—Vocês dois se beijaram? Ai, meu Thor! —Heather dizia a Astrid no telefone.

—Eu sei! Até eu fiquei impressionada... Mas, eu gostei do beijo. –Confessou a babá.

E aí... Agora vocês vão namorar? Shippo muito os dois! —Brincou a morena no telefone.

—Namorar? Não! Foi só um beijo! O meu patrão querendo me namorar... Até parece. –Astrid falou a Heather no telefone, e prosseguiu. –Está ficando tarde, amanhã eu ligo para você. Tchau, amiga. –A loira se despediu.

Tchau! Amanhã, eu quero que me conte os detalhes de como vai ser o casamento, ok?—Heather brincou, logo em seguida desligando, e fazendo a babá rir de seu comentário.

Astrid não conseguia tirar de sua cabeça o que havia acontecido naquela tarde. Aquela sensação maravilhosa de sentir a boca de Soluço na boca dela ainda permanecia em sua mente. Coração acelerado, sorriso bobo no rosto, bochechas coradas, borboletas voando na barriga... Ela não sentia isso na época que namorava George, mas sentia tudo isso com Soluço. O que está acontecendo comigo? Ela perguntava a si mesma, enquanto estava deitada em sua cama, tentando inutilmente dormir.

**

—O passeio foi tão legal, papai! Eu e James fizemos novos amigos e brincamos de tantas coisas! A gente pode ter mais dias como esse? –Indagava Nina a Soluço, se preparando para dormir, mas ainda sim, muito entusiasmada.

—Com certeza iremos fazer outros! Esse será o primeiro de muitos! –Afirmou Soluço, dando um beijo na testa da filha. –Boa noite, princesa. –Ele se despediu da filha.

Quando ele já estava abrindo a porta, sua filha o chamou, fazendo ele voltar.

—Posso te fazer uma pergunta? –Ela falou com os olhinhos já cansados, e seu pai assentiu. –Você gosta da tia Astrid como... Namorada? –Questionou Nina. –É que você olha pra ela como se você fosse um rei apaixonado pela rainha mais bonita do mundo! –A garota alegou com um sorriso sonhador.

—Não, minha linda... Eu só vejo ela como uma amiga. –Nem mesmo Soluço acreditou no que estava dizendo.

—É que... –A pequena bocejou. –Eu queria que ela fosse sua namorada, pra poder ser minha mãe... –Ela disse, logo em seguida fechando os olhos, e adormecendo, encerrando o assunto.

Ele deu um sorriso fraco, pensando no beijo que teve com Astrid naquela tarde. O que a gente faz agora? Ele perguntava a si mesmo.

**

Soluço tomou café da manhã com James e Nina, mas não Astrid, que estava tão sem jeito com o patrão que ficou na cozinha conversando com as empregadas até chegar o momento em que ela precisava levar as crianças para escola e Soluço precisava trabalhar.

O resto da manhã, ela fazia o de sempre. Ficar com Maria, Lúcia e Carmem até o horário de buscar James e Nina na escola. Porém, as irmãs perceberam que a babá estava pensativa demais.

—Pensando no senhor Strondus, Astrid? –Perguntou Carmem, com uma voz um tanto maliciosa.

—Eu aposto que eles se beijaram... –Brincou Maria.

—E eu aposto que daqui a alguns meses eles namoram! –Acrescentou Lúcia.

A babá não sabia nem mesmo o que dizer. Será que estava tão óbvio que ela e o seu patrão se beijaram? Resolveu contar logo para as irmãs, elas iriam insistir tanto que acabariam descobrindo de qualquer jeito.

—A gente se beijou! –Revelou Astrid, o que deixou as irmãs de olhos arregalados, e logo em seguida, soltando gritinhos animados e dando pulinhos, o que fez a babá fazer uma careta de estranhamento. –Pra que isso? Foi só um beijo! –Ela falou.

—Não, não, não... Não foi só um beijo! Foi O Beijo! –Respondeu Lúcia, enfatizando a letra “O”.

Astrid ficou alguns minutos em silêncio, o que as empregadas perceberem que embora ela tivesse gostado, não sabia mais como olhar pro patrão.

—Asty... Eu entendo que você não saiba mais como agir com o senhor Strondus, mas como dizia a minha falecida avó: Ame como si no hubiera mañana. –Falou Maria, e sua frase espanhol fez Astrid franzir a testa confusa.- Ame como se não houvesse amanhã, é a tradução. O tempo passa rápido demais, Asty... No fim, tudo que valerá é o amor. –Aconselhou.

Pensou um pouco nas palavras de Maria. Aquilo era verdade. Mas, ela não ia falar com seu patrão sobre o assunto. Decidiu seguir o ditado: Deixa quieto!

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Já era o começo da tarde. Nina e James almoçaram, e agora estavam dormindo como sempre faziam, durante quase uma hora depois de comer. Soluço ainda estava no trabalho, e Astrid via televisão onde todos os programas pareciam mandar indiretas para ela.

Eu te amo, Ben! Não me imagino sem você! Ela trocou de canal.

“Diga! Você está apaixonada por ele! Por que tanta resistência?” Ela trocou de canal mais uma vez.

“Esse casal se assumiu o amor, e agora vivem juntos e muito felizes!” Astrid bufou irritada, e desligou a televisão. Ela nunca foi uma mulher paciente, e se continuasse a ver aqueles programas, a televisão terminaria quebrada por ela.

—Asty, tem uma mulher querendo falar com você, ela já está sentada lá na sala de estar- Anunciou Carmem. E Astrid se levantou indo falar com a tal.

Qual não foi sua surpresa ao ver que quem estava lá era Hilary Turner. Secretária de Soluço, aquela que Nina e James, de apenas cinco anos, conseguiriam ser mais maduros do que ela no dia em que Astrid apareceu na empresa.

—Boa tarde... Astrid. –A Turner cumprimentou meio sem jeito.

—Boa tarde, Hilary. O que você quer? O Soluço está no trabalho, e você devia estar lá com ele. Já pensou alguém roubar sua vaga? –Falou Astrid em um tom seco e irônico.

—Não precisa ser grossa! –Hilary se defendeu.

—Olha só quem está me dando uma lição de moral... –Retrucou a Hofferson.

—Eu vim me desculpar. Estou realmente arrependida pelo modo em que te tratei. É que quando eu te vi tive certeza de que perderia meu emprego pra você. –A secretária explicou.

—Mas, por que se sentiu tão ameaçada? –Questionou Astrid.

—É que você é tão linda, e tem um corpo muito bonito... Imaginei que quando Soluço te visse ele daria o emprego pra você por causa disso, porque cai entre nós... Eu não sou o tipo de mulher com muitos atrativos. –Confessou Hilary.

Astrid a observou. Hilary tinha curtos cabelos castanhos, olhos bem verdes que eram um pouco ofuscados pela franja. Suas roupas não tinham muita vida, já que consistia em uma saia bege que ia até o joelho, e um suéter xadrez. Ela era bonita, só precisava se produzir de acordo com sua idade, uma mulher de vinte anos, e não uma idosa de setenta e cinco.

—Hilary... Uma mulher não deve conseguir um emprego porque ela é bonita, ou tem um corpo atraente. Ela deve conseguir um emprego pela sua inteligência, pelo seu profissionalismo e caráter. Mas, de qualquer forma, eu perdôo você. –A loira disse sorrindo fraco, e ganhando um abraço da morena.

—Eu preciso da sua ajuda. Tem um cara que eu gosto muito dele, e gostaria de chamar sua atenção. Eu não sei como me vestir bem, ou me maquiar. Mas... Você sabe. E como o patrão me deu esse dia de folga, você poderia me ajudar. –Pediu Hilary.

Astrid pegou Hilary pela mão, e começou a escolher várias roupas em seu quarto. Ela deu dois vestidos seus para a Turner, mas com eles, a secretária saberia que roupa combina com ela. Ensinou Hilary a se maquiar, e como sabia algumas coisas de cabeleireiras, fez um corte de cabelo ideal para a morena.

No final, Hilary estava muito bonita. Usava uma sapatilha branca, junto com um vestido azul que ia até seus joelhos, e uma maquiagem bonita e discreta.

—Digna de uma atriz de Hollywood! –Falou Lúcia.

—Muito obrigada, Astrid. Eu ainda não contei pra você quem é o cara, mas... Breve eu contarei, talvez ainda hoje. –Disse Hilary, despedindo-se da babá com um abraço.

Á noite

Astrid fora fazer um rápido passeio com as crianças na casa de um amigo, Soluço chegou do trabalho e teve que ficar um momento sozinho, ouvindo os diálogos em espanhol que as Garcia diziam freneticamente no telefone. Provavelmente estavam conversando com seus parentes do México.

A campainha toca e como as empregadas estão entretidas demais para atender, Soluço se levanta e vai até a porta, para sua surpresa é sua secretária que estava de folga naquele dia,Hilary Turner, que se mostrava bem arrumada.

—Boa noite, Hilary. Deseja algo? –Perguntou educado o patrão.

—Sim, posso entrar. –Ela estava tão nervosa que não esperou nem o Strondus dizer que sim, pois já foi entrando.

Eles dois ficaram alguns minutos em silêncio. Soluço chegava a estranhar tamanho nervosismo de Hilary, e o porquê dela demorar tanto para falar o motivo de estar em sua casa em plena noite de folga.

—Soluço, eu... Eu te acho um homem muito bonito e me encantei pelo senhor a primeira vez que te vi. Minha mãe dizia que quando se estar apaixonado o corpo inteiro reage, eu não sinto isso, mas eu tenho certeza que... –Ela falava muito rápido, até que resolveu parar, dando um beijo no patrão.

Soluço ficou sem ação. Ele nunca teve sentimentos por Hilary. Mas, não pode nem entender direito o que estava acontecendo, já que de imediato a porta foi aberta por Astrid, que no principio teve uma expressão de surpresa, que depois virou uma expressão furiosa.

O patrão percebeu que a Hofferson ficava linda quando estava nervosa, mas naquele momento ela só conseguiu pensar que seu patrão, aquele que a tinha beijado a um dia atrás, agora estava beijando a secretária, na qual ela ajudou.

—Ai, meu Deus!E-eu acho melhor a gente conversar amanhã, Soluço- Disse Hilary envergonhada por ter sido flagrada beijando seu chefe, e puxando Astrid com o braço.

As duas começaram a conversar na varanda.

—Eu achei melhor tomar uma iniciativa, você sabe... Eu me arrumei por causa dele. –Confessou Hilary, que realmente parecia não querer causar nenhuma raiva na babá, ela era inocente. –Mas... Eu acho que não era para ser. Sabe, eu nunca acreditei nessas “reações da paixão”, porque eu nunca tive uma eu acho... Talvez, eu só tenha sentido atração física, e... Eu não senti nada no beijo. –A secretária estava um tanto confusa, ela esperava sentir algo diferente. Tinha sinceridade em suas palavras.

Naquele momento Soluço apareceu em cena. Ele não sabia que era falta de educação escutar a conversa dos outros?

—Me desculpe, senhor Strondus. Eu havia ficado confusa sobre meus sentimentos, mas agora eu sei o que estou sentindo. –Pediu a Turner, e o patrão assentiu com a cabeça. A secretária saiu dali, deixando apenas patrão e babá que ficaram se encarando por alguns minutos.

—Não acredito que fez isso... –Disse Astrid, saindo da varando e Soluço a seguiu.

—Fiz o que? –Interrogou o Strondus.

—Não se faça de desentendido! Ontem você me beijou, hoje você beijou a Hilary! Eu não culpo a sua secretária, ela só ficou confusa! Mas pelo que vejo você amou o beijo! Não tem vergonha na cara, não? E amanhã? Vai ser quem? – Astrid estava bem nervosa.

—Olha, não deu nem tempo de eu reagir! Não sei porque você está tão nervosa! Entre mim e você foi só um beijo! Entre eu e a Hilary foi só um beijo! Em ambos os casos foi só um beijo! –Defendeu-se Soluço.

Pois, é. Sem que percebessem os dois já estavam discutindo.

—É, Soluço! Foi só um beijo! Eu não sei porque eu ainda perco o meu tempo pensando nele! Faz o seguinte: Esquece que um dia a gente já se beijou! –Falou a babá.

—Ok! – Assentiu o patrão também muito nervoso com a situação.

—Ótimo! –Encerrou Astrid, saindo da sala.

As crianças estavam na casa de algum amigo da escola porque pediram para ficar mais um pouco, e não assistiram a discussão. Mais tarde, Astrid foi buscá-los, e enquanto as crianças falavam durante o jantar animadas, Soluço e Astrid nem mesmo se encaravam, e comiam em silêncio.

Por que ela ficou tão furiosa com o beijo do patrão com Hilary? E por que ele sentia tanta falta de ouvir a voz dela, do sorriso dela, e do encontro de seus lindos olhos azuis nos dele, o que não acontecia desde a discussão? A situação era tão complicada.

De qualquer forma, nenhum dos dois cumpriram o que disseram que iam fazer: Esquecer o tão maravilhoso deles que aconteceu naquele belo passeio.

Continua.