Through The Viridi

As Ruínas Misteriosas de Viridi


—Então vocês estão dizendo que aqui sereias podem transformar suas caudas em pernas artificiais com os mesmos braceletes que ninfas tem?.-Assim Alex perguntou para os dois morenos.

Durante a caminhada de volta para a casa de verão de Lisa, Aimé tentava tranquiliza-la a todo custo que seu encontro com as sereias (os irmãos Mari e Enki) foi totalmente pacífico e sem sequelas, principalmente por que ela não podia ficar muito emotiva. Ela se acalmava quando explicava em detalhes, e em cada um deles Alex se via intrigado com a nova espécie:

—Isso é.. Fascinante..-Sussurou:

—Além disso, tenho certeza que ela tinha guelras no pescoço, e os olhos eram tão azuis quanto o céu..

—Como assim?

—Eu nunca vi ninguém com olho azul além de mim, mas os dela pareciam o próprio mar!

—Mas e as guelras no pescoço?

Lisa logo se distanciou da conversa em silêncio:"Caramba, acho que eu estava errada mesmo!". Ela estava sentada no chão da sala junto com os meninos e livros escolares que Aimé deixou espalhados por aí. Sua lança estava ao seu lado segurada pela mão esquerda, a mesma onde estava seu... "Não olhe pra isso Lisa!".

Voltou seu olhar para os meninos humanos, era a primeira vez que os via conversando direito sobre algum assunto em particular. Seus olhos procuravam algo interessante entre os pertençes humanos até...:

—Você quer mesmo achar uma explicação lógica pra um mundo de fantasia?

—Tudo nessa vida tem uma explicação lógica, Aimé!.-O ruivo argumentou. Os dois pararam de falar no momento que viram Lisa quieta e focada demais numa página de um livro:

—Lisa?.-Aimé perguntou estranhando a quietude repentina dela:

—Eu já vi isso antes...

Estranharam. Ela os mostrou a página apontando a foto da figura do próprio Coliseu de Roma:

—Como assim, Lisa? Eu não tô entendendo...-Disse Alex:

—Eu disse que já vi essa arena antes, faz algum tempo..

—Esse é o Coliseu, uma das 7 maravilhas do mundo humano. Como sabe disso se você mesma não sabia que nosso mundo existia?

—Ei, deixa ela falar!.-Mandou Aimé que também estava curioso com a fala dela:

—É verdade! Eu juro que já vi uma arena circular igualzinha a essa ou pelo menos MUITO parecida com esse coliseu! E outra, foi lá mesmo que eu encontrei a minha lança!.-Afirmou dando sua arma um olhar terno, mas os meninos continuavam sem entender:

—..E isso não é tudo! Eu também vi no mesmo lugar uma enorme pirâmide com degraus com uma cama de pedra encima!

De novo eles continuaram sem entender nada. Como assim havia um segundo Coliseu na realidade de Viridi? Pirâmide com degraus? Como ela sequer sabia dessas coisas:

—Eu juro, Lisa, eu não estou entendendo nada!

—Nem eu, dá pra explicar melhor com detalhes?

—Ok, mas se não acreditam em mim eu mesma posso levar voçês pra verem com os seus próprios olhos!

Concordaram, ela deu um suspiro antes de começar:

—Eu lembro bem desse dia, foi há 5 anos atrás...

—____

Nesse momento somos levados a memória de uma jovem Lisa de 9 anos. Não era muito diferente do que sua eu atual seria, apesar de ser mais baixa e estar vestindo roupas branco e verde com broche no peito com um desenho de uma flor de lis encravado. Estava na frente da sua casa de verão junto com as versões mais jovens de suas amigas:

—Meninas não brinquem muito longe daqui, vocês ainda não conhecem o lugar!.-Disse Camélia (mãe de Lisa) passando pela porta segurando nos braços um de seus filhos gêmeos de 2 anos:

—E voltem pra cá antes de escureçer!.-Também alertou Demétrio (pai de Lisa) segurando seu outro filho gêmeo jovem demais para brincar:

—Ok meninas agora vamos brincar de esconde esconde!.-Sugeriu Lisa:

—Mas sua mãe acabou de dizer pra gente não se afastar!.-Lembrou uma Hortência mais jovem:

—Não tem problema, eu conheço bem o lugar e vocês podem se esconder dentro de casa. Eu vou ser a primeira a bater mesmo!.-Declarou orgulhosa.

Apesar do receio as três concordaram e assim a brincadeira começou. Enquanto as outras se escondiam por perto Lisa entrou dentro da mata e assim procurou um bom esconderijo. Ela caminhou por um tempo e esqueçendo que estava se afastando demais do lugar. Sua energia a levou a correr mais até seus pés sem querer pisarem num círculo de pedras abandonado.

Assim ela continuou correndo até perceber a mata estranha onde estava (mesmo sendo uma criança ela era educada para reconheçer as florestas que passava). Ela notou folhas de coloração azulada e até dourada, árvores parecidas com palmeiras e a mata não era tão fechada ao ponto das copas serem densas.

Ela viu o pôr do sol numa área aberta com areia branca e leves ondas do mar. Se assustando com o quão longe podia ter ido ela tentou voltar pro círculo, mas não lembrava onde estava. Caminhou mais um pouco até avistar o que parecia ser uma vila antiga, mas muito abandonada.

Dentre as casas uma grande construção chamou sua atenção: Era uma enorme e circular arena com muitas entradas. Também era rodeada por um enorme semi círculo (provavelmente não era proposital e parecia mais incompleto). Era bem parecida com outras arenas que via em Viridi.

Entrando lá o estádio estava tão vazio quanto a vila, porém chegando ao centro seu pé tocou em algo: fino como um galho, mas reto, feito com cabo de madeira e a ponta pontiaguda como um losângulo de metal. Uma lança!

Fascinada, pegou com as mãos e saiu de lá. Andando mais a frente da mata não demorou muito pra encontrar outra clareira. Ao longe uma pirâmide chamou sua atenção e correu para lá. Era feita de material rochoso e subia em vários degraus na parte do meio. Subindo no topo não achou nada de interessante, apenas um grande bloco de pedra que podia ser usado como uma cama rústica, mais atrás um pequeno templo quadrado com três portas na frente e a visão de moradias rochosas ao redor e florestas.

A criança notou o céu escureçendo e sabia que estaria MUITO encrencada se não chegasse em casa. Decidida ela começou a improvisar seu primeiro círculo de pedras, porém não queria abandonar a arma nas suas mãos pois tinha gostado bastante do formato e queria levar como lembrança de sua aventura da ilha e então ela resolveu voltar com ela."

—_____

—Então, o que aconteçeu depois?

—Depois que eu voltei todo mundo ficou em choque, ainda mais quando cheguei com essa lança. Quase fiquei de castigo, mas não acreditaram em mim quando falei da ilha, só depois de muita insistência minha mãe me deixou ficar com ela!

—Isso é estranho, por que tinha dois monumentos antigos lá?.-Questionou Alex:

—Não faço a menor ideia!

—Você já voltou pra lá depois desse dia?.-Aimé perguntou:

—Já! Voltei lá algumas vezes por curiosidade e até começei meu treinamento de mira lá, mas depois eu parei, fiquei mais focada no vestival de esportes desde então!

—Caramba!.-Era tudo que o menino de óculos podia dizer:

—Acreditam em mim?

—Eu tenho muitas perguntas sobre essa ilha, mas não duvido de nada

—E você Aimé?

—Também não duvido!.-Ela se sentiu feliz por pelo menos alguém ter acreditado nela depois de muito tempo:

—Por que ninguém acreditou em você sobre a ilha?

—É um caso estranho, uma vez tentei procura-la nos mapas escolares e oficiais mas nunca achei nada! Nada de desenhos, nem registros e ninguém nunca falou nada de ilhas no continente de Viridi!

—Humm...-Alex começou a pensar nas palavras dela:

—Você já tentou levar alguém pra lá?

—Nem tentei Aimé, ninguém acreditava em mim mesmo!

—E se... Isso tiver alguma coisa a haver com porque que viemos pra cá?

Infelizmente pra Alex, ele não percebeu o quão alta sua frase saiu da boca e chamou atenção dos ouvintes:

—Acha que isso tem haver com o porquê que estamos em Viridi?!.-Aimé quase gritou com a ideia, fazendo Alex se assustar com o quão eufórico ele ficou:

—N-Não sei, talvez, foi só uma ideia..

—Mas talvez uma ideia que faz muito sentido! Eu nunca ouvi falar dessa ideia de outros mundos e ninguém nunca viu essa ilha com "coliseu" antes...

Era a vez dela de ficar eufórica com a ideia. Ela se levantou do chão e se virou de costas pra eles, seus dedos batiam uns contra os outros. Ela deu um sorriso malicioso com a ideia que pensou:

—Então.. Alex, Aimé. Deve ser bem chato não poder sair da Província de Metalia e não saber como voltar pra casa né?

—O que voc..-?

—Seguinte. E se a ideia de Alex tiver certa? E se tiver um jeito de vocês voltarem pra casa? Talvez aquela ilha tenha um segredo! Então, o que me dizem, querem ir nessa aventura?

Ela os deu um sorriso ousado esperando pela resposta. Ambos tinham a linha de pensamento bem parecida com a pergunta: "Uma aventura de verdade, num lugar totalmente desconhecido de Viridi? Monumentos? Uma chance de voltar pra casa?", pensaram.

Lisa ainda os aguardava no silêncio:

—Olha, eu vou, mas eu não prometo que minha ideia esteja certa!.-Ela gostou da confirmação do ruivo:

—E você Aimé? Vem com a gente também?

—Tudo bem eu vou com vocês!

—ÓTIMO! Não precisam levar nada, apenas tragam o mais importante e vamos daqui a 5 minutos!

Alex no fundo realmente gostou da ideia de ir para um lugar novo até mesmo para ninfas e descobrir os monumentos que Lisa falara, sua única bagagem foi a bolsa com sua bússola dentro. Aimé aproveitou que seu celular milagrosamente ainda tinha bateria e resolveu leva-lo junto e Lisa sua lança.

Assim, reunidos no círculo de pedra de Lisa desapareceram da casa. O próximo lugar onde vieram parar foi o mesmo que ela descreveu em sua memória. Estavam no topo de uma pirâmide onde o piso era largo e liso, onde também podiam ver uma bela vista do pôr do sol até certo ponto. Mas não era nada como uma pirâmide egípcia, era mais parecida com uma pirâmide de uma tribo pré-columbiana. No meio tinha exatamente o que Lisa descreveu: Algo que podia ser usado como uma cama de pedra com manchas escuras nela. Os três se aproximaram pra ver:

—Já estava quase sentindo falta desse lugar, até agora eu sinto que era como um segredo só meu!.-Disse a ninfa quase nostálgica vendo os aredores.

Os meninos viam de perto as manchas escuras na pedra:"Isso pareçe... Sangue?!". Teorizou Aimé, mas não tinha certeza. Lisa os chamou para descer para que ela pudesse mostrar os lugares da ilha. Desceu os degraus junto com Alex:

—Ei, posso te perguntar uma coisa?

—Hum?

—Seu cabelo é assim mesmo?

—O que? Bagunçado?

—Não, dessa cor.. alaranjado...

—Tá e daí?.-Perguntou confuso com a pergunta dela:

—Eu nunca vi cabelo dessa cor...-Respondeu honestamente, embora ele não pensasse assim:"Ela tá tirando sarro de mim? Fingindo que nunca viu um ruivo horrível desse jeito?"

—Por que tá me perguntando isso?

—Não sei, já é muito raro ver alguém com olhos escuros como os seus, mas eu nunca vi na vida cabelo dessa cor que reflete bem no pôr do sol...

Ela admitiu após chegarem nos últimos degraus de pedra cobertos de folha enquanto Aimé os esperava atrás:

—Olha vamos só continuar a andar, ok? Não sei por que você me perguntou isso. É bem vergonhoso ter um cabelo ruivo assim..

—Ruivo? Vergonhoso?

Mas ele não ouviu, já estava na frente deles. Os dois o observaram confusos porém Lisa continuou a guia-los no passeio.

Numa distância não muito longa estava a tal vila abandonada que Lisa descreveu. Era pequena e bem diferente da arquitetura do primeiro lugar. As estradas estavam cobertas de videiras que cobriam quase tudo e as casas eram grandes o suficientes para ser a residência de várias pessoas, talvez como hotéis de pedra e cimento mas não com muitas janelas em cada e em algumas casas era possível ver onde possivelmente funcionava vendas na parte de baixo.

Entretanto havia algumas casas enormes bem mais planejadas, espaçosas e chiques ao contrário das primeiras mais precárias. Caminhando pela rua finalmente o trio chegou no ponto desejado: A estranha réplica do Coliseu de Roma:

—Então meninos, o que acham?.-Perguntou Lisa sorrindo. Alex e Aimé nem tinham palavras pra expressar o choque da visão. Realmente o lugar era bem parecido com as imagens a distância do Coliseu (talvez fosse um pouco menor que o original mas ainda impressionante):

—Como isso é possível?

—Você mesmo disse, Alex, talvez tenha haver com o porquê que vocês vieram parar aqui, e essa ilha é a coisa mais misteriosa que eu já vi na vida!

—Certo.. Acho que temos que começar a procurar por aqui..

—Será que vai dar tempo?.-Perguntou Aimé vendo o sol baixando mais e mais no horizonte:

—Se estar com medo dos monstros de lama não precisa se preocupar!

—Por que?

—Não sei qual a distância dessa ilha pro continente mas nunca apareceram monstros de lama pra mim aqui..

—Sério?

—Sério. Então, por onde começamos a busca?

Seria difícil procurar em todos os lugares, principalmente quando se não sabiam nem o que estavam procurando. Aimé sugeriu que talvez devessem procurar entre rachaduras dos murais e paredes do lugar (considerando que foi assim mesmo que chegaram). A divisão foi feita: Lisa procuraria na arena e nos aredores, Aimé ia procurar nas paredes das casas vizinhas e Alex numa praça próxima que Lisa mostrou.

Mais ou menos meia hora se passava e o céu roxo já era preenchido com estrelas e o sol dava seus últimos raios. De vez em quando Lisa tentava se distrair fazendo os meninos brincarem um pouco de esconde esconde com ela (sem sucesso).

Alex caminhou até a praçinha da vila, como estava escurecendo teria que ser rápido, mas a quietude e breu não o assustava muito, invés disso sua cabeça voltou a questionar a vários porquês da ilha e sua relação com povos humanos antigos. Enquanto andava ele logo se deparou na frente de um mural com um mosaico feito, apesar de desgastado e coberto de vinhas ao redor, a imagem em si chamou sua atenção. Aimé foi se aproximando dele com a lanterna ligada:

—Ei, achou alguma coisa? Tá ficando escuro então achei melhor falar pra Lisa pra gente vir outro dia e... O que é isso?

—Não sei..

—Vamos ver..

O menino iluminou o mosaico de pedrinhas e outros materiais da esquerda para direita, mas antes de iluminar a última figura Lisa apareceu para chama-los:–Meninos! Encontraram o caminho de volta pra...Ah, estão aí. O que acharam do mosaico, meio acabado né?

Realmente não estava com a qualidade bem conservada mas o básico ficava. Começando da esquerda a figura de três homens usando roupas parecidas com túnicas, estavam segurando objetos desconhecidos e um deles talvez uma arma. O foco de todos estava na parte direita do mosaico. Para o que que eles estavam olhando? Desconhecido

A parte da direita teve menos sorte de ser preservada, muitos dos materiais foram desfeitos e não mostravam mais uma imagem clara da figura, o único detalhe que se podiam perceber era uma mão e um braço estendido na direção dos homens e um pedacinho de uma curva para baixo (uma asa de algum bicho, talvez?):

—O que será que isso significa?

—Esse mosaico tá assim desde de sempre, até hoje não sei quem são esses nem pro que eles tão olhando... Bom, infelizmente não tivemos sorte hoje. Hora de voltar!.-Disse a ninfa pronta para criar um círculo:

—Será que nas casas perto daquela pirâmide também tem algo parecido?

—Como?.-Os dois perguntaram:

—Não olhamos aquele lugar direito quando chegamos!

—Ainda tenho bateria pra dá uma olhadinha, mas o que acha Lisa?.-Aimé perguntou:

—Eu preciso voltar pra casa daqui a pouco, mas se forem rápidos eu deixo!

—Certo!

Com Aimé iluminando o caminho seguiu Alex até o ponto onde começaram enquanto Lisa ficava pra trás:"Todos os humanos são assim, obcecados por essas relíquias velhas e sem importância?". Pensou vendo os arredores, para ela não fazia muito sentido se interessar por alguma coisa tão decaída e abandonada que não tivesse algum uso (como sua lança por exemplo, útil e eficaz até hoje).

Ela começou a brincar com a arma fingindo mirar em nada em específico, começou a sonhar que estava numa arena importante de Viridi. A fantasia logo desapareceu quando seu bracelete quase saiu do pulso:"A mamãe vai ficar uma fera comigo se descobrir..."

A lua já estava cheia e bem a vista, dando uma boa iluminação no lugar e deixando bem visível á uma misteriosa sombra voando no céu. Lisa rapidamente conseguiu ver aquilo e a tempo de dar um olhar suspeito.

—_____

Os meninos conseguiram caminhar de volta até de volta as moradias ao redor da pirâmides:

—Acha que essa é a coisa do mosaico?

—Talvez...-Respondeu Alex olhando para a mesma estátua que Aimé. Era uma rígida estátua de uma criatura alada com as asas abertas, a boca estava aberta revelando dentes pontudos, provavelmente se tratava de uma criatura feminina e olhos feitos de pedra mais escura e o resto de pedra mais clara e resistente. Seja lá o que fosse estava perto das moradias retangulares e quadradas e não muito longe da pirâmide (como ela, a estátua lembrava a arquitetura de uma tribo pré-columbiana):

—Foi bem pensando sua ideia de vir pra cá!.-Admitiu Aimé iluminando de cima a baixo a escultura:

—Mas não encontramos nada aqui!

—Não hoje, mas talvez outro dia sim...-Seu tom de voz diminuiu enquanto sua lanterna desceu para ver a parte de baixo, nos pés da estátua. O que estava lá chamou um pouco sua atenção: Arranjos e buquês de flores amarelas ornamentais.

Suas pétalas não eram como as outras que já vira no mundo humano (grandes para ter um formato conhecido), mas era de tamanho pequeno com muitas pétalas de tamanho igual e eram organizadas com formato circular, (lembrando um pompom amarelo ou um dente de leão).

Colheu uma delas quando no momento escutaram o som de algo pesado pousando perto deles. Infelizmente isso não era nada bom quando viram a forma da criatura a poucos metros deles. Uma barata de lama!!!

Um monstro de lama, e dessa vez enorme e com forma de barata...

Mesmo que os próprios já tivessem lidado com a experiência de serem engolidos por um mosquito de lama á duas noites atrás tal visão os congelou de medo pelo tamanho (que parecia maior do que qualquer formiga ou mosquito que já viram). Seu tamanho era amplificado pelo tamanho de suas pernas finas, mas não impediam de cair. A forma oval do seu corpo e asas eram nojentas e horríveis e suas antenas se moviam de uma forma realista para um ser feito de lama (e não de um jeito bom). Sua altura era de igual pra um pouco maior que a pirâmide asteca e seus olhos davam um olhar de medo.

O primeiro instinto deles foi se esconder o máximo que podiam atrás da estátua, mas não adiantou muito quando sentiram a perna do inseto se aproximando. Eles sabiam que seriam engolidos e armazenados no interior da fera, mas e depois? E se aquilo fosse diferente? Eles iriam sobreviver ao maior inseto já visto na vida?

Os dois tentaram permanecer quietos quando viram Lisa se aproximando do lugar, conseguindo uma vista exata do monstro a frente e dos meninos atrás da estátua. Sua voz ficou calma, mas muito sombria:

—Alex... Aimé... Caiam fora daqui. Eu cuido disso..

A ninfa começou a correr em direção a fera de lama, os meninos a viram usar sua lança para perfurar as finas pernas da barata numa chance de desequilibra-la. Má ideia.

Ela rapidamente regenerou as pernas, agora com um pouco mais de lama nelas:"Que besta maldita é essa?!". A ninfa olhou surpresa tanto pela forma do inseto quanto pelo tamanho, ela jurava que não tinha UM inseto de lama nessa ilha. Sua mente estava frenética tentando lembra-la:"Não use geocinese. Não use geocinese. NÃO USE!"

Ela correu pra recuperar sua arma, mas dava o inseto a chance perfeita de ir até o ponto dos meninos. Felizmente não estavam mais lá pois no momento eles já haviam corrido de volta pra mata. Nesse pequeno momento de distração Lisa aproveitou sua chance de contra atacar.

Aimé olhava chocado pro inseto (agora ele tinha mais medo de barata do que nunca):

—Ela disse que não tinha nenhum inseto aqui!

—Acho que nem ela sabia dessa barata!.-Comentou Alex escondido no mesmo lugar. Ele sabia que Lisa ia se conter e sabia que eles deveriam ajudar, mas como? Por que toda noite nesse lugar tinha insetos atrás deles? Ela era experiente, eles só escaparam com ajuda de uma enxada..

"Espera... Só precisamos de um plano. Já ajudamos ela, só precisamos de um..."

Enquanto formulava uma ideia ele olhou rapidamente pra Lisa liberando sua raiva pro inseto e seu bracelete prestes a cair. Ele viu Aimé tentando pensar em alguma coisa:

—Aimé.. Temos que ajuda-la..

Ele balançou a cabeça.

—____

A mente de Lisa estava em um turbilhão agora. Ter muita coisa na mente era comum, mas dessa vez ela parecia que estava tendo uma enxaqueca. Sua mente aos poucos parava de gritar para não usar poderes e era substituída por um zumbido agudo e a vontade de cortar aquele inseto com uma rocha afiada era grande.

O tal zumbido atrapalhava sua luta com o inseto, que ainda estava olhando os arredores. No instante Lisa colocava as mãos na cabeça tentando parar a dor, mal percebendo que seu bracelete já tinha caído no chão. O resultado você já conhece: Um leve tremor de terra ao redor.

A tremedeira da terra era a mesma que houve na praia mas dessa vez fazia o inseto se desequilibrar um pouco. Enquanto estava ajoelhada sentiu uma mão puxando ela pra cima. Ela viu Alex com uma mão na sua e seu bracelete em outra. O tremor havia diminuído levemente:

—A..lex..?

—Vem!

Os dois correram pra um lugar mais fechado e longe da pirâmide, mas que o inseto pudesse ve-los. Enquanto isso Aimé corria pra subir no topo.

Durante a corrida eles conseguiram despistar a vista da barata numa área fechada, apesar das longas pernas estarem em alguns pontos. Alex levou Lisa para atrás de uma árvore com raízes aparecendo. O ruivo viu ao lado ela ofegante e suas mãos ainda na cabeça:

—Lisa?

—Me dá.. meu... BRACELETE!!

Rápido ele recolocou no pulso dela. A barata monstro ainda procurava eles entre as árvores mal notando que de volta na pirâmide um menino de óculos voltava com uma enxada nas mãos.

—____

—Porque ainda estão aqui? Eu mandei vocês irem embora!

—Você tava tendo uma dor de cabeça agora pouco, e também precisa de um plano..-Sussurou o menino:

—Tá e qual o seu plano?.-Agora ela estava disposta a participar:

—Não é grande coisa, mas agora Aimé já deve ter voltado com a enxada, vamos voltar pra lá e eu vou distrair a barata. Até onde eu sei ela vai tentar me engolir e você vai ficar atrás e usar as vinhas até ela não conseguir se reformar de novo. Eu vou distraí-la e usar a enxada pra acabar com o que sobrar dela!

Ela ouviu tudo em silêncio e com a cabeça mais calma:

—Olha eu sei que é um plano idiota e perigoso mas é o melhor que te..-

—Não é isso, não que eu duvide mas.. Tem um problema..

—Hum?

—E se for que nem Rui falou? Eu vou causar um terremoto nesse lugar e matar todos. Eu posso partir esse planeta inteiro num segundo..

—Mas, não tem como saber se não tentar..

—Mesmo?

—Sim, agora precisamos ir Aimé já deve ter..-Ai não!

—O que?!

—Aimé tá esperando a gente. Vamos!

Assim os dois começaram a correr de volta vendo que as pernas da barata não estavam mais atrás deles. Infelizmente o foco do inseto foi diretamente para o segundo garoto. Aimé estava petrificado demais para descer pelo olhar da criatura:

—AIMÉ!

O garoto viu de cima os dois e se sentiu aliviado, o suficiente para dar um passo no degrau e chamar atenção do inseto. Uma das suas antenas se alongou para agarrar seu tronco e o levantar um pouco pra cima:

—Lisa! Agora! Aimé precisa de ajuda!!

—Errrr....-Ela estava em choque pela incerteza:

—Lisa!

—..Ok, e-eu vou tentar desequilibrar ela de novo, me dá um minuto!

Ela fechou os olhos e folgou um pouco seu acessório apesar da dor de cabeça: "Vamos Lisa você consegue. Ignore a dor e foque na adrenalina". O leve tremor voltou a agir nas proximidades enquanto Alex tentava se manter equilibrado e começou a subir na pirâmide:"Não temos tempo pra lutar. Temos que sair daqui"

O ruivo subia sem tentar cair. Viu a imagem do seu colega sendo sacudido pelo inseto (que já não estava muito resistente). Aimé tentou o seu melhor para usar a enxada contra ele, até que finalmente conseguiu cravar na antena e se soltar. O impacto da queda foi leve mas ainda estava zonzo pelo tremor.

Alex engatinhou até ele:

—Tá tudo bem?

—Temos que sair daqui!

Os dois tentaram voltar para o círculo de pedras mas a tremedeira já tinha feito as pedras caírem dos degraus. Alex foi para a borda:

—LISA!

Ela não ouviu, ela não sentia mais que podia parar o tremor e a dor de cabeça. Já estava quase em posição fetal no chão.

"Por que eu tive essa ideia idiota de vir pra cá?!". Ele não tinha a menor ideia do que fazer, se Lisa parasse agora eles não teriam como atrasar a fera. Mas se ela não parasse as estruturas do lugar poderiam desabar e ela poderia esta sofrendo algo pior que uma enxaqueca. Uma ideia muito vaga passou pela cabeça e decidiu agir como se fosse seu plano, pegou a enxada e avisou a Aimé:

—Aimé! Desce comigo!

Tomando cuidado para não cair os meninos se ajoelharam ao lado dela. A mando do ruivo Aimé fechou o bracelete completamente e fazendo os tremores se acalmarem. O inseto aproveitou a chance para atacar. E Alex também, correu até as pernas da barata e as cortou, uma por uma. Atraindo a fúria do inseto.

A barata de lama agora focou seus olhos especificamente em Alex e reduziu o tamanho de suas pernas até ficar apenas 2 metros de altura. O moreno olhava tudo com o rosto assustado e sua amiga ainda estava de olhos fechados no seu colo. Vendo o quão irracional isso foi, começou a correr para a mata, sendo perseguido pelo inseto.

—ALEX! Anda Lisa acorda, precisamos de você!.-Ele a sacudiu pelo ombro e felizmente ela voltou a recuperar os sentidos. Aimé olhou em choque pro seu rosto de frente pro dele.

—____

Alex corria e se arrependia a cada passo que dava, estava escuro e a barata não tinha intenção de parar até pega-lo. O menino corria pela mata sem saber ao certo o que fazer. Durante a corrida até a arena da vila ele acabou tropeçando numa arma enterrada no chão e deixando ele bem próximo do inseto:

"Isso é o que eu ganho por não controlar essa minha curiosidade imbecil!". Gritou internamente, ele só queria saber por que veio parar nesse mundo e não ser engolido por um inseto horrível (de novo). Ninguém ia ajuda-lo. Ele era mesmo um caso perdido.
Antes que o inseto a cima de seu corpo pudesse agir contra ele o humano sentiu levemente algo brotando da terra. Uma voz vindo da entrada o chamou:

—ALEX AFASTA!

Duas figuras na frente da entrada estavam lá. Uma se apoiando na outra, com um braço fraco levantado pra cima e com dificuldade pra ficar em pé. O ruivo rapidamente entendeu a deixa e se afastou do inseto. Uma rocha negra e afiada cruzou com o corpo do inseto e assim marcando sua derrota. A criadora da rocha não aguentou, caiu exatamente ali.

Alex respirou várias vezes vendo seu predador finalmente "morto", olhou para aqueles dois.

Deixando a carcaça de lama pra trás começou a caminhar até eles. Aimé estava ajoelhado ao lado de uma Lisa em posição fetal:

—Vocês..

—Ei, rápido, coloca o bracelete dela!

Ele se soltou assim que ela caiu, assim que Alex fazia isso ele pode ver rapidamente e com clareza o olho de Lisa semi aberto, mas diferente. Era, era..:

—Aliás, desculpa ter estragado o plano. Vocês dois...-Aimé confessou para eles:

—Hum?

—Era uma tarefa simples e mesmo assim..-

—Não, tudo bem, não era mesmo um plano brilhante. Eu só agi por impulso..

—..Podia ter sido pior..

A terceira voz falou. Lisa se levantava lentamente, mas estava com uma voz pausada:

—..Acho que não era nem pra eu ter levado vocês dois pra cá a essa hora, mas eu queria me descontrair de hoje e olha. Deu tudo errado!

Ela voltou o olhar pra Alex com um leve sorriso:

—Mas pelo visto você consegue agir sob pressão, ruivinho..

—Hum, obrigado..

—Pronta pra voltar, Lisa?.-O menino de óculos perguntou:

—Minha cabeça ainda esta muito zonza e não sei se consigo ficar em pé. Me dá cinco minutos aqui e vamos!

—Ótimo, vou voltar pra pegar nossas coisas!.-Alex se levantou pra fora do Coliseu:

—Grite se precisar de ajuda!

Aimé queria ter ficado com Lisa, mas algo que o incomodava o obrigou a ir até o lado de Alex na volta a pirâmide:

—Você também viu aquilo, não foi?.-Perguntou numa distância que Lisa não podia ouvir:

—Vi o que?

—Agora pouco quando você colocou o bracelete dela.. Prestou atenção no olho dela, não foi?!

—Agora que você falou, sim, não sei se é por que esta escuro mas.. Foi como se as cores tivessem ficado invertidas!

—O globo ocular dela ficou preto!.-Aimé finalmente falou:

—E a íris dela também ficou menor!.-O outro comentou

Durante o recolhimento os meninos não paravam de pensar na mudança estranha dos olhos da ninfa:"Talvez fosse um modo noturno da espécie dela? Não, os olhos dela estavam normais quando a conhecemos..". Aimé questionava enquanto voltava para a estátua cercada de flores amarelas, eram bonitas.

Guardou uma delas no bolso quando viu Alex com a lança de Lisa e com pedras na bolsa:

—Talvez se contarmos pra Lisa sobre a mudança dos olhos dela, vamos poder sab..-

—Melhor não!.-Aimé cortou a divagação de Alex:

—Por que não?

—Olha pra ela Alex, viu que hoje foi um dia estressante pra ela? Melhor esperar aquele bracelete ser concertado..

—Mas eu só achei que..

Ele parou pra pensar no que Aimé disse. E realmente a garota não estava muito bem depois daquela luta:

—É, tem razão. Melhor não conta pra ela por enquanto...

Os dois caminharam de volta. Esse lugar só trazia mais perguntas pra eles, mas que agora não podiam ser respondidas. Como aquele mosaico que Alex olhou pela última vez antes de ir. Os meninos pelo menos estavam se familiarizando um pouco mais com a presença um do outro agora. Voltando a réplica do Coliseu Lisa já estava de pé e pronta pra ir. A primeira parada foi no abrigo deles:

—Boa noite, meninos!

—Boa noite, Lisa!

Por fim Lisa sumiu da vista de Alex e Aimé. Usando sua lança como muleta ela caminhou discretamente de volta a porta dos fundos, onde começou o dia. Sua casa era enorme, com o tamanho de dois andares e cômodos espaçosos. No chão do pátio havia um desenho feito de pedras coloridas num formato de uma flor de lis. Ela silenciosamente tentou subir as escadas que levavam pro corredor do segundo andar. Até que sua familia a viu pela cozinha:

—LISA DE FLER! Onde você esteve o dia todo?!.-Gritou a mulher anciã de verde:-E o que aconteceu com você, mocinha? Eu te disse pra voltar da escola depois da recuperação! Cadê seu uniforme? E por que parece que saiu de uma mina abandonada? Sabe como eu...-

Lisa mal escutou sua mãe depois do grito e não estava prestando um pingo de atenção. Sentia cansaço e o zumbido de antes voltava levemente. Não era um cansaço físico depois de um treinamento, era como se toda dor de cabeça do mundo tivesse aumentando nela por causa de um acessório frouxo que ela não podia aguentar.

A cara de paisagem da menina não agradou a mãe e nem o pai:

—Então Lisa, vai se explicar ou vai ficar sem janta?

—..Boa noite pra todos..-Disse aérea com os olhos caídos e subiu para o seu quarto. Os pais De Fler não sabiam o que era mais estranho: o fato dela estar desgastada ou o fato dela nem tentar se justificar como fazia.

Com os gêmeos o motivo foi outro:

—Ela acabou de ignorar a janta?!.-Disse Pietro:

—Ela não ligou de ficar sem comer?.-Pedro perguntou parecido:-Será que ela não se importa se a gente comer a sobremesa dela agora?

—____

A única coisa que a irmã mais velha se importava agora era ignorar as dores de cabeça e apertar o bracelete o mais forte que podia. E não pensar em qualquer coisa e qualquer um que aumentasse sua ansiedade