Quando chegou aquele tempo, logo percebeu que havia cometido um erro. Não estava no ano em que deveria estar, no qual o daria respostas sobre o novo vilão e o porquê de ele estar querendo matar sua noiva. Ele precisava salvá-la, ou sua vida já não faria sentido algum, e por isso deveria ter voltado a correr, mas foi impossível ao ver uma mulher conhecida ao lado de uma criança ruivinha que sorria de forma contagiante. Ela o lembrava muito sua amada mãe, e por saber quem era a acastanhada que segurava sua mão, não conteve a vontade de segui-las, de longe, tomando cuidado para não ser visto. Foi só quando elas pararam em frente a cafeteria onde fazia seu café-da-manhã todos os dias antes de começar a morar com Iris, que percebeu que era natal. Como não percebeu antes as várias luzes por toda a cidade, os enfeites, as árvores decoradas? Ambas adentraram, sentando-se em um local onde pela janela ele poderia observá-las melhor. Imediatamente seus olhos se focaram na criança, na qual o fazia pensar em sua mãe cada vez mais. Ela tinha olhos claros, no mesmo tom de verde de seus olhos, cabelos ruivos, pele clara. Em seus cabelos haviam duas fitas prendendo-os em duas marias-chiquinhas e tampando seu corpo, um vestido branco com flores vermelhas estampando-o, nos pés, sapatilhas da cor das flores. Pelo tamanho, Barry daria cinco anos a ela.

Quando desviou os olhos para a mulher ao lado da garotinha, imediatamente sorriu. Caitlin Snow não havia mudado nenhum pouco. Ela tinha o mesmo sorriso encantador, os mesmos olhos brilhantes, e imaginava que não fosse apenas pela conversa animada com a menina, mas também por aquele feriado lindo e mágico no qual era seu preferido. Ela usava um vestido semelhante ao da pequena, mas um pouco menos rodado e de alças pouco mais grossas, nos pés, sapatilhas idênticas. Só naquele momento ele percebeu que elas estavam no estilo mãe e filha, e por um momento, se perguntou se sua amiga finalmente havia conseguido se casar e ter o filho – no caso filha – que sempre sonhou. Ficaria muito feliz por ela, se tivesse mesmo acontecido.

A imaginou em uma casa de cercado, com um lindo jardim atrás, onde haveria uma casinha para o cachorro no qual o pai daria a filha de presente, a imaginou montando e decorando a árvore de natal junto a família, com um sorriso lindo no rosto, a imaginou pensando em cada detalhe de cada um dos aniversários da filha, mesmo antes de ela nascer, como uma ótima perfeccionista que era, e mesmo assim, sendo rigorosa quando necessário, para que a criança não fosse mimada. E ele gostou do que imaginou, cada detalhe, principalmente porque sempre torceu pela felicidade de sua médica preferida.

De repente viu a menina correr até a porta dos fundos do estabelecimento, e não pode deixar de arregalar os olhos ao perceber que a pessoa na qual ela abraçava naquele momento era ele, um pouco mais velho, mas que era difícil não reconhecer. Ele tinha um sorriso no rosto enquanto se levantava com a criança em seus braços, lhe dando um beijo no rosto. A próxima coisa que o fez ficar paralisado e se esquecer de respirar por um momento, foi a palavra que saiu dos lábios da garotinha.

“Papai”

Ela havia o chamado de pai, o que queria dizer que ele era o pai dela. Ele era pai de uma garotinha e por isso ela o lembrava tanto a sua mãe. Se emocionou imediatamente, mas que não durou tanto, pois inteligente como era, imediatamente se perguntou o porquê de ela estar com Caitlin e não com a mãe dela. E a resposta veio como uma bomba estourando em sua cabeça, ao ver a acastanhada andar até ele e lhe dar um beijo cálido nos lábios, como se aquela ação fosse feita todos os dias. O viu sorrir para ela e pegar em sua mão, dizendo algo que mesmo que pudesse ler seus lábios, não conseguiu acompanhar. A surpresa, o susto, o choque era maior do que qualquer coisa naquele momento, até mesmo que a emoção de ter uma filha em algum momento de sua vida.

Como aconteceu?

Quando aconteceu?

Por que não estava com Iris?

Onde estava o amor que sempre sentiu por ela desde menino?

Não conseguia compreender, e isso estava o deixando louco. Mesmo assim se obrigou a acompanhar o casal, que andava felizes de mãos dadas, enquanto que um deles ainda carregava a filha deles. Ela tagarelava como a mãe, e mesmo assim Barry não conseguia acompanhar. Seus olhos focados nos pais dela. Em algum momento enquanto os seguia, percebeu que eles haviam chego a casa de Joe, seu pai. Adentraram e se pôs na janela, de forma que pudesse ver aquela família na qual ele ainda não acreditava que havia acontecido realmente. A garotinha correu para Joe, dizendo um animado “vovô”. Ele a pegou nos braços, lhe deu um beijo no rosto e sorriu para o casal atrás dela.

E então sua atenção se focou em Barry e Caitlin novamente. Não diria que jamais se imaginou com sua médica, pois havia se encantado com ela a anos atrás, quase se envolveram romanticamente, mas as coisas seguiram um rumo diferente e ele continuou amando Iris. E por isso não conseguia entender o que aconteceu para deixar a única mulher que um dia amou, para ficar com a que sempre esteve ao seu lado desde que acordou do coma. Tinha que ter uma resposta, e por isso ficou por mais tempo, mesmo sabendo que deveria seguir para o tempo certo.

— Estão atrasados. – O mais velho diz ao casal.

— Culpe ao seu filho, Joe.

O rapaz revirou os olhos.

— Ele tem a velocidade ao seu favor, mesmo assim continua se atrasando.

— Eu não me atrasei no dia em que nossa filha nasceu.

— Se o fizesse, eu teria te chutado para fora da sala de parto.

E então o West riu.

— Você não teria coragem.

Os olhos claros da Snow dizia que sim, ela o faria, e todos, inclusive o Allen do passado, acreditou em suas palavras.

— Quando vou poder abrir meus presentes?

— Na manhã de natal, querida.

— Mas ainda vai demorar, mamãe. – Reclamou, fazendo um biquinho.

— A ceia está pronta.

Barry então percebeu a presença de Cecile, e ao lado dela, seu amigo latino, que adentravam juntos a sala de estar.

— E eu ajudei.

— Ajudou o quê? A comer?

Os outros riram, enquanto viam o latino abaixar os ombros, fingindo estar triste.

— Podia pelo menos entrar na minha mentirinha, né?

E dessa vez apenas a criança riu.

— Mentir é fio, tio Cisco.

— Sim, filha, é muito feio. – O pai concordou.

— Vai ficar sem biscoitos.

— O que? – Olhou para a criança, fingindo indignação. – Vai me negar biscoitos? – Começou a se aproximar, enquanto a menina se encolhia nos braços do avô. – É isso mesmo?

E a pequena gritou, alto e extremamente fino, ao sentir as mãos do tio sobre seu corpinho, lhe fazendo cócegas.

— Peça perdão por isso e eu deixo você sobreviver.

— Pede você, tio Cisco, por mentir.

E os outros que estavam em volta riram, principalmente com a feição incrédula do latino.

— Quem é que está te ensinando a falar assim?

— Você, ué.

— Você é uma ótima influência. – Caitlin diz, em deboche, vendo o amigo lhe fuzilar com os olhos. – Felicity mandou um abraço, Joe. – O ignorou, se voltando para o sogro. – E Mia também.

— Queria tanto que a Mia estivesse aqui. – A pequena ficou tristinha de repente.

— Oh, Bella, você a verá no ano novo. – A pegou dos braços de seu pai. – É uma promessa.

— E o presente dela?

— Entregamos quando a vermos, filha.

A ruivinha fez um biquinho.

Meus padrinhos podiam ter vindo, que injusto. – Remungou.

— Por que não vai ajudar Cisco e seus avós com a decoração dos biscoitos?

— Eba!

Imediatamente correu para a cozinha, sendo seguida pelos avós.

— Primeiramente, ainda não me conformei em chamarem o Queen para ser o padrinho da Arabella, e segundo... – Fez uma pausa curta. – Eu só irei para a cozinha porque não quero ver pornô ao vivo.

E então no instante seguinte, Caitlin pegou a primeira coisa que viu em sua frente e jogou. Se aliviou imediatamente ao perceber que não era nada de vidro ou de porcelana, era apenas um bichinho de pelúcia.

Barry realmente não achou que se encontraria mais surpreso do que já se encontrava, mas estava enganado. O momento do casal foi o estopim para deixá-lo totalmente em choque. Os beijos mais ousados, as mãos bobas, as várias vezes que ouviu um dizer ao outro que o amava, a forma como acariciavam um ao outro, tão íntimos que o fazia não ter mais dúvidas sobre o que eles eram um para o outro, mesmo que tivesse percebido a aliança no dedo de ambos, precisou daquele momento para que o fizesse acreditar de uma vez por todas que ele estava casado, totalmente casado, com Caitlin Snow.

Eles eram apaixonados, sentia isso em todo o momento em que presenciou os olhares que trocavam, os beijos apaixonados, os toques, as carícias, as palavras. Tudo neles dois exilava o amor que sentiam um pelo outro, e Barry se surpreendeu, porque mesmo que amasse Iris mais que tudo, eles nunca haviam sido tão sintonizados quanto o casal a sua frente. E por algum motivo seu peito se aquecia. Quanto mais presenciava os momentos de ambos, ou deles com a filha deles, mais ele sentia seu peito aquecer, seu coração tamborilar, suas mãos suarem. Tudo em si mudava em poucas horas de apenas observar aquela família linda a sua frente.

Ele viu o momento em que trocaram os presentes, o momento em que o Barry deu um lindo colar a esposa e lhe deu um beijo após ouvir um obrigado, o momento em que a garotinha gritou ao ver os patins que havia ganho de ambos os pais, que sorriram com sua animação e felicidade, o momento em que a senhora Allen entregou seu presente ao marido que inacreditavelmente encontrou um sapatinho de crochê amarelo dentro da caixinha pequena e quadrada e o exato momento em que completamente feliz, a pegou nos braços e a rodou, mesmo que diante de todos, demonstrando o quanto aquela noticia havia o deixado afortunado.

Ela estava grávida.

Ela estava grávida.

Ela estava grávida.

Aquela frase repetiu várias e várias vezes na mente do Barry Allen, que não conseguiu ficar de pé, ainda observando a família pela janela. Sentou-se no banco de madeira que havia a poucos passos de onde estava, surpreso demais para conseguir pensar em voltar para seu tempo antes que fosse pego. Eram coisas demais para digerir, e mesmo assim, a felicidade daquele Barry não saía de sua mente. Ele estava feliz, mesmo que sua esposa não fosse a mulher que sempre amou naquela vida. E isso era o que mais importava. Não era?

Não conseguiu deixar de sorrir ladino, por pensar em sua família, aquela que estava a poucos passos dele, dentro da casa na qual morou desde os sete anos. Ele tinha uma esposa linda, carinhosa e que o amava, uma filha perfeita e dentro da barriga da mulher que amava, um filho, pelo jeito, muito esperado e amado.

Ouviu passos e achou que era a hora de ir. De voltar para seu tempo, mesmo que tivesse a certeza de que sua vida não seria a mesma após descobrir todas aquelas coisas, depois de descobrir uma outra felicidade, com outra pessoa, mais especificamente sua médica pessoal preferida. Como conseguiria olhar para sua noiva após tudo que presenciou naquelas horas? Como conseguiria olhar nos olhos de Caitlin e não se lembrar de que viu a ele mesmo a beijando e a tocando, de forma íntima? Como viver uma vida já planejada, após ver toda aquela felicidade que aquele Barry sentia com Caitlin Snow?

Seria uma loucura. E não sabia se era o certo apenas deixar o destino seguir com seu curso, mesmo que soubesse que aconteceria de alguma forma, já que estava a alguns anos no futuro.

Quando percebeu estava novamente no Star Labs, e todos que havia deixado para trás, ainda se encontrava ali, a sua espera. Joe, Caitlin, Cisco e Iris. A imagem daquela cena ainda estava fresca em sua mente e por isso imediatamente seus olhos se focaram em sua médica, que parecia tão ansiosa quanto todos os outros. Sabia o porquê e o que esperavam de si, mas infelizmente não teriam uma resposta favorável, e naquele momento, aquele detalhe não o preocupava. Não deixaria Iris morrer, mas também não deixaria de pensar em sua outra vida, a que ele viu acontecer mesmo que por poucas horas. Alguma coisa após ver aquele casal, o mudou lá dentro, não sabia ainda o quê, mas sabia que descobriria em algum momento.

— E então? Como foi? – Cisco perguntou, afobado.

— Encontrou o que precisava? – Caitlin completa.

— Bom...

— Não? – Joe estava decepcionado.

— Na verdade, estive no futuro errado. – Confessou.

Os outros suspiraram, inclusive sua noiva.

— E o que ficou fazendo lá? – O Ramon não consegue se conter.

— Observando uma família comemorando o Natal. – Sorriu de repente ao se lembrar daquelas pessoas, as mesmas que estavam em sua frente naquele momento, com exceção de Iris.

— Só isso? – Revirou os olhos, bufando em seguida. – Perda de tempo.

— E agora?

— Ficará tudo bem, Iris. – Prometeu a sua noiva que foi abraçada pelo pai; era tão estranho ele pensar naquela palavra após tudo que viu a pouco.

— Você está bem?

Caitlin o conhecia bem, e por isso não se surpreendeu ao vê-la se aproximar e perguntar, preocupada.

— Estou. – Lhe sorriu. – Valeu a pena ver aquele natal.

— Por que? O que havia de emocionante?

— Muita coisa, Cait.

Ela ficou confusa, mas sorriu.

— Você vai me contar?

— Quem sabe um dia? – Piscou, pensando no presente que era ver um pouco de seu futuro, mesmo que não pudesse contar a ninguém.

Era um verdadeiro presente de Natal, pensa sorrindo, ainda olhando nos olhos âmbar de Caitlin.