** Pensamentos da Mal **

— Quem fez isso? Quem... quem roubou? - perguntei apreensiva

— Eu não sei Mal - Ben disse, igualmente preocupado - por isso todas essas pessoas estão aqui. Temos policiais, guardas e até detetives. A Fada Madrinha está muito nervosa

Eu não conseguia acreditar, logo agora que eu estava tão confiante de que as coisas iriam dar certo, essa notícia vem e cai como uma bomba em cima de tudo. Segurei o braço do Ben, o chamando para mais perto.

— Não é para menos Ben, você sabe o que pode acontecer se esse livro cair em mãos erradas?

— Eu sei disso, mas não precisa se preocupar tanto - Ben disse, já formando seu fiel sorriso - quem roubou agiu de má fé e será punido, é claro, mas a magia foi banida de Auradon há muito tempo atrás, já entrei em contato com os reinos que ainda são adeptos e eles também estão buscas, mas não acredito que tenha sido alguém de fora - ele disse com confiança - E mesmo que, seja lá quem for, queira usar o livro, não conseguiria né?

Olhei para o Diaval, mas dessa vez ele já não olhava para mim, seus olhos estavam focados no nada, ele estava pensando em todos os seus clientes, em todas aquelas fadas e bruxas, nas coisas terríveis que poderia acontecer com todo o reino. Respirei fundo, apenas abrindo espaço dentro de mim para mais aquele dilema, se é que é possível.

— Quem é ele? - Ben perguntou, me tirando do transe de pensamentos

— Eu realmente não queria que acontecesse assim, no meio de tudo... isso - expliquei, indicando toda aquela movimentação com as mãos - mas, é que o temos

Olhei para Diaval novamente, dessa vez ele olhava para Ben, prestando atenção em cada palavra da conversa. É bom tê-lo por perto.

— O nome dele é Diaval - disse - ele é meu... amigo

Diaval, que olhava para Ben com toda atenção, desviou o olhar para mim nessa hora e me deu um sorriso, o qual eu retribui. Estava tudo bem pra mim dizer aquilo em voz alta, por que era verdade, eu tenho poucos amigos e, com certeza, Diaval é um deles, um muito importante.

— Ah... - Ben soltou, o olhando - muito prazer senhor Diaval

— O prazer é todo meu Majestade - ele fez uma curta reverência

— Ok, agora o que faremos? - perguntei, me referindo ao livro

— Bem, nada. Teremos que esperar até que alguém encontre algo que possa nos levar até o livro ou... até o culpado

Fiz positivo com a cabeça, apenas tentando evitar que aquilo fizesse minha cabeça perder um parafuso de vez e focando no meu plano anterior. Pode até ser que você acredite que seja uma vingança, mas eu já passei muito tempo da minha vida a procura disso e agora é diferente, eu gosto de pensar nesse plano mais como justiça.

— Mas, o que está fazendo aqui? - Ben perguntou - Achei que fosse chegar amanhã

— Aconteceram muitas coisas, muitas mesmo - explicou - mas não posso te contar aqui, temos que ir para um lugar mais reservado, com a Evie, o Doug e os outros

— Isso é sobre o julgamento? Tem haver com a Malévola?

— Sim

— Ok, então só me dê algum tempo para acalmar tudo por aqui - ele disse, me entregando seu celular - enquanto isso ligue para eles, vamos nos reunir na antiga biblioteca

Fiz positivo com a cabeça e fui para o salão vizinho com Diaval, onde era mais silencioso para fazer as ligações. Quando já estávamos longe dos olhares de todos, aproveitei para perguntar a Diaval o que eu queria, sem que ninguém descobrisse nada.

— Você acha que pode ter sido um dos clientes da sua loja?

— Não, os meus clientes são pessoas de bem, eles só escondem porque se não o fizessem estariam presos - ele respondeu - mas a magia não é proibida em toda Auradon, há reinos que ainda permitem, Arendelle, DunBroch...

— Acha mesmo que alguém de tão longe pode ter roubado o meu livro? Mas por que?

— Eu não sei, mas tenha certeza de que não foi ninguém que eu conheço, quem fez isso planeja algo grande - Diaval disse seriamente - temos que nos preparar pequena

Respirei fundo e comecei a fazer as ligações, Evie estava com Doug então não precisei ligar para ele. Marquei de nos encontrarmos na antiga biblioteca da escola, como o Ben disse. Depois liguei também para o Jay, as coisas haviam mudado então nosso planos teriam que mudar também.

O problema foi quando tentei ligar para o Carlos, ele atendia a ligação, mas não dizia nada, eu só conseguia escutar um zumbido estranho, como se ele estivesse no fundo do mar ou coisa parecida, o que não faz o menor sentido. Mas eu não entendo muito celulares, então apenas desliguei, decidindo que falaria com ele depois.

DUAS HORAS DEPOIS

— Mas esse lugar tá uma bagunça - Jay comentou, enquanto passava por uma pilha de livros

— De fato precisa de uma limpeza - Ben concordou - mas como rei não tenho muitos lugares que sejam só meus, esse é um dos poucos

— Entendi... ei Mal, quem é o esquisitão?

— Jay, não - o lancei um olhar de censura - o nome dele é Diaval, ele vai nos ajudar nisso

— Muito prazer - Diaval disse estendendo a mão, a qual Jay não apertou, mas deu um tapa e depois um "soquinho"

Passei os dedos por alguns livros que estavam em uma das prateleiras empoeiradas, tinha de tudo ali: Peter Pan, Alice no País das Maravilhas, Aladin... mas nada sobre a história de Malévola, pelo menos não a verdadeira. Claro que se eu quisesse um livro que contasse o quão "perversa" e "impiedosa" minha mãe era, teria mais de uma opção de titulo.

— Chegamos! - Evie anunciou, entrando com Doug e fechando a porta logo em seguida

— Graças a Deus! - exclamei

— Certo, estão todos aqui - Ben disse, caminhando para o centro da biblioteca e apoiando as mãos na mesa velha e escura - agora pode nos contar o que aconteceu? Estou preocupado

— Ok - eu disse com um suspiro - mas vocês terão que se entregar por completo, terão que confiar em mim

Meus amigos olharam um para os outros, claramente estranhando a minha sentença, depois se voltaram para mim e fizeram positivo, concordando. Eu respirei fundo e logo consegui sentir meu poder indo além da minha pele, meus dedos formigando e meu coração batendo mais rápido. Não me canso dessa sensação.

— Mal?

Ouvi Ben me chamar, com a voz apreensiva, mas não abri os olhos, estava muito concentrada e ele logo entenderia o porque, logo todos veriam o motivo, assim como eu vi. Quando senti que estava pronta, quando senti que meu poder estar preparado para algo daquele tamanho, abri os olhos e assoprei levemente pela boca, deixando um fumaça leve e verde ir na direção de todos, menos na de Diaval.

Evie arregalou os olhos e segurou forte da mão de Doug, Ben me olhou com incompreensão e Jay tentou fugir, mas em segundos todos eles estavam envoltos pela fumaça. Eles fecharam os olhos e mantiveram de pé, com a postura reta, como se eu tivesse literalmente os "desligado".

Fechei os olhos novamente e me concentrei nas cenas do passado de Malévola e nas da história que ela me contou logo depois, sobre Stefan sequer ser da família real. Era difícil e doloroso para mim ver tudo aquilo novamente, ver o rosto do meu irmão poucos minutos antes de morrer, tão pequeno e tão inocente, mas naquele momento eu precisava, para impedir que minha mãe tenha o mesmo destino.

** Pensamentos da Princesa Isabel **

Estendi a toalha quadriculada sobre a grama, depois me sentei na mesma e joguei a cabeça para trás, deixando o sol me aquecer por completo. Pelo menos aquilo não havia mudado, é um das poucas coisas que a capital tem em comum com o meu reino, do qual estou morrendo de saudades.

Não pensei que sentiria tanta falta assim de casa, mas eu tive que vir para a capital, afinal, quando se tem milhares de pessoas que esperam que você seja a "rainha perfeita", é bom que esteja ao menos bem preparada, tanto física quanto psicologicamente, e que melhor lugar poderia me oferecer isso se não a melhor escola preparatória de príncipes e princesas de Auradon? A Auradon Prep?

A verdade é que tudo ainda é muito surreal para mim, desde pequena eu fui criada estudando tantas regras e histórias que eu quase não conseguia sequer respirar. mas a verdade é que eu sempre quis estar fazendo outras coisas, sendo livre. Sempre olhei para o passado dos meus pais com tanto orgulho, eles tem uma história tão linda e romântica. Fico me perguntado se isso vai acontecer comigo um dia, se um dia eu terei alguém que me ame da mesma maneira.

O meu pai, o rei Flyn Ryder - ou como eu gosto de chama-lo, José Bezerra! - teve um passado empolgante, mesmo que ele estivesse no mundo do crime, ele podia fazer o que quisesse! Não tinha casa, vivia a cada dia em um lugar diferente, estava constantemente em contato com a natureza e não tinha que se preocupar com nada além dele mesmo.

Por mais que essa última parte pareça um tanto egoísta, para alguém que viveu a vida inteira se preocupando com tudo e com todos, não ter quer que se preocupar com nada é bem tentador. Minha mãe, a rainha Rapunzel, também era muito corajosa, ela costumava andar a cavalo pelo reino com o meu pai e ela até já o salvou da morte uma vez, mas... desde que se tonou rainha e eu nasci, tem feito isso com cada vez menos frequência.

Não é que eu não goste do meu reino, mas é que ás vezes eu acho que não sou boa o suficiente para governa-lo. Nós não somos a capital, mas o território é bem grande e quando eu assumir o trono, muitas pessoas vão depender das minhas decisões e, mesmo tendo sido treinada desde que nasci, isso ainda é assustador pra mim.

Respirei fundo e deixei de pensar em todas as responsabilidades, apenas permiti que o sol me renovasse de fora pra dentro. Foi ai que eu escutei alguns barulhos, como se fossem murmúrios, abri os olhos e observei os outros alunos, que também estavam sentados no gramado do campus, eles cochichavam entre si e depois juntaram suas coisas e foram embora.

Eu bufei, tentando não me importar com aquilo, mas já me importando. Por que eles tem que ser tão idiotas? Sinto muito falta do meus antigos amigos.

— É chato, né? - um menino, de cabelos estranhamente brancos, sentou-se ao meu lado - Eles deveriam ao menos disfarçar, vai ver não ensinam isso aqui

— Com licença?

— Ah me desculpe - ele disse sorrindo - meu nome é Agdar, mas todo mundo me chama de Agui

— Agdar? - indaguei

— Era o nome do meu avô e minha mãe achou que seria uma boa ideia homenagea-lo. Significa guerreiro corajoso, algo assim

— Não é isso - disse me sentando direito - o que tá fazendo aqui?

— Eles também fazem isso comigo sabe, achei que seria bom que nós fossemos amigos - e ele deu um sorriso no final daquela frase, o que me fez abaixar um pouco a guarda

— Tudo bem, desculpa se eu fui grosa - disse - mas é que desde que eu cheguei aqui, tirando o rei e os inspetores, ninguém tem sido muito legal comigo

— Você conheceu o rei? - Agui perguntou, com um semblante surpreso

— Claro, você não?

— Não, o rei deve ser muito ocupado e só fala com pessoas importantes, como a filha da Rapunzel, afinal, é um dos clássicos - ele pegou uma maçã da minha cesta e comeu. Bem intrometido pro meu gosto

— Como sabe disso? - perguntei, pegando minha maçã de volta e dando uma mordida

— Fiz meu dever de casa - ele respondeu com um balançar de ombros - e então? O que tá fazendo princesa Isabel?

Pensei duas vezes antes de responder aquela pergunta, será que eu queria mesmo fazer amizade com um garoto, que digamos, é tão... diferente? Mas de todos ele foi o único que foi legal e gentil comigo, vai ser bom ter alguém para conversar ao longo do semestre.

— Além de ignorar que você sabe muito sobre mim sem que nem sequer nos conhecemos? - brinquei - Tomando um sol

— Não tinha sol no seu reino? - ele brincou, pegando outra maçã da minha cesta

— É claro que tinha - peguei a maçã antes que ele mordesse - e no seu? Não tinha comida?

— Tá bom, parei - Agui riu

Não pude evitar de rir também, aquela nossa pequena "briga" foi muito divertida.

Um outro grupo de alunos, que estava sentado próximo a nós, levantou-se e saiu a passos rápidos, olhando para trás - e para nós - e cochichando enquanto andavam. Agui não se importou, ele estava mais ocupado com algum tipo de cajado ou coisa assim, o qual resolvi não perguntar do que se tratava.

— Por que eles fazem isso? - perguntei

— O que?

— Os outros alunos, eu nunca nem sequer falei com eles, como podem me odiar tanto assim?

— Eles não odeiam, eles tem medo - Agui disse

— Medo? Mas medo de que?!

— De magia Isabel, eles já sofreram muito com isso, quer dizer, os pais deles - ele explicou - por que acha que lutam até hoje para banir a magia de toda Auradon? - Agui indagou - Eles acreditam que o mundo será melhor sem ela

— Mas eles jamais vão conseguir - disse com firmeza - existem grandes lideres que são adeptos de magia, se não fosse por ela minha vó não conseguiria dar a luz a minha mãe e eu nunca teria nascido

— Você sabe disso e eu também, mas pra eles, nós somos uma ameaça

— Nós? - franzi a testa - Você também tem magia?

— Sabia que tava esquecendo de alguma coisa - ele disse rindo, por mais que não tivesse motivo algum para aquilo - vamos começar do início

Agui levantou-se e sorriu, entendendo a mão em minha direção. Ele ficou daquele jeito por mais alguns segundos, até que eu resolvi parar de tortura-lo e segurar sua mão, mas não consegui conter o riso, o primeiro desde que cheguei a essa escola.

— Prazer, meu nome Agdar, mas pode me chamar de Agui - ele disse sorrindo - considere-se uma pessoa de sorte, pois está diante do futuro rei de Arendelle, filho mais velho e mais bonito... da rainha Elsa

E eu "gelei" ao ouvir aquilo.

** Pensamentos do Ben **

Fechei os olhos e levei a mãos á cabeça, uma dor horrível me atingiu e eu ainda podia ouvir os gritos de sofrimento daquela mulher. Até que aos poucos a dor foi diminuindo e quando abri os olhos, estava de volta a antiga biblioteca secreta.

Mal estava sentada em uma cadeira, seu semblante visivelmente cansado, Diaval segurava um copo d'água para ela. Pisquei os olhos algumas vezes, recobrando os sentidos, depois fui até minha noiva e lhe dei um beijo delicado, segurando seu rosto em minhas mãos.

— Você está bem? - perguntei

Mal bebeu um grande gole da água e depois entregou o copo de volta para Diaval,só então respondeu minha pergunta.

— Agora estou, foi muito poder de uma vez só, nunca tinha feito isso antes, acho que por isso desmaiei

— Você desmaiou?! - perguntei preocupado, depois olhei cada cantinho do seu corpo, me assegurando de que ela estava realmente bem

— Você não viu? - Diaval perguntou e eu fiz negativo com a cabeça, sem tirar os olhos de minha noiva - deve ter demorado mais com você... - ele concluiu sozinho - Vocês estão todos bem?

Jay, Evie e Doug balançaram a cabeça positivamente, eles estavam visivelmente bem, diferente da Mal, que continuava a me parecer muito fraca.

— Tem certeza de que está bem? - perguntei mais uma vez

— Tenho - ela respondeu levantando-se, eu a apoiei segundo sua cintura

Quando ela já estava firme no chão e eu sabia que ela não corria risco de ficar tonta e cair, a soltei, mas permaneci bem ao seu lado, pronto para ajuda-la caso algo acontecesse. Mal respirou fundo, antes de falar sobre todo o ocorrido.

— Agora vocês sabem, esse foi o passado da minha mãe - ela disse, referindo-se a terrível visão que aparentemente todos nós aviamos tido - no começo eu fiquei com muito ódio e quis matar Stefan, mas Diaval me aconselhou de que o melhor a ser feito seria desmarcara-lo diante de todos, no julgamento

— E ele tem razão, por mais que Stefan tenha cometido um crime, a vingança nunca é a resposta certa - me pronunciei - mas como rei de Auradon, dou minha palavra de que Stefan responderá por seus atos

— Esse desgraçado merece ser executado! Não a minha tia! - Jay gritou

— Nisso eu concordo com você - Mal disse

— Nós temos que agir com calma, para juntos atingirmos o objetivo e obter justiça para Malévola - eu disse

— Vocês são apenas quatro e já foi o suficiente para a Mal desmaiar - Diaval disse, colocando o copo sobre a mesa - ela não pode fazer isso com o júri inteiro

— Ele tem razão Mal - eu disse, olhando-a - o que faremos?

— Eu quero falar com ele, vou chama-lo esta noite - Mal disse

Quando ela disse com tanta intonação o "ele", logo lembrei da explicação de Malévola sobre seu passado e de sua teoria para a acensão de Stefan ao trono. Mas eu também conheço a história de Rupelstiltiskin e não vou permitir que ela se arrisque tanto sozinha.

— Não - disse com firmeza - é muito perigoso, não vou permitir

— Acontece que eu não tô pedindo permissão Ben - Mal disse - minha mãe já sofreu demais por causa dessa família, sou eu quem não vou permitir que ela sofra mais

Ela tinha razão, a mãe é muita importante para a Mal e essa história toda é uma injustiça sem precedentes, mas eu a amo demais para perde-la, não posso deixar que se arrisque tanto, mesmo que seja para conseguir justiça para Malévola.

— Então, por favor... me deixe ir com você

— Não quero que se envolva - ela disse - isso é um problema meu, não posso deixar que se prejudique com isso

— O que mais tenho que dizer para que acredite em mim, Mal? - perguntei, indignado com aquilo - Nós vamos casar dentro de um mês, quantas vezes tenho que repetir que tudo que remete a você remete também a mim? Posso não poder impedi-la de ir ver essa coisa, mas você também não pode me impedir de ir com você

O clima ficou um pouco pesado, Diaval olhava com atenção para Mal e parecia nem ligar para o que estava falando, Evie e Doug fingiam não estarem ouvindo e Jay estava completamente perdido, fingindo ler um livro, mas claramente desconfortável com aquilo.

— Tudo bem, você pode vir comigo então - ela disse por fim, rendendo-se - mas só eu vou falar tá, não quero que ele faça nenhum acordo com você

— Certo - concordei, mesmo tendo a consciência que, para protege-la, eu iria fazer qualquer coisa

— Doug - Mal o chamou - se conseguirmos a prova com o... com ele, acha que conseguiremos usa-la a favor da minha mãe?

— Se conseguir a prova, fará muito mais do que isso Mal - ele disse, aproximando-se - se conseguir provar que Stefan nunca foi da família real e que usou de magia negra para conseguir ser rei, nós podemos fazer com que ele seja julgado e condenado a morte

— A morte? - Evie perguntou

— Sim, o que ele fez foi traição a coroa e, como diz nas leis que regem nosso reino, a pena é a morte - Doug concluiu

Olhei para Mal, tentando decifrar o que ela achava daquilo, mas ela não estava olhando para mim, estava contemplando o vazio e eu sabia que, na verdade, ela estava pensando e um milhão de coisas, tentando ter o controle de tudo. Ás vezes me preocupo, isso tudo deve estar caindo como uma avalanche sobre ela e ao mesmo tempo ela tem que tirar toda a neve e manter o piso limpo.

De agora em diante vou estar mais presente, sem mais segredos, dentro de um mês nós seremos casados e ela se tornará minha rainha. Como posso nem sequer saber o que acontece com minha futura esposa? Nós precisamos ser uma equipe, igual éramos, não posso deixar que nosso relacionamento se perca, eu a amo demais para permitir que isso aconteça.

** Pensamentos de Uma **

A água escura se movimentava com a ajuda do vento forte e depois ricocheteava nas pedras, deixando que um pouco espirrasse sobre o solo rochoso e escorregadio. Levantando a visão e focando-a ao longe, conseguia observar a costa da capital de Auradon perfeitamente.

Eu tenho que fazer isso, não posso desaponta-la quando ela mais está confiando em mim, tenho que me mostrar madura e capaz, não posso desistir como fiz quando era mais nova, não posso ser covarde novamente, como fui no dia daquele maldito noivado.

Eles me ofereceram uma segunda chance, disseram que eu poderia ter ficado e vivido com eles, tanta bondade que me fez pensar duas vezes, mas então o meu medalhão começou a brilhar e pude ouvir minha mãe me chamar, então eu resolvi voltar. O único erro deles foi nunca terem checado se eu havia realmente voltado para a Ilha, dessa vez, eu não vou desaponta-la de novo.

Respirei fundo e deixei o cheiro do mar me atingir. É bom, me revigora por dentro e me dá forças. Eu realmente espero que o feitiço tenha funcionado ou amenos chegado até a costa, eu nunca tentei algo tão forte assim antes, meus poderes são diferentes desse lado da barreira, são bem mais fortes, mas também muito mais instáveis.

O poder é bom, senti-lo percorrer o meu corpo me traz uma sensação boa, seria bom fazer com ele o que eu bem entendesse, mas por enquanto tenho que seguir as ordens de Úrsula. Tomara que ela realmente cumpra sua promessa, pois é uma das poucas coisas que me deixa mais tranquila em relação a tudo isso.

— Uma?! Venha até aqui! - minha mãe me chamou, gritando do interior da caverna

Respirei fundo, deixando que o mar me acalmasse mais um pouco, antes de ir ver o que era. Chega até a ser engraçado que eu me sinta tão conectada com o mar agora, sendo que quando vivia na ilha nunca nem sequer havia entrado nele, já que a barreira deixa apenas uma pequena parte das águas para dentro, apenas o suficiente para não esmagar o meu barco.

Seria bom poder nadar por toda essa extensão de água azul sem ser importunada por ninguém, sem ter que seguir ordens, mas infelizmente a vida não é como nós queremos. Malévola sempre foi uma grande inimiga da minha mãe e a Mal agora é a minha, quer dizer… eu acho. Ela sempre venceu quando éramos pequenas, mesmo que vivêssemos em uma Ilha caindo aos pedaços, ela conseguia ser gloriosa, por que a Malévola cuidava dela acima de tudo, a minha mãe esperou apenas até que eu aprendesse a andar e falar para me colocar para trabalhar em seu restaurante.

— Uma! - Úrsula gritou novamente

Eu bufei e então comecei a andar em direção ao interior da caverna.

** Pensamentos da Princesa Isabel **

Eu e Agui estávamos tendo um uma conversa boa e era muito bom estar com alguém do que estar andando pelos corredores sozinha, fingindo que tinha algo importante para fazer quando, na verdade, só estava indo beber água pela décima vez.

Ele fala tão rápido que ás vezes parece um personagem de desenho animado. É claro que o cabelo branco ajuda, mas também combina com ele. Em junção com seus grandes olhos azuis e sua pele incrivelmente branca... Agui é muito bonito. Mas tinha um coisa que me intrigava, além do pedaço de madeira ao lado dele, que formava um arco na ponta, é claro, me intriga o fato de que ele estava de casaco, quando estava fazendo uns trinta graus.

— Por que tá de casaco? Tá doente? - brinquei

— Na verdade não, pelo menos eu acho - ele respondeu rindo - é que a temperatura do meu corpo é diferente, por exemplo, se fosse igual a sua, eu estaria morto

— Sério? - perguntei, surpresa

— É... - Agui disse - o frio me deixa mais forte, é o que regula os meus poderes e, portanto, me deixa vivo

— Então está sempre com frio? - indaguei

Agui ficou me olhando por um tempo, apenas me observando com seus grandes olhos incrivelmente azuis, sem dizer uma palavra. E quando toda aquele atenção já estava me deixando com vergonha, ele resolveu responder minha pergunta.

— Não - Agui disse por fim - o frio nunca me incomodou

Sorri pra ele, pois estava muito feliz em conhece-lo. É claro que meus poderes não chegam aos pés dele que, sendo filho de quem é, imagino que sejam incríveis. Mas é bom saber que existem outros como eu, que são banhados pela magia todos os outros dias e, ao contrário da maioria das pessoas, não tem medo disso, pelo contrário, vivem para isso.

Pensando em tudo aquilo, nem sequer percebi que estava sorrindo. Vejam só, mais um sorriso desde que cheguei, aquele garoto realmente opera milagres. Agui sorriu de volta, não me achando esquisita ou estanha, mas sim, sendo completamente honesto naquilo, como em todas as outras vezes desde que, sem nenhuma vergonha, resolveu sentar-se ao meu lado e conversar.

Um barulho soou no chão, como um vibrar. Olhei para o meu celular, mas ele estava sem nenhuma mensagem, exatamente como da última vez que o chequei. Foi quando Agui tirou o seu do bolço e começou a mexer no mesmo, que percebei que havia sido o dele.

E então o sorriso que antes habitava seu rosto, se desmanchou, não por completo, mas já não o estava mais lá. O olhei apreensiva, imaginando o que havia acontecido, até que ele se virou para mim e fez uma pergunta confusa.

— Vamos? - Agui perguntou

— Para onde? - indaguei, segurando meu celular em uma das mãos - Já me preparando para fugir caso ele fosse, na verdade, um lunático

— Bernice me mandou mensagem, a reunião vai começar daqui a pouco - ele disse, como se aquilo devesse ser claro para mim - a apresentação vai ser no início da noite, não lembra?

— O que? Do que você tá falando? - perguntei confusa - Quem é Bernice?

Agui me olhou tão confuso quanto eu o olhava naquele momento, ele realmente acreditava que eu soubesse do que ele estava falando, mas nunca estivesse mais perdida em uma conversa.

— Isabel, o que veio fazer nesta escola? - ele indagou

— Me preparar para ser rainha - respondi - o que você achava?

— Mas, você tem magia, não tem?

— Sim, mas não tem nada haver com o meu poder - expliquei - eu vim para aprender como governar melhor o meu reino

— Então, você tá me dizendo que não conhecesse a OPAM?

— Nunca ouvi sigla mais estranha - respondi - por que? Eu deveria?

— Se deveria? Meu Deus... - Agui se levantou e estendeu a mão para mim, o seu sorriso já de volta ao seu rosto - Vamos princesa Isabel, preciso lhe apresentar alguma pessoas - ele disse com confiança - vai mudar sua vida

Fiquei restante se aceitava ou não a mão estendida dele em minha direção, quer dizer, eu nunca vi esse garota antes em toda minha vida, o conheci literalmente há uma hora atrás e já deixaria ele me levar para "conhecer algumas pessoas"? E o que essa tal de OPAM? Algum tipo de grupo bizarro formado pelos alunos excluídos da Auradon Prep?

Mas ao mesmo tempo que me transmitia medo, Agui me passava uma grande sensação de segurança. Então resolvi ignorar todos os alertas de perigo que soavam na minha cabeça e aceitar a mão estendida do garoto em minha direção. Afinal, o primeiro passo para uma grande amizade é a confiança, certo?

** Pensamentos da Mal **

Nós esperamos até que fosse tarde o suficiente para que todos na escola estivessem dormindo, nos despedimos de Jay, que resolveu voltar para o seu apartamento e deixamos Evie e Doug na biblioteca, estudando novas táticas para o julgamento, agora que tudo havia mudado.

Eu e Ben escolhemos o velho lago mágico, onde tivemos nosso primeiro encontro e outros milhares de momentos felizes, para "evocarmos" Rumpelstiltskin. O lugar é envolto por água que cai de uma cachoeira mágica e Ben acredita que, caso algo dê errado, o lago pode nos salvar.

Por conta do excesso de magia, ninguém vai mais lá, todos tem medo do que ela pode fazer, o que, particularmente, eu acho uma tremenda idiotice. Nós fomos na moto do Ben até lá, optamos não ir de carro para não chamar tanta atenção, pois é o que nós menos queríamos naquele momento. Antes de sairmos, Evie me abraçou forte e me desejou boa sorte. Ela é uma amiga incrível, sempre provou isso e agora o estava fazendo mais uma vez. Eu a amo.

Quando chegamos, tudo estava muito escuro, a única coisa que nos permitia enxergar o caminho era a luz proveniente da imensa lua pendurada no céu. Ben estacionou a moto e nós tiramos os capacetes, os deixando ali no chão mesmo. Ele virou-se para mim e deu um leve sorriso, transmitindo confiança, depois nós demos as mãos e seguimos pela ponte de madeira.

Depois de atravessarmos a pequena trilha da floresta e finalmente chegarmos ao lago, Ben soltou minha mão e permitiu que eu andasse e ficasse um pouco mais a frente, não muito longe. Eu respirei fundo, me entregando completamente aquele momento, e então... o chamei.

— Rumpelstiltskin!

Olhei em volta e nada aconteceu, nem uma folha de árvore havia se mexido, suspirei. Talvez eu tenha que tentar as três vezes. Fechei os olhos e me concentrei.

— Rumple...

— Mal - Ben me interrompeu

Quando eu abri os olhos, para perguntar o que era, me deparei com uma figura, que parecia ser um homem, mas não era, bem a minha frente. Seus olhos eram grandes e suas pupilas assemelhavam-se as de um lagarto, sua pele era brilhante e parecia com a de um... crocodilo.

Ele usava uma roupa de couro e estava sorrindo, seus dentes eram tortos e estragados. Ele estava tão próximo a mim que eu conseguia sentir sua estranha respiração. Eu sei que disse que estava confiante e mais um monte de coisas, mas naquele momento eu estava com um pouco de medo.

Dei um passo para trás, apenas para ficar a uma distância confortável. Ben também deu um passo a frente, segurando minha mão, a qual não recusei, mas também não tirei os olhos da coisa a minha frente.

— O amor... - Rumple disse, sua voz causava arrepios - não é mesmo a magia mais poderosa?

— Eu sou o... - Ben se pronunciou

— O rei Benjamin - a coisa o interrompeu - será que podemos pular as apresentações e ir direto para o que interessa?

— Mas como sabe...

A criatura interrompeu Ben novamente e fez aparecer uma espécime de pergaminho em sua mãos, o abrindo na nossa frente. Um sorriso tenebroso nos lábios ressecados e rachados. Mas antes que eu pudesse ler o que estava escrito, ele mesmo começou a ler para nós.

— Stefan Guliver, um simples filho de um açougueiro e de uma lavadeira, há muito tempo atrás prometeu trocar qualquer coisa em troca de ser rei e viver muitos anos - Rumple leu em voz alta - é isso que você quer, não é Mal? O contrato que prova que Stefan usou da minha magia para ser rei? E assim libertar sua mãe das garras da morte?

A coisa olhou diretamente em minha direção, como se soubesse cada coisa que se passava em minha mente e, naquele momento, eu realmente acreditava que ela sabia. Mas eu também era esperta, não iria entrar tão facilmente no jogo dele.

— Qual seu preço? - perguntei seriamente

— Mal! - Ben gritou, mas eu não estava disposta a ouvir se ele concordava ou não

— O que você quer? - perguntei em um tom mais alto

A coisa juntou os dedos das mãos e deu um sorriso, visivelmente adorando toda aquela cena. Não é para menos, ele sobrevive através disso, através de acordos.

— Vejamos... parece que o seu noivo também quer contribuir com o pagamento

— Não! - disse

— Sim! - Ben me contradisse - Se vai cobrar ao algo, terá de ser nós dois

E o olhei com repressão, mas não havia nada que pudesse fazer, Ben jamais permitiria que eu pagasse por aquilo sozinha e, por mais raiva que estivesse naquele momento, não pude evitar de dar um leve sorriso. Benjamin é uma pessoa incrível.

— Um contrato não é algo tão grandioso - Rumple disse - então o pagamento também será simples

— O que quer? - perguntei novamente, já impaciente com aquilo

— Um fio de cabelo - a coisa disse por fim

Eu franzi a testa, confusa. O que ele faria com um mero fio de cabelo?

— Dos dois - ele finalizou com um sorriso

Eu e Ben nos olhamos, confusos se deveríamos aceitar aquilo ou não. Mas não tínhamos muito o que decidir, tinha algo que nós queríamos e aquele era o pagamento. Aquela era única chance da minha mãe.

Então fizemos o que ele pediu e o entregamos os fios. A coisa os segurou como se fosse o objeto mais precioso do mundo, em seguida fez surgir um pequeno frasco e os colocou dentro, fechando-o com uma pequena rolha logo em seguida.

Dentro do frasco, os fios entrelaçaram-se e uma luz forte surgiu deles. Rumple deu uma risadinha de felicidade e um pequeno pulo. Ben segurou minha mão mais fortemente.

— O que é isso? - perguntei

— Isso minha cara - ele disse balançando o frasco - é amor verdadeiro

Rumpelstiltskin guardou o frasco e em seguida me entregou o contrato, eu segurei o pergaminho em minhas mãos e inspecionei cada cantinho dele, me assegurando de que era verdadeiro. O papel de fato era real e exalava uma magia muito forte, eu conseguia sentir em meus dedos.

— Senhorita Mal - Rumple disse sorrindo - foi muito bom fazer acordo com você, reviver o passado

— Como assim? - perguntei, franzindo o cenho

Rumple deu mais uma risadinha, me irritando profundamente.

— Eu a conheço há muito mais tempo do que imagina - ele disse - para ser exato, desde que você era apenas um inofensivo bebezinho - Rumple sorriu, se divertindo com a minha perplexidade - Malévola implorou para que eu não deixasse você morrer, me oferecendo qualquer coisa em troca

— O que? - perguntei, empatado com aquele revelação repentina

— Ela nunca te contou, querida? Quando você nasceu a magia já vivia dentro de você, uma coisa incrivelmente poderosa, eu tenho que admitir, mas a barreira também era forte, e começou a matar você aos poucos, não sobreviveria mais do que um ano se não fosse pelo acordo que fiz com sua mãe - ele concluiu sorrindo

— E o que ela deu em troca?! - perguntei em um tom alto

— Bem... isso, você terá que perguntar a outra pessoa

Rumple disse dando um último sorriso, antes de desaparecer diante dos meus olhos e dos do Ben. Minha respiração estava forte e meu coração acelerado, segurei o pergaminho contra o peito, me assegurando de que o mesmo ainda estava ali.

— E agora? - eu perguntei, completamente perdida

— Agora nós vamos para casa e ter uma boa noite de sono - Ben disse - amanhã será o julgamento

Fiz positivo com a cabeça e ele me abraçou, tentando me passar calma e tranquilidade. Afinal, amanhã será o dia que a vida ou a morte de Malévola, será decidida.