Through The Viridi

Desafios de uma Ninfa (Parte 1)


A ninfa acordou cedo no seu quarto escuro, mas iluminado por feixes deixando o sol nascente entrar. Juntando forças pra sair da cama ela se arrumou e pegou a roupa que ia ter que usar hoje. Infelizmente não eram roupas de escolha, só seu uniforme escolar de blusa branca com um símbolo de uma planta no peito com meia-calça preta e uma saia verde por cima. Saindo do seu quarto e já quase pronta só faltava ir a cozinha e se despedir da sua família, amarrando uma fita verde no seu cabelo ela viu seu pai e sua mãe na cozinha da casa e se sentou pra comer:

—Bom dia!.-Ela disse pro homem de pele brozeada e cabelo preto e meio robusto:

—Bom dia, Lisa!

—Confiante pra recuparação hoje, florzinha?.-A mulher de cabelo castanho numa trança e vestido verde escuro perguntou:

—...Claro mãe!.-Ela mentiu. Embora Lisa não fosse nenhum gênio da sua sala ela se esforçou muito pra passar direto por apenas um motivo: o festival de esportes. Um dos maiores festivais para jovens ninfas guerreiros de toda Viridi e participar era o sonho da garota desde criança. Infelizmente ela não poderia ir se não passase no teste de alquimia e não poderia mostrar nenhum orgulho das suas habilidades pra si mesma e nem pra sua família. Pensando no festival e no seu objetivo ela não ouviu sua mãe chamando:

—Lisa..? LISA!.-A mulher sentada na mesa ao lado do marido tirou ela dos pensamentos:

—Hum??

—Está tudo bem com você florzinha? Parou de comer de repente.

—QUE? N-Não foi nada mãe.. eu só tava pensando...

—No festival de esportes?

—..Isso pai!

—Acho bom você ter se inscrito esse ano! É uma oportunidade única pra você! Não acha Camélia?.-O tom de voz estava feliz pela filha sentado ao lado da esposa:

—Claro que sim Demétrio mas não estou falando disso...

—O que quer dizer mãe?

—Desde antes da noite passada você anda demorando mais pra chegar em casa. Você anda pegando o caminho certo? Até os seus irmãos chegam mais rápido que você.-Seu tom de voz era preocupado e até seu marido teve que concordar com ela. Enquanto comia Lisa tentou disfarçar o nervoso se lembrando dos garotos de outro mundo que ela os abrigou numa propriedade sua (ainda eram um mistério pra ela) e se mais alguém descobrisse as coisas iam piorar:—Claro que estou pegando o caminho certo é só... só..

—EU VOU CHEGAR PRIMEIRO NA COZINHA!.-Para seu alívio de ter que responder a pergunta os três viram na porta um garoto de cabelo escuro e short preto com um sorriso maroto correndo na frente de outro garoto idêntico a ele (apenas com um pequeno rabo de cavalo e short branco):-NÃO VAI NÃO!.-Respondeu o segundo:

—PEDRO! PIETRO! SEM GRITARIA DE MANHÃ!!.-Demétrio hipocritamente fez os gêmeos pararem de gritar até a cozinha e se sentaram ao lado da sua irmã mais velha dando um "Bom dia!" de forma inocente. Assim deu início a manhã na família de Lisa, sua mãe, seu pai e seus irmãos gêmeos mais novos cujas as semelhanças de todos incluiam os olhos e braceletes dourados no pulso. O garoto de short preto sentado ao lado da irmã perguntou:

—Por que você ta de uniforme? Não são férias?

—Pra vocês sim, eu vou ser impiedosamente julgada em alquimia!.-Disse dramaticamente expressando seu désdem pela matéria, mas seu irmão não foi muito compreensivo:

—Se ela não ficasse a noite toda saindo pra matar insetos estudaria mais...-Comentou baixinho pro seu irmão, que teve que segurar a risada, mas o comentário não a deixou feliz:

—Fala de novo Pedro! Você tem sorte da gente tá em casa por que se eu...

—CHEGA! VOCÊS DOIS! Lisa você nem tente usar geocinese no Pedro! E Pedro, pare de irritar sua irmã!.-As ordens de Demétrio foram ouvidas e os dois pararam de discutir. A voz mais calma de Camélia falou depois de terminarem de comer:

—Lisa faça um círculo e não se atrase pra prova. Volte antes de escurecer!

—Certo mãe!.-A garota se levantou da mesa e beijou seus pais no rosto carinhosamente. Envolveu seus braços nos seus irmãos e fez a mesma coisa:

—Depois do festival a gente vai brincar de construir a maior estátua de barro, ok?.-Os dois concordaram e ela bagunçou o cabelo deles (de forma afetuosa e com menos raiva).

Pegando um saquinho com pedras aparentemente normais na mão ela saiu da casa (que era ainda maior que a outra) e foi pro jardim de trás fazendo um círculo enquanto sua família se despedia na porta dos fundos:

—Faça a prova com calma querida!.-Camélia aconselhou se despedindo da mais velha:

—Se aquele metido do Rui aparecer dê um chute nele!.-Demétrio deu a (não tão boa) ideia mas sua esposa o calou na hora. Lisa pisou no círculo e o feixe apareceu, enquanto se perdia nos pensamentos. Rui. Um nome que sua ansiedade não precisava ouvir hoje: "Calma Lisa, não pensa nisso agora você já tem muita coisa pra resolver. Depois de hoje concentre-se naqueles garotos estranhos de outro mundo...". Sua mente se perguntou como era possível existir outra realidade onde pessoas de olhos azuis não tinham escamas, olhos castanhos eram comuns ou que não usavam braceletes. Aqueles dois eram diferentes de tudo que ela conhecia. Na noite de ontem ela viu um pouco mais sobre eles, Alex não era muito sociável mas era curioso sobre Viridi e até fez umas perguntas sobre os insetos de lama que tentavam caça-los e Aimé não mostrava sinais de ser um manipulador de olhos azuis.

Antes que percebesse o feixe já havia a transportado numa leve distância de um grande edifício escolar com muros o protegendo. Mal queria mexer o corpo mas não tinha escolha:"Tudo bem Lisa, você mata insetos de lama toda noite, então o que é uma prova?". Controlando a ansiedade ela começou a caminhar:"... Como será que aqueles dois estão agora?"
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Enquanto isso na casa Alex finalmente tirava o curativo do seu antebraço e jogou num bolso aberto. Sua tentativa de pegar informações na escola de Lisa não deu muito certo (ela nem achou uma boa ideia) então ele estaria trancado o dia todo. Se tivesse que passar o dia varrendo o chão de novo seria o maior desperdício que poderia...

"PRIIIIIU!"

..Por um instante ele ouviu um som estranho de "priiiiiu" vindo da cozinha, mas não achou nada lá. Aimé já estava indo até as escadas. Se agarrando no corrimão e tomando muito cuidado com os degraus um por um. O motivo? Ele mal conseguia ver direito, seus olhos azuis estavam com péssima visão sem os óculos. Assim que quase caiu do último degrau Alex viu a falta notável dos óculos e a cara cansada:

—Oi..?

—Oi..-Apertou o nariz com os dedos:-.. Você viu os meus óculos?

—Não, você não guarda eles numa caixinha ou sei lá?

—Não estavam lá quando acordei!.-Respondeu e Alex no instante ficou na defensiva:

—Não vai achando que eu roubei! Eu nem subi hoje!

—Mas eu nem...

"PRIIIIIU!"

Aquele barulho estranho tinha voltado e agora os dois ouviram vindo da sala. Alex se aproximou e olhou no sofá quando achou a fonte. Um animal pequeno. Mais parecido com um mico leão dourado no pelo, o diferencial estava nas patas traseiras que lembravam a um coelho e uma cauda enrolada. Nas patas tinham um par de óculos redondos:

—Errrr.. Aimé, achei os seus óculos!.-Disse chocado com a aparência do animal. O garoto lentamente foi até a sala, mas do nada a criatura saltou pra fora da janela da sala com os óculos:

—Ei!!

—O que foi?!

—...Bem, digamos que um mico dourado acabou de fugir com seus óculos..

—Como assim um mico dourado fugiu com os meus óculos?!.-Agarrou levemente a blusa de Alex. Ele o soltou a tempo de ver na janela o animal correr pro círculo perto da casa e desaparecer:

—..E agora o que aconteceu?.-Alex pensou na pergunta do outro e uma ideia veio a cabeça:

—Ei Aimé vamos precisar sair, mas me diz, você não quer ficar cego pra sempre, né?

—Que? Claro que não..-Pensou rapidamente no que ele disse:-..Pra onde vamos "sair"?
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Dentro dos muros Lisa caminhava pra entrar até os pés pararam:"Vamos Lisa, falta tão pouco. Pense em todo treinamento que você fez, pense na glória que terá quando provar seu esforço...". Até mesmo isso lhe dava mais estresse e na hora veio os pensamentos negativos:"E se eu falhar? E se minhas habilidades não forem suficientes? Será que é melhor desistir de tentar...". Antes que as perguntas continuassem ela se sentiu abraçada por uma voz feminina por trás:

—Surpresa, Lisa!.-Disse uma garota baixa com o tom de pele parecido com o dela e com um longo cabelo preto amarrando em duas tranças (uma fita verde numa delas) com um vestido da mesma cor:

—Hortência?!

—É, e nós viemos aqui só por você!.-Disse alegre se soltando dela:

—"Nós"?

—Oi Lisa!.-Ela olhou pra trás e viu uma garota de pele negra com cabelo cacheado, uma fita igual e roupas leves da mesma cor ao lado de uma garota loira de cabelo curto e roupas semelhantes. Todas as três tinham olhos cuja a cor não precisa mais ser mencionada:

—Lot? Dália? O que estão fazendo aqui?

—Nós viemos te da apoio antes da prova de alquimia!.-A loira (Dália) afirmou mostrando uma tigela de frutinhas rosa nas mãos:

—Ainda temos uns minutos antes do professor te chamar, então fica calma!.-Hortência disse a amiga.

Os próximos minutos eram com as três revisando com Lisa tudo sobre alquimia num banco (enquanto ela comia cada frutinha freneticamente):

—Acho que isso é tudo! Se sente mais preparada?.-Lot perguntou:

—Não muito, mas acho que posso fazer!

—Ótimo, mas prescisava ter comido todas as frutas?.-A loira perguntou meio aborrecida:

—Se chama "comer angústias" você sabe disso!.-Faltando apenas alguns 10 minutos para ser chamada Lisa decidiu sair pra fora (e treinar um pouco sua geocinese) quando viu que o seu círculo tinha trazido uma criatura carregando algo brilhante. Ela já não tinha visto aquilo antes? Em seguida o choque quando viu dois garotos saindo do mesmo círculo. E ela reconheceu que eles não deveriam esta ali:

—Ei Lisa! Nós vamos na estufa da escola ok?.-Hortênsia disse indo pra dentro da escola com as outras e ela concordou. Assim ela correu na direção deles...
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O plano de Alex era ir atrás do macaquinho que pegou os óculos do colega (que mal conseguia ver direito ainda). Ele viu uma garota de roupa branca e saia verde correndo até eles e reconheçeu como Lisa:

—O que estão fazendo aqui? Ou melhor como chegaram até a minha escola? Eu falei que não era uma boa ideia!

—Olha desculpa Lisa a gente sabe mas Alex disse era o jeito pra pegar os meus óculos!.-Aimé disse em defesa. A ninfa focou no animal que estava prestes a fugir deles. Sua mão fez brotar da terra pequenas rochas pontudas ao redor dele sem saída. Ela só removeu depois de dá os óculos a Aimé:

—Obrigado!

—Esses círculos de pedra são confusos.-Alex comentou:

—Pois é, nem sei como conseguem usar direito..-Antes que a conversa continuasse ela ouviu um sino vindo de uma torre da escola:

—Eu tenho que ir..

—Sem problema, já viemos pegar os meus óculos a gente pode...-Aimé só queria voltar mas o animal parecia bem interessado nos óculos dele. Tanto que pulou na frente do rosto dele só pra tira-los de novo e dessa vez correu o mais rápido possível pra dentro da escola.

O sino tocou mais uma vez para o desespero de Lisa:

—Eu não tenho tempo, tenho?.. Olha eu não sei o que vocês pensam em fazer, mas se forem atrás dele...-Pausou colocando as mãos nos ombros deles:-..Não sejam vistos! Eu não sei o que pode acontecer com desconhecidos como vocês lá dentro!

—Não se preocupa, você não vai ter problemas por nossa causa!.-O moreno disse em seguida olhou pro ruivo:

—..Vou tentar..-Assim ela correu com os dois atrás dela, nem um sinal do animal na frente. Ela mostrou um caminho que levaria por trás da escola sem serem vistos (o problema seria ir dentro da estufa), promentendo tomarem cuidado ela entrou antes que o sino tocasse de novo e correu pra sua sala entre os corredores de piso de mármore e vitras nas janelas. Virando na esquerda ela viu a porta da sala, e infelizmente também viu quem menos queria ver hoje. Um garoto alto, de cabelo preto bem arrumado, calça preta, camisa lima e casaco de tom escuro escostado na parede da porta lendo. Mas ela não tinha escolha, caminhou até a porta e evitou contato visual com ele:

—..Boa sorte pra você Lisa, vai precisar muito!.-Disse sem tirar os olhos do livro com um sorriso arrogante:

—Bom dia pra você também, Rui!

—..Soube que foi a única em recuperação.. Não é bom pra quem quer participar do festival de esportes! Vindo de você não é surpresa!.-O sorriso aumentou pra frustação de Lisa:

—Cala a boca Rui! Eu não vou perder tempo com você agora..

—Não quer nem ouvir a proposta que eu...-Ela entrou antes que terminasse de falar. Pra Lisa Rui sempre estaria lá pra critica-la não importa o que fizesse (isso sem contar em como ele fazia mal pra auto estima dela). Escondendo a cara de raiva ela viu o seu professor a esperando na mesa e pedindo pra se sentar numa cadeira (a sala era parecida com um laboratório de química):

—Pronta Lisa?

—Sim professor!

Do outro lado da porta Rui continuava lá com o pensamento em mente:"Tanto faz, eu sei que aquela perdedora sem-controle não vai dizer não pra mim mais tarde". O sorriso convecido aumentou e saiu caminhando até um corredor com janelas. Dois vultos passaram rápido chamando atenção:

Hum?... Meh, não deve ter sido nada..-Na verdade os vultos eram Alex e Aimé do lado de fora com o primeiro seguindo o animal pulando com os óculos:"Porque eu tô fazendo isso mesmo?". Se perguntou, mas sabia que era o mínimo que devia fazer pelo garoto atrás dele (eles vão ter que se conviver como estranhos pra sempre?). Finalmente o animal parou e o pegou desprevinido com as mãos:

—Consegui! Rápido pega os seus óculos!.-O moreno ao lado dele sorriu agora que estavam perto suficiente. A mente do mico percebeu que não iam desistir então usou suas presas pra morder a mão de Alex. Aproveitando a brecha correu pra uma grande estufa a frente deles: O único lugar que seriam vistos por outras ninfas de Viridi..
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Enquanto isso Lisa tinha uma tarefa pra cumprir se quissese passar. Tinha que criar uma poção capaz de reverter o crescimento de uma planta carnívora que o professor colocou num vaso:

—Muito bem Lisa, crie uma fórmula correta de reverter com apenas essas poções sem nome..-Parecia uma tarefa simples se ele não tivesse usado sua própria poção capaz de aprisonar 9 tubos de ensaio em bolhas cinzas pelo teto (que não permitiam saber a cor de cada):

—Isso parece mais uma prova física que teórica, professor!.-A garota comentou gostando da ideia:

—Você conhece esse mundo: sempre manter aptidão física em forma! Estou disposto até te liberar mais cedo.. E mais uma coisa...-Ele jogou pra ela papel e lápis:-..Quero que anote todos os cálculos que fizer das poções até chegar no resultado adequado!.-Disse com exigência:

—C-Certo!

—Você tem 20 minutos.. Agora!

Ele virou uma ampulheta e a ninfa sentiu o pânico na véia. Ela pensou rapidamente em como ia fazer isso sem contar que a planta crescia rapidamente raízes:"Tudo bem Lisa, você mata insetos de lama toda noite então o que é uma prova?". O pensamento de antes voltou e viu como era parecida a situação: "Calma, eu só preciso de algo pra..". O lápis era apontado o suficiente. Agora era só escolher uma bolha pra mirar e escolheu uma perto da janela. Funcionou!

Antes que caísse ela agarrou com a mão e viu a cor e número no vidro (as poções não tinham nome, então tinha que reconhecer por cor estudada). Ela sentiu na perna uma raíz agarrando-a e viu o tempo passando:"Eu lembro desse elemento, só preciso de mais dois!". As coisas estavam se aliviando apesar do medo de falhar e repetir.

Numa janela longe da vista do professor o garoto ruivo observava em silêncio a ninfa fazendo a prova, ele e o moreno decidiram não ariscar entrar na estufa:"Uau! Será que faz parte da magia daqui? Talvez ela não seja tão louca afinal". Pensou vendo ela mirar nas bolhas e anotando os números. Aimé não conseguia ver muito mas podia ver uma silhueta dela correndo e atirando em coisas redodondas...
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O mico com pernas de coelho entrou na estufa com os preciosos óculos enrolados na sua cauda (felizmente sem arranhões grandes). Ele corria entre caixotes com mudas e belas flores até se chocar com as pernas de uma menina de tranças. Ela parou a observação das flores pra pegar o animal com as mãos:

—Ei meninas olha só o que eu encontrei! E vejam o que ele tem!.-Mostrou pras duas:

—Óculos? Isso é tão antigo. Como ele conseguiu isso?.-Perguntou Lot:

—Não sei mas parece que gostou deles!.-Tanto que mal deixou se aproximarem com a sua cauda. Felizmente a loira sabia que fazer carinho na cabeça dele com o dedo deixaria sonolento suficiente pra baixar a guarda. Deixando num caixote de plantas Hortência viu perto os óculos redondos (em Viridi não era algo que se via todo dia):

—Talvez sejam do professor de alquimia, eu vou lá devolver pra ele!

—Mas Lisa tá fazendo prova com ele!

—Tudo bem eu espero!.-Ela saiu da estufa pra porta quando viu chocada na sua frente dois garotos espiando pela janela da sala. Mas a pior parte era... Um deles estava de camisa azul, e isso pra ela só podia significar uma coisa..
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Lisa estava em pânico agora. Só a parte básica da fórmula tinha sido feita e não sabia qual dos 2 frascos usar pra criar a última parte (e a planta carnívora estava quase a puxando pelos pés):

—Você tem mais 10 minutos Lisa!

Pronto, agora ela estava perdendo a cabeça. Ela sabia que em um mês teria suas habilidades testadas enquanto uma platéia assistia. A diferença era que pelo menos ela estava confiante no festival e o sentimento de adrenalina anulava qualquer ansiedade. Aqui ela estava sendo julgada por uma coisa que não era boa e exigia mais foco mental. O medo de falhar voltou a ponto de mal se mexer. Na hora uma luz azul invadiu a sala vindo de um canto no teto. O professor ficou atento:

—Um alerta azul?! Lisa! Continue a prova, volto antes do tempo e não saia daí até terminar!.-Ele mandou e saiu deixando-a sozinha:"Alerta azul?". Finalmente ela olhou pela janela e viu os dois humanos sendo encarados por uma garota de trança. Eles correram dali pelo caminho que entraram:"Ai não!". Se lamentou porque não podia simplesmente sair. Ela tentou voltar a focar mas não sabia o que fazer. Ou misturava a cor laranja ou...: "Azul! É isso!". Lutanto com os braços presos ela rabiscou no papel e mirou a fórmula na boca da planta. Rapidamente fazendo ela voltar a ser uma muda e diminuindo suas partes. Ainda sozinha na sala ela saiu de lá com o papel, a ampulheta e a planta:"Tomara que os dois não tenham sido pegos!".
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O ruivo tinha saído pra fora do lugar puxando o outro pelo braço e disse com sarcasmo:

—Incrível, fizemos a única coisa que Lisa disse pra não fazer!

—Vamos ser pegos!.-O moreno disse com pânico:

—Eu não quero sabe como Lisa fica com raiva.

—Não! Tem alguém vindo na entrada!.-Ele apontou e só deu tempo de se esconderem na lateral do muro. Um adulto e três garotas estavam lá:

—Não tem ninguém aqui, Hortência, tem certeza do que viu? Pra onde o tritão foi?!

—E-Eu não sei professor!

—Como não? Você usou a pedra de alerta!.-Ele mostrou a pedra brilhando em azul na mão dela:

—Eu sei mas depois eu fui chamar as meninas e quando voltei tinha ido embora! Não vi pra onde foram!

—Conseguiu identificar o outro?

—Não! Só vi um com roupa azul!.-Falou enquanto Aimé escutava a conversa sussurando pro outro.

Lisa chegou a tempo e deu os objetos pro professor antes da areia cair:

—Vejo que conseguiu Lisa!

—Sim, e se o senhor deixar fico aqui com elas! Se alguém entrou aqui eu fico de guarda e aviso!.-Disse com a voz séria para o choque de Aimé, ela ia entregar eles?
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—O que ela disse?

—..Estamos perdidos..-Disse pro colega:

—Muito bem, como professor de vocês dou permissão pra usarem as habilidades! Vou ver sua tarefa! Vocês e Rui fiquem aqui!.-O próprio apareceu por trás com o mesmo sorriso (pra infelicidade de Lisa):

—Fico feliz em ajudar professor!.-O silêncio era estranho entre os cinco. Lot tomou a liderança:

—Olha, antes que vocês dois tentem se matar primeiro procurem por algum tritão suspeito, pode ser?

—Tá bom... Ei Hortênsia o que é isso?.-Fingiu curiosidade quando viu a menina com os óculos pendurados nela:

—Óculos! Não sei de quem é. Quer ver?

Os cinco se espalharam perto da escola e Lisa viu os humanos na lateral do muro. Se assustaram com o olhar e postura séria dela. Aimé se culpava por não ter pego logo seus óculos e agora todo mundo ia se prejudicar por causa dele.

Foi um choque pra si quando ela tirou da própria mão os óculos e pôs no rosto dele. Seu rosto se alivou um pouco:

—Espera, não vai entregar a gente?.-Alex perguntou:

—Eu falei aquilo pra disfarçar, mas olha... vocês são piores que eu e os meus irmãos juntos!.-Sussurou pra eles. Tinha garantido pra si mesma de lidar com o problema deles adequadamente. Quando pensou ter ouvido alguém os empurrou em arbustos perto de onde estavam:

—Falando sozinha, Lisa?

—Cala boca, Rui!

—Também não precisa ficar nervosa. Você sabe o que acontece...-Cada palavra dele azeda o rosto dela:

—Você não devia esta procurando um tritão ou algo assim?

—E você também não? Foi você mesma que se ofereceu pra vigiar ao invés de receber sua nota, mas eu sei como você...

—...Que eu o que Rui?

—Eu sei que você é incapaz de passar em algo tão simples como alquimia e ainda mais pra participar do festival de esportes! Desista!

—Nunca!

—Acha mesmo que uma descontrolada como você vai passar? Você vai causar um terremoto!

Os humanos viam a discussão. Pra Aimé ela parecia diferente da garota tranquila matadora de insetos que conheceu:

—Se lembra que eu queria fazer uma proposta mais cedo?

—O que você quer de mim praga?!

—Quanto amor! Eu quero duelar com você!.-Isso pegou os três de surpresa. Duelar? Como um duelo de espadas? Lisa sabia perfeitamente o que era esse duelo:

—Não! Eu não vou ter um duelo de ninfas com você!

—Mas vai ter que lutar comigo em um mês. Por que? Tá com medo?.-Alex estava começando a ter um pouco de empatia por ela, ele sabia bem o que era ter alguém intimidando você pra obrigar a fazer algo. Antes que pudesse responder o professor apareceu atrás deles. Entregou um papel avaliado pra ela:

—Lisa... Meus parabéns!

—Hum?

—Você passou, estar livre!

—Sério?.-Um sorriso de alívio se abriu e o de Rui se fechou na hora. Até Aimé ficou feliz por ela:

—Soube que vocês vão pro festival esse ano. Boa sorte pra vocês, sei que vocês têm ótimas chançes!

—Professor! Professor!.-As outras voltaram depois de não achar ninguém como um tritão de roupa azul:

—Tudo bem meninas, agora que Lisa está liberada vocês podem ir. Eu vou ficar aqui para garantir a segurança!.-As três comemoraram por ela enquanto o garoto de casaco tinha um olhar sombrio. Agora só estavam os cinco (e mais dois humanos escondidos):

—Então Lisa, vai duelar comigo ou vai ser sensata e desistir?.-O garoto ainda queria essa resposta:

—Olha Rui eu sei que meu esforço vai valer a pena... Mas pra fazer você calar boca. Sim! Vamos ter um duelo de ninfas!.-Rui sorriu arrogante de novo. Lisa faria qualquer coisa pra mostrar aquele metido que ela tinha habilidades pra vencer. Isso bastaria também pra comemorar suas férias:

—..Então tá! Me encontre em uma hora na depressão, você sabe onde fica. E se prepare pra perder!.-Satisfeito ele saiu pra longe das quatro:"Eu devia ter dado um chute nele!"

—Lisa você.. tem certeza disso? Você sabe como o Rui é bom em geocinese e..

—Tenho Hortência, vou colocar aquele idiota no lugar dele!

—Se você diz.. Ei cadê aqueles óculos que eu te dei?.-O rosto sério saiu e teve que fingir demência:

—Errr.. Que óculos?

—Aqueles que eu te mostrei!

—Nunca vi um tão de perto!

—É sério Lisa, um animal achou eles e não sei de quem são!

—Talvez ele tenha pego..?.-Foi convincente suficiente pras três voltarem pra estufa ver. Agora finalmente estava sozinha:

—Ei vocês dois, já podem sair!.-Os humanos se levantaram em silêncio. Aimé começou:

—Olha Lisa, desculpa por ter feito toda essa confusão. S-Se eu tivesse guardado melhor eles, você nem teria que cobrir a gente nem nada, desculpa ter piorado tudo pra você...-A voz triste cheia de culpa foi chocante pro outro humano e pra Lisa, ela colocou a mão na cabeça dele:

—Ei, confio que vocês pelo menos tentaram fazer o que eu falei.. Eu não sou calma e controlada como pensam, também faço coisas que falam pra eu não fazer, e faço mesmo assim. Então vamos deixar isso pra lá, certo?

—T-Tá bom..!

—Ei Lisa, o que é um "duelo de ninfas"?

—É como um acerto de dívidas Alex, usamos nossas habilidades ao invés de brigar fisicamente!

—Não é perigoso?.-O moreno perguntou:

—Bem, é sim, ainda mais numa depressão. Mas eu não me importo. Eu só quero descontar a pressão que aquele idiota me dá nele mesmo...!.-A última parte foi sombria pros dois. Fez um gesto com o punho e a mão aberta. Ela fez brotar uma rocha enorme perto deles:

—Hum...?

—Melhor sair daqui antes que seu professor volte!.-O moreno aconselhou e assim voltaram pra velha casa.

No quarto de Lisa havia uma peça extra de roupa no seu armário (ela sabia que seria útil). Se trocou rápido deixando apenas a fita verde no cabelo. Ia descer pra baixo quando viu no chão do quarto dos gêmeos um livro aberto jogado.
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Os humanos tiveram que esperar ela perto da escada. Aimé começou:

—Você não acha perigoso o que ela vai fazer? Viu como ela cria aquelas rochas! Ela vai matar aquele cara!

—Francamente... Estou mais preocupado em onde ela vai ter esse duelo.

—O que tem ela ir pra uma depressão?.-Havia dúvida real no moreno e choque legítimo no ruivo:

—Você sabe que tipo de depressão pode ser?!.-O tom de voz ficou mais alto:

—Errrrr...?.-Ele bem que podia estar com o livro da escola (uma coisa que não achou que ia precisar). O outro ficou quieto, podia ter explicado mas não imaginou que ia querer saber:

—Uau! Então vocês também tem mapas na Terra?.-Perguntou a ninfa de calça no topo da escada enquanto o garoto de olho azul se esquecia da pergunta. O que mais chamou atenção era que havia mais de dois continentes na Terra e também a escrita era totalmente diferente (como ler da direita pra esquerda). Desceu até os dois:

—Vocês realmente são de um mundo estranho!

—Eu digo o mesmo pro seu!.-Aimé retribuiu. Os dois agora foram pro chão da sala enquanto Alex observava. Não era muito sociável mas era curioso, já tinham feito amizade a essa altura e parecia algo tão natural de se fazer. De repente ela viu que o mapa não tinha nenhum nome:

—Aimé, quais são os nomes de cada um deles?.-A pergunta chamou atenção de Alex:

—Por que você quer saber?.-O garoto de óculos não esperava essa pergunta:

—Primeiro porque eu não sei ler "humanês" e também eu sou curiosa. Eu quero saber do seu mundo do mesmo jeito que vocês querem saber sobre Viridi!.-Era justo ela saber um pouco mais de onde eles vieram:

—Tá mas eu não sou muito bom de decorar. Vou começar com a Europa!.-Ele foi tentanto dizer os poucos nomes dos países que conhecia mas falhava em acertar até que Alex ficou cansado:

—..E aqui é... a França?

—Essa é a Alemanha!.-Viu por cima do sofá:

—Eu disse que não era bom!.-Aimé reafirmou:

—Ei Alex, se você sabe pode me dizer?.-Tentou provoca-lo:

—B-Bem, sim, talvez alguns..-Aproveitou:-..Mas você vai ter que me deixar ver o seu duelo!

—O QUE? Acabamos de quase ser pegos e você já quer..!

—Se ficarem escondidos tudo bem!.-Concordou naturalmente cortando o outro:

—Mas você mesma disse que não sermos vistos!

—Eu não posso manter vocês trancados pra sempre. Além disso aquela depressão é isolada, não vai ter quase ninguém lá!.-Antes que pudesse contrariar ela tirou o livro da mão dele e deu pra Alex:

—Você quer mesmo saber?.-Perguntou desconfiado:

—Sim! Pode se sentar!

Aos poucos ele foi dizendo o nome sempre que ela apontava o dedo. A curiosidade era um pouco genuína mas pensou que isso pudesse acalmar seus nervos depois de aceitar um desafio na hora da raiva. O teste não foi tão ruim quanto pensou mas ter a capacidade questionada mexeu com ela. Foi uma semana estressante graças ao Rui. Agora teria que mentir pra todos sobre a existência de tais seres humanos:"Não posso perder a cabeça! Nem aqui nem no duelo. Você sabe o que aconteçe..". Seus poderes iam exigir calma e controle como nunca mas voltou a ouvir o ruivo nomeando nações de um mundo desconheçido:

—Ei Lisa!

—Hum?

—Tá tudo bem?.-Viu Aimé sentado do outro lado do sofá:

—Tá tudo bem Aimé só tava pensando no meu duelo com a praga do Rui!

—Ele é tão irritante assim?

—Pra mim é! Eu sei que esse duelo é só uma desculpa pra me ver perder, mas não vou deixar!

Era uma determinação visível pra eles. Seja lá como ia ser essa batalha envolvendo poderes de terra eles tinham agora permissão pra sair e ver desde que não fossem vistos mais uma vez. Pra Alex achou bom ver de perto uma mostra total de poderes de ninfa enquanto Aimé tinha dúvidas se era uma boa ideia sair depois de quase ser pego...
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...Num cenário diferente. No fundo de uma depressão muito baixa parecida com um cânion com um minúsculo córrego de água o garoto Rui tirava seu casaco e seu próprio bracelete dourado do pulso. Tinha o mesmo sorriso, mas com o olhar orgulhoso e sombrio:-..Aquela tonta da Lisa acha que pode vencer alguém com controle natural só treinando..Vamos ver se ela ainda é capaz de lutar com o estresse dela pra fora e ao extremo..!.-Pedras se levantavam perfeitamente conforme Rui queria, sem precisar do bracelete cuja função era regular a intensidade dos poderes...