Time Travel

Thank you for saving me


Eu estava ali, sentada na confortável poltrona de uma das salas da gravadora Epic, apenas assistindo o amontoado de pessoas bebendo champagne, conversando, rindo e comentando o sucesso de Michael Jackson. Hoje era 1° de dezembro, o álbum Thriller fora lançado ontem, 30 de novembro, e estavam todos ali comemorando, inclusive Michael, claro. Mas eu não estava feliz. E por que? Caramba, eu voltei para 1982, conheci meu ídolo, e tenho a chance de salvar a vida dele! Bem, o que acontece é que ele realmente não me suporta. Estamos brigando cada vez mais, e ele comentou várias vezes como queria que eu fosse demitida. Ok, ele me agradeceu pela idéia da luva, mas foi só isso, e a idéia nem era minha. Eu basicamente roubei essa idéia antes mesmo de ele tê-la, e não se passa um dia sem que eu não me sinta culpada por isso. Então não, eu não estava no clima pra comemorar. Apenas fiquei sentada observado as pessoas ali, vários funcionários e estagiários, Michael rindo e conversando com todos, e ouvindo algumas músicas de Thriller que tocava ao fundo. E eu apenas me segurava para não chorar.

— Hey, — Zoey se aproximou de mim e se sentou à minha frente, ela tinha um olhar preocupado — O que houve? Por que não comemora com a gente? — olhei pra ela. Meus olhos provavelmente estavam vermelhos e marejados de tanto que eu segurava o choro, e acho que ela percebeu isso, pois se aproximou de mim rapidamente e me abraçou, e foi aí que eu desabei. Eu chorava compulsivamente, deixando a camiseta de Zoey úmida, mas tentava fazer silêncio, pois não queria que ninguém notasse. Porém foi inútil. Quando abri os olhos, Michael olhava diretamente para mim. Rapidamente me soltei do abraço e sequei as lágrimas.

— Zoey, eu preciso ir. — disse com a voz ainda fanha pelo choro — Não consigo ficar aqui, e você sabe porquê. — sim, ela sabia, eu havia contado tudo à ela. Não a parte de ser do futuro, e sim a que Michael me odiava, e que isso me deixava em pedaços. Zoey havia se tornado minha melhor amiga nesse pouco tempo que eu estou aqui. Eu me divirto com ela assim como me divirto com Anna. E saber que eu tenho um ombro pra chorar enquanto estou aqui, me deixa muito mais aliviada.

Dei um beijo em seu rosto e saí dali em passos rápidos. Eu não pretendia ir para casa. Apenas não queria ficar perto de Michael, mas se ele tem o direito de se divertir, eu também tenho.

A gravadora ficava no centro de L.A, então não foi difícil achar uma boate - ou melhor, discoteca - perto dali. Era grande e fazia bastante barulho, mas a entrada não era cobrada, então pude entrar direto. Tenho que dizer, era bem diferente daquelas baladas modernas. As pessoas apenas dançavam, bebiam e conversavam. Ninguém estava se pegando ou dançando daquele jeito vulgar. Se rolasse um clima ali, o casal ia para outro canto mais privado. A pista de dança era toda colorida, como eu já imaginava, assim como as luzes e o resto da decoração. Nos cantos, haviam algumas mesas e um Open Bar, e logo me dirigi até lá. Eu não queria dançar, pelo menos não ainda.

— Uma dose de tequila, por favor. — pedi com um certo receio. Eu não era de beber em festas, principalmente quando estava sozinha, mas eu precisava de algo para me alegrar pelo menos um pouco.

— Identidade? — ah, droga, eu havia me esquecido disso.

— Ah, eu... — eu ia falar que havia esquecido em casa, quando alguém me interrompeu.

— É por minha conta. — disse uma voz masculina. Olhei ao meu lado e um cara que aparentava ter pelo menos o triplo da minha idade me olhava de um jeito sugestivo. Ah, era só o que me faltava. Não acredito que desde os anos 80 existem pessoas assim — Qual sua graça, bela moça? — acho que ele estava perguntando meu nome. Lançei-o um olhar desconfiado, queria deixar claro que não estava nem um pouco interessada em sair dali com alguém. Tudo bem que eu estava com uma roupa um tanto quanto... apertada, mas não era minha intenção atrair ninguém.

— Skyler. — respondi seca.

— Lindo nome. — ele disse e mordeu o lábio inferior. Deus, que cara nojento! — Eu me chamo Steve. — soltei um suspiro, esperando que ele percebesse que eu não queria papo — Sabe, eu percebi que você não está acompanhada. — ele começou a acariciar meu braço. Eu quase dei um murro no meio do seu nariz, mas aí a dose de tequila chegou e eu tive uma idéia melhor. Peguei o copinho e joguei a bebida na sua cara, depois espremi o limão nos seus olhos.

— Fique longe de mim, verme. — disse e saí dali o mais rápido possível. Meu Deus, não tem como essa noite ficar pior. Fui até o outro lado da discoteca e me sentei em uma das mesas. Havia perdido a vontade de beber, apenas ficaria ali até mais tarde, e assim fiz.
De vez em quando, a cena de Michael me olhando enquanto eu chorava vinha na minha cabeça, e eu logo imaginava ele rindo com o resto dos funcionários enquanto zombava da minha cara. Eu engolia o choro toda vez que imaginava essa cena, mas era quase impossível. E isso aconteceu tantas vezes que eu nem percebi o tempo passar. Quando vi, havia ficado ali por horas. Zoey deve estar preocupada. Levantei e saí correndo porta afora.

— Achei que não fosse sair nunca. — alguém me prensou no muro. Era o cara que havia flertado comigo lá dentro, e ele tinha os olhos vermelhos e furiosos. A rua estava vazia, então o caminho estava livre para ele fazer o que lhe der na telha. Ótimo, para fechar aquela noite com chave de ouro, eu iria ser estuprada por um velho bêbado e nojento. O que mais pode acontecer? Empurrei-o para longe e tentei sair correndo, mas ele me puxou pelos cabelos e me fez cair no chão — Você já era, garota. — ele disse e começou a desabotoar a calça, e eu fechei os olhos esperando pelo pior. Então ouvi um som de vidro quebrando e alguém caindo no chão. Abri os olhos lentamente. Michael estava ali segurando o que restava de uma garrafa, e o velho nojento estava desmaiado do meu lado.

Você ficou louca? — ele berrou e estendeu a mão para me ajudar a levantar, mas eu ignorei e me levantei sozinha — Zoey e eu procuramos você em todos os cantos daquela gravadora, fomos até sua casa e você não estava lá, e todo esse tempo você estava na discoteca mais perigosa de Los Angeles?! — eu apenas o olhava séria enquanto recebia o sermão — Sorte a sua que eu cheguei.

— Eu conseguiria me virar mesmo se não tivesse chegado. — disse convencida, mesmo sabendo que não era verdade.

— Não foi o que pareceu. — ele pegou meu braço e começou a me arrastar até um carro preto.

— O que está fazendo? — perguntei me soltando dele.

— Vou te levar pra casa. — ele parecia impaciente. Não fez nenhuma piadinha ou algo do tipo.

— Eu vou sozinha. — comecei a andar na direção oposta. Eu não iria me render tão fácil. Se ele queria guerra, guerra iria ter. Mas logo ele abriu a porta do carro e me colocou no banco de trás a força. Como eu era pequena e ele era mais forte e mais alto do que eu, não deve ter sido difícil. Logo ele entrou no carro e se sentou ao meu lado, foi só então que eu percebi que tinha motorista — Ugh! — urrei e ele revirou os olhos.

O trajeto do centro de L.A até a casa de Zoey era longo, então já estávamos há um bom tempo dentro daquele carro preenchido por um silêncio extremamente constrangedor. Então eu comecei a pensar no que havia feito enquanto olhava janela afora. Michael tinha me salvado de um estupro e como eu agradeço? Agindo como uma adolescente mimada. Mas eu só conseguia me lembrar das nossas brigas dos últimos dias. Porra, eu sou uma idiota!

— Obrigada... — tomei coragem para falar quebrando aquele silêncio — por me salvar daquele cara. — ele apenas olhou pra mim, mas não respondeu.

— Por que estava chorando? — perguntou depois de alguns segundos. Aquilo me pegou de surpresa, eu não sabia o que responder. Não iria dizer que foi por causa dele, nunca! Abri a boca para dar uma desculpa qualquer, quando o carro parou. Já estávamos na frente da casa de Zoey.

Olhei para Michael. Ele tinha um olhar preocupado e... carinhoso? Não, eu estava vendo coisas. Não se iluda, Skyler. Dei um leve e rápido sorriso e saí do carro, e entrei em casa sem olhar para trás. Logo fui recebida por Zoey e um de seus abraços de urso.

Skyyy! — ela gritou e pulou em cima de mim, e nós duas quase fomos ao chão — Onde você estava, sua doida?! Quase me matou de preocupação. — disse me soltando - e me deixando respirar.
Nós nos sentamos no sofá da sala e eu contei tudo à ela, com todos os detalhes, enquanto ela fazia mil e uma expressões diferentes a cada frase que eu falava.

— Eu. Não. Acredito! — disse ela pausadamente.

— Eu sei, devia ter te contado que não iria pra casa, me descul-

— Não. Eu não acredito que Michael te salvou! — ela me interrompeu — Acho que depois disso, vocês dois darão uma trégua naquelas brigas diárias, não é? — eu não havia pensado nisso. Sim, ela estava certa. Pode até ser que paremos um pouco de brigar, e quem sabe até começar uma amizade. Bem, eu prefiro não ter esperanças demais antes de qualquer coisa, não quero me decepcionar depois.

Conversamos mais um pouco até eu começar a ficar com sono. Tomei um banho, coloquei meu pijama e fui pra cama, e Zoey fez o mesmo. Até que no fim das contas, a noite não terminou tão mal assim.