmente reconhecida que um jovem casal em posse de uma boa fortuna, está precisando de um herdeiro.

Uma família grande e com muitos filhos era sempre considerada admirável, pois haveria sempre cabeças, braços e pernas para tal adjetivo, mas se a família for rica, terá ainda mais motivos para admiração e louvor.

Sendo assim um casal que não tinha filhos, mas tinha dinheiro, causava estranhamento em todos. Não haveria por que ser diferente no caso da família Darcy.

Elizabeth e o senhor Darcy já estavam casados há um bom tempo, e logo nos primeiros meses de casada a jovem senhora já começou a receber perguntas e cobranças por parte da mãe e de outras senhoras sobre quando teria seu primeiro filho.

Isso não causou a Elizabeth nenhum estranhamento ou incômodo, pois casar e ter filhos era o ideal de felicidade para a época e portanto, a cobrança para que ela engravidasse era algo natural.

No entanto, conforme o tempo passava, Elizabeth começou a sentir-se incomodada por não ter filhos. O que a frustrava não era a pressão alheia, e sim a cobrança que ela exercia sobre si mesma, pois ela queria ser mãe, mas parecia que esse desejo era concedido a todas, menos a ela.

E foi em um jantar em família que essa frustração chegou ao seu limite.

O senhor Bennet gostava de surpreender a filha e o genro com visitas inesperadas a Pemberley e sempre que ele o fazia era muito bem recebido por eles. Como Jane e Charles moravam perto, apenas trinta milhas de distância, sempre que o senhor Bennet ia a Derbyshire todos se reuniam para jantar na residência dos Darcy.

A mesa era farta e rodeada de gente. Apenas da parte dos Bingley totalizavam cinco, pois Jane havia tido três filhos, um menino e duas gêmeas.

Da parte dos Bennet, eram quatro, pois Mary Bennet, agora Mary Smith, sempre acompanhava os pais nas viagens em companhia do marido, pois eles não achavam seguro que na idade deles o senhor e a senhora Bennet viajassem sozinhos.

Kitty também havia se casado e morava em Bath com o marido, e como Mary foi a única filha a permanecer em Hertfordshire, ela tomou para si a responsabilidade sobre os pais.

A família Darcy era a menor de todas, pois Georgiana também já estava casada e morava em Londres, ficando em Pemberley apenas o senhor Darcy e Elizabeth.

Uma conversa animada seguia-se após o jantar, porém as coisas começaram a mudar de rumo quando a senhora Bennet mencionou sobre sua filha caçula.

— Recebi uma carta de Lydia esta semana. — Começou ela animadamente. — Ela está tão feliz. Contou-me que ela e o senhor Wickham terão outro bebê.

— Outro? — Perguntou Elizabeth não escondendo seu espanto. — Mas que idade tem o último?

— Ainda não fez um ano. — A senhora Bennet respondeu sorrindo e Elizabeth a olhou em um misto de incredulidade e surpresa.

Lydia escrevia para ela com uma certa frequência também, porém raramente contava sobre sua vida pessoal ou sobre os filhos, era sempre para pedir dinheiro.

George e ela sempre gastavam mais do que seus rendimentos permitiam, e com quatro filhos já nascidos e mais um a caminho, não era de se admirar que passassem por dificuldades financeiras.

Elizabeth não podia negar que preocupou-se com o bem-estar da irmã e das crianças.

— Eu quero muito visitar minha menina, a pobrezinha deve estar precisando de ajuda com as crianças, mas o senhor Bennet se nega a me levar para New Castle. — A senhora Bennet continuou falando.

— Do modo como fala até parece que eu estou lhe privando da convivência com nossa filha. — O senhor Bennet respondeu contrariado. — Já lhe expliquei que iremos para lá no final do ano quando Kitty e o marido puderem ir conosco. Antes é impossível.

— Mas podemos muito bem ir sozinhos. — Argumentou a senhora Bennet.

— Minha sogra, a senhora sabe o que Mary e eu pensamos sobre isso. — Disse Samuel, o marido de Mary, em um tom bondoso, porém firme. — E sabe muito bem que se não fosse pelo estado de Mary iríamos com vocês para New Castle. Mas não é prudende para uma mulher grávida viajar para tão longe.

Mary apenas assentiu. Há poucas semanas havia descoberto a sua gravidez e já havia sido um sacrifício convencer o marido de irem a Derbyshire com seus pais, então nem passava pela sua mente ficar dois dias viajando para ir a New Castle. Seria loucura.

— Claro meu querido Samuel… eu jamais sugeri isso. — A senhora Bennet defendeu-se prontamente olhando para o genro. — Acho até que não precisavam nem ter vindo a Derbyshire conosco…

Depois disso a conversa sobre a viagem morreu e a senhora Bennet entreteu-se brincando com as crianças de Jane. Ela desmanchava-se em sorrisos para elas, mostrando o quanto estava orgulhosa dos netos.

Elizabeth embora consciente de tudo a sua volta, ficou pensativa desde que sua mãe mencionou a gravidez de Lydia.

Ela não tinha inveja de sua irmã caçula, mas também não era cega às condições em que Lydia vivia. George Wickham não era um bom marido, mal conseguia prover o necessário quando eram apenas ele e a esposa, então certamente ele não era um bom pai. Lydia nunca teve muito juízo. Casou-se cedo demais, quando ainda não estava pronta para constituir família.

Um casal negligente, com poucos recursos e tantos filhos era uma combinação perfeita para o caos.

Nesse ponto ela achava a vida muito injusta, pois ao contrário do casal Wickham, ela o senhor Darcy queriam tanto ter um filho, e podiam dar a uma criança tudo o que ela precisava e merecia, mas ao que parecia, Elizabeth havia sido malograda pela vida e a graça de ter filhos tinha lhe sido vetada.

Ela estava absorta nesses pensamentos quando sua mãe direcionou a conversa para ela.

— E você Lizzy? Quando irá nos presentear com um netinho? — Perguntou a senhora Bennet sorrindo.

— Eu… bom… — Elizabeth não sabia o que responder.

O senhor Darcy percebeu o embaraço da esposa e tomou parte na conversa.

— No momento certo teremos um filho. Fique tranquila, senhora Bennet. — Ele respondeu para sua sogra, tentando não ser rude.

— Momento certo? — Perguntou a senhora Bennet erguendo as sobrancelhas. — Ora senhor Darcy, Lizzy já não é mais uma menina. Se ela esperar muito, o momento certo pode nunca chegar.

O senhor Bennet olhou para a esposa com repreensão pois viu na expressão da filha o quanto não estava à vontade com aquele assunto.

— Minha cara... — Disse ele para a esposa. — Por que não leva as meninas Bingley para um passeio no jardim? As crianças já estão inquietas. Talvez um ar fresco faça bem a elas e a você também. — Sugeriu ele tentando mudar o foco.

A senhora Bennet acatou a sugestão do marido e saiu da mesa com as crianças como se nada tivesse acontecido. Porém o ambiente havia ficado pesado pois todos ali perceberam que o assunto trazido à tona por ela havia tirado Elizabeth do seu eixo.

— Me desculpe por isso Lizzy. — O senhor Bennet foi o primeiro a falar e estava profundamente envergonhado pela indelicadeza da esposa. — Você conhece sua mãe… Ela não sabe medir as palavras, mas sei que ela não fez por mal.

— Eu sei. Não precisa de desculpar pai. Eu estou bem. — Falou ela sorrindo recobrando o controle de si mesma, mas em seu íntimo ela queria gritar.

Foi difícil para ela não chorar na frente de todos. Ela sabia que sua mãe não havia feito nada por mal, e no fundo a senhora Bennet não tinha culpa realmente. Aquela ferida já estava aberta há um bom tempo e o que a senhora Bennet fez foi cutucá-la, mesmo sem saber.

Quando a sobremesa e o chá foram servidos ela inventou uma desculpa qualquer e foi para o seu quarto, pois precisava ficar sozinha.

Chegando lá ela abraçou-se no travesseiro e apenas deixou as lágrimas escorrerem, molhando seu rosto e as cobertas.

O senhor Darcy não tardou a ir até o quarto também, e ao chegar lá, encontrou sua esposa deitada, abraçada a um travesseiro e embora não pudesse ver o rosto dela, podia ver que ela chorava pois seus ombros tremiam.

Eram raras as vezes que Elizabeth ficava daquele jeito e ele detestava vê-la naquele estado, pois ele não sabia o que fazer ou dizer para aliviar a dor dela.

Sendo assim, ele fez o que estava ao seu alcance. Deitou-se ao lado dela enlaçando sua cintura com um braço e com o outro acariciava seus cabelos. Conforme os minutos passaram Elizabeth foi se acalmando e logo parou de chorar, mas a angústia ainda estava ali.

— E se minha mãe estiver certa? — Perguntou ela, sem olhar para seu marido e tinha a voz rouca devido ao choro. — E se meu tempo já tiver passado?

— Elizabeth, não pense assim. — Falou o senhor Darcy mudando de posição na cama para poder enxergar o rosto dela. — Perdoe-me, mas você sabe que sua mãe costuma ser exagerada. Nós ainda somos jovens. Só precisamos continuar tentando...

— Mas já estamos tentando há seis anos! — Ela falou aumentando o tom de voz, carregada de frustração. — Jane tem três filhos lindos. Lydia tem um bebê a cada ano. Mary se casou a menos de dois anos e já está grávida. Kitty com certeza será a próxima. E se a minha vez nunca chegar? — Perguntou ela olhando para ele com os olhos vermelhos e marejados. — O que há de errado comigo?

— Não há nada de errado com você… — Falou ele acariciando o rosto da esposa e sentia seu coração despedaçado por vê-la tão triste. — Você já parou para pensar que o problema pode ser comigo?

— Então também acha que há algo errado?

— Eu não disse isso. — Ele disse rapidamente. — O que eu quero dizer é que não deve tomar para si essa responsabilidade. Nem sempre as coisas ocorrem no tempo que queremos. E ainda assim, mesmo que não tenhamos os nossos próprios filhos, há outras possibilidades…

— Eu sei. Mas eu me sinto incompleta e indesejável como mulher… — Disse ela desviando o olhar do dele.

O senhor Darcy procurava entendê-la. Para as mulheres esse tipo de cobrança era sempre maior. Embora Elizabeth fosse forte e sempre conseguisse se manter impassível às exigências e cobranças da sociedade, ele sabia que aquele assunto era diferente, pois a cobrança não vinha apenas de fora e sim de dentro. Aquilo a machucava e ele sabia disso.

— Elizabeth olhe para mim. — Pediu ele e sentou-se na cama. Ela fez o mesmo. — É claro que eu adoraria ter filhos, mas se não tivermos, isso não mudará em nada a admiração e o amor que eu sinto por você. — Disse ele. — Eu a amo e somente a sua companhia, já me faz o homem mais feliz do mundo.

Ele enxugou as lágrimas nos olhos dela e beijou seu rosto.

— Eu a escolhi como companheira… e nada mudará o que sinto por você. Nada. — Afirmou ele e Elizabeth lhe sorriu.

— Obrigada. — Falou ela. — Eu também o amo. — Disse ela e aconchegou-se melhor na cama ao lado dele.

O senhor Darcy não disse mais nada e apenas acariciou os cabelos dela para que ela pegasse no sono. No entanto, ele sabia que apesar de mais calma, ela ainda estava magoada. Em seu íntimo ele rezava para que no dia seguinte, sua esposa acordasse melhor.