Through The Viridi

Desafios de uma Ninfa (Parte 2)


Dentro da casa isolada Aimé mostrava a Lisa as funções do seu celular (mas não antes de explicar o que era um pra ela) e quanto mais via as bugigangas da bolsa dele mais se via perplexa pelo tal mundo humano. Estavam no chão enquanto Alex ficou lendo na matéria de geografia:

—Esse retângulo estranho pode mesmo fazer tudo isso? Tem até um espelho!

—Sim, pena que não vai demorar muito pra descarregar..

—Nunca pensei que existisse um mundo com tantas inveções incríveis! Sua espécie deve ser muito inteligente e tomar grandes decisões!.-Afirmou maravilhada embora Alex não pensasse assim:"Se ela soubesse que tipo de decisões nossa espécie normalmente faz...":

Na verdade isso não é grande coisa mas...

Continuaram a conversa por cerca de 5 minutos até que Aimé parou de falar quando Lisa de repente se levantou e foi até a porta aberta:

—Ei pra onde você..?

—Eu tenho um duelo pra ir lembra?

—Mas ainda tá cedo..

—Eu sei só.. quero logo acabar com isso, sabe?

—Se não.. se importa Lisa e-eu quero ir...-Alex falou indo até ela:

—Tá bom mas te aconselho não desçer e ficar na parte de cima. Dependendo do duelo mas coisas podem ficar um pouco... Intensas...-Descreveu o melhor que podia. Aimé ainda estava lá no chão da sala, indeciso. Só essa manhã quase foi pego por outras ninfas que podiam fazer sabe Deus o que com ele (e se tivesse sido pego? O que aconteceria?). Por outro lado:"E se ela se machucar?". Essa pergunta o fazia querer ir mesmo que fosse perigoso:

—Aimé?!

—Hum?

—Então? Vai querer ficar aqui?.-Lisa perguntou prestes a sair:

—Olha eu não quero maaaas eu não quero que você se machuque então...-Fez uma pausa tirando os livros de escola da bolsa:-..Acho melhor ir com vocês. Eu tenho um primeiros-socorros na bolsa caso fique ferida!.-Lisa olhou pra ele comovida pelo gesto:

—Que fofo Aimé, você realmente não é um tritão egoísta! Mas nem se preocupa eu sei me cuidar! Agora vamos antes que Rui ache que eu desi-..!

"ROOUCH!"

Mal tinha terminado de falar pelo barulho do estômago:-..Desculpa, é que eu fico com fome quando to nervosa.. ou estressada..

—A gente também não comeu nada a manhã toda. Ainda dá tempo!.-Disse Alex. O destino pra comer foi naquela mesma praia de dois dias atrás. Ainda com a mesma beleza marítima e raios reluzentes do sol de meio dia (que já deixava os humanos suando de calor):

—Aqui de novo?

—Sim, eu sei que é perigoso andar numa praia onde sereias aparecem do mar mas a comida daqui é boa!

—Nossa! Sereias são tão perigosas assim Lisa?

—Nunca se sabe o que a voz delas pode fazer com você Aimé. Sem falar da hidrocinese delas!.-Disse saindo do círculo e subindo pro calçadão (fez um gesto pra acompanharem). Uma caminhada leve e silenciosa ajudava Lisa a tranquilizar sua cabeça e focar na luta. Duelos entre ninfas exigiam calma para ter melhor controle de seus poderes (e também funcionavam como uma versão clasdestina e amadora de uma competição do festival).

Quando um bebê ninfa nasce o acúmulo da magia chega ao seu pico até os 6 anos, infelizmente o poder total é muito destrutivo e sem controle adequado poderia causar uma tragédia em toda Viridi. Justamente por isso que os braceletes dourados foram criados, pois suas gemas eram capazes de "trancar" a magia e ser ativada aos poucos (dependendo do treino e permissão de um responsável) o uso ficaria mais poderoso sem chegar em níveis fatais. Mas como toda regra tem uma excessão havia casos em que alguns podiam controlar perfeitamente essa magia sem bracelete (Rui era um deles):

—Ei Lisa?

—Hum?

—Me responde uma coisa?

—Sim Alex?.-Ela lembrou que estava acompanhada de humanos. O ruivo tinha um olhar inexpressivo:-Aquele garoto lá na sua escola, Rui? Por que ele quer tanto brigar com você?.-A pergunta surgiu pelo comportamento semelhante a pessoas que ele prefiria não lembrar:

—Ele é um convencido. Vive se achando só porque não precisa de um bracelete e só porque é de uma família influente daqui!!.-A voz ficava mais brava:

—E daí que ele ganhou todos os outros anos nas competições? Eu me esforçei muito pra me melhorar! EU TREINEI ATÉ MATANDO INSETOS COM UMA LANÇA!

Por pura raiva jogou uma pedrinha na areia, apertando o punho com uma mão aberta fez uma pedra pontuda crescer na praia. Aimé viu o rosto sombrio e raivoso dela:

—Nossa, calma Lisa..

—..Foi mal, eu não posso ficar assim, mas é irritante quando alguém diz que seu esforço é inútil sabe?

—Tudo bem, você vai conseguir..-Motivou.

Alex viu a mudança e o efeito do poder dela:"Eu não devia ter perguntado nada...". Antes que pudessem continuar a caminhar ouviu passos vindo até eles. Na frente do calçadão as mesmas meninas de hoje de manhã (Lot, Dália e Hortência) conversavam entre si e não percebendo os três. Lisa esqueceu sua raiva interna quando viu suas amigas vindo até ela:

—Escondam se rápido!

Ela sutilmente os empurrou da beirada (com força suficiente pra deixa-los cair de pé na areia). O pânico fez os meninos tentarem se esconder atrás da rocha feita por Lisa mas infelizmente ela não tinha largura e altura suficiente pra esconder os dois. Só Alex conseguiu ficar escondido enquanto Aimé estava exposto. Mas agora era tarde demais pra se enconder pois as três avistaram Lisa e se aproximaram dela (que tentava esconder as suspeitas):

—Meninas! Vocês aqui, como me acharam?.-Felizmente não viram Aimé na areia abaixo delas:

—Você disse semana passada que nessa praia tem um bom lugar pra comer... Não sei porque você iria num cheio de sereias... Então a gente preparou umas coisinhas pra você não se arriscar por aqui!.-Hortência explicou (tinha um tom depreciativo no meio da fala). As outras duas carregavam uma cesta de palha com muitos quitutes a base de carboidratos e frutas frescas. A ansiedade dela logo sumiu no momento que começou a comer.

Nenhuma delas tinha visto o garoto humano. Alex sussurou o mais baixo que podia pra ele pra correr dali o suficiente pra não ser visto. Aimé ouviu e começou a se afastar passo a passo evitando fazer barulho. Lot falou:

—Lisa a gente também veio aqui te avisar...

—Avisar o que?

—Rui veio até a gente agora pouco. Ele disse que se você não lutar com ele agora ele vai se declarar vencedor do duelo..

—Só isso?

—Quem derá! Ele também falou que se você perder ele vai fazer de tudo pra cancelar sua inscrição!.-Lisa parou de encher a boca com comida, ela sabia bem que o garoto era capaz disso (ele não queria nenhuma chance dela chegar tão longe). Alex ouvia tudo sem ser notado, sabia que não podia voltar pra casa se Lisa não participasse, continuou quieto e viu que Aimé já estava muito longe de ser visto.

A ninfa limpou o rosto de comida lançando um olhar determinado pras três:

—Aquele mimado passou dos limites.. Vamos! Já estou pronta pra lutar há muito tempo!

As três acompanharam a morena até o círculo na areia; Lisa as deixou ir primeiro. Alex correu até ela:

—Dê o seu melhor!

—Obrigada! Ei cadê o Aimé?.-Notou a ausência:

—Mandei ele se afastar dali na hora!

—Deixou ele numa praia cheia de sereias?!.-Ambos viram a noção de perigo possível:

—AHH NÃO!

—Droga.. O-Olha Lisa, você vai agora, eu vou atrás dele!.-Concordou com ele. A última coisa que viu antes de pisar no círculo foi o ruivo correr na direção oposta dela atrás do outro humano.
—_____

Se viu agora dentro do desfiladeiro, o céu azul parecia um rio acima do vale profundo. Suas amigas estavam perto da borda olhando pra baixo. Viu seu adversário se aproximando dela (em seus pulsos não tinham nada):

—..Soube do aviso que eu te dei?

—A cada dia você fica mais insuportável!

—Estou te fazendo um favor. Você quer mesmo brigar com alguém mais experiente que você? Ainda mais com esse bracelete!

—Se foi você que fez essa proposta pra perder...-Retribuiu o sorriso maroto pra ele. O desafio foi aceito. O jogo ia começar:

—..Quem cair primeiro perde!.-O garoto declarou erguendo a mão direita. Sentiu um tremor abaixo dela.

Ela se viu presa entre vigas bem resistentes ao redor de si vindo do chão.

Rui estava prestes a dá um soco...! O que o impediu foi uma pedra pontuda feita pela própria Lisa pra se proteger!

Aquilo era o começo...

Usou sua força pra tirar as vigas de si. Correu pra longe dele. Rui usou a mão de novo pra deixar crescer rochas da terra, deixando o caminho dela difícil. Com isso Lisa viu que era hora de atacar. Seu ataque foi primeiro tirar uma raíz da parede (suas habilidades com lança fizeram ela acertar no rosto dele) e pegou com as mãos:

—É só isso?!

—O problema é que você julga rápido demais!.-Ela aumentou o comprimento da raíz o suficiente pra prender os braços dele. O momento perfeito pra ela usar suas pedras pontudas em direção á ele.

O garoto correu de volta evitando cair. Parecia que a vitória dela estava garantida. Só que...

—Tá bom Lisa chega de pegar leve...-As pedras pararam de segui-lo e reverteu a raíz de antes. Ele fez as pedras abaixarem: "Droga!"
—_____

De volta na praia Alex procurava seu colega no areal. Tinha seguido o caminho que ele foi por um tempo até vi-lo sentado num montinho de rochas feito perto de uma parte bem menos construída do calçadão, estava estático olhando pro mar:

—Até que enfim te achei!

—Ahh! Que susto!

—Anda! Lisa já foi!

—Tá eu só tava aqui pensando..

—No que..?

—...Err, nada não, esqueçe. É que olhar pra essa praia nem pareçe que estamos tão em outro mundo...-Alex notou uma leve melancolia mas era verdade. Quem imaginaria que um simples muro era um portal?

—É estranho, mas não podemos ficar aqui parados sem nos adaptar!

—Tá bom só... OOOH..!.-O garoto se desequilibrou nas pedras e caiu do outro lado do montinho quando ia descer. Alex perguntou se ele estava bem. Por sorte Aimé não bateu a cabeça em nenhuma pedra nem nada. Mas estranhamente suas pernas foram cobertas por algo azul, e um pouco das suas mãos também. Parecia... tinta?

Antes que pudesse questionar viu duas figuras se aproximando dele e pudia ver que não se tratava de ninfas, pois a cor predominante era azul. E Aimé já tinha ideia do que eram..
—______

..Enquanto isso as coisas não estavam indo muito bem pro lado de Lisa. Presa com a mesma raíz pela cintura e cercada por pedras numa prisão improvisada (não dava pra ve-la dentro mas sua cara não era das melhores):

—Engraçado você dizer que treina e se esforça tanto, sendo que nem tirar o bracelete você faz pra aprimorar!

—Nem todo mundo é como você Rui! Não é fácil pra qualquer um!

—Desculpa fraca!

—...Tudo bem Rui! Argh! Eu admito você é melhor que eu e todas as ninfas que precisam de bracelete! Pode me tirar daqui?.-Lisa disse com uma voz baixa e rendida que pareceu comover Rui:

—Claro Lisa, afinal eu não sou tão sem coração assim!.-Afirmou abaixando as pedras redondas. Agora sim não haveria mais oponentes a altura dele. Mas seu sorisso de vitória lentamente se desfez quando viu sua rival:

—..EU AINDA NÃO CAÍ RUI!!

O grito de persistência ecou alto na depressão. Pois ainda estava em pé e com os braços livres pra luta. Ela liberou outro ataque de pedras afiadas contra ele, que tentou desviar.
—____

Aimé estava imóvel vendo os dois seres se aproximando dele. Alex ficou escondido atrás mas não entendia o medo. Quem vinha até ele eram dois jovens: Um garoto da idade deles de cabelo marrom escuro com calças velhas e um colete simples (sem roupa por baixo) ao lado de uma menina com cabelo igual, mas curto com uma franja na frente e um vestido azul claro.

Pelas dicas de Lisa sabia que eram sereias (a cor dos olhos eram azuis como o mar e o bracelete era prateado) mas o medo de tais criaturas não bem mencionadas o impediu de sair. Tinha algo estranho neles, os braços e pescoços pareciam cheios de escamas azuis e nas pernas da garota também. Pararam de frente pra ele com olhos sérios e ficou assustado vendo eles perto das ondas:

—O-Oi..-Gaguejou (algo que ele não fazia perto de outras pessoas). A garota perguntou:

—Oi?.. Quem és tu?

—Eu...

—Ei pode me dá meu potinho?!.-O outro tritão interropeu. De fato tinha um potinho azul de vidro perto dele (isso explica de onde vinha a tinta nas pernas e braços). Devolveu escondendo um dos pulsos:

—Finalmente! Não lhe disseste que estava aqui Mari?.-Perguntou num tom brincalhão:

—Disseste. Agora quem és tu?.-Voltou atenção pra ele. Alex era forçado a ficar escondido atrás das pedras:"Alex. Sua anta!"

—..E-Eu sou Aimé...

—...Prazer Aimé, eu sou Enki e essa aqui é minha irmãzinha Mari.. ela é meio tímida sabe?.-Sussurou mas ela deu uma cotovelada forte na barriga dele pela última frase:

—Não preste atenção à ele, é que as vezes ele só abre a boca pra falar besteira!.-"Eita, bem tímida mesmo", pensou, depois dessa apresentação não pareciam mais tão ameaçadores:

—Tu não aparentas ser daqui, não é?

—Err...

—O mar é grande Mari não dá pra reconhecer qualquer tritão que se passa por aqui!.-Retrucou Enki recuperado:

—Na verdade não, eu so tô aqui de passagem então já vou indo..

—Ué! E vais aonde?

—Na verdade não sei direito, só sei que é num vale de depressão. Então eu já to meio atrasado. Então tchau!.-Tentou se afastar deles mas pareciam chocados quando falou. Enki perguntou:

—Já ouvimos falar de um onde ninfas duelam mas por que tu queres ir pra lá?

—É que me chamaram pra ver, eu não queria mas pensei que alguém podia se machucar e achei melhor ir!.-Explicou, era tudo que podia dizer. Sua mente estava confusa:"Será que é por causa da cor azul? Lisa disse que sereias são perigosas perto ďagua mas esses dois parecem legais. Devem achar que sou um deles também!". Mari não pareceu se importar muito:

—Se tu dizes, mas cuidado! Vem Enki agora pare de perder teus potes na praia!.-Ela puxou o irmão de volta que tampava o potinho de tinta (não era a primeira vez que os perdia) e se afastaram dele. Aimé ficou aliviado que o pior não aconteceu, mas sentia que não era a última vez que via esses dois. Lembrou de Alex atrás dele:

—Ei, vamos Lisa tá esperando a gente!

—Aqueles dois eram..?

—Sim, eram sereios, mas acharam que eu era também!

Ambos se lembraram que Lisa ainda estava lutando. Correram até o círculo sem dizer nada. Ouviram um tremor quando chegaram perto da borda vendo a luta. Ao lado deles só havia a cesta de comida

Dentro da depressão a luta entre Lisa e Rui ficou mais intensa. Lisa se aproximava de Rui a fim de causar algum dano mas ele se protegia com alguma viga pra prende-la. O cansaço a dominava:"Droga! Não sei quanto tempo posso aguentar! Maldita hora que aceitei lutar com ele!". A raiva dominava a mente dela. Se ela pudesse tirar seu bracelete por um minuto (só pra dar um susto nele). Ela tentou sair de novo mas as vigas dessa vez era bem resistente. Rui aproveitou pra tentar nocautea-la:

—Eu te disse que era melhor desistir. Você ainda vai causar um terremoto..!
—____

A visão era clara para os garotos. Aimé sentiu uma forte necessidade de ajuda-la. De algum jeito. QUALQUER jeito. Mas seria impossível que um humano comum aguentaria uma luta com geocinese. Ela não ia conseguir se desviar pra sempre dos golpes de Rui:

—CHEGA! EU NÃO AGUENTO FICAR PARADO ASSIM!!.-Gritou a plenos pulmões:

—E que você acha que pode fazer?! Não podemos ser vistos! Nem descer a gen...-

Virou a cabeça pra ve-lo fuçando na cesta ao lado. Não tinha nada na bolsa relacionado com terra mas na cesta tinha algo que pudia servir. Uma fruta meio mastigada. Suficiente pra retirar as sementes de dentro. Uma lembrança veio a mente:

"Olhe bem e preste atenção o que sereias não são capazes de fazer!.-Ela segurou e apertou com o punho a semente e quando abriu a pequena sementinha deu lugar a uma flor branca como orquídea cheia de pétalas"

"É perfeito", pensou Aimé lembrando daquele dia na praia. Se ela ussase as sementes ela pudia fazer alguma coisa:

—O que você ta fazendo?!

—Alex... Acha que consegue jogar essas sementes pra Lisa?

—O-O que?!

—Se ela consegue criar uma flor com uma semente imagina com várias delas!.-Disse estrategicamente. Isso impresionou Alex:

—..Eu sou ruim de mira por causa do meu grau, mas você pode fazer isso? Por favor?.-Estendeu a mão com as sementes retiradas. Alex pensou um pouco. Lisa estava quase se soltando pra revidar de seu rival e a raiva e cansaço dela não a deixavam pensar direito no que fazer. Olhou rapidamente pro colega (por que ele se importava tanto em ajudar alguém que mal conhecia?). Mas por fim decidiu:

—Olha, eu não tenho a melhor mira mas eu vou tentar, ok?

Realmente tinha lógica no que Aimé falou mas não sabia se ia funcionar. Tinha 6 sementes na mão. Primeiro tinha que chamar atenção dela..
—____

Lisa usava os poucos golpes físicos de curta distância que conhecia (não tinha tempo de usar seus poderes pra atacar a longa distância) mas Rui se previnia. Enquanto usava sua força pra empurra-la criou uma pedra pra faze-la cair, mas a menina persistia. Se agachou o suficiente pra dá uma rasteira nas pernas dele. E finalmente... ele caiu:

—Viu Rui? Até uma descontralada como eu ganha de você!

Mas não teve resposta. Ela sentiu algo jogado na cabeça dela."Uma semente..?". Olhou pra cima e viu as duas figuras na borda:"Alex?.. Aimé?". Outras 5 sementes foram jogadas pra ela. Enquanto recolhia ela de repente notou que seu pé foi agarrado pelo seu rival. Dessa vez ele estava com um rosto sombrio:

—...Eu não vou deixar você sair assim..!!

Sussurou de forma assustadora. Criou uma raíz para prender seus pés mas Lisa foi rápida e correu o mais longe dele:

—CHEGA RUI! Eu venci! Você mesmo disse "quem cair primeiro perde"!.-Ainda segurando as sementes ela viu o garoto bater a palma da mão no chão pra criar uma trilha de rochas até ela. Correu até o círculo onde chegou. Mas infelizmente ele foi bagunçado durante a luta. A ninfa voltou a correr até onde podia na depressão. Enquanto isso os meninos observavam ajoelhados:

—Por-Por que? Ela venceu não foi?! Por que aquele cara ainda que brigar com ela?

—É assim mesmo Aimé..

—Hein?

—Se alguém é mais forte que você ele não vai parar até te ver acabado ou até que você desista de vez...-Disse o ruivo sério. Aimé pensou nessas palavras vendo a certeza que o colega tinha. Então voltou sua atenção pra Lisa:"Tomara que essa ajudinha funcione. Se ela consegue lutar com insetos gigantes não duvido de nada..". Ela correu ao ponto que não conseguiam mais ve-la então seguiram pela borda o caminho.
—____

Dentro da fenda Rui se levantava pra correr. Atrás dele ouviu passos de três garotas. Hortência exclamou:

—Rui! Para com isso! A gente viu tudo, Lisa ganhou. Deixa ela!

—Fiquem fora disso meninas!

—Não estou gostando disso. Essa luta tem que acabar!

—Eu sei, eles estão começando a ficar alterados! Vamos para-los antes que se descontrolem!.-Lot tomou a liderança e as três começaram a correr em linha reta atrás dele. Uma coisa que ninfas aprendem desde crianças é: seu estado emocional influencia a intensidade dos poderes (e pode piorar sem o bracelete). Elas sabiam como Lisa podia ser descuidada quando a adrenalina subia a cabeça dela mas o problema no caso era o descuido de um Rui agressivo sem bracelete.
—____

Correndo entre duas enormas paredes de pedra a ninfa corria o mais longe que pudesse pra atacar melhor:"Eu sabia que pudia ganhar daquela praga! Nem acredito! Me aguarde festival de esportes!". A melhor parte era que finalmente poderia mostrar a Viridi suas habilidade e sentir toda adrenalina das provas sem preocupações. Além de, é claro, poder ajudar os meninos a voltar pro mundo deles. Pensou nas sementes que deram pra ela com um sorriso:"..Acho que esses dois são mais do que eu pensei, mesmo que não tenham olhos verdes..".

O sorriso se foi quando viu que não tinha mais onde correr. A parte do vale tinha sido bloquada por rochas grandes e pesadas demais pra retirar. Alegria se transformou em raiva. E piorou quando ouviu Rui chegando até ela:"O que ele quer agora..?" . Parou ofegante:

—Vai me dá parabéns pela vitória..?

—..É, eu admito, você até que é boa..-Disse calmamente, mas Lisa estranhou:"Ele tá.. admitindo a derrota?". No instante ela sentiu um aperto familiar. Uma viga enorme havia se enrolado no seu tronco (mas evitou que os braços fossem pegos). Rui declarou uma última vez erguendo os braços:

—..Você é boa... Mas você não sai vitoriosa desse jeito!

Tinha o mesmo olhar sombrio e assustador que Lisa dera. As mãos controlavam novas pedras vindo em direção até ela. E ele não pretendia parar até que chegassem nela!

A mente de Lisa chegou no limite. No limite da raiva. No limite da ansiedade que sentia. No limite do estresse que pessoas como Rui davam a ela. E principalmente no limite que não pudia passar por causa do bracelete. Tais pensamentos a levaram a fazer algo ousado demais para ninfas. Arrancou o seu do pulso... Apertou as sementes com raízes crescentes com força e jogou... Foi então que a surpresa aconteceu e um leve barulho foi ouvido..
—____

Alex e Aimé ouviram o barulho da direção que estavam e o segundo correu mais rápido ver o que foi. O outro viu que embaixo as três meninas vinham correndo e partiu o caminho. O garoto de óculos ficou em êxtase quando viu o que Lisa fez com as sementes.

Era uma árvore enorme de cor preta e cheia de flores pequenas e amarelas, mas que ocupavam todos os ganhos. O tamanho não chegava a passar de cima do vale mas ainda era visível. As flores e galhos chocaram Alex completamente:

—..Parece ipê!.-Sussurou. O outro também achou admirável a árvore amarela mas se lembrou que Lisa ainda estava lá embaixo. Procurou um ângulo que pudesse ve-la longe das flores, quis descer e ajuda-la mas o outro segurou seu braço e impediu. Ela ainda estava enrolada e um pouco inconsciente.

Quando abriu os olhos ficou surpresa quando viu sua criação:"Eu... fiz isso?". Sentiu o aperto se folgando mais. Todas as meninas olharam chocadas pra ela com o feito:

—Caramba Lisa.. você nunca nos disse que tinha chegado tão longe assim!.-Disse a loira:

—Deve ser cansativo criar uma árvore tão grande assim! Que inveja!.-Hortência a tirou da viga mas a própria Lisa estava em silêncio chocado com o que fez.

Enquanto recuperava os movimentos passou sua mão no pulso. Tinha alguma coisa faltando nele:"AI NÃO! Por favor não..". Felizmente as três não tiveram tempo de reparar no pulso dela quando ouviram Rui contornando a árvore até elas:

—Argh..!

—RUI!

—LISA! Sua...!.-Parou quando percebeu no que estava se apoiando:

—..Co-Como você...?

—RUI VOCÊ FICOU MALUCO?!.-Gritou uma delas:

—Como que ela...?

—Vocês são dois imprudentes! Onde já se viu ninfas da idade de vocês brigarem com tanta violência assim?!

—Isso Lot! A gente foi descer pra ver de perto e vocês estavam quase se matando! Duelos assim são até cair, não morrer!

—O que tem a dizer em sua defesa Rui?.-Hortência perguntou com as mãos nos quadris, mas o próprio estava chocado demais pra prestar atenção (árvores era um nível muito dificil de se chegar).

Despercebida pelos quatro Lisa procurava rapidamente no chão seu bracelete, largado perto dela. Infelizmente ele estava no pior estado possível: Arranhado e com a jóia comrropida no centro, mas ainda pudesse ser colocado no pulso (seu rosto era uma mistura de choque, medo e até raiva silenciosa):"O idiota estava certo.. Me descontrolei no pior momento e meu bracelete se quebrou! Que vergonha!".

Tomada pelo sentimento e cansaço ela andou cabisbaixa pra longe deles (estavam ocupadas demais pra ve-la). Aimé correu de volta pro círculo:

—Ei, vamos!.-Chamou o outro:

—Tá, eu já tô indo..

O ruivo tirou uns segundos ajoelhado na borda admirando a beleza amarelada abaixo. Rapidamente uma carranca fria se formou quando sua atenção foi para Rui:"Ele merecia ter perdido. Pelo menos ela conseguiu revidar..". O comportamento dele já o fez odiar por como ele tratou Lisa até agora.
—____

Lisa reformou o círculo, mas não foi para parte de cima onde Aimé a esperava com a cesta de comida ao lado. Viu ela desaparecer sem olhar pra nada. Ouviu o colega se aproximando:

—Cadê ela?

—Ela parecia acabada.. acho que ela precisa de apoio!

—Hein?

—____

"Maravilha Lisa! Você quebrou seu bracelete justamente AGORA! Com que cara eu vou olhar pro papai?!". Sua mente gritava consigo mesma enquanto destrocava de roupa. Estresse, raiva e decepção se passavam na cabeça dela e ficar dentro da casa não ia ajudar em nada. Desejou que não tivesse aceitado aquele duelo.

Nem mesmo a calmaria do lado de fora da janela ia tirar a preocupação. Sentiu um cheiro perto dela:

—Quer um?

—Hum?.-Lá estava o moreno de azul oferecendo um bolinho de frutas pra ela. Atrás o ruivo também tinha o seu próprio:

—Você..?

—Você falou que fica com fome quando tá nervosa né?

—Verdade...-Ela deu um leve sorisso com o gesto do garoto:-Espera! De onde você tirou isso?

—Sabe aquela cesta que a menina de trança te deu?

—Sim..

—Então, ele pegou de lá!.-Alex disse sem se importar:

—E-EI! Também não precisa falar como se eu fosse um ladrão!

—Desculpa, você não..

Não terminou de falar pois viram que ela dava uma leve risada agora:

—Só esse bolinho pra me consolar agora. Obrigada!

—Te consolar?

—..Eu não sou a melhor pra tomar decisões com raiva. E isso aqui é prova...-Mostrou seu bracelete pra eles:

—Com isso quebrado eu não posso controlar direito meus poderes. Proteger isso é a coisa mais importante que ensinam na infância.. isso e como sobreviver na mata!

—Então aquela árvore..?

—Eu nem devia fazer isso nessa idade mas eu não vi escolha! Mas o maldito do Rui não aceitou perder! Depois de anos treinando sem perder a calma eu fiz isso no pior momento! Parabéns pra mim!

Aimé só conseguia sentir empatia por ela depois do desabafo. Até Alex sentiu a pena dela:

—..Mas tudo bem, meninos. Eu vou ficar mais leve depois de lutar com um inseto essa noite!

Infelizmente isso significaria um atraso pros três agora. O tempo passou e a menina continuou comendo tudo que Aimé tinha colocado na bolsa. Estavam na janela da sala enquanto o ruivo se isolava na escada. De repente veio uma ideia e andou desajustado até a ninfa:

—E-Ei Lisa..

—O que foi Alex?

—Eu tava pensando se.. eu posso ver de perto seu bracelete..?

—Todo destruído? Por que?

—...

—Se agora eu mal posso me conter com ele assim imagina sem! OLHE!.-Tomada de novo pela raiva se afastou da janela. Tentou criar uma flor com uma semente. O resultado?

Ao invés de uma florzinha fez crescer raízes dignas de um pé de carvalho e crescidas descontroladamente até fechar as mãos:

—..Eu sou nova demais pra controlar esses níveis, e treinei sem muita liberdade de usar!

Alex se calou arrependido. Até Aimé sugerir:

—Sabe, talvez não seja uma má ideia!

—É o que?.-Perguntaram em duo:

—Pensa assim talvez tenha um jeito de consertar se olhar direitinho o problema! Se tiver como eu até ajudo!.-Apesar do argumento do menino a ninfa tinha suas dúvidas:

—E o que vocês sabem sobre braceletes mágicos?

—Olha, Lisa, escuta eu sei que não entendo nada sobre seu mundo mas, eu quero aprender. De verdade. Além disso você precisa disso ajeitado se quiser ganhar...-Alex argumentou uma última vez. Não sabia se realmente se convenceram da ideia e até ficou supreso com o apoio que teve.

A garota pensou por um tempo comendo um dos bolinhos. Por fim decidiu:

—..Sabe, é quase proibido ficar sem isso por muito tempo, mas eu também não sou nenhuma certinha quando quis brigar com Rui sem autorização...

Tirou a peça completamente do seu pulso. Deu para a mão de Alex:

—Pode dar uma olhadinha!

—Você realme..-!

—Uhum! Ninguém da minha família e nem as minhas amigas podem saber o que eu fiz. Se não eu nunca mais saio daqui! Eu quero ir ganhar e vocês querem voltar pro mundo de vocês! Temos um trato?

Os olhos suplicantes de Aimé encararam ele. Viu a peça de ouro na sua mão:

—Ok. Temos um trato!

A tarde chegou aos poucos e a fome dos meninos também, felizmente Lisa deixou um pouco pra eles comerem. Agora ela não podia mais sair e usar sua geocinese como antes (seria castigo pela sua desobediência ou plano do Rui?). Aimé tentou mostrar a ela coisas do mundo humano pra passar o tempo.

Com a oportunidade dada o outro começou a ver de perto o acessório quebrado na escada. Não parecia diferente de uma pulseira humana mas a parte verde era diferente:"Se é realmente esmeralda então não devia ter se quebrado tão fácil... Por algum motivo isso regula a geocinese da Lisa, mas como uma jóia faz isso? E COMO ela faz isso com a terra pra início de conversa?".

Pegando seu livro em branco da mochila começou a notar tudo que ja sabia da espécie de Lisa (ainda que não fosse muito) e até fez um desenho pobre do bracelete.

Depois começou a fazer o mesmo só que referente aos insetos de lama e a associação a cor verde com Viridi. Tantas perguntas passavam pela sua cabeça que não ouvia mais nada entre Lisa e Aimé:

—Ei, o que aconteceu com as suas mãos? Estão azuis?

—Ah! É mesmo. Na verdade isso é tinta. Achei na praia sem querer!

—Tinta.. na praia? Como assim?

—Eu me encontrei com sereias! Pelo menos eu acho que eram...

—OHH! E elas tentaram fazer alguma coisa com você?!.-Perguntou chocada:

—Não não! Eles pareciam ser legais!

—Não acredite nessas coisas Aimé. Você nunca viu uma delas cantando ou controlando a água!

—Mas...

—Olha Aimé, eu sempre escuto histórias sobre esse povo de olho azul e acredite em mim quando eu digo que são manipuladores safados! Sorte sua que eles devem ter te confundido com as mãos assim!.-Desceu do sofá:

—Hum.. tá? Se você diz... Ei você acha que eu sou manipulador safado?!.-Perguntou um pouco ofendido:

—PFFFF! NÃÃO! Imagina, eu sei que você nem tem poderes pra controlar...

—Falando nisso não se preocupa com o seu bracelete tá? Vamos fazer de tudo pra você ir nesse festival!

—Obrigada! Espero mesmo por que já é cansativo ter que treinar longe dos meus pais sendo super-protetores comigo. Por isso que levei tanto tempo pra controlar!

—Nossa! Pelo menos eles te deixaram ir né?

—A melhor parte é que finalmente vou poder sair dessa província quando chegar a hora!

Ela ergueu o punho no ar para enfatizar a alegria mas fez crescer um arbusto na janela para surpresa dos três:

—Eu juro! Eu não queria ter feito isso!.-O ruivo devolveu pra ela:-Acho melhor ficar com isso mesmo! Pelo menos ainda pode usar no braço!

—Não faz tanta diferença mas tenho que usar de qualquer jeito!

—Eu sinto pena daquele cara se tentar brigar com você de novo!.-O outro comentou:

—Ele vai pagar por isso em um mês!

De uma maneira estranha Lisa estava se acostumando mais com a presença deles (e apreciava o fato deles tentarem ajudar). Infelizmente ela não sabia por quanto tempo podia mante-los e a alimenta-los ali mas pro seu próprio bem decidiu não pensar muito nisso.

Alex não conseguiu aprender muito sobre aquela pedra verde mas sua pequena teoria dizia que era ela que precisava ser restaurada. E Aimé? Estava tentando tirar a tinta azul (que ja estava secando).
—____

Numa lugar diferente, mas familiar Rui estava de casaco verde escuro enquanto era escoltado pelas amigas de Lisa (e suas mãos estavam bem amarradas):

—Vocês podem pelo menos tirar o casaco? Tá calor aqui na praia!

—Nananinanão! Considere isso parte do castigo Rui. Vai ficar assim até a gente contar pra sua familia o que você aprontou!.-Disse Hortência brincando com uma pedra entre as mãos:

—Mas ele tem razão. Essa hora tá muito quente!

—Eu to surpresa que justo VOCÊ deu ideia de fazer ele andar na praia, Hortência!

—Pois é Lot, logo ela que odeia a praia!.-Até Rui teve que concordar com elas apesar do castigo:

—Eu não odeio a praia. Eu só.. me protego dos que vem dela!

Acidentalmente a pedra na sua mão escorregou e caiu do calçadão:

—AII! EI, PRESTE ATENÇÃO AÍ EM CIMA!

Gritou uma voz feminina. Hortência estava prestes a se desculpar quando viu o rosto da pessoa atingida. Uma menina de cabelo castanho curto e olho azul claro. Ao lado um garoto parecido com ela:

—Aaah. Vocês...

—Algum problema para ti, ninfa..?

Nenhuma delas tinha uma cara contente e nenhum se sentiu confortável na praia agora. O clima estava esquentando. E não era por culpa do sol...