— Por favor, ela não fez nada. — Zoey tentava convencer o segurança a me deixar entrar.

— Não fez nada?! — disse grosseiro. Francamente, quem contratou esse cara? — Você sabia que foi essa pirralha quem destruiu o cenário? — que exagero, eu só derrubei uma peça, babaca.

— Ela não fez por mal. — Zoey insistia. Eu fiquei impressionada com a facilidade dela em confiar em mim, mesmo sabendo que eu invadi o set. Eu realmente tive sorte em encontrá-la — Ela só vai fazer um teste para a vaga de estágio que abriu. Se ela não conseguir, vai embora na hora, eu prometo.

Ele pareceu hesitar um pouco, me encarou por um tempo (bastante tempo, eu diria) da cabeça aos pés e dos pés à cabeça. Aquilo estava começando a ficar estranho.

— Tudo bem. — disse finalmente e eu e Zoey entramos correndo.

Logo viamos as pessoas da equipe andando pra lá e pra cá, câmeras e luzes fortes que ofuscavam minha visão. Michael estava bem no meio do set e uma mulher retocava sua maquiagem. Ola Ray estava um pouco mais distante, sentada numa cadeira e lendo uma revista com um olhar esnobe. Eu já não sentia mais aquele nervosismo por ficar perto do Michael. Não sei se é pelo jeito que ele me tratou, porque ele continuava sendo meu artista preferido, mas já não era mais tão especial assim. É como uma desilusão amorosa.

— Emma! — Zoey chamou e uma mulher loira veio até nós, parecia ser sua chefe — Essa é a garota que eu te falei. — disse e apontou pra mim — O nome dela é Skyler. — ela estava falando rápido, nem me deu a chance de dizer meu próprio nome.

— Emma Woods, prazer. — ela estendeu a mão e eu a cumprimentei — Você passará por um teste hoje. Se se dar bem, eu serei sua nova chefe. — disse sorrindo e eu retribuí. As pessoas aqui sorriem sempre, inclusive — E eu já tenho uma tarefa pra você. — ela continuou — Eu estou meio enrolada, pode entregar a jaqueta ao sr. Jackson?

— Espera, o que?! — perguntei, mas ela apenas me entregou a jaqueta vermelha e saiu. Retiro o que eu disse sobre não estar nervosa. Eu não imaginei que iria ter que trabalhar pra ele logo de cara. Estou suando frio.

Olhei para a jaqueta em minhas mãos. Se fosse em outra ocasião, eu estaria transpirando felicidade por estar segurando a jaqueta que Michael usou em Thriller. Mas ele estava ali há alguns metros de mim, a jaqueta era só um detalhe.

Ele agora estava conversando com a maquiadora e ela ria de tudo o que ele falava. Parecia estar flertando com ela. Esperei ela sair dali e me aproximei, e o sorriso no rosto de Michael desapareceu instantaneamente quando me viu. Eu não sabia com que cara olhar pra ele.

Você. — disse com um certo nojo — O que está fazendo aqui?

— Entregando sua jaqueta. — respondi irônica, mas estava me segurando pra não cair em lágrimas — A menos que não queira, eu não me importo de ficar com ela. — ele tomou a jaqueta da minha mão e a vestiu.

— Quis dizer aqui no set. — disse arrogante. Sinceramente, estou com cada vez mais raiva. Nunca pensei que sentiria isso quando encontrasse Michael.

— Eu trabalho aqui. — respondi e quase não consegui segurar o riso quando vi a cara que ele fez.

— Como? — agora eu não sabia se ria ou se chorava. Realmente, a cara de Michael era hilária, mas significava que ele não me queria ali, e aquilo me destruia — Não. Exigirei agora mesmo que seja demitida. Cadê a Emm-

— Desculpa, mas não foi você que me contratou. — interrompi-o, e aquilo me cortou o coração, mesmo ele sendo um babaca — Então acho que você não faz as regras. — quando disse isso parecia que ele era capaz de me matar apenas com o olhar. Acho que ele não gosta quando o deixam sem resposta. Saí dali antes que ele me estrangulasse, mas não deixei de lançá-lo um olhar sarcástico antes.

MICHAEL JACKSON • POV

Eu odeio essa garota. Odeio de verdade! Primeiro, ela invade o meu set no meio das gravações do meu curta, - sim, porque eu não faço clipes, faço curta-metragens, é diferente - destrói o meu cenário, e ainda por cima é contratada como estagiária? Só pode ser brincadeira. Não sei quanto tempo vou aguentá-la perto de mim, vou acabar surtando. Isso não vai ficar assim, falarei com a Emma agora mesmo.

— Emma. — ela estava perto dos camarins conversando com alguns estagiários, que se afastaram quando me viram — O que deu na sua cabeça de dar sua maldita vaga de estágio para aquela ruiva maluca? — perguntei num fôlego só, queria acabar logo com isso.

— Skyler? — então esse é o nome daquela... criatura — Maluca? Por que? — ela realmente não sabe o que aquela garota fez?

— Como assim ''por que''? — meu tom saiu mais grosso do que eu queria, mas não tinha jeito, eu já estava perdendo a paciência

— Foi ela quem invadiu o set, droga! Eu não admito que ela trabalhe para mim. — disse autoritário.

— Michael... — ela disse calma, muito diferente de mim, eu estava quase soltando fumaça pelos ouvidos — Sinto muito, mas não posso demiti-la por algo que ela fez antes de eu contratá-la... — eu não conseguia dizer mais nenhuma palavra, tamanha a raiva que eu sentia. Apenas respirei fundo e saí dali antes que descontasse tudo em Emma.

Eu realmente não sei o que está acontecendo, não costumo tratar as pessoas assim, muito menos fãs, sempre fui um cara pacífico com todos. Mas, não sei, essa garota tem alguma coisa... Não consigo tratá-la normalmente, algo me impede. Bem, agora terei que aceitar o fato de que ela trabalha pra mim, mas tentarei me concentrar em manter distância dela, ou com certeza esse set inteiro irá abaixo com nossas brigas. Sem contar o meu estresse por causa dessas malditas manchas que estão aparecendo pelo meu corpo. Não sei o que fazer para esconder isso, as maquiagens não estão mais dando conta.

Skyler estava do outro lado do set com Zoey, que aparentava explicar à ela o que teria que fazer dali em diante, e não parecia nem de longe aquela garota que invadiu aqui ontem. Com certeza Zoey deve tê-la ajudado. Como sempre fazendo caridade. Eu queria ser assim, ter um coração bom o bastante para ajudar pessoas. Bem... quem sabe eu tenha, só não estou pronto pra deixar ele agir.

***

SKYLER JONES • POV

Dias se passaram, Thriller foi lançado e como o esperado, foi o maior estouro. Tocava em todas as rádios e passava em todos os canais de TV daquela época, além de ser a primeira estréia mundial de um video-clipe pela MTV - mas disso eu já sabia -. Eu tinha que admitir, estava orgulhosa de Michael, mesmo as brigas entre eu e ele tendo aumentado muito mais nos últimos dias. Não parávamos de nos xingar e só não trocávamos tapas porque segundo ele, ''Michael Jackson não bate em mulheres'', e eu nunca conseguiria bater nele, nem preciso dizer o porquê. Aquilo me magoava. Nunca pensei que minha relação com Michael seria desse jeito, mas não posso fazer nada se ele está agindo assim comigo. E apenas comigo. Eu vejo como ele trata as outras pessoas que trabalham com ele e ele é completamente gentil e educado, mas me trata como um lixo. Isso me machuca ainda mais, e eu liberto as lágrimas que estão presas sempre que me encontro sozinha em algum lugar. Mas claro que não deixaria ele perceber o quanto isso me abala, então apenas devolvo na mesma moeda. Além disso, minha estadia nesta época está ficando longa demais. O que eu teria que fazer seria salvar Michael daquelas queimaduras, certo? Mas isso aconteceu em 1984, ou seja, eu ainda teria que esperar pouco mais de 1 ano. Estava ficando impaciente.

As gravações das outras músicas do álbum começaram e eu estava indo diariamente à gravadora Epic Records com Zoey. E honestamente, Emma estava me pagando para nada. Eu não fazia nada ali, apenas ficava sentada esperando Michael precisar de alguma coisa, mas haviam vários outros estagiários e ele falava com eles se precisasse de algo, nunca comigo. Eu devia estar feliz por ganhar um salário sem precisar trabalhar, mas quando você é estagiária de Michael Jackson, você quer trabalhar. Mas ultimamente ele mal está olhando na minha cara, nem pra me provocar ou algo do tipo. Na verdade, ele não está falando com quase ninguém, anda pelos corredores de cabeça baixa e está sempre usando blusas de frio, mesmo quando faz calor, parece até um adolescente depressivo. Eu não tenho certeza do que está acontecendo com ele, mas tenho um palpite. Foi nessa época que as manchas na sua pele começaram a ficar maiores, ele disse isso numa entrevista. Se for isso, não fazia idéia de que havia afetado tanto ele.

— Sky, — ouvi Emma me chamar nos corredores da gravadora e fui até ela — deixe esse lanche na sala do Michael. — ela me entregou uma bandeja — Ele não come nada há horas, estou ficando preocupada.

— Por que eu? — perguntei sem pensar. Apenas fiquei surpresa, é a primeira vez que me pedem para fazer alguma coisa para o Michael desde que começaram as gravações.

— Porque eu estou mandando. — respondeu autoritária e soltou um riso de deboche. Eu gosto da Emma, mas as vezes ela abusa do poder.

Entrei sem bater. Michael quase nunca ficava na sala dele, estava sempre gravando, imaginei que agora não seria diferente. Mas me enganei. Ele estava ali se olhando no espelho sem camisa, e as manchas no seu corpo eram visíveis de longe.

— Ahh! — ele gritou quando me viu — Porra, não sabe bater?!

— Não sabe colocar o aviso de ''Não Perturbe'' na porta? — ironizei. Eu estava devolvendo a grosseria com que ele estava me tratando, mas a verdade é que eu estava preocupada — Essas manchas são...

— Não são da sua conta. — respondeu colocando a camisa e a jaqueta rapidamente, e eu tentei controlar minha raiva. Não queria discutir com Michael num momento como esse, eu sabia que estava sendo difícil para ele.

— É por isso que anda se isolando tanto? — perguntei, mesmo já sabendo a resposta — Por que não cobre com maquiagem? — eu já sabia isso também, mas não podia deixá-lo perceber.

— Acha que eu não pensei nisso, sua idiota? — ok, se eu soubesse que ele responderia assim, não teria perguntado — Eu já tentei, mas não dá mais. As manchas estão cada vez maiores. — ele estava falando baixo, não é normal ele falar comigo assim — No rosto até dá certo, mas estão começando a aparecer nas mãos também. — ele parecia estar prestes a chorar. Minha vontade era de abraçá-lo e dizer que iria ficar tudo bem, e eu me segurei para não fazer isso. Espera, ele ainda não havia tido a idéia da luva brilhante?

— Por que você não esconde com uma luva? — perguntei.

— Numa mão só? — ele soltou uma risada sarcástica.

— Qual o problema? Você não gosta de ser original? — disse e deixei a bandeja na mesinha de centro, e ele parecia pensar no assunto — Vê se come, não queremos você desmaiando por aí. — disse seca e saí antes que ele dissesse algo que começasse mais uma briga.

Enquanto andava de volta para junto dos outros estagiários, percebi o que havia acabado de fazer. Eu havia dado a idéia da luva que viraria uma marca de Michael Jackson. Uma idéia que era dele, não minha. Droga, eu não devia ter feito isso, não mesmo!