Twists Of Life

Capítulo 2 - Pai?


Brenda’s POV:

Eu acho que ela não vai gostar muito do que eu tenho para lhe contar, ela não gosta de falar do passado, muito menos quando envolve o papai, mas se for mesmo verdade o que eu descobri, provavelmente ela vai adorar, afinal ela poderá realizar seu sonho.

Resolvi tomar um banho, afinal eu sabia que Natália demoraria no banho, pois provavelmente ficaria pensando no que eu tenho para contar e esqueceria o que tem para fazer.

Quando eu terminei de me arrumar lá estava ela sentada na minha cama, não conseguindo esconder sua curiosidade.

—Oi curiosa! – Zombei indo em direção a ela.

—Ande, ande Brenda! Você sabe que eu sou uma pessoa curiosa e isso já está me matando! – exclamou quase pulando em meu pescoço.

Natália sempre foi uma pessoa muito curiosa e isso já me custou à perda de uma emprego e um prejuízo enorme no mercado!

—A curiosidade matou o gato mocinha! – Sorri encarando-a.

—Cruz credo! Não fala isso nem brincando, não quero o meu gato morto. – Berrou assustada.

—Calma, é só modo de falar, eu não quero o IBAMA no meu pé! – Sorri olhando-a.

Bom, pensando bem, acho que se aquele gato fedido morrer mesmo, quem sabe assim pelo menos a casa ficaria um pouco mais arrumada.

Nath’s POV:

Essa garota estava testando os meus limites, só pode, ela estava me enrolando e a cada minuto me deixava mais curiosa.

— Brenda, Brendinha do meu coração, será que dá para desembuchar logo? – Encarei.

— Ok, mas já avisando que eu só fiz isso para o seu próprio bem, ok. – Disse, finalmente, enquanto ia em direção a sua escrivaninha e pegava uma foto.

— Nath, eu sei que você não quer ver o nosso pai nem pintado de ouro, mas...

— Interrompi nervosa - Não Brenda, não, esse papo de novo não, eu já to cansada! Não, não quero vê-lo, ele nós deixou quando a gente mais precisava! – Afirmei enfurecida.

— Me deixa falar e aí depois você já pode xingar tudo e todos, mas primeiro deixa eu terminar! – Exclamou acalmando-me. Dei de ombros e abaixei a cabeça.

—Bom, continuando, alguns dias atrás eu estava pesquisando alguns hotéis na Inglaterra para um cliente lá da agência, e eu achei um chamado Hotel London Grand-Palace III – Esse nome, eu já o vi em algum lugar, olhei-a e mandei continuar – Como você, na hora que bati o olho nesse nome, me veio algo a cabeça, mais precisamente a única coisa que nós tínhamos do nosso pai, essa foto – Falou mostrando-me a foto, olhei, e realmente era dali que eu já tinha visto esse nome, encarei-a confusa e ela entendeu.

— Foi ai que eu me toquei que as siglas “U.K.” que estão escritas aqui, significam United Kingdom, então provavelmente ele estaria dando o seu endereço nesse foto, hotel Grand-Palace III, Reino Unido, e como só existe um Grand-Palace III no Reino Unido, ele não precisou colocar que era em Londres, sei lá! Eu realmente me senti tão ignorante por não ter percebido isso antes, estava na cara, talvez nós não quiséssemos perceber o que estava tão na cara. – Falou fitando-me.

Eu estava sem palavras, agora eu já não sei mais se quero ou não vê-lo, seria incrível ter um pai, mas ao mesmo tempo existe dentro de mim muita mágoa por ele ter nós deixado. E isso que Brenda acaba de me dizer só me deixou mais confusa, será que ele não quis nós deixar, será que ele foi obrigado, por que alguém que queria esquecer-nos deixa seu endereço, mas porque não um telefone? Um e-mail? Um jeito mais certo de encontra-lo, não essas coisas indecifráveis que ele escreveu nessa foto, ele acha que estamos jogando um jogo de “decifre o código”?

Brenda’s POV:

Natália estava distante, pensativa, aquele silêncio dela me torturava, eu queria saber o que ela pensava sobre isso, eu creio que nosso pai tem uma boa desculpa para ter desistido de nós.

—Então, o que isso nós ajuda? Você o encontrou? Ele era a visita que você estava esperando? – Questionou pensativa.

—Bem, eu fiquei durante horas pensando no que eu poderia fazer, até que eu tive a ideia de contratar um detetive, foi o que fiz, então eu contei a ele tudo o que eu sabia sobre nosso pai, então, ele ficou de investigar. Ele me ligou hoje à tarde dizendo que queria conversar comigo e com você, que havia achado pistas importantes, era ele, o detetive, que eu estava, alias, ainda estou esperando. – Respondi sorridente.

—Então cadê esse homem que até agora não chegou? Meio atrasadinho não é? – Perguntou ansiosa.

—Enquanto você estava lá dançando loucamente - ri - Ele me ligou e disse que se atrasaria um pouco. – Completei sorrindo.

Que sensação boa, estamos falando sobre nosso pai e sorrindo, isso é muito novo pra mim, tenho certeza de que não é diferente para a minha Nath.

Nath’s POV:

Senti-me na necessidade de falar com a Bibi e contar pra ela tudo o que Brenda acaba de me contar, tudo!

Eu não tenho muitos amigos, eu já me magoei demais confiando nas pessoas erradas, hoje eu meço minhas amizades assim, ou você é o melhor amigo dos melhores ou você não é meu amigo, meio radical não é? Mas eu definitivamente acho que foi uma das melhores coisas que já fiz, e eu ainda dou graças a Deus por já ter terminado a escola, pelo menos não sou obrigada a aturar mais certas vacas no meu pé.

Eu diria que as pessoas que eu mais amo e confio nesse mundo são a Bibi, a Mia, o Zóio, meu gato (ele é um ótimo ouvinte ok?), a Brenda e as meninas que trabalham lá na agência comigo, elas são mais do que simples colegas de trabalhos, elas são grandes amigas. Algumas pessoas acham estranho quando eu digo quem são os meus amigos, só por causa da diferença de idade, a Bibi, tem treze anos, a Mia, trinta e quatro, e as meninas que trabalham comigo são todas quarentonas, eu não ligo, elas me fazem bem, e como um cara que eu admiro muito um dia disse, “idade não define maturidade”, simples mas eficaz!

Sem pensar duas vezes, fui até o meu quarto e entrei no Skype, a Bibi praticamente nunca sai da internet desde que o Justin Bieber a seguiu no twitter, sortuda sim ou claro.

—Que tu quê Nath? Eu tenho que tomar banho! – Reclamou.

—Que grande amiga tu é, né sua vaca? Eu precisando de você, e você me trocando por um banho? – Falei fazendo biquinho.

—Ta, ta, fala o que aconteceu, sou todos ouvidos amor da minha vida! – Zombou se ajeitando na cadeira enfrente ao computador.

Contei a ela tudo o que Brenda havia me contado, e falei sobre o que eu achava sobre isso, e como eu estava ansiosa para saber o que aquele bendito detetive havia descoberto. Quando eu terminei ela deu a sua opinião de sempre “Deve haver um porque de eu pai ter deixado você, já ta na hora de você aprender a perdoar e deixar toda essa mágoa de lado!”, toda vez que falamos do meu pai, são essas exatas palavras que ela fala, dizendo que eu preciso olhar as coisas de um lado mais positivo e pensar que meu pai tem uma desculpa para ter nos abandonado.

Depois de muito papo pra cá, papo pra lá, ela foi para o seu bendito banho. Fiquei alguns minutos atualizando o meu Twitter e mexendo no meu Tumblr, quando eu escuto o interfone tocar.

—Ah meu deus, só pode ser o detetive que a Brenda tava falando! – Pensei alto, corri para a sala e me enterrei no sofá a esperando que fosse esse tal detetive mesmo.

Brenda havia ido atender a porta e não demorou muito e ela e o tal detetive apareceram na sala.

—Olá, você deve ser a senhorita Natália, acertei? – Cumprimentou-me estendendo a mão.

—Sim, sou eu mesmo! E você é?

—Carlos, Carlos Silva, o detetive que a sua irmã contratou para investigar o caso do pai de vocês. – Falou – E meninas, eu tenho grandes notícias para vocês! – Completou pegando uma pasta cheia de papéis e colocando-a encima da mesa de centro.

—Você não sabe o quão bom ouvir isso, por favor, fale logo, estamos muito curiosas! – Revelou Brenda aflita.

—Ok! Bom, Brenda, as informações que você me deu foram muito poucas, e o fato de vocês não saberem o nome dele complicava ainda mais a situação, e por isso demorei todo esse tempo para descobrir algo, eu andei observando aquela foto e o que havia escrito atrás dela, e eu imaginei que as letras “E.P.” fossem as inicias dele, e resolvi arriscar, eu enviei um e-mail para o hotel londrino, contei a história e no dia seguinte o senhor Etthan Parker, gerente do hotel, me ligou... – suspirou aliviado, abrindo um largo sorriso no rosto continuou – Então, minhas queridas, é com grande alegria que apresento o pai de vocês! – Revelou apontando para o corredor, enquanto um homem alto que aparentava ter uns quarenta e poucos anos, entrava na sala, emocionado.

Eu não sei por que mais eu senti uma vontade imensa de chorar, afinal eu nunca, em nenhum momento me imaginei aqui, esperando uma boa notícia, um dica, uma pista, uma esperança de que algum dia eu encontre o meu pai, eu sempre o quis longe, e sempre dizia para mim mesma que não queria vê-lo em hipótese alguma, que pra mim ele estava morto, nunca existiu, mas agora... Eu já não sei mais de nada, o meu pai estava aqui parado na minha frente, eu não sabia se aquele detetive estava certo, mas de uma coisa eu sabia aquele homem não parecia estranho para mim, era como se eu já o conhecesse, seria ele o cara que eu pensava quase todas as noites? Que eu desejava que ele voltasse e trouxesse minha mãe junto com ele? Seria ele o meu pai?

Brenda’s POV:

Quando Carlos pronunciou aquele nome “Etthan Parker” era como se eu já tivesse ouvido em algum lugar, e aquilo ecoava na minha mente, quando dei por mim estava em um poço de lágrimas, não sabia se era de emoção, de felicidade, de raiva. Eu queria ver o meu pai novamente, desde que nossa mãe nós deixou, eu sempre tive esperanças de que um dia ele voltaria e ele nós faria feliz, nós seríamos uma família feliz, ele faria palhaças sem sentido, seria o meu super herói preferido, ficaríamos até altas horas da noite conversando, jogando cartas, ou só fazendo caretas, ele nós ensinaria a jogar futebol, várias e várias vezes, nós levaria para andar a cavalo e daria os melhores presentes de natal, aniversário e dia das crianças, seria perfeito, seria eterno, mais nada é eterno, nada é perfeito, nada acontece como queremos, como desejamos.

Quando aquele homem entrou na sala, eu automaticamente o reconheci, era impossível, meu pai estava ali na minha frente, toda a minha adolescência eu sonhei com esse dia, desejei poder vê-lo novamente, poder toca-lo. Eu sentia falta de um pai, de uma mãe, dos beijos de boa noite, do café da manhã na mesa, das broncas por ficar até tarde fora, tudo isso eu queria para mim, eu sempre sonhei com isso. Meu pai, ele está parado na minha frente nesse momento, pra muitos é tolice, mas pra mim é incrível poder vê-lo, aqui, na minha frente.

Eu não tinha palavras, eu só conseguia chorar, e a cada lembrança que vinha a minha mente eu apertava cada vez mais a mão de Natália, que me olhava e seus olhos brilhavam, ela abria a boca para poder dizer algo, mas era em vão, nada saia, seu rosto estava com uma expressão confusa, ela estava chorando, de um jeito que eu nunca tinha visto.

E aquele homem, só nós olhava, ele não se movia, são olhos estavam brilhando.

—Brenda! Natália! Minhas meninas, minhas filhas! – Disse emocionado, seu sotaque inglês não passava despercebido.

—Pa-a-a-i? - Gaguejou Natália enxugando as lágrimas.

—Sim querida, sou eu! Agora por favor, venham cá me dar um abraço, já faz tantos anos que eu não as vejo! – Falou abrindo os braços.

Nós duas não pensamos duas vezes, fomos correndo abraça-lo. Eu abracei-o muito forte, queria senti-lo.

—Eu não acredito! Pai! – Sorri encarando-o.

—Calma... – Falou soltando-o – Nós ainda não sabemos se ele merece nossos abraços, e se ele nós abandonou realmente e se arrependeu quando soube que mamãe morreu? – Completou me encarando.

— Espera aí, eu entendi bem? A mãe de vocês morreu? – Perguntou espantado.

— Sim – Respondemos em uníssono abaixando as cabeças, ainda era difícil saber que ela não está mais entre nós, mesmo com todo esse tempo, mexer nessa ferida nos machuca muito.