Senti meus olhos ficarem verdes, o poder instável dentro de mim, implorando para ser usado. Meus dedos chegavam a formigar, eu poderia ali mesmo me teletransportar de volta para GoldLand e matar Stefan, ninguém nunca saberia quem foi. E eu estava mesmo prestes a fazer isso, mas uma pessoa me interrompeu antes.

— Ei pequena - Diaval colocou a mão em meu ombro - vamos com calma, ok?

— Calma?! Como quer que eu tenho calma depois de tudo isso?! - gritei - Ele matou o meu irmão! Eu por acaso deveria estar sorrindo?

— É claro que não, mas também não vai sair e fazer justiça com as próprias mãos, isso só pioraria as coisas

— Ele tem razão - Malévola disse - não pode ir atrás dele, não vou permitir

— Antes tava quase matando, mas agora tá do lado dele? - indaguei - Eu não tenho mais...

— Cinco anos - ela completou minha afirmação - é eu sei, percebi isso. Mas é exatamente por esse motivo que você não deve ir lá, Stefan pode estar velho, mas ainda tem um exército poderoso e pessoas que prezam por sua vida

— Eu não ligo, sou mais poderosa

— Pense direito Mal - Diaval disse se aproximando - não seria melhor desmascara-lo na frente de todos? Mostrar que o ex-rei de GoldLand não é um anjo de bondade como pensavam?

Refleti sobre suas palavras, a raiva era tanta que não estava me permitindo pensar, mas ele estava certo, a morte é boa demais para Stefan, ele merece coisa pior, e será exatamente o que eu darei á ele. Mas antes, preciso me armar contra toda e qualquer carta que possa ser jogada contra mim.

— Mãe - me virei para ela. Um plano já em mente - preciso que me diga o nome de quem lhe deu o livro

— O que? - Malévola perguntou com a testa franzida

— O livro de feitiços que você me deu, quem deu ele pra você?

Ela suspirou, me olhando, como se estivesse decidindo se me diria ou não, mas no momento ela não estava exatamente em uma posição de fazer escolhas, era sua vida que estaria em jogo naquele maldito julgamento.

— Eu não posso, Mal - ela disse por fim - não posso lhe dizer

— Mas mãe...

— Não é que eu não queira - ele me interrompeu - é que... o nome dele não pode ser pronunciado em voz alta

— O que? - foi minha vez de ficar confusa

— Mas posso escreve-lo

Fiz um pedaço de papel e uma caneta surgirem em minhas mãos, estava curiosa quanto aquilo. Os entreguei a ela, para que escrevesse o nome desse alguém tão poderoso, que se quer pode dito sem causar algum tipo de catástrofe.

— Sem palavras - Malévola disse e eu a olhei confusa - não usou palavras para o papel e a caneta - ela explicou, recebendo o mesmo em suas mãos

— Consigo fazer aparecerem coisas pequenas apenas com as mãos, como na Ilha só que... melhor

— Auradon realmente libertou você - ela disse com um leve e quase imperceptível sorriso - tá mais forte, eu consigo sentir

Sorri de volta, depois a encorajei a escrever. Malévola apoiou o papel na parede e escreveu o tão poderoso nome, depois se virou para mim, com um semblante apreensivo, e me entregou o papel. Mas o que será que tinha naquele nome? Por que ela estava com tanto medo de dize-lo em voz alta? Mas, foi quando eu li o papel, que percebi o motivo de tudo aquilo.

"Rumpelstiltskin"

— Meu Deus...

**Pensamentos de Audrey **

Acordei com o barulho de coisas caindo no chão, franzi a testa e tentei me manter dormindo, mas não dava, até o mínimo ruído é capaz de me acordar. Levantei bufando, furiosa com aquele insulto.

— Mas o que foi, ein?! - perguntei

— Desculpe senhorita, eu... me disseram para deixar essas coisas aqui, mas acabaram caindo, eu... eu...

A mulher a minha frente vestia um dos vestidos de empregada, ela tinha o cabelo loiro e preso em um coque, mas alguns fios escapavam, caindo sobre seu rosto. Mas será que não existem mais empregados como antigamente? Que desleixada!

— Agora você me acordou, parabéns! - ela me olhou assustada - Vamos logo, saia daqui! Já fez exatamente o contrário do que foi mandada fazer, não é mesmo?

A mulher baixou o olhar e saiu quase correndo pela porta, eu sorri com a cena, toda encolhida e saindo na ponta dos pés, como um cachorro foge depois de levar um carão. Ridículo.

Levantei da cama e caminhei até minha penteadeira, olhei-me no enorme espelho, observando todos os traços perfeitamente retos e alinhados, o olhar profundo e intimidador de uma futura rainha, os lábios carnudos e poderosos, os cabelos... os mais bonitos de todo o reino, brilhantes como o sol.

— Você é maravilhosa Audrey - disse para a outra "eu" no espelho - um dia será uma rainha incrível

Penteei meu cabelo e fui até o banheiro. Tirei minha roupa e entrei na banheira pré-preparada com sais de banho e espuma, especialmente para o meu banho da tarde. A única coisa que me faz ainda relutar em entrar na água, é o fato de que algum empregado tenha tocado na banheira com suas mãos imundas. Mas a vida é feita de sacrifícios.

Alguns minutos depois, quando eu estava com minha cabeça apoiada, apenas aproveitando todo aquele relaxamento, fui interrompida novamente. Daquela vez era o meu celular, o aparelho vibrou mostrando uma mensagem. Balancei as mãos, tirando o excesso de água, e o peguei do chão, em seguida o destravei e percebi que era o Chad, bufei e revirei os olhos, mas resolvi ler, dificilmente seria importantes, mas milagres acontecem.

"Eles descobriram, ferrou tudo!"

Arregalei os olhos e sai da banheira imediatamente, peguei uma toalha e me enrolei, antes de responder.

"Como assim descobriram? Eles pegaram você?" - enviei
"Não, mas eles estão atrás do culpado" - ele respondeu de prontidão
"Não se preocupe, eles não vão nos pegar. Me encontre agora no esconderijo, estou indo pra lá"

Fechei o celular e caminhei para o quarto, joguei o aparelho com força contra a cama, não iria permitir que me plano fosse por água abaixo, não vou permitir! Nem que pra isso o idiota do Chad tenha que pagar o pato.

Depois de pronta, peguei as chaves do meu carro e sai depressa de casa, empurrando todos os mordomos e empregadas idiotas que encontrei pela frente, precisava chegar o mais rápido até a costa, resolver isso de uma vez por parte.

**Pensamentos da Mal**

O pouco que eu sabia sobre o dono desse nome já assustava. Rumpelstiltskin - Rumple para encurtar - era um homem pobre e covarde, amava o filho profundamente, mas no final das contas não teve coragem suficiente para salva-lo. Ele sucumbiu a magia negra, se tornando o poderoso Senhor das Trevas.

Mas como ele mesmo sempre diz: "Toda magia vem com um preço", ele sobrevivi fazendo acordos com pessoas desesperadas por ajuda, mas sempre há mais coisas envolvidas do que suas palavras dizem e aqueles que participam de suas artimanhas sempre acabam perdendo muito mais do que de fato ganham.

Rumple nunca pode ser encontrado, se você quer falar com ele precisa dizer seu nome três vezes em voz alta, algo assim - apesar de algumas pessoas contarem que ele aprece já no primeiro chamado - e então ele aparece na sua frente, não importa onde você esteja. Depois disso, não tem volta.

— Você também acha que o Stefan se envolveu? - perguntei a Malévola - Com... ele?

— Essa coisa não sai muito do *UA, mas quando sai nunca de volta de mãos vazias - ela explicou - então sim, acredito que ele ajudou Stefan

Respirei fundo, deixando minha mente trabalhar no que eu iria fazer em seguida, sabendo de toda aquela história. O destino de Stefan estava literalmente em minhas mãos, mas, antes disso, eu teria que arrumar uma forma de usar aquilo contra ele no julgamento. Afinal, que forma melhor de fazer o povo acreditar que, de fato, Malévola merece uma segunda chance?

— Diaval - me virei para ele - você tá mesmo comigo nessa?

— Sabe, há muito tempo eu fiz uma promessa a sua mãe, eu prometi que jamais sairia do lado dela - ele olhou para Malévola e depois voltou o olhar pra mim - mas ela mesma quebrou isso. Então agora, se você me permitir, será uma honra jamais sair do seu lado, minha pequena

Aquelas palavras doces e sinceras aqueceram o meu coração de uma forma que eu não consigo explicar. Mas, para por em simples palavras, eu me senti profundamente amada. Nem me pergunte o por que, eu apenas senti vontade e quando vi, já estava abraçando Diaval.

Ele é bem alto e meu rosto não alcançava mais do que seu peito, seu coração batia acelerado, compondo uma melodia incrível, exatamente como um... pássaro. Diaval ficou imóvel de inicio, mas logo retribuiu o gesto, repousando o queixo no topo da minha cabeça e passado a mão pelo meu cabelo.

Eu levantei o rosto e o olhei para ele por alguns segundos, antes de me afastar, me sentindo profundando esquisita e intensamente viva, com aquele gesto tão simples e ao mesmo tão significativo. O sorriso no rosto dele era a própria definição de sinceridade. Onde ele estava esse tempo todo? Por que Malévola o mandou embora? Ele é tão... precioso.

— Obrigada Diaval - agradeci - isso significa muito pra mim

— Acredite, pra mim também - ele disse ainda sorrindo

— Então agora você vai precisar vir comigo, eu vou te apresentar algumas pessoas

Diaval fez positivo com a cabeça, a felicidade dele transbordava de seus olhos, era contagiante. Me virei para Malévola e olhei no fundo dos seus olhos, teria que me despedir novamente, mas, juro por Deus, que essa será a última vez. A abracei forte, sentindo o seu cheiro, ela retribuiu o gesto, beijando meu rosto no meio do percurso.

A abracei o mais forte possível, tentando reconforta-la por toda aquela dor. Mas será que é possível? Será que é possível apagar tanta a dor? Se nem a mais poderosa de todas as magias conseguiu? Bem, talvez as trevas não sejam assim tão poderosas. Mas não importa, eu vou lutar para ver Malévola sorrir de novo. E isso, é uma promessa.

— Eu te vejo em breve, ok? - disse a soltando

— Tome cuidado, Mal - ela disse - eu não suportaria se Stefan...

— Hey - a interrompi - nada de ruim vai acontecer, Stefan nunca mais vai machucar nossa família, ok? Eu te prometo

Malévola fez positivo com a cabeça, depois olhou para Diaval, os dois se aproximaram e eu me afastei um pouco, dando-os espaço, enquanto os observava com um brilho inexplicável no olhar.

— Você é o pássaro mais teimoso que eu já conheci em toda a minha vida - ela disse, fazendo-o rir baixinho - mas eu realmente o agradeço por ser assim, por ajuda-la - ela olhou para mim - quando eu não pude

Diaval apenas fez positivo com a cabeça, mas eu sabia que ele estava sorrindo por dentro.

— Você sempre esteve aqui, não é? Mesmo quando eu mandei você ir embora, você continuou me ajudando. Obrigada - Malévola completou

— Sempre será uma honra, minha rainha - Dival disse abaixando a cabeça levemente na direção dela, como se fizesse uma reverência

Eu reconheci a forma como ele a chamou, "minha rainha", ele já me chamou assim uma vez. Sorri com aquela cena, eles parecem tão íntimos, tão... um só. Onde será que vocês se perderam? Eu vou descobrir.

— Vire pássaro - Malévola disse, com um sorriso sincero nos lábios

Diaval encurvou-se e uma chuva de penas apareceu, em poucos segundos ele tornou-se pássaro, escapando por entre as grades espessas da pequena janela, ganhando o céu em um vôo majestoso. Malévola o observou a todo momento, depois olhou para mim. Eu sorri para ela e fechei os olhos, dizendo o meu feitiço em seguida.

Uma injustiça aconteceu e todo um destino morreu. Por favor me leve até o Ben, pois juntos nós reconstruiremos o "amém"

Senti o poder percorrer todo o meu corpo, desde minha cabeça até meus pés, circulando tudo. Em poucos segundos eu estaria em outro lugar, fazendo com que a justiça finalmente aconteça.

** Pensamentos de Audrey **

Encostei o carro perto do barraco, que é quase caído em pedaços. Respirei fundo o doce ar proveniente do ar-condicionado, pois sabia que não teria aquilo lá fora. Peguei minha bolça e caminhei até o galpão abandonado, me certificando que não havia ninguém pelos arredores. O barulho das ondas violentas do mar ao longe. Se forçasse a vista, conseguia ver a Ilha dos perdidos, que nojo.

Empurrei a porta frágil e incrivelmente suja de lodo, entrando dentro daquele lugar horrível. Se eu tivesse escolhido o nosso local de encontro, teria sido completamente diferente, adicionando muito mais de... bem, tudo que aquele lugar não tem.

Andei a passos lentos, por mais que fizesse sol lá fora, o local conseguia ser escuro. Quando já estava quase chegando ao centro do galpão, um barulho ecoou por todo o lugar, uma coisa fina e aguda, como quando arrastamos algo pontiagudo no chão.

Olhei para o local imediatamente, mas não vi nada. Respirei fundo, tentando manter a calma, mas eu já estava farta daquilo!

— Capitão! É você? - perguntei

Eu particularmente odeio esse apelido, mas não posso arriscar que alguém escute eu dizendo o nome dele. Após a minha pergunta, observei uma sombra ao fundo do galpão, cobrindo quase toda a parede. Bufei e revirei os olhos, sabia que era ele.

Em seguida, escutei outro barulho, como se alguém tivesse pulado de alguma plataforma. Me aproximei mais um pouco, deixando que a fraca luminosidade proveniente de uma das janelas quebradas, iluminasse seu rosto.

Os olhos azuis e penetrantes me atingiram como um tiro, me deixando até com um pouco de calor. O maxilar definido, os braços fortes e os lábios - que formavam um malicioso sorriso - me faziam ir á loucura.

Tudo estava maravilhosamente lindo, até que meus olhos repousaram em sua mão, a qual segurava um gancho de ferro ridículo, respirei fundo, tentando medir minhas palavras. Não posso dizer que consegui, mas posso dizer que com certeza eu me esforcei bastante.

— Você tem mesmo que carregar essa coisa pra todo canto?

— Já lhe disse o porque - ele respondeu, aproximando-se

— Ah claro, aquilo sobre o seu pai e mais um milhão de coisas sentimentais - disse com sarcasmo, mas ele me lançou um olhar sombrio - brincadeirinha -sorri

Sabe aqueles momentos chatos em que você fica um certo tempo sem dizer uma só palavra com outra pessoa e fica aquele silêncio enorme e desagradável? Era o que estava acontecendo. Por mais que eu quisesse, o olhar azul me prendia de uma forma que não consigo explicar, ele é simplesmente contagiante!

— Audrey?!

Um grito ecoou por todo o galpão, me tirando do transe e quase me matando de susto junto. Respirei fundo e me virei na direção da entrada, sabendo exatamente de quem era aquela voz repugnante e incrivelmente enjoativa.

— Espera - Chad disse, aproximando-se - a reunião já começou? E vocês não me esperaram?

— Ele sempre é assim? Tão... lento?

— Ás vezes ainda consegue se superar, acredite - respondi

— Hey! Quem foi que pegou o livro pra vocês, ein? Se não fosse por mim, você estaria de mãos abanando - Chad olhou diretamente para o capitão

Harry deu um passo pra frente e Chad também, eles se olhavam com seriedade e eu já presumia o que iria acontecer, então tive que me intrometer, colocando minhas mãos em seus ombros, afastando-os um do outro.

— Vamos parar tá? - disse em um tom alto - A nossa única briga é com o Benjamin e a idiota da Mal. Não entre nós

Os dois ainda se olharam atravessado por mais alguns segundos, depois acalmaram-se e recuaram. Eu respirei fundo, tanta tensão vai acabar me deixando com rugas, ser a líder tem um gosto bom, mas ás vezes é tão... cansativo.

— Nós temos que focar nosso plano, ok? - lancei um olhar para o Harry - O que aconteceu Chad? Que mensagem foi aquela que me mandou?

— Ah sim, a mensagem - ele disse - parece que a Fada Madrinha resolveu fazer uma vistoria no armazém do museu, ela descobriu e ficou furiosa, todo mundo agora tá procurando o livro

— Mas e a cópia? - indaguei - Você não colocou no lugar?!

— É claro que eu coloquei, amor - ele respondeu, quase me fazendo vomitar - mas acho que que ela percebeu que era falso

— Não me chame de amor - eu disse

— Bem - Harry se pronunciou - parece que vocês tem um problema para resolver

— Nós? - perguntei

— É, vocês - ele disse sem se importar - afinal, eu não posso sair daqui não é mesmo?

— A é? E que tal você usar um desses feitiços desse livro idiota? Que tal partirmos logo para o ataque final?

— Não, agora não - Harry respondeu firmemente - só depois do julgamento, quando eu tiver a certeza de que Malévola foi executada

— Por que tanta preocupação com isso, ein? - perguntei

— Essa é minha condição, todo tempo esteve bem clara no nosso acordo - ele disse - se quer mesmo ser a rainha de toda Auradon, vai ter que esperar Malévola estar morta

Olhei para Chad e ele me olhava de volta, igual um cachorrinho, abanando o rabo entre as pernas, mais idiota impossível. O que me tranquiliza é saber que ele logo será descartado e eu poderei ficar com o meu capitão sozinha.

Eu sei que nós crescemos juntos e tudo mais, mas eu tenho que priorizar o meu futuro, não dá pra viver em um país onde vou ser mais uma dos subordinados da "rainha Mal". Eu sou a pessoa mais poderosa no mundo, tenho que estar em um posto á altura.

— Acho melhor deixar tudo como está - Chad se pronunciou - afinal, eles nunca vão achar o livro aqui, nunca vão saber quem o roubou

Olha, até que ele teve uma boa ideia, isso já é um avanço.

— Então tá - Harry disse juntando as mãos - o plano continua como estava. Após o julgamento, iniciaremos o ataque

Fiz positivo com a cabeça e Chad também, a diferença é que olhava para o Harry, admirada com sua beleza e seu incrível senso de liderança - mesmo que, claramente, eu seja a líder aqui - e Chad olhava para mim com aquelas cara de retardado. Calma Audrey, força, logo logo você estará vivendo como a rainha que é desde que nasceu. E a Mal? Bem, ela vai voltar pro lugar de onde nunca deveria ter saído, para a Ilha dos Descartáveis.

** Pensamentos da Mal **

Apareci no gramado leste do campos da escola como em um passe de mágica, espera, era magica! Olhei para o seu a procura do meu amigo, não o encontrei lá, mas o avistei em um dos galhos de uma árvore próxima, ele balançou a cabeça e balançou algumas penas. Eu sorri pra ele e fiz um gesto com as mãos, pedindo que ele esperasse, depois fui em direção a entrada.

Alguns alunos vieram até mim, eles disseram palavras carinhos e pediram fotos e autógrafos, algumas meninas falaram empolgadamente sobre um fanclub chamado "MalLovers", algo assim. Como eu não faço a menor ideia do que isso seja, apenas sorri e tentei ser o mais educada possível, mesmo que no fundo, eu não seja assim de verdade.

Quando consegui me livrar deles, corri até Jane, que estava nas escadas escrevendo algo em sua prancheta, com um semblante nervoso no rosto, mas eu não liguei muito, afinal, ela sempre está nervosa e preocupada com alguma coisa que, normalmente, nem precisa de tanto alvoroço.

— Jane! - a chamei - Sabe onde tá o Ben? Preciso falar com ele tipo, agora

— Ben está resolvendo um problema no museu, é bem sério e...

— Então eu vou pra lá - a interrompi, já caminhando para lá

— Mas Mal, sobre o que aconteceu...

— Tudo bem, você me conta depois - eu disse a cortando

Não é que eu não me importe com o que ela tem a dizer, longe disso, mas é que o Ben é o rei, o trabalho dele envolve basicamente resolver problemas, se eu for ficar apreensiva com cada um deles, terei cabelos brancos antes dos trinta.

Peguei um dos carrinhos de golfe - que são utilizados pelos alunos para andarem pelo campus - e dirigi até o museu. Olhei para o céu algumas vezes, apenas para me certificar de que o meu pássaro amigo estava me acompanhando, e ele estava.

Quando cheguei ao museu, haviam três viaturas estacionadas no lado de fora, alguns policias conversavam entre si e anotavam coisas. Os arredores haviam sido isolados com faixas laranjas, impedindo a entrada de qualquer um que não fizesse parte da equipe. Talvez tivesse sido bom ter escutado o que Jane tinha para dizer, agora eu teria que descobrir o que aconteceu por mim mesma.

Estacionei o carrinho a uma certa distancia, quando desci Diaval já estava ao meu lado, mas dessa vez não me assustei, estava se tornando cada vez mais comum tê-lo por perto. Ele também percebeu a movimentação de policiais, mas não disse nada, apenas me lançou um olhar neutro, eu fiz positivo com a cabeça e nós entramos.

Nas escadas eles quiseram nos barrar, mas quando perceberam era a "futura rainha" logo nos deixaram passar. Eu abri entrei no museu apreensiva, lá dentro haviam mais policias e até alguns soldados da guarda real. Eu estava preocupada com o Ben, mas o encontrei no segundo andar são e salvo, ele conversava com alguns policias, seu semblante estava sério, sua postura de rei estava ativa.

Entrei no salão a passos lentos, Diaval sempre perto, apenas alguns passos mais atrás. Assim que Ben me viu, ele dispensou os policias e veio até mim, me abraçando com força. Senti sua respiração no meu pescoço e sua mão passando do meu ombro para as minhas costas.

— Graça a Deus você tá bem - ele disse me soltando, seu olhar era pura preocupação

— Mas é claro que estou bem - o tranquilizei - por que não estaria?

— Te liguei várias vezes - coloquei a mão no bolço, me dando conta que havia deixado o celular em GoldLand - você não atendeu nenhuma delas. Eu fiquei muito preocupado Mal, achei que tivesse acontecido alguma coisa com você

— Eu esqueci meu celular no hotel, desculpa - me expliquei - você sabe que não tínhamos essas coisas na Ilha, ás vezes não lembro de leva-lo para os lugares - menti

Ben apenas continuou me olhando, como se certificasse que tudo estava no lugar, a apreensão vigente em seu semblante.

— Mas isso não é motivo para você mobilizar tudo isso - eu disse, me referindo a todos os policias

— Não foi pra você - Ben explicou - pelo menos não... diretamente

Franzi a testa com aquilo.

— Como assim?

— O seu livro de feitiços, ele foi... roubado Mal - Ben disse por fim

O que?!

** Pensamentos de Carlos **

Desde que nos formamos e tivemos que deixar a escola, eu e Jay dividimos um apartamento próximo a praia. Não dá pra dizer que é um castelo enorme com um milhão de empregados, mas comparado a como vivíamos na Ilha, é quase como estar no céu.

Jay é bem bagunceiro e eu também me incluo nessa lista, mas nós nos demos bem e é isso que importa. Nós sempre fomos bem próximos, mas foi quando viemos para Auradon que nossa amizade foi posta a prova, tanto entre nós dois quanto com a Mal e a Evie, e ela superou cada um dos obstáculos.

E, apesar de não nos vermos mais com a mesma intensidade de antes, estamos constantemente em contato, sempre que dá nós saímos para comer uma pizza, assistir um filme legal ou simplesmente andar no calçadão da praia, deixando a brisa nos envolver.

A verdade é que, de todas as maneiras que eu já imaginei viver minha vida, quando passava horas olhando o céu embaçado, por conta da barreira mágica, da janela do meu quarto, essa é de longe muito melhor de todas as que já fui capaz de imaginar.

Ás vezes eu sinto falta dos meus pais, eles eram impulsivos e cheios de vingança e maldade, mas são meus pais, isso nunca poderá ser apagado. Deixa-los foi só uma das coisas que tivemos que fazer para que hoje estivéssemos vivendo nossa liberdade. Ainda tenho esperanças de que, um dia, não existam mais "Carlos", que ninguém mais tenha que olhar pela janela, que é um símbolo de liberdade, estando dentro de uma prisão ambulante.

A vida é boa, desde que nós mesmo decidamos como vive-la, sem sermos julgados pelas atitudes dos outros ou pela genética, desde que sejamos reconhecidos por quem somos e não por quem nossos pais foram um dia. Sendo assim, a vida é muito mais do que boa.

Enquanto eu pegava uma nota de dez para pagar a mulher a minha frente, que esperava o dinheiro com a gaveta do caixa aberto, escutei uma voz chamar o meu nome ao longe.

— Carlos...

Me virei, procurando quem era, mas não encontrei ninguém. Franzi a testa e me voltei para a mulher novamente, entregando-lhe o pagamento, pensando que havia sido apenas minha impressão.

Quando sai da loja com a sacola na mão e já me preparava para pegar um táxi, ouvi o mesmo estranho chamado de novo. Era uma voz leve e doce, quase que cantada, como se fosse uma... sereia.

— Carlos... - ela chamou - Venha até mim

Fechei o punho e tentei lutar contra aquilo, mas a voz era poderosa, havia conseguido entrar dentro da minha cabeça e, por mais que eu quisesse, já havia perdido o total controle de minhas ações. Apenas soltei a saco-la, que se espatifou no chão, quebrando o porta jóias que havia dentro, o qual havia comprado para dar de presente a Jane, e segui a estranha voz que continuava a me chamar.

— Carlos... por favor... venha até mim

Eu não sei o porque, mas aquela voz me causava uma sensação diferente e... muito boa, eu estava feliz, profundamente feliz, mesmo sem ter motivo nenhum para aquilo. Eu só queria segui-la até o por do sol, para onde ela fosse, eu iria, pois agora, eu era seu mais obediente serviçal. Não importa o que ela me mande fazer, por seu amor, sou capaz de fazer tudo.