Ele se encontrava andando por seu apartamento comendo, ou melhor, degustando do incrível sabor de um pacote de salgadinho. Por mais que quisesse, era impossível ficar parado para comer tal iguaria. Como não esperava por ninguém, deu-se ao luxo de vestir uma roupa cômoda: camiseta e camisa preta e calça também preta. Só não ficou mais a vontade porque sua experiência profissional lhe mostrara que podia ser requisitado a qualquer momento, portanto era melhor não arriscar. Mesmo assim, optou por ficar descalço. Depois do complicado caso que ele e a equipe do Jeffersonian haviam resolvido, ele realmente merecia uma noite de descanso.

Foi com grande surpresa que ele ouviu a batida na porta. Estranhou um pouco, pois realmente não esperava visitas de ninguém. Temia que pudesse ser Caroline, a promotora de justiça, lhe informando que eles tinham um caso inesperado para resolver. Sua surpresa foi ainda maior quando ouviu a voz de contralto que tanto adorava.

— Booth, sou eu, a Bones – ela anunciou.

Ele reparou que ela se apresentou com o apelido que ele lhe havia dado. Gostou daquilo. Não havia dúvida, era ela. Era a sua Bones. Era sua Temperance. Inesperadamente seu coração se encheu de alegria. Ele abriu a porta e deparou-se com uma visão magnífica. Parada diante dele estava a deusa em forma de mulher que passara a povoar seus pensamentos e seus sonhos. Como sempre, ela estava elegantemente vestida com uma blusa vermelha. Não dava para saber se era de alça ou não, porque ela usava um sobretudo por cima da blusa. Além disso, usava uma calça jeans bem colada. Ela estava uma verdadeira tentação. Como era bom poder vê-la ali em seu apartamento.

— Oi – ele disse animado como se subitamente tivesse voltado a ser um adolescente tolo.

— Ei – ela respondeu um pouco acanhada – Eu deveria ter ligado antes.

— Não, entre! – ele não podia deixá-la ir embora - Fala sério! – ele comentou tentando fazê-la sentir-se em casa.

Ela entrou. E assim que o fez, ele pôde sentir a suave fragrância de seu perfume. Sentiu os pelos de seu corpo se arrepiarem. Ela tinha esse dom. Sabia que ela devia estar travando uma enorme luta interna para estar ali. Bones não confiava em ninguém, apenas em si mesma. E se ela estava ali, era porque precisava de apoio. Sentia-se agraciado por perceber que ela confiava nele. Conhecendo-a como a conhecia, percebia que ela não estava bem. Ao longo de todos esses anos em que trabalhavam juntos, ele aprendeu a reconhecer seus estados de espírito. Sabia perfeitamente quando Bones estava triste, com raiva ou preocupada. E seria uma vergonha, se ele, um renomado agente especial do FBI, não pudesse reconhecer as emoções das pessoas com quem conversava.

— Eu vi Sweets e Daisy, e estava errada. Ela não o traía – ela disse por fim. Seeley Booth sabia perfeitamente a que assunto ela se referia.

— Que coisa boa, não é? – ele comentou encorajando-a a continuar.

— Queria poupá-lo da dor, e tudo o que fiz foi causar dor.

— Suas intenções eram boas – Booth tentou consolá-la.

Ele podia ver dor estampados naqueles lindos olhos azuis. E antes que ele pudesse indicar que ela se sentasse, ela o fez com muita graça. Como ela era linda! Permaneceu em pé, admirando-a.

— Ele ficou tão ciumento que quase arruinei sua relação. Deveria ter dado ouvidos a você – ela continuou olhando-o nos olhos.

— Talvez me escute da próxima vez – ele disse gentilmente. Queria poder abraçá-la, beijá-la e outras coisas que no momento preferia não pensar.

— Ei. Estava de saída para comer alguma coisa. Comida chinesa, talvez... – ele arriscou. Talvez assim ela se sentisse melhor.

— Prefiro beber. Quer? – aquela resposta o pegou de surpresa. Podia ser uma boa ideia ou não.

— Sim. Também podemos... – ela não esperou que ele terminasse. Foi direto para o bar que ele tinha em frente ao sofá, pegou um copo e escolheu uma garrafa – Minha bela garrafa de uísque.

Ela escolheu a garrafa que ele vinha guardando para uma ocasião especial. Que se dane! Ela merece!

— Saúde, Bones – ele brindou quando ela entregou-lhe o copo e ela ficou com a garrafa. Sentou-se novamente no sofá.

— Sabe, intelectualmente, sei que o ciúme é algo absurdo. Mas vejo que isso é real para as pessoas. Eu mesma já experimentei – ela comentou como se isso não tivesse importância.

— De quem você tem ciúmes? – ele perguntou sentando-se ao lado dela, sentindo o calor que emanava daquele corpo perfeito e temendo a resposta que viria a seguir. Como desejava aquela mulher estava ao seu lado! Será que ela tinha ideia do efeito que ela tinha sobre ele? Duvidava disso. Ele, entretanto, por diversas vezes, se pegara imaginando como seria fazer amor com ela. Seria ela tão quente quanto ele imaginava?

— Ângela, Hodgins, Cam e você – ela respondeu. E intimamente ele se perguntava por que ela teria ciúmes dele. Não conseguiu resistir à curiosidade.

— Por quê? – ele quis saber.

— Porque todos querem se perder em outra pessoa. Acreditam que o amor é transcendente e eterno. Também quero acreditar nisso – ela explicou.

— Ei, você acreditará – ele garantiu sentando-se ainda mais próximo a ela – Prometo. Algum dia você acreditará, está bem?

Ela assentiu. Eles brindaram novamente e tornaram a beber a bebida cor de âmbar a qual desceu queimando.