Um Anjo Protegido

Capítulo Catorze


Não me pergunte como fui parar num quartinho mal ventilado, porque não sei como. Acordei no outro dia, bastante sobressaltada, perguntando-me onde eu estava.

Da noite passada, lembro-me apenas de estar correndo na rua principal do condomínio de Bennie, fugindo do incêndio. Analisei meu braço direito e vi uma faixa atravessada sobre ele. Levei meu dedo indicador até ele e toquei a faixa com tal cuidado.

— Ai. — Gemi, sentindo uma queimação veemente. — Droga!

Ouvi a risada divertida de Jimmy.

— Não toque, Bells. É uma queimação grande. — Jimmy disse, com o cotovelo encostado no pequeno parapeito da pequena janela que mal nos iluminava.

— É, eu percebi. — Sorri, fazendo uma cara de dor. — Como vim parar aqui?

Seus olhos verdes analisaram cada canto o quarto e logo olhou para mim.

— Tubo bem... Você parecia um zumbi na noite passada.

Fiz uma careta para ele.

— Você parecia sonâmbula.

— E ai?

— Eu costumava vir aqui quando era vivo. — Pausou, observando as paredes esverdeadas. — Sempre brigava com meu pai, então vinha pra cá.

— Como me deixaram entrar?

—Normalmente. Você estava estranha, mas disse que precisava de um quarto e... Pronto. — Ergueu os ombros.

— Simples assim? Eu fiz isso e nem me lembro... — Minhas sobrancelhas se arquearam.

Ele assentiu.

— Certo. Você é meu anjo da guarda. Deveria me tirar de confusões. E não me colocar em mais confusões. Meu pai deve estar louco! Louco! —Sentei-me na cama, mordendo uma maçã que estava no prato ao meu lado. — Obrigado, estou faminta.

Um sorriso enviesado — sem malícias — surgiu em seus lábios.

— Uma das vantagens de ser fantasma, é que eu posso pegar as coisas emprestadas e nunca devolver. — Sua voz era amável.

Mordi mais uma parte da maçã e imaginei como seria quando eu chegasse em casa.

“Abro a porta, tento andar com passos silenciosos. Meu pai me vê, grita, manda eu fazer minhas malas e me manda para a fazenda da Vovó”.
Perfeito. Perfeito!

Minhas dores só deram sinal de vida mais tarde, quando ficou impossível mexer meu braço direito e minhas pernas. Não tinha noção do que diabos havia acontecido com minhas penas, mas acho que foi pela correria que eu arranjei para sair do condomínio. Eu sou sedentária, mas não achei que fosse doer tanto, praticar um pouco de corrida.

— Eu preciso ir para casa, Jim. — Me levantei num pulo, tentando encontrar forças para sustentar minhas pernas. — Não posso ficar aqui para sempre.

— Olha só...Você está sem grana e não pode dar nem dez passos, porque daqui até sua casa é muito longe. Eu quero que você fique aqui. Espere até amanhã. — Percebi segundas intenções em seu olhar.

— Você nunca muda, não é? — Dei meu melhor sorriso para ele.

— Nunca. — Seus olhos brilharam e me olharam de jeito tentador.

É claro que Jimmy nunca mudou. Sempre teve um poder de sedução impecável, que poderia fazer até mesmo Paris Hilton ajoelhar aos seus pés.

Joguei minhas cobertas para o chão e estiquei minhas pernas nuas, a fim de que ele viesse me ajudar.

Calma. Eu queria apenas um copo de água.

— Aonde vai?

— Preciso de água. — Pedi, sentindo minha garganta seca.

— Já volto. — Sorriu espertamente e sumiu.

Fitei o teto branco e a luz fraca, perguntando-me como meu pai estaria. Sacudi a cabeça, afastando-me desse pensamento preocupante. Minutos depois, ele voltou com um jarro e um copo. Rapidamente, matei minha sede com três copos d’água e logo disse:

— Você até que se dá bem como médico. — Elogiei, sorrindo satisfatoriamente.

Ele me olhou de soslaio.

— Me dou bem em várias coisas. — Gabou-se.

— Mesmo morto? — Pressionei meu dedo indicador em seu ombro.

— Mesmo morto. — Confirmou, olhando severamente nos meus olhos. — Mesmo morto, ao menos uma coisa me aconteceu.

Aproximei-me dele, esperando que ele tomasse a iniciativa que eu tanto ansiava.

— Você. — completou, com seu habitual sorriso. Malicioso e de tirar o fôlego.

Eu vestia uma calça jeans com uma lavagem escura — que me incomodou muito, porque era meio difícil tirá-las por causa das minhas dores e porque Jimmy sempre estava por perto — uma blusa de mangas longas, com listras pretas e brancas acompanhada por botões e um tênis branco, que a propósito estava imundo. Abaixo de toda essa roupa, eu estava fervilhando. Eu sentia um calor incontrolável ferver dentro de mim. Como que se eu estivesse dentro de um forno.

— Não diga isso para desaparecer outra vez, Jimmy. — Pedi. Minhas palavras tropeçaram para fora, enquanto eu tentava tirar proveito da verdade nos olhos dele.

— Belatriz...

— Não faça isso. — Fechei os olhos, derrotada.

Uma gargalhada abafada escapou de seus lábios, enquanto ele dava ligeiros passos na minha direção.

— Eu não vou, Bells... — Seus lábios moviam livremente pelo meu pescoço, de um lado para outro.

— Promete? — Entrelacei meus dedos aos dele.

— Prometo. — sua voz aveludada e seu hálito fresco de menta escoaram pelo meu ouvido esquerdo.

Respirei fundo e logo me senti abrangida em seus braços. Eu sentia tanta saudade dele, que era até difícil descrever as sensações que rodeavam todo meu corpo. Eu tinha saudade de sua pele, de arranhar carinhosamente sua nuca com a ponta das minhas unhas, de sentir seu perfume.

Certo, eu não sabia se o cheiro dele era um perfume, porque mortos não devem ter cheiro, mas o cheiro de Jimmy era algo humano e natural, que ficava colado na pele dele e sempre aromatizado no meu nariz, sempre quando eu pensava nele.

Sua mão repousou na minha nuca — buscando controle da minha cabeça — e logo seus lábios atacaram os meus. Fui percebendo, que, de acordo com que a nossa pressa ia diminuindo, nosso beijo se tornava carinhoso e gentil.

Mordi seu lábio superior por milésimos e o soltei, dando um sorrisinho satisfatório. Fechei meus braços em seu pescoço e suas mãos se fecharam nas minhas costas, acarinhando-as.

Minhas pernas se fecharam em torno da sua cintura e adquiri equilíbrio, mesmo sabendo que a qualquer momento eu poderia estar rolando no chão com ele. Jimmy não parava de me beijar. Era incansável para ele. Interrompi o beijo, respirando a arquejos e mesmo assim seus lábios passeavam em torno do meu pescoço. Nos deitamos na cama de casal e mantive minhas pernas presas em sua cintura. Afaguei meu rosto em seu cabelo preto, sentindo o contorno de nossos corpos se encaixarem perfeitamente.

— Finalmente. — Ele murmurou ofegante, abrindo três botões da minha blusa.

Certo. Eu não era especialista no departamento de amassos, mas também nunca tinha ficado tão nua para Jimmy, o que me provocou certo frio na barriga. E “nua par Jimmy” eu me refiro a ficar apenas de sutiã.

Apenas isso.

Seus lábios beijavam toda a área do meu colo — incluído uma parte muito próxima aos meus seios — quando não me contive mais. Minhas mãos não estavam estáveis, então tomei liberdade de retirar a jaqueta de couro, junto com a camiseta preta de Jimmy, e deslizar meus dedos pela superfície musculosa de seu peito quente. Minha blusa foi parar no chão numa questão de segundos. Inclinei minha cabeça para enchê-lo de beijos, no pescoço, na nuca e voltando para seu ombro enquanto ele percorria suas mãos nos meus seios e na minha barriga.

Num instante, Jimmy me olhou com um sorriso sonhador e com o brilho de seus olhos verdes realçado, o que me fez abraçá-lo com mais força. Suas mãos vieram a segurar meu rosto, acariciando meu cabelo.

— O quê? — Perguntei. — Tem alguma coisa em mim?

— Amanhã eu vou “pegar dinheiro emprestado” — Ele fez aspas com os dedos. — Não se preocupe, o máximo que seu pai poderá fazer é cortar sua mesada.

Pensei na fazenda da minha avó e em como seria se meu pai me mandasse pra lá.

— Ele deve estar surtando... — Passei minhas unhas vagarosamente em suas costas. — Não sei que desculpas dar, ou o que falar...

— Vai terminar tudo bem...

— Queria acreditar nisso... — Fechei os olhos, suspirando.

Ficamos calados por um bom tempo. Ora nos olhando, ora olhando o teto acima de nós.

Percebendo um pouco da minha aflição, Jimmy beijou meu pescoço e prendeu o lóbulo da minha orelha entre seus dentes.

— Eu te amo. — Sorriu para mim, dando meu sorriso favorito.

Sorri para ele e o puxei-o para junto do meu corpo outra vez. Suas mãos se apressaram, e logo começaram a abrir o botão do meu jeans.

Será uma longa noite... — Pensei.