Ela dirigiu-se até o apartamento dele. Estava ali parada em frente a porta. Ainda não sabia ao certo do porquê de estar ali. Talvez fosse instinto ou talvez fosse por que ele era uma das únicas pessoas em quem confiava. A história de sua vida fez com que ela se fechasse para relacionamentos interpessoais e a ensinou que não se devia confiar nas pessoas, pois elas sempre a magoariam de alguma forma. Porém mesmo assim, estava diante da porta da residência de seu parceiro de trabalho, o agente especial Seeley Booth, com ele era diferente. Com ele, ela conseguia ser ela mesma. Ainda se perguntava por que estava ali. Não sabia. Apenas tinha a certeza de que deveria vê-lo. O caso da noiva que usava o aplicativo de relacionamentos e ver sua assistente Daisy, provando um vestido de noiva com outra pessoa que não fosse o noivo, havia realmente mexido consigo e com suas convicções. Ela era muito boa com pessoas mortas, não com as vivas. Nunca entendia o que eles realmente queriam dizer. Já os ossos, nada escondiam e ela como excelente antropóloga forense que era, era capaz de decifrar todo o mistério escondido em cada pedacinho de osso. Podia dizer de onde era, o que fazia e como havia morrido.

Respirou fundo centenas de vezes antes de bater na porta. Tudo bem, era exagero. Respirou fundo umas duas, ou três vezes. Ainda dava tempo de desistir. Contudo, por mais contraditório que pudesse parecer – sua razão dizia-lhe para ir embora enquanto seu coração lhe pedia para ficar – viu sua mão bater na pesada porta de madeira e ouviu-se dizendo:

— Booth, sou eu, a Bones.

Maldito subconsciente independente! Ela pensou. Ele era o único que a chamava assim. Era tão fácil falar o nome dele. Gostava de chamá-lo pelo sobrenome. Achava sexy e não queria tratá-lo como as outras mulheres.

— Já vou – ela ouviu aquela linda voz de barítono vindo de dentro do apartamento. Aquela melodia aqueceu seu coração. Tinha de reconhecer que estava inteiramente atraída por ele. Entretanto, tinha muito a perder, principalmente a amizade dele.

Ele abriu a porta e ela vislumbrou aquele magnífico homem de peito largo, olhos castanhos, queixo quadrado, de cabelo castanho cortado curto, comodamente vestido com uma camiseta e camisa preta e calça também preta. Dava para perceber que ele não esperava por ninguém. Em suas mãos trazia um pacote de salgadinho. Aquela podia ser sua refeição. Ele estava absurdamente lindo.

— Oi – ele disse animado.

— Ei – ela respondeu de volta – Eu deveria ter ligado antes – Temperance arrependeu-se de ter agido por impulso e ido até ali. Talvez ele estivesse acompanhado. Booth não tinha problemas para conseguir companhia feminina. Sentiu ciúmes apenas por este pensamento.

— Não, entre! Fala sério!

Ela obedeceu e entrou no recinto. Precisava realmente desabafar. Ele era a pessoa ideal. Confiava nele. Sentia que com Booth podia se abrir, que ele seria incapaz de magoá-la.

— Eu vi Sweets e Daisy, e estava errada. Ela não o traía – ela disse por fim.

— Que coisa boa, não é? – ele comentou encorajando-a a continuar.

— Queria poupá-lo da dor, e tudo o que fiz foi causar dor.

Bones realmente se sentia triste por perceber que quase destruíra com o relacionamento do psicólogo forense, Lance Sweets. Por mais que diversas vezes ele fosse indiscreto e inconveniente não queria o sofrimento de seu colega de trabalho.

— Suas intenções eram boas – Booth tentou consolá-la.

Sem que ele pedisse, ela sentou-se no sofá. Sentia que estava a ponto de desabar. Era incrível como se sentia a vontade com ele. Booth, por sua vez, permaneceu de pé.

— Ele ficou tão ciumento que quase arruinei sua relação. Deveria ter dado ouvidos a você – ela ponderou olhando-o nos olhos.

— Talvez me escute da próxima vez.

Ela bufou. Ele era tão gentil. Sempre buscava explicações para suas atitudes e sempre, ou quase sempre era paciente com ela.

— Ei. Estava de saída para comer alguma coisa. Comida chinesa, talvez...

— Prefiro beber. Quer?

— Sim. Também podemos... – ela não esperou que ele terminasse. Foi direto para o bar que ele tinha em frente ao sofá, pegou um copo e escolheu uma garrafa – Minha bela garrafa de uísque.

— Saúde, Bones – ele brindou quando ela entregou-lhe o copo e ela ficou com a garrafa. Sentou-se novamente no sofá.

— Sabe, intelectualmente, sei que o ciúme é algo absurdo. Mas vejo que isso é real para as pessoas. Eu mesma já experimentei – ela comentou como se isso não tivesse importância.

— De quem você tem ciúmes? – ele perguntou sentando-se ao lado dela. Ela pode sentir o calor que emanava do corpo dele. E imaginou por um instante como seria fazer amor com o agente. Suspeitava que devia ser maravilhoso. Baixou o olhar – ele talvez pudesse ler sua mente - e respondeu:

— Ângela, Hodgins, Cam e você.

— Por quê?

— Porque todos querem se perder em outra pessoa. Acreditam que o amor é transcendente e eterno. Também quero acreditar nisso.

— Ei, você acreditará – ele garantiu sentando-se ainda mais próximo a ela – Prometo. Algum dia você acreditará, está bem?

Ela assentiu. Eles brindaram novamente e tornaram a beber a bebida cor de âmbar a qual desceu queimando.