Respirei fundo, esvaziando minha mente para não estrangular aquele homem agora mesmo, já que desde que cheguei ele não diz coisa com coisa. Primeiro diz ser amigo íntimo da minha mãe, sendo que nunca o vi na vida, e agora quer que eu vá falar com outra pessoa?

— Olha, o que o Rei de GoldLand tem haver com isso?

— Ex-rei - ele lembrou - esse posto agora é do Filipe

— Que seja - disse rispidamente - o único motivo de eu ter vindo até aqui é que me dissera que vocêcontaria o passado

— Só posso contar o que remete a minha história e isso eu já fiz

— Me ajudou muito por sinal - disse com ignorância

— Informações são tudo Mal e é exatamente o que eu estou lhe dando

Tomei meu próprio tempo, pensando se deveria seguir aquele homem ou não. E se ele estivesse mentindo? Eu me daria super mau indo confrontar um idoso real. Ben sempre diz que temos que preservar nossa imagem e mais um monte de coisas, mas, sabe de uma coisa? Eu ainda não sou rainha.

*Pensamentos de Evie*

Só de olhar para os outros milhares de livros que teria que ler, já me dava um cansaço fora do comum. Peguei a xícara ao meu lado para beber, mas ela estava vazia. Precisava de mais café.

Me olhei rapidamente no espelho e passei um pouco de gloss nos lábios, depois sai do quarto rumo ao refeitório, mas antes chequei meu celular, para ter uma ideia dos compromissos que iria ter com o Ben, mas logo que desbloqueie o aparelho azul marinho, fui bombardeada por milhares de mensagens e ligações perdidas, todas do Doug.

Respirei fundo, pensando se deveria retornar ou não. Um pouco de café antes não era nada mau né? Talvez até ajudasse. Andei mais rápido pelo longo corredor de quartos, alguns novatos do clube de férias me pararam para pedir informações, mas eu até que cheguei rápido.

Havia uma fila enorme para o lanche, mas eu usei meu privilégio como membro do conselho real e passei na frente de todos, me deliciando com uma enorme xícara de café quentinho. Bebi o primeiro gole e deixei o líquido escuro acordar tudo por dentro, me revigorando. Depois tirei o celular do bolso e o fiquei olhando por alguns segundos, até criar coragem o suficiente para ligar pra ele.

— Oi amor... - disse com uma voz doce, como se já estivesse me desculpando - bom dia!

— Bom dia, Evelyn - ele disse todo seco

— Me chamando de Evelyn? O que foi que eu fiz min?

— O que você não fez, né? Fiquei igual um idiota comendo uma pipoca gigante sozinho na sala de cinema

Levei a mão a testa e fechei os olhos. Tinha esquecido completamente! Nós tínhamos combinado de assistir o novo filme que está em cartaz, mas eu fiquei tão ocupada em uma reunião que acabei indo dormir acabada, nem jantei.

— Ai desculpa amor, eu esqueci completamente. Acabei ficando tão ocupada na reunião com o Ben que...

— Agora é tudo ele não é?

— Como assim? É meu trabalho Doug!

— É, mas ultimamente você só tá ligando pro trabalho, nem produz mais roupas como antes, a inauguração da loja teve até que ser adiada

— Mas isso foi decidido faz tempo, porque tá falando disso agora? O que aconteceu?

— Não dá pra discutir assim pelo telefone, precisamos nos encontrar pessoalmente

— Concordo, mando mensagem depois - respondi - e... Doug? Eu te amo, ok?

Aqueles poucos segundos de silêncio pareceram horas para mim. Doug é uma das pessoas mais importantes da minha vida, mas, ás vezes, sinto como se ele duvidasse disso.

— Eu também te amo Evie - ele disse antes de terminar a chamada

Fiquei olhando para a foto dele no meu celular, todo sorridente com seu paletó verde. Eu o amo demais e vou provar isso, não irei perde-lo.

*Pensamentos do Jay*

Cheguei no restaurante por volta de onze horas, o encontro estava marcada para meio dia, mas sabe como é, né? Tenho que chegar cedo e mostrar pontualidade. Arrumei a flor de centro algumas vezes, apenas garantindo que estava tudo em ordem.

Tirei mais um botão da camisa também, deixando o peito mais á mostra, as gatas se marram nisso. Se bem que... ela é diferente das outras garotas, normalmente não curte o mesmo que elas. Abotoei novamente o botão, me sentindo estranhamente inseguro com todo aquele dilema.

Olhei para o relógio e haviam se passado apenas 8 minutos, então resolvi jogar alguns jogos no celular para matar o tempo. Depois de alguns minutos, escutei um barulho esquisito, como um "aham", só que meio rouco. Ignorei, já que era um restaurante grande, e continuei jogando, já estava quase batendo o meu próprio recorde. Eu sou bom demais!

O meu personagem acabou caindo no buraco e eu perdi feio, bufei e coloquei o celular sobre a mesa, virado para baixo. Nesse momento ouvi o barulho de novo, ergui o olhar e encontrei Lonnie na minha frente com a testa franzida. Arregalei os olhos e tratei de levantar, para recebe-la direito, mas no ato acabei batendo na mesa e derrubando o vasinho das flores, espalhando terra por todo o pano.

— Lonnie... - disse com o melhor sorriso que consegui no momento, enquanto chamava o garçom com a mão, o qual veio correndo limpar a cagada que eu tinha feito - desculpa, eu tava tão distraído com o jogo que não vi você chegando, me desculpe

— Tá tudo bem - ela disse com um sorriso

Em um pulo fui para o outro lado da mesa e puxei a cadeira para ela. Depois que ela sentou eu corri para o meu lado e pedi ao garçom dois cardápios e ele saiu para buscar.

— Você tá muito bonita - eu disse

— Obrigada, você também está

— Pois é, o smoking é novo - disse - e bem caro por sinal, mas a situação é especial, então tudo bem

— Especial?

— Muito especial - joguei a cantada master, depositando um beijo em sua mão logo em seguida. Sou demais!

O resto encontro saiu como esperado, nós comemos sushi e eu me atrapalhei um pouco com aqueles palitos, mas ela segurou na minha mão e me ensinou como usa-los, nesse momento os nossos lábios estavam muito próximos e foi impossível não beija-la. Ela retribuiu, então acho que foi ponto pra mim.

Vez ou outra eu derrubava o sushi de volta no prato, mas em geral me sai bem, não tão bem quanto ela, que comia com uma destreza incrível, como se fizesse aquilo desde que nasceu. Espera... acho que ela faz né, afinal, ela é chinesa.

Quando terminamos eu a deixei em casa com a minha moto e nos beijamos mais uma vez antes de ela entrar no enorme casarão. Fiquei sorrindo que nem bobo, depois dei a partida e segui viagem, mais feliz do que em qualquer outro dia da minha vida.

*Pensamentos da Mal*

Peguei algumas roupas e as separei em cima da cama, não ia precisar de muita coisa já que não planejava passar mais de dois dias. Também fui no banheiro e peguei shampoo, condicionar, pasta de dente... essas coisas. Depois repassava tudo na cabeça, para não esquecer nada e tornar a viagem mais longa do que pretendia.

— Documentos! Eles são importantes - lembrei a mim mesma, antes de correr atrás dos mesmos

Nesse momento escutei leves batidas na porta, permiti que, seja lá quem fosse, entrasse. O que não esperava era ouvir uma voz que há tempos não ouvia.

— Alguém pediu uma mala de viagem nesse quarto?

— Lumière! - dei um grito, correndo para abraça-lo em seguida

— Vai com calma, estou velho e não aguento tanta emoção - ele disse retribuindo o abraço

— Não tem nada de velho - discordei rindo - continua bonitão

— Só você mesmo Mal - ele disse corando

— Então, vai fazer uma viagem? - ele perguntou me entregando a mala

— É... mas não é de férias - eu disse abrindo a mala e colocando-a em cima da cama

— E hoje em dia os jovens fazem isso? - ele brincou enquanto sentava em uma das poltronas - Se a viagem não é de férias, certamente é de trabalho

— É, acho que dá pra chamar assim - disse colocando a ultima peça de roupa na mala e fechando-a - te vejo quando voltar?

— Provavelmente, dessa vez espero ficar mais do que alguns dias

Abracei Lumière e ele se retirou. Liguei para Jane para confirmar se estava tudo certo com a minha passagem e ela me respondeu que já tinha enviado por e-mail, tendo a de ida quanto a de volta, para exatamente um dia depois.

Corri para a minha escrivaninha e abri o laptop, fiz o download dos arquivos e imprimi ali mesmo, é incrível a praticidade de toda essa tecnologia, não tínhamos nada assim na Ilha e, mesmo depois de três anos, ainda não me acostumei.

Enquanto pegava os papeis na impressora, escutei leves batidas na porta.

— Mal? - uma voz leve e conhecida soou do outro lado - Posso entrar?

— É... - escondi as passagens dentro de uma gaveta - pode é claro

Ben abriu a porta e entrou com o seu sorriso de sempre, fechando a mesma logo em seguida. Ele me beijou demoradamente e enquanto isso passou um braço e me levantou do chão, me fazendo soltar um riso abafado. Em seguida ele me colocou sobre a cama, depositando beijos em meu pescoço e em meu peito. Eu acariciei seu cabelo castanho e macio.

— Como foi a reunião? - perguntei - Eles pegaram muito pesado?

— O de sempre - ele disse passando os dedos pelo meu cabelo - como pensávamos eles abordaram a antiga lei, mas eu e Evie já estávamos preparados

— E então? - perguntei

— O julgamento vai ser na sexta e será transmitido da tv pública, as votações acontecerão no outro dia - ele disse já com um semblante sério - Scarlett será a representante deles

— Será um julgamento longo

— Estamos preparados - ele disse confiante

Ben tomou o tempo e levantar um pouco da minha blusa e depositar beijos em minha barriga, em quanto eu passava os dedos pela sua nuca, mas não o encorajei a continuar por muito tempo, sabia exatamente o que ele queria, mas não podia no momento.

— Na verdade... - disse abaixando minha blusa e expulsando sua mão delicadamente - tenho que fazer uma viagem

— Uma viagem? - Ben perguntou franzindo o cenho, visivelmente confuso - Como assim? Pra onde?

— GoldLand - respondi

— GoldLand? Vai tentar falar com a rainha Leah de novo?

— Então você soube? - perguntei enquanto ele se sentava

— Digamos que a carta desaforada que chegou no meu gabinete me deu uma ideia

— Ela mandou uma carta? Meu Deus...

— Ela é uma mulher idosa, já deixou o trono faz tempo, porque foi falar com ela?

— Achei que pudesse me contar alguma coisa que ajudasse no julgamento da Malévola, mas não adiantou muita coisa

— Então o que vai fazer lá, Leah ainda está em sua casa aqui na cidade...

— Não vou atrás dela - o interrompi - mas também não posso dizer aonde vou

— Assim fica difícil Mal - ele disse levantando-se, em um tom um pouco mais alto - ultimamente não quer me dizer mais nada, nós costumávamos ser um time

— E somos, ok? Mas preciso que acredite em mim quando digo que não precisa saber disso

Ben ficou me olhando por alguns segundos, pensando se deveria confiar em mim ou não, eu apenas o observei de volta, apreensiva com o que ele falaria em seguida, mas acabei me surpreendendo.

Até que ele começou a caminhar na minha direção, chegou próximo a mim e me beijou. Aquele beijo continha preocupação, eu conseguia sentir, mas não havia nada que eu pudesse fazer, não podia simplesmente esperar até sexta de braços, precisava fazer alguma coisa ou... pensar que estava fazendo.

— Quero que saiba que confio em você - Ben disse segurando em meus braços - nunca duvide disso

— Eu te amo, sabia?

— É... eu sei - ele respondeu sorrindo

— Convencido!

Ben e eu ficamos no quarto por mais algumas horas, nos divertindo a nossa maneira. Quando o horário do vôo se aproximou, ele mesmo foi me deixar no aeroporto, me beijou um milhão de vezes antes de finalmente permitir que eu embarcasse.

Em geral foi tudo tranquilo, a primeira classe era bem confortável e aconchegante, comi algum petiscos deliciosos que serviram. Passei a viagem pensando no que diria ao rei Stefan ou melhor, como chegaria até ele. Mas de uma coisa eu tinha certeza: daquela vez não sairia sem informações.