Through The Viridi

Província de Metalia



Província de Metalia. Uma pacata cidade provinciana na região sudeste da vasta terra de Viridi. Embora nem sempre movimentada como as cidades grandes vizinhas ela também não é bem pequena, a marcação de território incluía a praia deserta já vista anteriormente e a floresta onde no final havia a pequena casa de veraneio que abrigava os garotos humanos.

E entre as casas de arquitetura colonial, casas pintadas de cores vivas, algumas com varandas e balaústres de madeira e moradias enfeitadas com arbustos de flores o chão de tijolos era pisado por habitantes carregando mercadorias e comidas, além de tendas não montadas entre as ruas para o centro. Onde iria acontecer em poucas horas a maior movimentação do mês.

Lisa de vestido verde e chapéu branco maratonava entre entre todas as ruas afim de chegar no centro. Estava muito melhor daquela noite e depois de um café da manhã pra recompor. Corria com pressa até passar por um casal de idosos andando na direção dela:

—Estão dizendo que os tremores de ontem vieram da cidade vizinha...-Comentou a senhora de braço dado com o marido:

—Talvez algum jovem coitado que foi rejeitado...-O senhor respondeu:

—Bom dia dona Azaleia, seu Jorge!

—Bom dia!.-Ambos estavam concentrados demais na fofoca pra prestar atenção nela.

Lisa continuou até virar a esquina onde passava duas senhoras criando flores na soleira:

—A tremedeira de ontem quebrou todos os nossos vasos!

—Quem quer que fosse com certeza tinha muito potencial, não devia ser daqui dessa província de velhos..

Seguindo em frente estava a área aberta sem edifício com um templo no meio. Nas suas escadarias da parte de trás estavam Alex e Aimé, o primeiro com sua mochila nas costas e o segundo ainda meio sonolento:

—Hum? Alex? Aimé? Vocês por aqui? Achei que iam varrer o chão da casa de novo hoje..

Alex começou:

—Não, seria entediante ter que fazer isso de novo, e também..

—Estamos com muita fome!.-Finalizou Aimé, descansando a cabeça entre os joelhos:

—Pensamos em procurar comida em algum canto e sem querer acabamos aqui, então...

—Ah, é mesmo, vocês nem jantaram ontem também..

Ela lembrou como era ruim dormir com o estômago roncando (ela tinha quase certeza que causou um terremoto enquanto dormia). Mas aqueles dois, estavam sozinhos e sem ninguém que fizesse pra eles um café da manhã nutritivo, ou um bolo de frutas a tarde. Era uma situação bem triste na verdade:

—Ei, por que todas essas barracas estão sendo montadas?.-Alex perguntou:

—Porque vai acontecer a minha parte favorita do mês, a feira da Província de Matalia. Comidas a amostra, tecidos coloridos e principalmente...-Ela cuidadosamente revelou os cacos verdes na mão:-..Vou procurar um substituto pra isso aqui!

—Mas tínhamos feito um trato!

—Eu sei, mas eu vim pra cá justamente pra resolver logo esse problema. Me sinto uma herege!

Num instante ouviram seus estômagos roncarem quase simultaneamente:

—E me sinto faminta.

—Eu também..

Ouviram Aimé bocejando atrás deles colocando a jaqueta azul nos braços:

—Bom dia, o que tem pro café?.-Disse tonto e alheio pelo sono:

—Vocês estão péssimos..

—Precisamos fazer um inventário Lisa, precisamos de comida e outras coisas pra sobreviver quando você não estiver por perto, enquanto estivermos aqui..

—Entendo, não posso ficar compartilhando meu almoço com vocês pra sempre. Vamos, agora mesmo a feira começa e vamos resolver nossos problemas..

Ambos concordaram e Lisa os arrastou pelas mãos até a parte onde as barracas já haviam sido devidamente organizadas, deixando apenas espaço para andar livremente perto do templo no meio. Um aglomerado de ninfas se reunia para ouvir um discurso de um homem perto da meia idade:

—Venham! Venham todos! Cheguem mais perto pessoal! É com muita honra que tenho de anunciar mais uma próspera feira da nossa provínc..-

Apesar do entusiasmo do orador muitos dos provincianos continuavam suas fofocas em murmúrios, Lisa estava mais na frente e perto do orador portanto não ouviu os cochichos que os meninos ouviram ao fundo:

—Parece que os tremores começaram a tarde..

—Ouvi dizer que teve um perto da praia, ainda bem que ninguém vai lá..

"Perto da praia? Eles estão falando dos tremores da Lisa?". Questionou Alex. Aimé ouvia se recuperando do sono:

—Minha neta disse que viu ontem a noite um inseto de lama voando e indo pro mar..

—Saudade de quando essas coisas não existiam..

"Será que foi aquela barata de ontem?". Antes que pudessem continuar a escutar mais o orador terminava:-..Sem mais delongas que nossa feira anual começe!

Após o fim as ninfas presentes começaram a se dispersar, mas felizmente não vendo os humanos, algumas ninfas já estavam posicionadas em suas barracas, só Lisa ainda estava lá:

—Seus tremores estão ficando famosos..

—Hum! Povo fofoqueiro!.-Ela cruzou os braços e virou a cabeça com beicinho pra dar ênfase, que arrancou uma leve risada de Aimé:

—Vamos, se corremos pegamos tudo antes da hora do almoço!

Assim os três começaram a correr pelas barracas e ruas, explorando cada parte que tinha uma iguaria, cheiro ou sabor a oferecer. Alex prestava atenção como as construções do lugar realmente pareciam de um século colonial da América. O sol naquela hora estava agradavelmente quente ainda. Em todos os lugares que ia prestava atenção no povo ninfa (que incluía um povo de várias cores e tons), as mulheres usavam vestidos verdes em sua maioria com babados.

A única coisa realmente homogênea que via nas ninfas eram os olhos verdes, até mesmo nos olhos de quem seria humanamente impossível ter. O ruivo ficou tão distraído pelos detalhes que nem percebeu que já estava na primeira barraca:

—Já provaram jáucara? É uma delícia!.-Comentou Lisa mostrando pra eles um cacho enorme de frutas, e eles viram que era verdade. A primeira de muitas coisas na lista já tinha sido aprovada.

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Em todas as ruas pratos baseados em carboidratos, frutas ou grãos. Os meninos aproveitavam para primeiro provar as comidas e depois colocar mais nas sacolas para outro dia:

—Hum! Meus deuses, essa arepa está ótima!.-Comentou Lisa segurando a massa:

—Ei, eu também quero uma!

—Não fique entre mim e minha arepa, Aimé!.-O lado fominha dela finalmente se revelou.

Nisso, Alex que estava de costas para eles se virou, como Aimé era alguns centímentros mais baixo que Lisa, ela só precisava colocar a mão na cara dele para impedi-lo de alcançar e usar a outra para elevar a comida. Ele tentou segurar uma leve risada da cena mas não conseguiu, e o riso saiu um pouco mais alto do que queria. Aquilo realmente foi engraçado por um segundo.

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O pagamento era feito através de bolinhas de prata que Lisa segurava, e ela era realmente uma ótima negociante pra pechinchar. Infelizmente não achava o que procurava:

—Tem certeza de que não viu nenhuma barraca vendendo cristais de Amazonita?

—Tenho, alias por que quer saber diss..-

—Por NADA! Obrigada pela comida!.-Disse se afastando da padeira desconfiada de traços asiáticos. Ela teria que ser mais discreta quando perguntasse, do jeito que a província tinha fama de fofoqueira.

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Faltando apenas uma hora para o meio dia as mãos dos três ficavam tão cheias de comidas que precisavam estocar tudo logo e depois voltar a casa. Entretanto, eles logo tinham descoberto que nem todas as frutas eram adequadas para humanos, Aimé descobriu do jeito mais radical quando provou um pequeno cacho parecido com uvas. O resultado foi uma passageira tontura, náusea, formigamento na língua seguidos por uma leve ânsia de vômito.

Um suco improvisado bem gelado foi necessário enquanto o outro olhava com pena e preocupação. Lisa comentou baixinho enquanto comia:

—Uma pena, seus corpos não sabem o que estão perdendo...

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Durante o passeio Alex procurava entre as barracas que não haviam produtos comestíveis, mas sim uma que pudesse ter a venda um mapa completo do lugar, achou que seria necessário ter um por ali. Infelizmente ele percebeu que teria que perguntar a alguém (coisa que não estava muito confortável em fazer), mas tinha que arriscar. Procurando alguém entre as ruas ouvia os cochichos:

—Está vendo o que eu to vendo?.-Perguntou uma senhora de traços pardos a uma mais baixa:

—Sim menina, será que é de alguma cidade vizinha?

—Não sei, mas deve ser bem rico pra poder pintar o cabelo de outra cor assim..

Um homem próximo delas comentou:

—Se for isso deve ser bem rico e ousado de andar por aí com roupas tão neutras..

—Nunca vi sujeito de aparência mais estranha..

Alex tentava ignorar o fato de que as ninfas ao seu redor pareciam observa-lo de um jeito estranho, mas estava difícil. Avistou um homem com idade e altura mais jovem que a maioria, tinha cabelos um pouco longos e uma roupa que lembrava a um uniforme verde musgo. Se aproximou dele e reuniu toda coragem que tinha pra falar:

—Com licença, senhor..

Assim que ele se virou Alex escondeu uma leve surpresa, ele sabia que já tinha visto aquele homem antes; Isso, era o mesmo professor da escola de Lisa antes da briga com Rui. O homem tinha um olhar inexpressivo:

—Posso ajudar, garoto?

—Bom, eu queria saber onde eu posso arrumar um.. m-ma...-"Droga, por que eu travei?"

Temia está fazendo papel de otário agora com o silêncio e o homem continuava a esperar. Milagrosamente, ele respondeu:

—Um mapa você quer dizer?

—Sim.. Por favor..

Ele pensou um pouco, mas não respondeu. Fez um gesto para espera-lo ali e saiu, deixando o garoto em pé ouvindo outros rumores:

—Por que será que ele está com roupas tão neutras?

—Então você sentiu tremores ontem à noite?

—Certeza que vi um inseto de lama indo pro mar sabe sei lá porque..

—COMO ASSIM VOCÊ VIU UM TRITÃO POR AQUI?

—Verdade, e me disseram que tinha um fauno por aqui também..

Essa última conversa chamou atenção de Alex. Mas logo depois ouvia outras a seu respeito:

—Aquele menino é daqui? Parece tão estranho..

—Não tenho certeza se é uma ninfa..

No momento que começava a da meia volta pra sair dali ouviu a voz do homem de novo:

—Ei garoto, espera! Não vai querer o mapa?

Alex voltou e agradeceu ao homem, ainda com um olhar sem emoção:

—Já nos vimos antes?

—Não.. Com certeza não..

Assim que se afastou começou a pensar: "Estranho, por que ele não tentou nada contra mim..?"

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—Azaleia querida, é bem possível que o sujeito dos tremores tenha sido apenas uma ninfa dando a luz..

—Mas isso é muito estranho, e ainda por cima ouvi boatos de que tem um tritão andando por aqui..

—Como disse?

O casal de idosos fofoqueiro foi interrompido por uma terceira voz atrás. Uma mulher entrando na meia idade, mas de estatura esbelta, olhos puxados, cabelo branco com uma franja na frente e o resto preso num coque e compras nas mãos:

—Xochi, não ficou sabendo das últimas?

—Um tritão? Por aqui?

—Sim, que loucura não é? A nossa única praia é separada pela floresta e ela é desabitada e você também soube que..

Enquanto o casal falava Xochi desviou o olhar pra atrás deles onde viu uma menina de cabelo cacheado andando com um garoto de cabelo preto e camisa azul passando pela outra rua:"Essa não. Tenho que fazer alguma coisa.." . Pensou a mulher de vestido preto e verde:

—Mas enfim, quais as chances de você ver um tritão andando por aí, né Xochi?

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"Ok Lisa tirando o fato de que você ainda não achou um cristal de amazonita substituto tá tudo bem, você está relaxada e com a barriga cheia, e o mais importante, você não apagou a província do mapa". Aimé e Lisa caminhavam com marmitas nas mãos:

—Ei, você viu pra onde Alex foi?

—Não, acho que ele foi pra outra rua, mas não vai ser difícil acha-lo. Afinal não tem muita gente da nossa idade aqui..

Falando no diabo o próprio vinha de encontro da outra ponta da rua deles. O sino local da cidade tocou para dizer que metade do dia já passou. Muitas ninfas fizeram um intervalo da feira para o horário de almoço.

O trio resolveu fazer sua pausa num lugar mais afastado, Alex veio até Lisa:

—Lisa, você pode me emprestar o seu chapéu?

—Hum.. Claro, se bem que hoje nem está tão quente assim..

O que ela não percebeu é que Alex não queria o chapéu dela pra evitar o calor e sim esconder o que podia do cabelo ruivo alaranjado. Ele se sentou mais afastado dos outros dois enquanto comiam seus almoços.

O menino variava entre comer a refeição e pegar da sua mochila seu livro quase em branco onde anotava as experiências que teve, desde quase ser assaltado, ser engolido por um mosquito, ver um duelo de geocinese, e agora, achar um sítio arqueológico numa ilha. Ele queria saber o que mais ia acontecer e o que ele podia descobrir, ele queria..

—Hum?

Uma foto saiu das páginas do livro e a pegou, era uma das poucas coisas pessoais que havia nele e uma das mais preciosas. Uma foto dele criança com 7 anos sorrindo, abraçando um garoto de cabelo loiro com 9 anos (ele também estava sorrindo mas com uma postura muito mais séria).

Alex olhava de perto a foto que tinha dele e do seu irmão, aquele foi um dos dias mais felizes que teve com ele depois de se recuperar de uma febre. O menino deu um sorriso com a memória antes de lamentar em silêncio:"Sinto sua falta Guilherme, prometo achar um jeito de te ver de novo..".

O vento começou a aumentar na direção deles, fazendo a foto se soltar da mão de Alex:

—Ah não!

—Ei, meu chapéu!.-Lisa exclamou vendo seu acessório voar junto com a foto, Aimé decidiu seguir eles enquanto tentavam recuperar seus pertences. As barracas estavam voltando a serem abertas e bloqueando muitas rotas para pega-los. Enquanto Alex e Lisa tentavam passar entre as barracas, Aimé os tinha perdido de vista.

Começou a correr em outra rua a fim de achar os objetos, estava tão focado em olhar pra cima que não percebeu na menina à frente dele e acabou se esbarrando nela, que fez os dois caírem no chão, junto com os óculos de Aimé:

—AI! Caramba, me desculpa. Você tá bem?.-Perguntou Aimé não podendo identificar a pessoa (ou ninfa no caso):

—Oh, não se preocupe, eu estava com tanta coisa pra carregar que acabei nem olhando pra frente. Mas foi muita gentileza su..

A ninfa de trança dupla parou repentinamente de falar de forma calma e gentil quando viu direito o garoto, sua voz imediatamente foi desprovida de gentileza:

—Então, você é o tritão que todo mundo está falando?.-Ela estava mais sombria agora, deixando o pobre Aimé confuso:

—O que? Hum, pode me dar os meus óculos?

—Seus?

Ela os pegou do chão, ainda com as lentes intactas. A menina logo raciocinou:

—É mais provável você ter roubados eles! Acho bom você vir comigo!

Aimé num instante sentiu algo prendendo seus pulsos firmemente. A ninfa em questão usou uma das suas sementes caídas no chão para prende-lo em vinhas. Quem era ela? E o mais importante, o que deu nela? Reconhecia algo de familiar nela mas por que achava que ele iria roubar alguma coisa dele mesmo?

Ele não sabia mas agora um cipó que unia as vinhas estava na mão da ninfa, obrigando o adolescente a segui-la como se estivesse realmente acorrentado:"Droga! Dessa vez vou ter que me livrar dessa sozinho!". Pensou enquanto Hortência o obrigava a ir para uma direção diferente, deixando pra trás Alex e Lisa pela feira da Província de Metalia.