True King

9 - The lady and the fighter


Shiera Lassea nunca fora conhecida por sua paciência. Na verdade, corria a fama pelas ruas de Asshai que ela era grosseira, impetuosa e impulsiva, como uma tempestade de verão. E é claro que ela concordava.

Esse era o problema com suas visões do futuro. Shiera sempre sabia que coisas iam acontecer, mas nunca quando.

Naquele momento ela esperava, olhando pela janela de um dos castelos de Correrrio. O exército Lannister chegaria a qualquer minuto – sentia aquilo nos ossos.

Refletiu sobre toda aquela situação por alguns instantes. Jon já teria encontrado Stannis? Já estaria em Dorne? Ela desconhecia. Sabia que era esse seu destino (e o destino de Jon era tão fácil de prever, ele sempre era duro como uma pedra no quesito decisão), porém desconhecia os detalhes.

Os avistou antes que qualquer outro. Cinco, talvez seis mil desdobravam-se pelo caminho principal de Correrrio, os estandartes de leão altos e claros. O glorioso Jaime Lannister cavalgava a frente, muito mais bonito que qualquer visão que ela pudesse ter tido sobre aquele momento.

Fez sinal para Edmure, que aguardava o momento na torre próxima a sua.

O exército Lannister parou e seu comandante, Jaime, desceu do cavalo e aguardou no portão.

Ele não é um bom diplomata, Shiera pensou e então olhou para Edmure, Nenhum dos dois.

— Deixe-me falar com ele. Não me ouvirá, deveras, mas não quero arriscar entregando o Senhor das Terras Fluviais na mão do exército inimigo — Falou para o Tully.

Vestiu sem pressa a armadura, colocou sua espada, Enseada, na bainha e mandou que os guardas abrissem o portão o suficiente para que ela pudesse passar.

O regicida a esperava. Quando olhou para ela, franziu o nariz com confusão. Shiera se questionou porque – se por ser uma mulher, ou por ser-lhe desconhecida.

— Se perderam, cavalheiros? Tenho certeza que ouvi relatos de guerra num lugar bem longe daqui — Shiera ironizou com doçura, um sorriso enfeitando-lhe o rosto bonito.

— Acho que estamos no lugar certo — Jaime respondeu. Não gostara da atitude da mulher a sua frente — Não sei quem é, mas imagino que fala pelas Terras Fluviais. Gostaria de lhe dar os termos de rendição. Se vocês declararem apoio ao trono de ferro, desistirem de apoiar o usurpador Targaryen, suas vidas serão poupadas. Do contrário, serão mortos e suas casas, extintas.

Shiera fingiu considerar. É claro que, do ponto de vista de outro espectador, aqueles termos na verdade eram bem plausíveis, visando a situação onde se encontravam. Todavia, Shiera sabia exatamente o que aconteceria, independente da escolha que fizesse.

— Não acho que sejam termos que poderemos aceitar agora — Retorquiu, o olhar reverberando como se ela escondesse algo.

— Então acho que nos sobra lutar — Jaime sugeriu cansado. Shiera quase riu – ah, se ele pudesse ver o que ela tinha visto! Será que largaria sua espada, enfrentaria seu real destino?

— Sinto muito, Jaime — Falou com sinceridade — Esperava que vocês fossem embora antes de termos que lutar. Realmente uma pena.

Dito isso, os portões de Correrrio foram abertos e todos os seus soldados entraram em cena. Algum contingente havia chegado de Winterfell ao comando de Arthur Dayne – este estando disfarçado entre os soldados, o que totalizava seis mil bons homens.

Shiera sacou a espada e seu alvo especial o fez também. Ela agora poderia ver se o aluno do qual seu pai era tão orgulhoso era realmente bom.

Ele começou atacando-a, mas ela o deteve. O baque das espadas, metal com metal, passou a ser o único som que reverberava ali naqueles pátios. Os portões, impedindo a entrada no castelo, estavam abaixando.

Shiera também contribuiu para aquela dança de espadas, empurrando Jaime para trás a cada estocada. Ela era forte e ágil, mas o homem também era. Ficavam num impasse horrendo.

Então ela distraiu-se alguns instantes quando reconheceu Arthur entre a multidão, uma máquina de matar o inimigo. Jaime conseguiu derrubá-la e Enseada voou longe.

Ele sorriu, se aproximando, pronto para dar o golpe final. Todavia, Shiera foi mais rápida e passou uma rasteira, fazendo-o cair no chão com força. Sequer lhe deu tempo para recuperar-se.

Se aproximou, sorrindo:

— Parece que meu pai não treinou você o suficiente — Gritou entre a guerra e então acertou-lhe um soco forte no queixo, fazendo com que o agora não mais melhor espadachim de Westeros desmaiasse.

Então olhou ao redor. O exército das Terras Fluviais estava indo bem e ela sabia que em algum tempo o exército Lannister bateria em retirada. Uma mão tocou seu ombro.

Olhou para cima pronta para derrotar o agressor quando deu de cara com seu próprio pai.

— Leve Jaime para fora daqui, como Jon ordenou. Em breve nos encontraremos de novo. Tome cuidado e nada de ser impulsiva. Você precisa dar tempo ao tempo. Amo você — Beijou-lhe a testa, então voltando para a batalha.

— Também te amo — Shiera gritou inutilmente. Ele já estava longe.

Sim, se encontrariam, ela sabia disso.

Agarrou fortemente Jaime Lannister pelos braços, com cuidado para não machucá-lo mais do que a luta havia feito. Havia um cavalo preparado para ela nos estábulos, então apenas algemou-lhe as mãos e partiu em disparada para fora de Correrrio.

Os minutos pareceram horas. Shiera odiava estar sozinha e cavalos a deixavam enjoada. Sentia falta de Jon, Lyanna, estar com seu pai, rindo em Asshai depois de um treino de espadas.

Soltou um suspiro pesado, parando o cavalo numa clareira para descansar. Olhou pelo canto do lho o corpo adormecido de Jaime. Ele acordaria em breve, mas não antes de ela conseguir alguma comida.

Não haviam tavernas próximas, então ela pegou algumas frutas e caçou um coelho, fazendo uma fogueira.

Quando estava pronta para comer, seu prisioneiro acordou, confuso. Esperou que ele estivesse pronto para falar, enquanto encarava-a com indecisão.

— Quem é você? — Jaime perguntou. Shiera bufou. Conseguia pensar numas dez perguntas melhores para aquela situação.

— No momento, sua pior inimiga. No futuro? — Ela riu pela piada particular — Não fique com essa cara emburrada, milorde. Não é como se eu fosse assar você nessa fogueira.

Ele pensou por alguns instantes.

— O que pretende fazer comigo?

— Nada — Falou, vendo-o ficar ainda mais pensativo — Meu trabalho era tirar você do campo de batalha, para desorganizar seu exército e facilitar nossa vitória. Também para garantir um trunfo contra seu pai, imagino. Como vê, apenas obedeço ordens.

— De quem? — Jaime questionou. Ela olhou para ele com desdém. Não podia ser mais óbvio, podia?

— Jon — Viu que soava informal demais, então complementou — Jon Targaryen.

O deslize não passou despercebido pelo outro, que sorriu acidamente.

— Rainha dele? — Questionou para o vento — Não. Ele não deixaria sua rainha lutar, tampouco num lugar nojento como Correrrio. Apaixonada por ele, então?

— Passou longe, Jaime — Ela negou. Então, como uma boa anfitriã, ofereceu a ele carne, que ele pegou com avidez.

Em breve anoiteceria. Ela pegou-se pensando onde repousariam.

— Uma última pergunta — Shiera ergueu uma sobrancelha — Bem, por agora, é claro. Nós nunca nos conhecemos antes. Porque me chama por Jaime, como se tivéssemos alguma intimidade?

— Jaime não é seu nome? — Foi a vez dele de construir uma expressão cética — Tem coisas que você ainda desconhece, Jaime Lannister. Talvez venha a descobri-las durante nossa pequena viagem.

Jaime ainda a encarou por alguns instantes, indeciso em acatar ou não sua resposta misteriosa. Decidiu no final que não valia apenas tentar descobrir mais nada, além de uma maneira de fugir.

Ela tentou lembrar-se... Claro! Edmure tinha dito que se fosse rápida poderia chegar até a próxima vila, onde tinha a velha taverna Bafo de Peixe, onde as pessoas eram leais e lhe serviriam com dedicação.

Terminando de comer, Jaime olhou para a trilha que seguiam.

— E para onde vamos, se me permite questionar, minha cara senhora?

Shiera sorriu. Para quem na teoria pararia de fazer perguntas, ele continuava bem falante.

— Vamos para Winterfell, onde encontraremos Jon e seu exército. Ele decidirá o que fazer com você.