Amanhecia mais um dia, onde James e Nina acordaram já com bastante energia, as empregadas faziam o delicioso café da manhã, e o clima tenso da conversa da noite anterior prevalecia entre Soluço e Astrid.

Era dia de folga do Strondus, por isso ele tomava café com as crianças e a babá.Nina e James tagarelavam, e conversavam sobre os planos que tinham para aquele sábado. Porém, Soluço e Astrid não ouviam. Apenas se encaravam. O patrão achava que a sua vida familiar era assunto para Astrid. A babá, se arrependendo do assunto que havia levantado. Mas ela dizia a si mesma, que a verdade era aquela. Mesmo que o patrão não estivesse muito a fim de ouvir.

Após o término do café da manhã, Astrid resolveu passear um pouco com as crianças no parque, não agüentando mais a troca de olhares com Soluço. Assim, o Strondus ficou em casa, um tanto solitário. Podia-se ter silêncio, mas volta e meia ouvia-se o barulho de algumas panelas e vassouras caindo. As empregadas eram meio atrapalhadas. Além da queda dos objetos, era possível ouvir risadinhas e conversas das irmãs. Até que a campainha tocou, sendo atendida por Carmem, para sua surpresa era Stoico, seu pai.

Após se cumprimentarem, eles seguem para a sala de estar onde conversam.

—Onde está Nina? –Questionou Stoico.

—Ela saiu com a babá, e o filho dela. –Respondeu Soluço.

Stoico não havia sido informado de que Nina tinha uma babá. Então, Soluço explicou-lhe tudo o que tinha acontecido nesses últimos dias. Confessou inclusive, um pouco envergonhado, a conversa que teve com Astrid, no qual ela havia dito palavras um tanto duras para ele.

Stoico suspirou. Seu filho não estava dando atenção necessária para sua filha. Na cabeça de Stoico, Soluço estava preste a cometer os mesmos erros que ele cometeu.

—Quando você era pequeno, deve se lembrar que eu só tinha olhos para o trabalho. –Stoico disse, com um olhar triste, e prosseguiu. –Quando você andou pela primeira vez... Eu estava no trabalho. Eu não brincava com você. Não pude lhe ensinar a andar de bicicleta. Não lhe dava conselhos. E você sabe quais foram as conseqüências disso, meu filho... Nos seus doze anos, eu e sua mãe nos divorciamos. Além disso, eu percebi que quase nunca estive ao seu lado, eu estava sempre trabalhando. – Confessou Stoico

Uma lágrima teimosa desceu ao rosto de Soluço, o fazendo limpar rapidamente. Ele estava cometendo os mesmos erros do pai! Nina estava tendo a mesma infância que ele teve!

—Por favor, meu filho. Não siga o meu exemplo! Não se aprofunde no trabalho. O mais importante é, e sempre será, a felicidade da sua filha! –Aconselhou Stoico.

Soluço assentiu emocionado. E durante alguns minutos o silêncio reinou na sala, até o momento em que as crianças chegaram, gritando de animação, de modo que eram ouvidos por toda a casa.

Assim, pai e filhos seguiram para o quintal, onde as crianças brincavam, curtindo a manhã de sol.

—Então você é Astrid Hofferson. –Indagou Stoico, e a loira assentiu sorridente, apertando sua mão. –Você é realmente muito bonita. Agora, eu consegui entender o brilho que apareceu nos olhos de Soluço ao mencionar a senhorita. – Assim que Stoico disse isso, de imediato Soluço e Astrid ficaram ruborizados, e Stoico foi logo falar com a neta e conhecer James.

E assim, patrão e babá só ficaram parados sem conseguir se encarar. Agora, o motivo não era mais pela conversa da noite anterior, mas sim, pelo brilho que supostamente apareceu nos olhos de Soluço.

—Eu preciso conversar com você, em particular, no meu escritório. –Falou Soluço, e Astrid assentiu.

Ao chegarem lá, se sentaram, e Soluço iniciou o assunto.

—Bom, eu queria te dizer que, embora a ameaça de ontem, eu... Não vou te demitir. –Esclareceu Soluço, e a loira apenas balançou a cabeça em sinal de concordância.

Outro assunto que ele queria deixar em deixar claro,foi o choque de realidade que a Hofferson havia lhe dado. Mas, talvez ele fosse orgulhoso de mais para agradecer, ou apenas dizer que ela estava certa. Então, resolveu apenas mudar de assunto.

—Outra coisa importante é que hoje teremos um jantar com sócios da nossa empresa. Jack e Elsa Frost virão com seus dois filhos, e Kristoff e Anna Bronte virão com sua filha. As crianças têm a mesma idade de Nina e James, e eu queria saber se você ia cuidar deles, é claro, que cuidando dos filhos dos sócios, o salário desse mês irá aumentar. –Alertou Soluço.

—Claro, eu posso cuidar deles. –Afirmou a babá.

—Acha que dá conta de cinco crianças? Se não, eu posso contratar outra pessoa para te ajudar... –Duvidou o patrão.

—Acredite, na infância eu vivia com sete primos em uma mesma casa... Se tem uma coisa que eu sei lidar, é com várias crianças. –Comentou Astrid, com um sorriso maroto no rosto.

Soluço não pode evitar um sorriso com o comentário dela. Ele não sabia como havia sido a infância de Astrid, mas vivendo com sete primos em uma mesma casa, ele supôs que a loira havia vivido muitas aventuras.

Foi a primeira vez que Astrid via o patrão sorrir. Se Soluço era lindo estando sério, sorrindo era de acelerar os batimentos cardíacos.

Assim, os dois se levantam e seguem para a porta do escritório, até o momento em que acidentalmente, Astrid escorrega, e em um movimento rápido, Soluço a segura.

Os belos olhos verdes de Soluço se encontraram nos hipnotizantes olhos de Astrid. A respiração de ambos era ofegante, e o rosto dos dois se aproximava cada vez mais...

—Senhor Strondus, o seu pai já... –Entrou Lúcia na sala, que logo parou de falar e percebeu que atrapalho algo. –Ai,meu Deus... Perdoe-me! Eu devia ter batido na porta! Acabei atrapalhando vocês dois!

Soluço tratou logo de levantar a babá, e os dois se perguntavam mentalmente o que havia acontecido. Eles quase se beijaram!

—V-você não atrapalhou nada, Lúcia! N-não tinha nada para atrapalhar! –Explicou Soluço, completamente envergonhado.

—É! N-nós não estávamos fazendo nada... Só conversando! – Dizia Astrid, tão nervosa quanto Soluço, só que mais vermelha.

—Isso mesmo! Apenas conversando! –Exclamou o patrão.

Soluço, Astrid e Lúcia ficaram alguns minutos em silêncio. A respiração do patrão e da babá era como a de furacões, e seus corações pareciam que a qualquer momento sairiam pela boca.

—O senhor Stoico está chamando vocês para se despedirem dele, pois ele já está de saída. –Informou Lúcia, e imediatamente os três saem da sala. Soluço e Astrid não conseguiam ao menos olhar nos olhos do outro.

Logo, todos se despediram de Stoico. Patrão e babá tentavam inutilmente esquecer o que o que quase ocorreu naquela manhã... Um beijo. Eles quase se beijaram. Onde eu estava com a cabeça? Os dois indagavam incrédulos mentalmente.

Mais tarde

A casa já estava toda ornamentada para receber as visitas. O cheiro da comida se instalava na casa inteira. Depois de muita insistência de Nina para Soluço, as crianças foram permitidas de se sentar a mesa com os adultos, e Astrid tomaria conta de cada um deles.

E no horário marcado, os convidados haviam finalmente chegado.

Elsa e Jack eram casados. Elsa era sócia da empresa, e Jack era um famoso advogado. Os dois vieram com seus dois filhos. A mais velha, Júlia, de seis anos. E o mais novo, Nick, de cinco anos.

Anna era a irmã mais nova de Elsa, e era casada com Kristoff. Anna era uma estilista espetacular, e Kristoff era um dos contadores da Strondus Technology. Com eles vinha sua única filha, Kristen, de cinco anos.

Ambos se cumprimentaram, e seguiram para o lugar onde ficava a enorme mesa com comidas maravilhosas para os convidados.

—Isso tudo é pra gente? Dá até pra alimentar uma república! –Comentou Jack impressionado.

—Mais educação, Jack Frost! –Repreendeu Elsa em um sussurro, mas que deu para se ouvir em todo o cômodo.

—Onde está a Nina e o James, senhor Strondus? –Questionou a pequena Júlia, que assim como Nick e Kristen, estudava com eles.

Soluço informou que junto com a babá, que também era mãe de James, eles desceriam logo. Assim que ele disse isso, veio junto com as crianças, Astrid.

Soluço nunca foi um homem de ficar sem palavras, porém, Astrid estava tão linda, que ele ficou boquiaberto.

—Cuidado para não babar, Strondus. –Kristoff alertou em de sussurro para Soluço.

—Parece que alguém é caidinho pela babá da filha... –Brincou o Frost para Kristoff, recebendo um olhar mortal de Soluço.

E assim se sucedeu o jantar. Jack fazia piadas, em uma delas, Elsa precisou interromper dizendo que haviam crianças no local. Os convidados pediram para saber mais da infância de Astrid.

—Eu morava junto com o meu avô e minha avó, e mais sete primos. A gente aprontava cada uma...Brincávamos de pular corda, bolinha de gude, amarelinha... Toda vez quando voltávamos da escola, apertávamos as campainhas dos vizinhos e saíamos correndo- Todos na mesa riam. – E pior ainda: Ás vezes roubávamos goiabas do pé da vizinha. Ela ficava com muita raiva. Crianças, a parte de apertar a campainha e sair correndo, e roubar frutas do pé da vizinha: Não tomem como exemplo. –Alertou Astrid, fazendo novamente todos rirem.

Após o jantar, as crianças foram brincar no quarto de Nina, sendo vigiadas por Astrid. Depois de um tempo, os Frost e os Bronte foram embora. Mas, é claro, marcaram de se encontrar outro dia.

Depois de alguns minutos, Soluço resolveu foi falar com Astrid.

—O que você me disse ontem, mais uma conversa que eu tive com meu pai me fizeram refletir que... Eu não quero ser esse tipo de pai para Nina. Eu quero estar aqui. Então, eu resolvi que amanhã nós podemos fazer um passeio. Eu , você, James e Nina. O que acha? –Sugeriu Soluço.

—Eu acho uma idéia ótima, Soluço. As crianças irão adorar. –Alegou Astrid. –Mas... O que você está escondendo aí? –Questionou, se referindo a algo que o patrão escondia atrás das costas.

—É uma rosa. Com ela eu quero te agradecer por cuidar tão bem da minha filha... –Ele agradeceu.

Ela cheirou a rosa, e sorriu, vendo que os olhos do patrão brilhavam.

—Muito obrigada... Boa noite. –Falou Astrid.

—Boa noite, Astrid. –Disse Soluço.

Assim, ambos seguiram para os seus quartos. E percebendo que a medida que o tempo passava, não conseguiam tirar a imagem um do outro da cabeça.

Continua.