— Bom dia, flor do dia. - Minhas pálpebras fechadas doem com a súbita claridade, abro meus olhos e vejo meu aluno loiro com seu típico sorriso de orelha a orelha.

— Naruto… Que horas são? Tenho que entregar o relatório da missão. - Ia me levantar, mas um choque de dor me faz me deitar na hora. Olho ao redor e lembrei que estava no hospital, meus ferimentos estavam melhores, mas a dor que senti foi do meu pescoço, acho que dormi torto.

— Calma Kakashi-sensei, os seus colegas já fizeram isso. - Relaxo com isso, ia voltar a dormir, mas Naruto me desperta com sua fala. - O plantão de Sakura já já vai acabar, ela te avaliou quando estava dormindo, mas sua alta ficou apenas para amanhã. - Tenciono um pouco meu corpo ao ouvir o nome da minha aluna. Aluna… Sakura está mostrando novas faces e isso é… Inquietante no mínimo, ainda vejo a ingenuidade em seu olhar, mas a cada dia que passa parece ganhar mais conhecimento do mundo através das experiências e não mais dos livros.

Naquele dia que ela saiu com Ino, eu tinha visto, eu havia acabado de sair de um restaurante com Gai e estava indo para casa, mas os cabelos rosas me chamaram atenção, assim como boa parte dos homens e algumas mulheres na rua. Ela estava agasalhada, mas isso não escondia sua beleza, andando de salto, com cabelos volumosos e uma maquiagem diferente, ela exibia sua jovialidade. Fiquei curioso e acompanhei o andar daqueles três na rua, ela quase me notou e eu queria que ela me visse, por algum motivo, mas seus olhos não focaram em mim naquela noite.

Apesar de tudo, quando ela me encontrou na rua foi realmente uma coincidência, mas me assustei com seu abraço repentino e depois… Ver ela naquele vestido aberto foi um choque e mais ainda sua atitude depois. Como seu sensei, eu devo afastá-la e cortar essas atitudes, mas… Eu não fazia nada, eu dou espaço para essa atitudes e meu Deus… Isso é tão errado, tão errado eu ainda estar pensando no toque dos seus lábios em minha testa e do jeito que ela chamou meu nome sem o sufixo sensei, encurtando uma distância imposta por nossas idades.

— Naruto, ainda aqui? - Minhas pupilas se direcionam para porta e de lá estava a dona dos meus recentes pensamentos. Ela estava sem o jaleco, usando sua longa camisa magenta com aberturas laterais, calça branca e os saltos que Tsunade deu para ela. - Kakashi-sensei, que bom que acordou, como se sente? - Ela voltou a usar os honoríficos. Isso me decepcionou um pouco.

— Me sinto bem. -

— Mentira! O pescoço dele tá doendo, Sakura-chan ele dormiu errado e não quer falar. - Meus olhos vão para Naruto, ele ignora. Apontando para mim como um bom dedo duro.

— Kakashi-sensei, não é bom mentir. - Ela fala em tom de repreensão. - Que bom que não é nada sério, antes de sair vou pedir para enfermeira lhe dar um relaxante muscular, caso persista me procure, agora não posso usar a palma mística pois tenho pouco chakra. - Naruto sorria concordando com tudo.

— É isso aí! Agora podemos ir, Sakura-chan? Quero passar na Ino para comprar algumas flores para Hinata e você que vai me ajudar. - Ela revira os olhos, reclamando, mas não diz não para seu amigo.

— Estamos indo Kakashi-sensei, deixei seu Icha Icha na mesinha do lado. - Antes de ir ela aperta minha mão fazendo um carinho como forma de dizer tchau enquanto Naruto só acena com seu braço enfaixado e os dois vão embora conversando. Eu fico olhando para minha mão.

— Kakashi você é um degenerado.

(...)

Eu estava na frente da porta dela, a dor não persistiu, mas aqui estou eu a três passos da porta da minha aluna. Ontem eu me reprimia e hoje continuo cometendo mais erros que falei que não faria mais. Dou quatro batidas na porta e espero, escuto seus passos e a entrada deixa de ser bloqueada pelo objeto retangular de madeira.

— Kakashi-sensei? - Seu cabelo estava bagunçado e usava roupas leves, acho que estava dormindo, justificável pois ainda era manhã. Quando recebi minha alta caminhei em direção a sua casa de maneira quase automática.

— Yo, Sakura-chan. - Cumprimento em um aceno. Ela ainda esperava respostas pela minha presença com uma cara fechada, Sakura é ranzinza pela manhã, tinha esquecido disso, desde criança ela era assim, não podiamos falar com até certo horário. Seguro a risada da minha lembrança. - Vim cumprir minha promessa, hoje a noite vamos sair, comprei dois ingressos para uma peça que será exibida essa semana. Venho lhe buscar às sete, tudo bem? - Ela murmura algo e acredito que tenha sido um sim. - Volte a dormir cerejeira, ainda é cedo. - Me despeço e vou embora.

Caminho em direção a minha casa, assistir uma peça não era algo ruim, tentava me convencer. Hoje estava de folga o dia todo, teria que ocupar minha mente até o horário, já estou pisando fundo demais, não há o que fazer, vamos só não ir adiante com essa relação, somos aluna e professor, apenas. Enquanto andava aproveitei para comprar algumas coisas que faltavam em casa, legumes, carne e entre outros.

Assim que cheguei em casa comecei a arrumá-la, espanei, limpei, deixei o ambiente arejado, não era especialista, mas sabia me virar e logo em seguida fiz meu almoço e a manhã passou, mas a tarde eu apenas fiquei lendo até dar o horário de me arrumar. Meus dias de folga sempre eram assim, silenciosos e monótonos, não vou dizer que é uma rotina invejável, mas era minha rotina.

Vesti uma camisa cor creme com uma gola canoa, mas usava a regata anbu onde a gola não acabava no meu pescoço e sim ia até o meu rosto formando a máscara que usava, assim, meu peito não ficava exposto. A manga era longa, porém deixei ela até a altura dos cotovelos. Dessa forma, completei com uma calça um pouco mais formal e um sapato fechado. Me olhei no espelho, sem mais a bandana eu percebi que meu rosto estava em maior exibição, me lembrando os tempos de chunnin. Eu parecia mais jovem, isso era bom, pois quando eu andasse ao lado de Sakura as pessoas não ficarem tão incomodadas.

Caminhei até a casa de Sakura com calma, estava adiantado e também não ia apressar-la, quando eu cheguei esperei um tempo até a porta abrir de surpresa e eu ver me aluna me olhando de forma cínica.

— Atrasado! - Ela grita, mas não estava verdadeiramente brava. Ela usava um vestido de tubo simples, o cabelo curto tinha um trança presa por um laço que foi possível de ver quando ela se virou para fechar a porta da sua casa.

— No caminho tinha uma senhora que me pediu ajuda e-

— Mentiroso. - Ela fala sorrindo em desafio.

— Vamos? - Ela assente e caminhamos tranquilamente na rua. Mantive uma certa distância, mas vez ou outra reparava um olhar questionador de alguém na vila. Afinal, o time 7 é conhecido, poucos são os que não sabem que Sakura é minha aluna. Nossa relação é mais pública do que eu imaginava, dei mais um passo para o lado, me distanciando.

— Sobre o que é a peça? - A rosada inicia a conversa.

— Parece ser de um livro famoso que conta a história de dois ninjas de vilas inimigas que se apaixonaram. Ouvi que estava bem feita e resolvi dar a chance. -

— Hummm, romance proibido então? Espero que tenha um final feliz, estou cansada de ver romances trágicos. - Olho de canto do olho para a rosada, ela falava olhando de forma séria para frente. Sabia no que pensava, ou melhor, em quem pensava.

— Eu também. - O rosto sorridente de Rin aparece vagamente em minha mente. Caminhamos em silêncio até o teatro, entregamos nossos ingressos e fomos para os nossos lugares. Não demorou muito e a peça começou.

— Oh lua! Apenas você me escuta no silêncio da noite, ouça-me mais uma vez! - Uma ninja de cabelos castanhos iniciou a fala assim que as cortinas abriram.

— A lua não vai poder responder a você querida… - Um homem encapuzado aparece segurando uma lâmina e os dois iniciam um diálogo perigoso. Pareciam que iam lutar a qualquer momento, mas isso não acontece, eles só conversam.

A peça prosseguiu, vimos os ninjas conversarem todas as noites, enquanto de dia ocorria o desenrolar da guerra com outros personagens. Em suas vilas os ninjas inimigos eram muito respeitados, com altos cargos e casamentos arranjados sendo feito, mas a paixão crescia nos inimigos.

— O sol vai aparecer. - O homem falou e nisso a mulher de cabelos castanhos o abraça.

— Não vá, estou cansada de você lhe amar apenas durante a noite. O sol também tem direito de ver nosso amor… - Ela diz meiga e o outro ninja fica em silêncio.

— Você sabe quem eu sou? Eu- Antes de falar algo um beijo é roubado.

— Eu sempre soube de que vila você era e isso não diminuiu meu sentimento. Eu não sei o que vai acontecer daqui pra frente, mas eu sei o que sinto e sei que é verdadeiro. - Os dois se declaram e passam o dia juntos.

A trama foi prosseguindo e parecia que o destino era contrário aos dois. Até a chegada da guerra, os dois amantes estavam na linha de frente de suas respectivas vilas, os dois sabiam que teriam que lutar até a morte, mas não fugiram. Eles foram os últimos que restaram de pé, cada vez que as lâminas se encontravam era uma lágrima e no fim os dois acertaram o coração de cada um. Morreram juntos.

A peça acaba mostrando que as vilas se tornaram aliadas e que nunca ninguém soube do amor daqueles dois ninjas. Aqueles que colocaram o dever na frente do amor. O sacrifício deles, ou melhor, a batalha deles só mostrou que guerras eram inúteis pois ninjas talentosos morriam muito cedo.

— Sem final feliz por aqui também. - Olho para o lado e a cerejeira estava apática, olhava para o teatro sem sentimento algum. Sinto que se não estivesse de máscara, estaria com o mesmo rosto. Os atores agradeceram os aplausos e o teatro foi se esvaziando. De fato a peça foi bem feita, mas não foi capaz de agradar nós dois.

— Vamos indo, ainda é cedo, podemos comer algo aqui por perto. - Me levanto e ofereço a mão para Sakura, ela aceita e se levanta com a graça de uma shinobi. Caminhamos para fora do teatro com uma distância um pouco menor do que a do início da noite.

— Ne Kakashi-sensei, vamos parar aqui, a comida é gostosa. - Percebi que foi a primeira vez que ela falou meu nome na noite, mas estava com o sufixo. Ignoro e olho para onde ela apontou, nada mais nada menos do que o boteco favorito de Tsunade-sama, olho com repreensão para Sakura, mas ela finge não notar e me puxa para o local repleto de bêbados.

— Uma garrafa de saquê acompanhada de espetinhos de carne para começar a noite. - Ela pede assim que senta. Apoio meu rosto coberto em minha mão de forma preguiçosa e observo o local. Era bom, de fato um boteco, mas havia locais reservados para conversar como pequenas salas, eu e Sakura estávamos nessas mais reservadas.

— Temo que Tsunade-sama não é uma boa influência por completo. - Sakura me serve um copo de saquê e depois se serve. Eu encaro a bebida

— Eu não sou mais criança Kakashi, era melhor ela me ensinar a beber do que eu descobri sozinha até onde meus limites vão. - Assim que ela termina de falar eu a encaro profundamente. Ela não falou o sensei… Perigoso, muito perigoso… Na sala privada, de maneira delicada eu fecho as cortinas que tinham, Sakura fica arisca, mas a única coisa que faço é abaixar minha máscara e pegar o copo. Ela me encarava fascinada e de boca aberta, era engraçado.

— Realmente, você não é mais criança Sakura. - digo por fim, brindamos e iniciamos a bebedeira.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.