8 - The Trip

A viagem estava sendo devidamente calma e normal. Jon, Robb e uma pequena comitiva de 15 homens viajaram a leste, passando por Donzelarrosa - sede da casa Piper, que estava reunida em Correrrio com seu pequeno exercito – e Hastes. Esta ultima que já era mais perigosa sendo que fazia parte das terras da coroa, ficava a norte de Porto Real, fora o mais próximo que Jon já chegara em sua vida da capital.

Era esquisito estar tão perto de seu objetivo, como se finalmente ele se tornasse tangível, quase... Tocável. Porto Real estava distante demais ao mesmo tempo que estava próxima. Seus sonhos com o Trono de Ferro se intensificaram.

Neles, Jon estava agora na posição de rei. Uma coroa com dragões ostentava sua cabeça. Balerion estava sentado a seu lado, tão grande que o castelo sequer tinha teto, pois nem a maior construção poderia contê-lo. Todos se curvavam a ele.

Também lá tinha uma rainha, mas Jon sempre acordava antes de ver o rosto dela.

― Dormiu bem, Jon? ― Robb lhe questionou. Ambos estavam em pé na proa do navio Quebramar ― Está com uma cara horrível.

Jon soltou um suspiro cansado. Seu encontro com Doran Martell e os sonhos esquisitos lhe tiravam o sono.

― Não muito bem, infelizmente. Estou preocupado com o possível casamento da minha mãe e da guerra que estaremos começando ao pisar e Dorne.

Robb o encarou arrumando a cota de malha. Sorriu malicioso.

― Tem certeza de que nada disso é falta de Shiera?

― O que? ― Jon perguntou confuso. De onde aquele Stark cabeça oca tivera aquele tipo ideia?

― Ah, vai dizer que aquela bastarda não é sua namoradinha ― Desdenhou, olhando longe nas ondas da Baía da Água Negra.

― Não sinto nada por Shiera além de um carinho desmedido. Ela é minha irmã de coração e nada mais ― Garantiu. Sabia que aquela suspeita era realmente fundamentada – Shiera sempre fora seu objeto de afeto – Mas Jon nunca a enxergara daquele jeito.

Robb pareceu aceitar as coisas como elas realmente eram, mas Jon continuou perdido em pensamentos.

Precisava mais do que nunca ser estratégico. A aliança com Dorne seria de grande ajuda, mas não podia confiar somente em número militar. Precisava de um plano coerente.

Mas nada podia fazer com que ele não imaginasse que mudanças faria quando sentasse no Trono de Ferro. Julgaria todos que merecessem ser julgados por seus crimes – sem mais impunidade naquele lugar. E seria justo, prometeu a si mesmo, seria um rei como Rhaegar Targaryen teria sido.

― Noticias de Winterfell ― Lyanna se aproximou de seu filho, segurando uma carta. Sorriu para Jon ― É de Sansa Stark.

Jon pegou a carta e a leu em voz alta.

― “Caro Jon, As coisas em Winterfell estão deveras tranquilas. O seu exército está organizado e pronto para atender qualquer chamado. Balerion se recusa a comer a menos que Meraxes esteja por perto e, nesse momento, Meraxes prefere estar comigo do que caçando por ai e estou muito lisonjeada com tanto carinho de um ser tão... singular como ele. Enfim, diga a Robb que está tudo bem e sentimos falta de vocês por aqui. Bran manda lembranças. Sansa.”

Aquelas eram realmente boas notícias. Robb estava feliz e logo Jon se viu sozinho. Navegar o deixava relativamente enjoado, mas agora estava em paz.

Porém Jon tinha aprendido que tempos de paz nem sempre vinham para durar.

♦♦♦

― Quantos dias mais teremos de viagem? ― Lyanna questionou ao Capitão. Este, um senhor já idoso e experiente, lhe deu um sorriso cansado.

― Provavelmente mais uma meia volta de lua, senhora.

Lyanna fez uma cara de desagrado, porém não se podia apressar um velho senhor e seu velho barco. Juntos, eles seguiriam sua própria vontade em direção ao destino final.

Jon estava preocupado. Não tinha noticias de Correrrio e naquela altura o exército Lannister já devia ter chegado. Não estava muito preocupado com Shiera, ela era até mesmo mais forte e melhor com a espada do que ele.

Observou Theon Greyjoy ao longe e outra coisa lhe ocorreu. Como asseguraria o apoio das Ilhas de Ferro? Perdeu-se em pensamentos por mais alguns instantes, até que o Capitão de Quebramar lhe chamar atenção.

― Outro barco se aproxima!

― Deixe-me ver o brasão ― Jon apertou os olhos ― Um veado sobre um coração em chamas... Stannis Baratheon. Aproxime-nos.

O capitão lhe obedeceu e então Jon viu pela primeira vez Stannis Baratheon e ele pareceu-lhe exatamente o que era – um velho homem de olhos inquisidores e postura solene. Havia honra presente em seus olhos. E um maxilar travado lhe dava uma característica séria.

Jon foi até perto do barco de Stannis.

― É um prazer conhecê-lo, Lorde Stannis.

O outro sorriu.

― Vossa Graça ― O lorde de Pedra do Dragão curvou-se com um sorriso nos lábios ― O prazer nesse caso é todo meu.

Jon crispou os lábios.

― Imagino que vai honrar o que disse em sua carta ― Sugeriu, hesitante.

― Errei uma vez indo contra meus soberanos, Jon Targaryen. Não há possibilidade de eu fazer isso de novo, não depois de saber no que minha rebeldia resultou para mim e para o reino.

Stannis Baratheon usou uma ponte portátil para entrar na embarcação Quebramar. Ele e Jon trocaram um cumprimento sincero, um singelo aperto de mão. Jon tinha a impressão que eles seriam bons amigos.

― Vim encontrar-lhe pois desejo ajudá-lo a tomar o Trono de Ferro, na esperança de que seja um rei melhor do que aquele bastardo que está sentado, fingindo ser um rei ― Stannis disse enquanto entravam nos aposentos privados de Jon.

― Aprecio sua ajuda ― Jon disse sinceramente ― Mas acredito que, para chegar tão rapidamente ao meu encontro, algo de mais urgente tem de ser discutido.

A expressão de Stannis tornou-se sombria.

― Noticias da muralha chegam para todos. Magia antiga, assim como seus dragões, está prestes a invadir Westeros e nos derrubar na Segunda Longa Noite.

― E o que faremos? ― Jon perguntou, mais para si mesmo do que para Stannis.

― Vim até você na esperança de que soubesse ― Admitiu Stannis.

Ambos ficaram em silêncio. Presságios escuros se aproximavam.

― Em breve iremos a Muralha ― Jon decidiu ― Porque não haverá um Reino para governar se o que diz for verdade.

Suas palavras saíram mais escuras do que ele gostaria, mas naquela noite, deitado em sua cama, Jon teve pesadelos com gelo e morte.