Quando o álcool saiu um pouco mais do meu corpo resolvi ir embora, não localizei meus amigos e decidi ir só. Peguei meu casaco e escondi meu corpo, as ruas de Konoha são seguras, mas é sempre bom ter cuidado. Andei para casa um pouco apressada, mas tive uma boa surpresa, vi um mascarado conhecido e corri em sua direção alegre.

— Kakashi-sensei. - O abracei e ele pareceu desnorteado. - Que bom que apareceu, não gosto de andar sozinha de noite e esses saltos estão me matando também. Você poderia me carregar! - Falei feliz, era verdade tudo aquilo, talvez ainda tenha mais álcool no meu corpo do que pensei, mas tudo bem, estava com Kakashi.

— Você está bêbada. - Não era uma pergunta, mas confirmei com a cabeça. Ele me olhou, quieto, parecia estar formulado o que pode ter acontecido para eu chegar nesse ponto.

— Pode se dizer isso, mas consciente o suficiente, só estou falando tudo o que me vem à cabeça, mas não ao ponto de esquecer isso na manhã seguinte.

— Eu acredito que já estamos na manhã seguinte. - Ele aponta para o céu e percebo que a escuridão estava se dissipando, ainda não apareceu os primeiros raios de sol, mas era uma manhã. - Eu estava indo tomar café quando você apareceu, vamos, te levo em casa e depois vou sair.

— Vamos logo comprar o pão no caminho e tomamos café na minha casa, mais prático. - Ele cerra os olhos, mas não deixo ele dizer não, cruzo meu braço no seu e vou tomando a direção. - Tem uma loja que eu adoro, os pães sempre estão frescos e tem várias variedades. Você vai gostar também. - Eu vou falando e ele ouvindo, deixando ser levado por mim.

Compramos o pão e alguns outros doces, Kakashi-sensei não deixou eu pagar e respondi que não fazia sentido porque eu tinha dinheiro, eu trabalhava no hospital de Konoha. Mas ele disse que é a cortesia por todas as vezes que eu curei ele, bufei, mas aceitei. Chegamos na minha casa e eu abri a porta facilmente, o platinado entrou logo depois de mim, fiquei aliviada de estar na minha casa, finalmente poderia tirar o casaco, já estava ficando quente. Escutei algo caindo quando pendurei meu casaco.

— Quer ajuda? - Pergunto olhando para Kakashi que deixou a sacola de pão cair no chão, ao menos estava bem fechada.

— Hã? Ah, não. É bom você trocar essa roupa não acha? Na verdade, você saiu assim ontem? - Ergo minha sobrancelha para ele.

— Assim como? - Cruzo meus braços em desafio. Ele vai querer falar da minha roupa agora? O pensamento me irritou um pouco.

— …Exposta. - Rir revirando os olhos, dou uma voltinha para ele e brinco com a barra do vestido, mostrando como era perigosamente curto. Ele estava estático.

— Sim bebê, sai assim e foi muito divertido. Em uma noite recebi tantos olhares, coisas que deixei de viver todo esse tempo, o flerte, se sentir desejada e sentir bonita. - Me aproximei do meu antigo professor de maneira muito perigosa. - Percebi que luxúria não é um pecado tão ruim. - Meu dedos fizeram uma caminhada em seu ombro, ele continuava me olhando um tanto em choque. Gargalhei e me afastei. - Eu vou tomar um banho, não se preocupe Kakashi-sensei, foi apenas uma noitada, não significa que vou andar na rua todo dia quase nua. Ah! Faça o café enquanto isso, tá tudo no armário de cima. Por favorzinho. - Deixei ele só na entrada e fui tomar um banho, segurei a vontade de correr. O que fiz? Ele é meu sensei, talvez passei do ponto na brincadeira, ainda posso usar a desculpa do álcool? Balancei a cabeça, estou me preocupando atoa, ele sabe que foi uma brincadeira.

Tomei um banho rápido, tirei minha maquiagem e usei uma roupa mais comportada dentro de casa, mas ainda sim confortável. Meus pés estavam me matando, por sorte hoje era minha folga então poderia passar o resto do dia deitada. Saio do meu quarto com os cabelos ainda úmidos, o café parecia pronto, havia um cheiro agradável na casa.

— O cheiro está ótimo Kakashi-sensei. - Entro na cozinha e a mesa estava posta, me sentei logo.

— Vamos ver se você vai gostar, esse é um café especial. - Me sirvo desconfiada, quando eu bebo o primeiro gole faço uma careta na hora. Não havia um pingo de leite ou açúcar, era café puro. - Espero que com isso você possa acordar e que saia todo álcool no seu corpo. - Ele fala calmamente, talvez eu tenha passado dos limites com minha brincadeira. Me encolho como uma criança que foi pega fazendo travessuras. Ele suspirou balançando a cabeça em reprovação. - Quer me falar o por quê de você estar voltando sozinha de uma festa? - Eu bebo mais daquele amargor de café e começo a contar. Queria experienciar mais coisas, me arrumei com Ino, encontrei o pessoal, o estado de cada pessoa no fim da noite e depois eu esperei um pouco para ir para casa já que não encontrei ninguém. Ele pareceu entender. - Tudo bem, mas na próxima me avise, eu te espero sair e te acompanho em casa. - Kakashi fala passando a manteiga em seu pão, e deu um estalo na minha cabeça.

— Vamos sair juntos na próxima Kakashi-sensei. - Ele para de passar a manteiga e me encara, seu olho com a cicatriz se destacando. Ainda era estranho poder ver mais de seu rosto sem mais a bandana cobrindo sua visão esquerda, mas a máscara ainda ocupava a maior parte de sua feição - Não é brincadeira dessa vez, falo sério! Não digo uma noitada, não parece sua cara ir nesses locais, mas vamos sair, talvez em um barzinho ou um jantar ou qualquer outra coisa. Eu realmente quero ter experiências inovadoras e sair um pouco da rotina casa-hospital e vice-versa. Além disso, você sair comigo é menos uma preocupação, admita. - Ele ponderou a ideia me fazendo ficar ansiosa.

— Eu vou escolher os locais?

— Sim, você vai escolher.

— Hum… Tudo bem- Eu ia comemorar, mas ele me impede. - Mas, espere eu chamar ok? - Eu balancei a cabeça e ele pareceu sorrir por debaixo da máscara. Sorri também, tomamos nosso café da manhã tranquilamente depois disso. Kakashi-sensei ficou contando algumas missões recentes que fez e eu contei da minha rotina do hospital, foi uma manhã agradável.

(…)

— E foi isso que aconteceu. - Termino de contar pra Ino como foi minha noite, ela chegou logo depois da Kakashi-sensei ter ido embora. Batendo na porta desesperadamente, quando me viu ela me abraçou, pediu desculpas e depois perguntou se tava tudo bem comigo enquanto vasculhava meu corpo com seus olhos treinados pela medicina.

— Ai testuda, que bom então, eu me distraí com Sai… Enfim, desculpa, te deixei voltar para casa sozinha e fui eu que te convidei… - Eu dei um peteleco na sua testa fazendo-a reclamar da dor.

— É, foi otária Ino porca, mas já passou. Eu te disse também, combinei de sair mais com o Kakashi-sensei. - Sua feição antes de culpa, passa a ser de diversão, eu levanto minha sobrancelha questionando.

— Então… Você e Kakashi, o que tá rolando? - Fico vermelha na hora.

— Ino! Pelo amor… Ele é meu sensei.

— O que que tem? São dois adultos. Não tô falando em casamento, mas é uma oportunidade de ver ele com outros olhos e quem sabe se divertir em uma aventura. - reviro os olhos.

— Não acho que ele vá me ver com outros olhos, ainda devo ser uma pirralha para ele.

— Então prove ao contrário! - Rio fazendo um sinal de não com a mão, a ideia já era absurda demais. - Bom, não custa tentar. Deixa eu ir, já deu minha hora e tenho que ajudar a mamãe. - Me despeço da minha amiga e fico com uma pulga atrás da orelha com o que ela me disse. Como eu faria para Kakashi me olhar com outros olhos? Primeiramente, eu quero isso? Ele é meu sensei, me viu crescer e tenho um grande respeito por ele. Talvez a solidão só esteja me fazendo confundir as coisas. Balanço a cabeça para afastar esses pensamentos, acorda Sakura.

(...)

— Doutora! Aqui por favor. -

— Doutora Haruno, olhe esse paciente aqui. -

— Eu to com uma dor nas costas, são as costelas quebradas, certeza!

Eu corria de um lado para o outro, o hospital estava agitado, parece que todos os ninjas voltaram de missão ao mesmo tempo. Os pacientes estavam com dor, as enfermeiras estressadas esperando as observações do médico, havia pessoas que claramente não eram urgência, mas exigiam tratamento imediato e eu estava a um passo de enlouquecer. Fazia tempo que não pegava um plantão tão puxado!

Dei alta em alguns pacientes, receitei os remédios de outros e fui fazer as observações de alguns. Quando abro a cortina da última maca tenho uma surpresa negativa.

— Kakashi?! - Digo ao vê-lo cheio de sangue e desmaiado, que eu saiba ele não ia sair para nem uma missão. Não espero enfermeira e nem nada, começo o tratamento imediato, havia perfurações em seu estômago e um ombro estava deslocado, tentei identificar se ele desmaiou de dor ou de sangue, mas foi a hemorragia. Tratei de todos os seus ferimentos, quando acabei, olhei seu rosto, será que era difícil respirar com a máscara? Coloco meu dedo debaixo de seu nariz e senti a respiração dele, a passagem do ar saia com facilidade, fiquei aliviada. - Melhore logo, me sinto só sem as nossas conversas. - Faço um carinho em seu cabelo e dou um beijo na sua testa. A cortina estava fechada e eu sabia que não dava para ninguém ver, deixo o platinado adormecido e vou resolver as outras demandas dos pacientes.

Sakura, atarefada com suas responsabilidades, não percebeu que o homem na cama estava fingindo estar desmaiado o tempo todo. Ele escutou quando ela falou seu nome sem sufixo e sentiu os lábios macios em sua testa, ele estava desnorteado.

— Assim você complica as coisas para mim, cerejeira…