Astrid abriu os olhos por conta da luz do sol que batia em seu rosto, olhou para a outra cama que havia no quarto, e viu que seu filho já havia saído. Ficou alguns minutos ainda sentada em sua cama, em silêncio, observando a rosa vermelha que seu patrão havia lhe dado.

Ela sempre apreciou muito as rosas, mas aquela era especial. Aquela era a rosa de Soluço Strondus, seu patrão que toda vez que ela chegava perto, seu coração chegava a disparar, e seu estômago parecia estar com borboletas. Astrid concluiu, que com todas essas reações, seu corpo ainda achava que era uma adolescente.

Até que ela se lembrou do passeio com que teria com Soluço e as crianças. Resolveu deixar seus pensamentos de lado e ir se arrumar. Pôs um lindo vestido longo e florido, seus cabelos que eram costumados em uma trança lateral, desta vez foram deixados soltos. Passou uma maquiagem bem leve no rosto e desceu para tomar café da manhã com o chefe e as crianças.

O patrão ainda estava tomando banho, e as crianças já estavam sentadas na mesa. Nina, é claro, é a que estava mais animada por estar indo a um passeio com seu pai. Até que o patrão saiu do banho, já arrumado, e pronto pra sair com as crianças, e é claro, com Astrid.

—Você está linda... –Ele falou para Astrid, a mesmo teve suas bochechas levemente coradas, e agradeceu ao elogio.

O lugar para onde foram era um lindo campo. Árvores ao redor, flores enfeitavam o ambiente, sorvetes, algodões doces, cachorrinhos acompanhados de suas famílias que estavam ali para realizar um piquenique... Tudo estava realmente encantador.

Um lençol foi forrado no chão para se sentarem, e colocarem seus alimentos que haviam trazido. Astrid observava com um sorriso no rosto, Soluço brincando com Nina, e James.

George, o pai de James, não fazia esse tipo de coisa com o filho. Não conversava, brincava, corrigia, ensinava, pelo contrário, George achava que o filho era um acidente. Um acidente que nunca devia ter acontecido. É claro que James sofreu muito com a perda de George, afinal, ele era seu pai.

Nina foi na direção de Astrid se sentar um pouco, já que James e Soluço haviam ido comprar um refrigerante, e ela queria descansar um pouco. Astrid acariciou os cabelos castanhos arruivados da menina. Nesses últimos dias, para Astrid, Nina não era considerada apenas uma menina na qual ela devia tomar conta. Ela era considerada como uma filha.

Ás vezes Astrid interrogava a si mesma como a mãe de Nina teve a coragem de abandoná-la. Segundo as fofocas das irmãs Garcia, um dia, Michelle acordou dizendo que estava cansada daquela vida. Que queria... Emoção. Então, arrumou suas malas e foi para um lugar onde ninguém sabe, deixando Soluço sozinho para cuidar de uma criança.

Era muito triste aquela situação. Mas Astrid concluiu que mesmo sendo babá, ela daria a Nina o amor que ela precisava... O amor de uma mãe.

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Soluço estava voltando com James da lojinha que havia perto daquele campo, na qual compraram refrigerante. Segurando a mão do garoto, Soluço decidiu puxar assunto.

—E aí, James... O que você quer ser quando crescer? –Indagou Soluço.

— Astronauta! Eu quero ver a lua e os planetas! –O garoto respondeu animado, mas seu sorriso logo desapareceu por ter uma lembrança triste. –Mas, o papai uma vez me disse que eu nunca ia conseguir. Disse que era... Impossível, e que eu tinha que parar de alimentar esperanças falsas. –O garoto falou com olhar triste.

Foi duro para Soluço ouvir o que James havia tido de “incentivo” do pai. Como alguém pode dizer isso para um menino de cinco anos? Como um pai pode falar isso para o próprio filho?

Soluço parou de andar, e olhou diretamente nos olhos azuis do garoto.

—Se você quiser ser um astronauta, você pode. Nunca diga, ou deixe alguém dizer que você não chega lá.Tenha determinação, dedicação e fé que você será um excelente astronauta. –Incentivou Soluço, que recebeu um sorriso animado de James, e um agradecido e honesto abraço do mesmo. Não era um daqueles abraços falsos que ele via diariamente na empresa que trabalhava. Era um abraço sincero e puro, de um garoto com sonhos que agora foram incentivados de verdade.

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Assim, Soluço, James, Nina e Astrid lancharam e se divertiram muito naquela tarde. Uma senhora de idade que estava ali comentou a eles, que era uma família muito bonita. Tiveram que explicar que Soluço era patrão, pai de Nina. Astrid era babá, mãe de James. E é claro, ficaram um pouco constrangidos por serem confundidos como marido e mulher.

As crianças fizeram novos amigos, e foram brincar com eles. Deixando assim, Soluço e Astrid sentados sozinhos em cima daquele lençol.

—Olha... Eu sei que não era da minha conta, mas... Como James era tratado pelo pai? –Questionou Soluço, o que deixou a babá surpresa, e Soluço ficou um tanto envergonhado por ter perguntado sobre algo que era da vida pessoal de sua funcionária. –Desculpe, eu... –Ele começou dizendo, mas Astrid resolveu contar.

—Não... Não tem problema. –Ela suspirou e prosseguiu. –O George não era um bom pai para James... Ele quase não estava em casa, e quando estava, agia como se o menino nem existisse. Quando falava com James, era para brigar e chatear ele por motivos tão desnecessários. Ele desprezava a mim, desprezava o próprio filho... Uma vez chegou a dizer que James nunca deveria ter nascido. –Nesse momento, se desceu uma lágrima em seu rosto, na qual ela limpou rapidamente. –Daí um dia, a gente brigou por causa do dinheiro que tava faltando. George deu um tapa na minha cara, saiu para beber para ver se esquecia, foi dirigir, e como estava bêbado, o carro bateu, e ele... Não resistiu. –Ela desabafou tudo que estava engasgado na sua garganta. E Soluço, em estado de choque. Não por George, mas sim, por Astrid e James.

Os dois ficaram alguns minutos em silêncio.

—Como era a Michelle? –Interrogou Astrid a ele.

—Ela era uma mulher tão, esnobe e egocêntrica. Só se importava com a própria felicidade. Eu apenas me casei com ela, porque ela descobriu que estava grávida, e o meu pai repreendeu dizendo que se não nos casássemos aquilo geraria um grande escândalo em nossa família. Um dia, quando Nina só tinha dois anos. Ela disse que não queria aquela vida pra ela... Arrumou todas as suas coisas... E foi embora, sem me dizer sequer aonde ia, e me deixando sozinho com Nina. –Contou o Strondus.

Mais uma vez, o silêncio ficou entre eles.

—Sinto muito pelo que você passou com George. –Falou Soluço para Astrid, segurando a mão da loira.

—Sinto muito pelo que você passou com a Michelle. – Disse Astrid, encarando os lindos olhos verdes do patrão.

E os rostos dos dois iam se aproximado cada vez mais. Talvez, não estivessem mais agindo por si mesmo... Mas, não puderam evitar. E então, se beijaram. Um beijo calmo, e doce, que duraria mais caso os pulmões não começassem a gritar por ar. Então, eles se afastaram e abriram seus olhos, e apenas riram levemente. Apenas riram. Não precisavam dizer nada. Só de olhar em seus olhos, podia-se ver o como eles estavam felizes. Será que poderíamos dizer... Apaixonados?

Continua.