Mais uma manhã raiava no pequeno flat de Molly Hooper. Ela nunca imaginou estar tão disposta ao acordar cedo, ainda mais acordar para ver gente morta, mas a legista tinha um sorriso nos lábios e ela sabia muito bem a razão daquilo. Ela passou parte da noite e início da madrugada conversando com Sherlock, COM SHERLOCK! E foi uma conversa sem nenhum tipo de grosseria ou superioridade do detetive, eles pareciam realmente que estavam interessados na presença um do outro. E os beijos? Ok, não foram muitos e Molly não queria parecer uma garota grudenta que não dá espaço. Sentia que finalmente sua relação com o detetive mudou. Finalmente ela era alguém na vida dele. Claro que o moreno não falou que eles eram algo definitivo ou alguma nomenclatura como namorados e ela nem esperava que ele o fizesse, mas foi bom curtir o momento que ela teve com ele, foi natural muito mais do que ela imaginava, estava tão radiante que não conseguiu se lembrar que horas veio para o quarto ou quando pegou no sono. Mas lembrava de detalhes lindos como quando ficou vendo Sherlock descontraído puxando o queijo da pizza enquanto ria, ou dele lhe oferecendo bebida e confessando que ama guaraná. Quão intimo era isso!? Muito mais do que qualquer compromisso que poderia ou não surgir.
Ela se levantou cantarolando e olhou para o chão, porém Sherlock não estava lá novamente na cama improvisada, “tudo bem”, pensou ela “ele não tem obrigação de dormir no meu quarto”. Se dirigiu então para sua rotina de arrumar-se, tomar café e ir ao trabalho. Só quando desceu para a sala que tudo ficou tenso e completamente nebuloso. A legista não viu Sherlock também na sala, ou nos outros cômodos próximos, os papéis na parede da sua linha de pensamento sobre Moriarty estavam intactos e na cozinha não havia também sinais de que tomara chá, aonde será que ele havia ido? Uma pontada de preocupação lhe passou a mente, afinal Sherlock tinha sido declarado morto, não pode simplesmente sair andando pelo bairro ou sequer pela cidade.
— Sherlock? – tentou aguardando uma resposta positiva de que ele estava em algum local. Mas nada de respostas. Subiu ao terraço verificar o jardim e também vazio, bom, exceto por David que logo cedo brincava com as plantas. Isso não estava soando nada bem, Molly correu de volta para casa e rapidamente buscou o celular e já procurava o número do detetive.

“Cadê você?” – MH

Ela já estava afobada em prazo de segundos, depois até lamentou “nem bom dia eu dei”. A resposta demorou a vir uns 10 agonizantes minutos que ela ficou segurando fortemente o celular.

“Com Mycroft, depois nos falamos” - SH

Isso não era bom, isso não era nada bom. Na verdade isso era péssimo e para variar ela estava com o horário gritando para pegar o taxi e ir trabalhar. Embora com pensamento a mil, ela tinha que manter as aparências não é? Esse era o plano inicial. Respirou fundo, pegou suas coisas e partiu para o trabalho.
Foi o dia mais longo que Molly já teve no trabalho, nada parecia ter fim e ela nem tinha concentração direito para realizar devidamente seu serviço. Pensou várias vezes ao dia em enviar outra mensagem a Sherlock, mas quem era ela para fazer esse tipo de coisa? Teria que suportar a preocupação e conversar com ele quando retornasse em sua casa. Passada as tortuosas horas ela pegou rapidamente o taxi para casa, ansiosa e nervosa com o que poderia ser que Mycroft queria com o irmão mais novo.
Abriu a porta com as mãos tremulas na chave e entrou tropeçando na sala, e já visualizou dois homens sentados no cômodo.
— Olá – ela disse timidamente enquanto processava, mas já esperando o pior.
— Senhorita Hooper, boa noite – cumprimentou Mycroft, cordialmente. Sherlock apenas a olhou, movimentando de leve os lábios num “tudo bem” enquanto ela se aproximava.
— Está tudo bem? – Molly jogou direto nas palavras, estava nervosa.
— Tudo conforme planejado – foi Mycroft que respondeu novamente, embora a legista olhava somente para Sherlock. – Queira se sentar Senhorita, irei repassar a informação que tenho rapidamente, meu irmão e eu não temos muito tempo, já que teremos que pegar o avião dentro de duas horas.
— O que? – Molly estancou com aquilo. – Sherlock? – ela continuava a olhá-lo, no entanto ele permanecia sério e apenas concordou um sim de leve com a cabeça e se levantou para oferecer o local que estava.
— Sente-se, Molly – falou pela primeira vez, sua voz parecia embargada, Molly notou. Ela sabia notar bem melhor Sherlock mesmo com pouco tempo convivendo juntos.
— Posso conversar com Sherlock, a sós, Mycroft? – Molly não havia se sentado ainda e aguardava em pé a resposta do Holmes mais velho.
— Não há necessidade – disse ele apontando o sofá aonde Sherlock havia concedido espaço para ela sentar – A missão de Sherlock começa daqui a pouco, conseguimos organizar um esconderijo perfeito e partiremos daqui a pouco. Há muito a fazer senhorita Hooper e nenhum tempo a perder, achei até melhor que isso ocorra agora, assim danos sentimentais podem ser evitados – ele olhou Sherlock e depois Molly novamente com desdém. Molly já tinha os olhos lacrimejados e não sabia que palavras usar.
— Façam as devidas despedidas, aguardarei no carro querido irmão. Boa noite senhorita. Mycroft saiu do flat sem delongas deixando Molly sem ar, em pé e em ponto de lágrimas enquanto Sherlock apenas esticou a mão novamente.
— Vem cá?