True Colors

Capítulo 2


True Colors

Capítulo 2

Mas eu vejo suas cores reais

Brilhando por dentro.

Eu vejo suas cores reais

E é por isso que eu te amo.

Então não tenha medo de deixá-las aparecerem,

Suas cores reais.

Cores reais são lindas

Como um arco-íris.

As sobrancelhas de House se franziram em um claro sinal de confusão. O sorriso cúmplice ainda estava instalado nos lábios de Sandra, redirecionado exclusivamente a ele. De repente, os olhos verdes dela se iluminaram e os braços se esticaram em sua direção, chamando-o para perto. Contudo, House permaneceu imóvel, o que fez com que Sandra mudasse a expressão facial.

— O que foi, meu amor? — A voz suave perguntou-lhe receosa, os braços abaixando-se gradativamente. — Onde você estava? Fiquei preocupada quando não o vi aqui, comigo.

House começou a esquadrinhar o quarto, notando se havia mais alguém além dele e de sua equipe. Talvez ela pudesse estar o confundindo com o marido ou quem sabe pregando-lhe uma peça de mau gosto. Todavia, estava presente apenas sua equipe de três médicos, que observavam a mulher com a mesma hesitação que ele. Voltou-se a ela, suspirando divertido.

— Acho que você bateu a cabeça. — House aproximou-se, sacando do bolso o oftalmoscópio. Redirecionou a luz, percebendo que os vasos não se danificaram. — Sente alguma dor?

— Não, estou bem. — Sandra sorriu afável. — Por que está falando comigo como se não me conhecesse?

— Bom, isso é muito simples. — O médico ajeitou a postura, encarando-a firmemente. — Eu não a conheço e não sou seu marido. Seja quem ele for, nos dê o telefone dele e meus capachos irão contatá-lo.

— Você está bem, House?

Espere um momento! Como a paciente sabia o seu nome? Ah, claro, Cuddy não ia perder essa, conversou consigo inspirando o ar lentamente. Com um gesto de cabeça mandou que sua equipe se retirasse, não antes de entregar a Cameron a ficha de Sandra, e sentou-se na cama. Faria mais alguns exames e desmancharia aquela brincadeira antes que ele ficasse realmente irritado.

— O que aconteceu com você? — Ele interrogou, aguardando pela resposta imediata.

— Não me lembro muito bem... — Sandra acariciou a testa, como se assim pudesse trazer as lembranças. — Eu estava trabalhando e de repente me senti mal. Quando acordei me disseram que eu tinha desmaiado.

— Aparentemente você não tem nada. — House levantou-se, porém foi detido por Sandra que segurava seu pulso com firmeza. — Escute, não estou no clima para brincar de casinha, então...

— Está me magoando. Eu fiz algo de errado, querido?

— Pare de me chamar assim, é irritante! — Gregory desvencilhou-se do toque da mulher. — Nós não somos casados. De onde tirou essa ideia absurda?

Sandra Working soltou-o rapidamente, como se o toque a tivesse feito recobrar vislumbres de sua personalidade e vida. Umedeceu os lábios, desviando a atenção para um ponto fixo e invisível do quarto. Nada ali lhe era familiar e prestou atenção no que vestia: Um simples pijama hospitalar.

— O que estou fazendo aqui? Quem é você? — Ela despejou as perguntas, assustada, cobrindo o corpo com o lençol. — Onde está Daniel?

— Sabe, acho que você bateu mesmo a cabeça. — House murmurou, cansado. — Daniel é seu marido?

— Marido? — Sandra quase riu com a suposição. — Pelo amor de Deus, eu mereço algo melhor. Daniel é apenas um... Colega chato de trabalho. — Ela descobriu-se, indicando para House suas roupas. — Pode me entregá-las? Preciso ir para casa e terminar meu relatório.

— Desculpe, mas não posso liberá-la ainda. — O médico foi categórico, nos lábios um sorriso que Sandra não soube identificar. — Preciso que faça alguns exames. Se tudo estiver bem, poderá ir para casa.

— Mas eu me sinto bem, er... Doutor. — A jovem mulher sobressaltou-se irritada, os olhos verdes faiscando em reprovação. — Não pode me manter aqui!

— Eu posso e vou. — House deu as costas, abrindo a porta. — É chato e ninguém lamenta mais do que eu.

(...)

House mancou até sua sala, onde sua equipe aguardava por ele e provavelmente pelassuas ordens. Ele não soube explicar a insistência em manter Sandra no hospital, em tempos comuns ele estaria mais do que feliz por ter um paciente a menos para diagnosticar. Contudo, o comportamento que ela assumira diante dele o deixou com várias ideias, e como ele afirmara talvez ela tivesse mesmo batido a cabeça.

— Façam exame de sangue e radiografia da cabeça. — Ele entrou, despachando as ordens.

— Assim, sem nenhuma explicação? — Cameron indignou-se, gesticulando enquanto observava o médico ranzinza sentar-se na cadeira. — Não vamos nem discutir o caso?

— Já estamos discutindo. — House fez uma careta para a médica, que suspirou frustrada. — Por que ainda estão aqui?

— Estava tentando imaginá-lo casado com alguém. — Eric Foreman disse, juntando os papéis. — E...?

— Façam o que eu mandei.

Os três médicos saíram para cumprir suas ordens, deixando House a sós com seus pensamentos. Poderiam ter várias explicações para a cena que participou minutos atrás, todavia, mesmo que houvesse possibilidades ele gostaria de confirmar as suspeitas antes de apostar em uma variável. Enquanto esperava os médicos voltarem com os resultados, distrair-se-ia com sua enorme bola de tênis.

(...)

— Já disse que estou bem. — Sandra tentava convencer a médica, enquanto ela garroteava seu braço com uma tira de borracha.

— É só para confirmar. — Cameron injetou a agulha na veia da jovem para colher o sangue. — Depois, iremos levá-la para uma radiografia.

— Ele não vai mesmo me deixar ir, não é? — Sandra, apesar de irritada com o médico, acabou por ceder. — Qual o problema dele?

— Fala do doutor House? — Cameron terminou o trabalho, tapando o pequeno furo com um curativo. — Apesar de ser rude com todo mundo, só quer se certificar.

— A palavra do paciente não conta? — A engenheira sentou-se na cadeira de rodas e permitiu que a médica a conduzisse pelo hospital. — Quanta democracia e... — As palavras foram desacelerando, embaralhadas, e à medida que percorriam os corredores do hospital, Sandra presenciava várias formas a sua frente.

A primeira eram os bancos, que aparentavam possuir braços e pernas; a segunda acompanhava por uma voz grave e mortífera que ressoavam maldosamente em seus ouvidos. Tapou a audição e fechou os olhos, como se assim resolvesse o seu problema. Porém, o que era um efeito rápido alertou-a para a mão que envolvia seu pulso. Pressionada, Sandra levantou-se da cadeira e correu desesperada para longe, apontando para Cameron.

— Ela quer me machucar! Afaste-me dela!

— Sandra, o que houve? — Allison tentou se aproximar, porém o efeito foi o contrário. — Está tudo bem, ninguém quer pegar você.

— Não minta para mim! — Nesse momento, Sandra chorava, piscando os olhos repetidamente a fim de desfazer aquela realidade fictícia. — Cuidado, a mão vai te pegar!

Cameron segurou-a pelos pulsos, chamando-lhe a atenção para si. Os olhos de Sandra encontravam-se sem foco e avermelhados pelo choro, e ela murmurava coisas desconexas, retratava o que via e ouvia. Em um dado momento, Sandra empurrou Cameron, alegando que a médica fosse cúmplice da figura inexistente.

Bipou os colegas de trabalho, pensando ser mais fácil contê-la se estivesse em grupo. O que se comprovou uma teoria inválida. A forma como Sandra se debatia era incontrolável, precisariam sedá-la antes que acabassem não só se machucando como também ferindo a paciente. O hospital era atraído pela euforia e na ineficiência dos médicos em conter, o que aparentava, uma mulher histérica e louca.

— Não podemos gritar no hospital, não leu a plaquinha? — A voz de House ecoou pelo corredor, causando um efeito tranquilizante em Sandra. Imediatamente ela cessou os movimentos, encarando-o como se ele fosse sua cura.

A respiração alterada de Sandra fazia-lhe o peito subir e descer, os olhos cansados foram se fechando lentamente. Foreman, no alvoroço, conseguiu preparar uma seringa com sedativo a tempo e injetou-a na mulher. Em poucos segundos, Sandra encontrava-se dormindo.

— Poderiam ser mais rápidos, ou querem passar a noite inteira no hospital cuidando da louca? — House rebateu ácido, girando nos calcanhares. De fato, existia alguma coisa nele que cessava a histeria da jovem. E ele iria descobrir o que era.

Sem escolhas, os médicos seguiram como ordenado.

(...)

— A radiografia deu normal. — Chase pendurou as chapas no painel iluminado, revelando as figuras aos três médicos. — Sem pontos brilhantes, sem inchaços nem sombras, nada de câncer.

— E o exame de sangue? — House perguntou, batendo a bengala irritantemente no chão, em ritmo.

— Normal. — Cameron respondeu, entregando a ele a folha. Repousou as mãos na cintura.— Sem uma base para começar, estamos estagnados.

— Se os exames deram normais, isso quer dizer que ou ela é louca ou se faz de louca.

— Qual sentido disso? — Chase rebateu, as sobrancelhas franzidas em confusão. — As pessoas veem ao hospital quando estão doentes, não por fingirem estar doentes.

— Boa teoria. — House aplaudiu, entediado. — Vou colocar uma moedinha na máquina e comprar a verdade com sabor de refrigerante de laranja. Chequem o trabalho dela, pessoas que ela conhece, tragam informações sobre Sandra. — Levantou-se, dando a conversa por encerrada e rumou à saída da sala.

— Aonde você vai? — Foreman indagou, como se todas as vezes que House tomava tal atitude ainda fosse algo impressionante. Na verdade, poderia ser algo preocupante comparado com o tempo que o conhecia.

—Fazer o meu trabalho. Não é para isso que sou pago?